segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Começar de Novo

É incrível como os relacionamentos começam e terminam numa velocidade impressionante. Sou do tempo em que uma relação era construída aos poucos, seguindo todas as etapas: flerte, sedução, a conquista da pessoa que se queria ao lado, namoro, compromisso e, talvez, casamento. Nem sempre durava para sempre, é claro; durava o tempo necessário para que as pessoas gravassem seus nomes uma na história da outra. Saudades, recordações, remorsos, arrependimentos... Não importava que tipo de sentimento fosse gerado: negativo, devido à dor da saudade; ou positivo, devido ao aprendizado e à evolução pessoal. Era eterno enquanto durava – parafraseando Vinicius de Morais. Os mais belos poemas de amor sempre se referem ao término de uma paixão, pois existe beleza também na melancolia deixada por um amor não resolvido. Quando o namoro era significativo, era bom sofrer, molhar o travesseiro com lágrimas, rezar para que o objeto amado retornasse. E as promessas, então? Prometia-se até não dizer palavrões o ano inteiro, caso ele retornasse; prometia-se jamais sentir ciúmes novamente (impossível cumprir essa promessa). Sei de amigas que até faziam simpatias. Algumas davam até certo; tão certo, que o rapaz voltava. O problema era desfazer-se do “grude” depois que o interesse voltava-se para outro jovem. As vingativas faziam “simpatias” para o incauto perder a libido com alguma rival. Coisas de adolescentes ainda crédulas.

Era boa aquela época...

Como era bom passear num parque de mãos dadas, ir ao cinema, assistir ao pôr do sol, mentir para os pais que iria dormir na casa de uma amiga (subornar uma amiga a contar uma mentira era muito fácil). Era bom até fazer-se de difícil. Eles corriam atrás mesmo! Não estou mentindo. Jovens dão um show de ousadia e intrepidez nos maduros. Eles não têm medo nem traumas. Isso é justificado pelo fato de ainda não estarem escaldados. Fazem das tripas o coração para conquistar uma garota. E até choram quando não a conseguem conquistar ou perdem-na.
Hoje ninguém deixa rastros. São como um temporais: entram nas nossas vidas, fazem alguns estragos, e partem, sem deixar marcas e nem sinais que um dia existiram. Bem-vindos à maturidade!

Não é o mundo que muda, não é a vida, não é a tecnologia, não é a evolução dos tempos ou do ser humano. Não foi nem por causa das mulheres que queimaram, um dia, os sutiãs em praça pública. O mundo sempre vai existir e viver é uma dádiva. A vida não nos deve nada. Nós é que mudamos, devido ao que chamamos de “amadurecimento”. Como se amadurecer fosse perder o encanto pela vida e pelas pessoas. Como se amadurecer fosse deixar pelo caminho as boas intenções e a capacidade de respeitar e de ser respeitado. Será que perdemos tudo isso pelo caminho? Don Helder disse que é preciso mudar muito para continuar sendo sempre o mesmo. Acho que não conseguimos continuar a ser os mesmos quando amadurecemos porque mudamos para pior. Amadurecer não significa tornar-se mais sábio ou menos estúpido. Amadurecer deveria significar apenas não ceder mais ao infortúnio; saber trabalhar com as adversidades de uma maneira mais racional; ser mais responsável, inclusive com aqueles a quem cativamos; não ter mais as “aflições histéricas da juventude”. Só que fazemos o contrário.

Fico extasiada quando vejo um casal maduro andando de mãos dadas ou abraçado, coisa tão rara de se ver hoje em dia. As pessoas “maduras” não trocam mais carinhos em público. As pessoas “maduras” não telefonam mais apenas para perguntar como foi o dia do outro. As pessoas “maduras” tornam-se ausentes, mesmo estando com alguém. É uma maneira de não criar vínculos. Quando uma pessoa realmente se preocupa com a outra, quando a felicidade dessa pessoa importa tanto quanta a dela, torna-se “perigoso” voltar a sentir as mesmas tensões que gera um relacionamento. É preferível, então, a quantidade, a segurança que os amores “avulsos” trazem. Não sentir nada mais profundo por alguém é a melhor maneira de não sofrer – dizem.

Não se aprende a amar. Assim como não se aprende a morrer. Lembro de uma frase de Leonardo da Vinci: “Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer”.
Morre-se lentamente estando sozinho. A solidão nos ensina somente que estar sozinho não é bom. É contra a natureza viver sozinho. Amadurecer talvez também signifique encarar de frente a solidão e sair dela, seja que tipo de solidão for: a solidão a dois ou a solidão imposta pelo medo de tornar-se responsável pela felicidade também do outro.
Viver, em certa altura da existência, nada mais é do que um compartilhar de solidões. Só que, hoje em dia, as pessoas vivem muito mal. Justamente por permitirem que seus sofrimentos, traumas e inseguranças sobrepujem suas melhores intenções em relação às outras pessoas.

"Que minha solidão me sirva de companhia.
Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Que eu saiba ficar com o nada
E mesmo assim me sentir
Como se estivesse plena de tudo". (Clarice Lispector)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Fim dos E-mails

Recebi um e-mail contendo um artigo publicado na Folha de São Paulo sobre o fim do correio eletrônico: o e-mail.
Na verdade, tal afirmação, primeiramente, foi de Cezar Taurion, gerente de novas tecnologias aplicadas da IBM Brasil, que participou do 17º Congresso Nacional de Auditoria de Sistemas, Segurança da Informação e Governança (CNSAI). O evento ocorreu em São Paulo entre 22 e 24 de setembro de 2009.
Segundo Taurion, a média de idade dos usuários de e-mail é de 47 anos. As gerações mais novas teriam "preferência por ferramentas de colaboração”, como: wikis, redes sociais, comunicadores instantâneos e grupos de trabalho online. Por esse motivo, o executivo acredita que o e-mail vai desaparecer.

Assim como já decretaram o fim do mundo em diversas ocasiões, esta é mais uma previsão absurda que se mostrará errada em alguns anos. O correio eletrônico poderá ser aprimorado, mas jamais extinto, exceto quando inventarem um sistema que permita as pessoas se materializarem holograficamente e realmente conversarem em tempo real. Ou, quem sabe, por pensamento. A mesma Folha de São Paulo anunciou, em 2003, que Kevin Warwik foi o primeiro homem a implantar um chip em seu corpo para tentar contato direto com computadores. Patrocinado pelo governo britânico, Kevin Warwik percorria a Ásia num afã de promover a robótica. Disse: “dentro de dez a 15 anos, implantes de microchips no cérebro poderão permitir a comunicação entre mudos”. Com planos de implantar um chip em seu cérebro ao fazer 60 anos, afirmou: “no futuro, os homens se comunicarão através do pensamento”. A idéia é que seres humanos possam interagir com computadores e entre si, promovendo uma grande ligação tecnológica.

Antes disso, penso que invenções tecnológicas possibilitarão que as pessoas possam conversar através de seus aparelhos de televisão. Imagina você conversando com seus filhos ou amigos como se estivesse assistindo a um programa de TV? Será o fim também das webcans? Todavia, vaticino que nem em quarenta anos teremos tal tecnologia, principalmente num país onde a educação é deficiente e a maioria da população só sabe acessar as tecnologias básicas.

Outro engano: confundem correio eletrônico com redes sociais. Como se “e-mail” só servisse apenas para manter contato. Até as redes sociais dependem do e-mail para funções administrativas.
E quem são os usuários das redes sociais? Os jovens até 30 anos. A geração “internética”, que jamais redigiu uma carta. Que jamais deu importância à lingua vernácula. Que apanha numa redação do vestibular, acostumada que está com “linguagem internética” (ke ke issu?). Eles entram nos sites de redes sociais 05 dias da semana, 04 vezes por dia, gastando um total de uma hora por dia. 9% desse grupo permanece nas redes o dia todo e constantemente olham para ver o que tem de novo. Vale mais a pena bisbilhotar a vida alheia a transmitir informações. Não têm o que dizer: apenas o que mostrar através de suas fotos e seus vídeos. Estudos comprovam as razões do porquê de alguns usuários de internet não estarem em nenhuma rede social. Surpreendentemente, não é porque eles odeiam tecnologia - eles gastam tanto tempo na web como os usuários de redes sociais. Em vez disso, eles não usam mídias sociais ou porque não tem tempo, ou porque não acham seguro ou até alguns pensam que é estúpido. Faço parte dos “escaldados” que consideram as redes sociais não um lugar de interação, mas um lugar onde a comunicação mediada por um computador esfria as verdadeiras relações e acentua o que há de pior nas relações humanas: a hipocrisia, a falsidade, as más intenções.

Conforme Raquel Recuero, em seu livro “Redes Sociais e Internet”, Editora sulina, 2009, o “advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Entre essas mudanças a mais significativa é possibilidade de expressão e socialização através das ferramentas de comunicação mediadas pelo computador. Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar-se com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões.

E o que é um ator social na Internet? Por causa do distanciamento entre os envolvidos na interação social, os atores não são imediatamente discerníveis. (Aparte: Ouso mencionar Zigmunt Baumam e dizer que, nas redes sociais, contatamos apenas com um “kit identitário”, um retrato compósito capaz de conter tanto lacunas e espaços em branco quanto seções completas). Continuando....: "Um ator, assim, pode ser representado por um weblog, um fotelog, por um twitter ou por um perfil no Orkut. Sibilia (2003) chama de 'imperativo da visibilidade' da nossa sociedade atual a necessidade de exposição pessoal. Esse imperativo, decorrente da intersecção entre o público e privado para ser uma consequência direta do fenômeno globalizante, que exacerba o individualismo". (Aparte: sugiro que leiam a “Sociedade Individualizada”, do Bauman .Desculpem-me por bater na mesma tecla). Continuando.."É preciso ser visto para existir no ciberespaço. É preciso constituir-se parte dessa sociedade em rede e construir um 'eu' ali".
Em relação à interação no ciberespaço, Raquel subdivide-a em: síncrona ou assíncrona.
A síncrona é a interação em tempo real. A expectativa de resposta é imediata. Espera-se que os outros “atores” estejam disponíveis e conectados ao mesmo tempo. Já o e-mail tem características assíncronas. Espera-se que o “outro ator”, por não estar presente no momento temporal da interação, possa respondê-la depois; entretanto, não sendo obrigado a fazê-lo.
Não enalteço o jurássico e-mail em detrimento da veloz comunicação das redes sociais. Em ambos, a efetiva comunicação dependerá dos laços entre as partes, que podem ser fracos ou fortes, de acordo com o grau de intimidade, tempo disponível e recursos disponíveis. Todavia, as redes sociais suportam mais a participação esparsa, decorrente dos laços fracos. A palavra “rede”, segundo Bauman, sugere momentos nos quais “se está em contato” intercalados por períodos de movimentação A ESMO. As movimentações podem ser rompidas muito antes que se comece a detestá-las.

E as pessoas são mais felizes agora, conectadas em redes?

Infelizmente, as pessoas da “era internética” substituem as parcerias reais e autênticas pelas redes de relacionamento. Antigamente, longas cartas eram redigidas, onde era possível transmitir emoção às palavras. O que conhecemos da história foi descrito através de relatos, diários, cartas laboriosamente escritas. Sem essas cartas não nos seria possível conhecer os fatos históricos que hoje conhecemos. Hoje em dia, manter-se em “alta velocidade” torna-se deveras cansativo e a qualidade dos relacionamentos se perde em meio à quantidade de relações irrelevantes.

A mesma pessoa que me enviou o artigo sobre o “fim dos e-mails”, refere-se a mim e a ela como “mentes ultrapassadas”. Não julgo ofensivas essas palavras. Talvez os jovens, por força da necessidade, tenham aprendido que, quando se esquia sobre gelo fino, a salvação está na velocidade. Infelizmente a "velocidade" vem rebaixando os padrões dos relacionamentos ao invés de elevá-los. Para os jovens, a quantidade de amigos no Orkut é o que os torna importantes. Para nós, jurássicos ultrapassados, a felicidade está relacionada com a qualidade dos nossos relacionamentos.
Finalizando, é triste saber que e-mails se tornaram mero envio de arquivos em PPS e documentos administrativos. É triste saber que as redes sociais vêm substituindo as verdadeiras parcerias. É triste saber que, caso a profecia do “fim do e-mail” se realize, será, também, o fim do nosso bom português, pois, conforme o prêmio Nobel em literatura, José Saramago, disse, ao criticar o famigerado Twitter: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido".

Bibliografia:
 

Editora Sulina, na coleção Cibercultura. O livro é fruto do trabalho da tese de doutorado de Raquel de Borba Recuero, a qual desenvolveu várias pesquisas sobre redes sociais nos últimos anos. O livro está dividido em duas partes. A primeira é focada na discussão teórica do que são e como podem ser estudadas as redes sociais. A segunda é focada em algumas aplicações do conceito.


A individualização se tornou o destino de todo habitante de uma grande cidade contemporânea, não uma opção. A sociedade estimula os indivíduos a agirem em função dos problemas e medos que surgem diariamente. E, ao tentar fazer com que as vidas tenham sentido, os homens tendem a culpar suas próprias falhas e fraquezas pelos desconfortos e derrotas que enfrentam. Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, a reação só leva a mais isolamento. O pensador vai fundo nessa teoria e mostra como a sociologia pode contribuir para conectar as decisões e ações individuais aos medos e questionamentos mais profundos do ser humano.

Em relação à referência dos usuários das redes sociais serem “atores” de um mundo onde é preciso expor-se para existir na “Era Cibernética”, sugiro a leitura do “Homem sem Qualidades”, de Robert Musil. Não tendo qualidades próprias, herdadas ou adquiridas e incorporadas, Ulrich, o herói do livro, teve de produzir por conta própria quaisquer qualidades que desejasse possuir, usando a perspicácia e a sagacidade de que era dotado; mas nenhuma delas tinha a garantia de perdurar indefinidamente num mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma inprevisível.


 
 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Nova Carteira de Identidade (RIC)

Saibam como será a nova carteira de identidade, que passará a ser chamada de Registro Único de Identidade Civil. Alguns preferirão chamar de Cadastro Único (a sigla vocês já sabem).

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Jura Secreta

Quem não se lembra dessa música dos anos 70?
Belíssima letra (e melodia) que mudou a vida de muitas pessoas.
Dizem que sua leitura foi até recomendada por psiquiatras a pacientes em processo de autoconhecimento. Dizem, mas não posso confirmar. Dizem, também, tendo em vista a época em que foi composta, que a letra expunha reflexões contra o silêncio imposto pela ditadura. Também não posso confirmar.

Só sei que cada vez que escuto essa música, vém-me à mente a Regra de Martin Heidegger e a obra “Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotherdam.

Para o primeiro, Heidegger, “as coisas só se revelam à consciência por meio das frustrações que provocam"; ou seja, além da efetividade, da fala e do entendimento, é preciso o ser humano experimentar a angústia e a ansiedade para poder tornar sua existência inteligível e compreensível; do contrário, ele será um completo alienado entregue apenas a uma rotina de superficialidades “públicas” em sua vida cotidiana, não sendo ninguém em particular, não tendo necessidade de algo diferente, vivendo sem interesses ou capacidade de se maravilhar. A angústia funciona para revelar o ser autêntico e suas potencialidades, e a ansiedade abre o homem para o ser e não somente para existir num mundo no qual foi jogado.

Para o segundo, Erasmo de Rotherdam, no esforço de sermos bonzinhos deixamos de viver a vida plenamente. Em algum momento das nossas vidas será preciso virar a mesa, chutar o balde, “louquear”... É preferível ser louco a hipócrita. “Aquele grão de loucura pode mudar o sabor do prato que é nossa vida, da mesma forma que o faz um grão de pimenta”.

Vou tentar resumir um artigo do Moacyr Scliar, onde ele interpreta magnificamente o Elogio da Loucura, de Rotherdam.
Louquear não se trata de fazer maluquices. Para Rotherdam, louquear tinha sentido de libertar-se, de escapar dos limites do convencional, do habitual. Louquear era virar a mesa. Não quebrar a mesa, não queimar a mesa; virá-la, simplesmente, criar um cenário diferente e, porque diferente, inspirador.
Virar a mesa, contudo, não é fácil tendo em vista como funciona a nossa cabeça. Freud postulou a existência em três estruturas psíquicas: O Ego, que é nosso jeito habitual de ser; o Superego, que representa nossos valores morais; e o Id, o troglodita que encarna nossos instintos. O Superego não deseja que viremos a mesa. Devemos deixá-la limpa e arrumada. O Id, se pudesse, reduziria a mesa em pedaços e ainda urinaria em cima. E o Ego ficaria entre os dois, perplexo, angustiado, sem saber o que fazer”.

É esse impasse que paralisa o ser humano. Dizem que as pessoas se arrependem mais pelo que não fizeram do que pelo que fizeram. Talvez porque não tenham louqueado o suficiente. A letra da canção “Epitáfio”, dos Titãs, reflete esse tipo de arrependimento. Sugiro que a escutem.

Louquear, então, no meu entendimento, é despertar da alienação (Heidegger), mudando situações que nos deixam paralisados perante a vida. É preciso calar o Superego e dizer-lhe: “Isso não pode continuar. Preciso dar um murro na mesa”. É preciso controlar os instintos do ID: “responsabilidade acima de tudo” e deixar o Ego livre.

Pois, continuando com o Scliar, “louquear, sim. Mas louquear com sabedoria, com arte. Louquear com moderação. Louquear como uma forma de mobilizar sentimentos e emoções de pessoas. Louquear como forma de dar asas à imaginação. Certamente isso não nos fará mal, e talvez até nos faça bem. Pelo menos é uma possibilidade a mais em nossas vidas (grifo meu: regra de Heidegger novamente). Como diz o psiquiatra Jurandir Freire Costa: Um grão de loucura e devaneio, quem sabe, é desta falta que padecem nossas almas, famintas de encantamento”.

A todos que já louquearam, que ainda louqueiam e aos que vão pensar em louquear daqui pra frente, boa sorte e felicidades. Alea jacta est.

sábado, 21 de agosto de 2010

Momento Cultural

Ambiguidade:

Um dos vícios de linguagem é a ambiguidade.
Ambiguidade é a possibilidade de uma mensagem ter dois sentidos. Ela geralmente é provocada pela má organização das palavras na frase. A ambiguidade é um caso especial de polissemia, a possibilidade de uma palavra apresentar vários sentidos em um contexto.

Exemplos:
"Onde está a vaca da sua avó?" (Que vaca? A avó ou a vaca criada pela avó?)

"Onde está a cachorra da sua mãe?" (Que cachorra? A mãe ou a cadela criada pela mãe?)

"Este líder dirigiu bem sua nação"("Sua"? Nação da 2ª ou 3ª pessoa (o líder)?).

Obs 1: O pronome possessivo "seu (ua)(s)" gera muita confusão por ser geralmente associado ao receptor da mensagem.
Obs 2: A preposição "como" também gera confusão com o verbo "comer" na 1ª pessoa do singular.

O candidato José Serra, em horário politico, cometeu esse erro. Vejam o vídeo "Serra, o comedor".

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sexo com Reis

Certa vez, ao mencionar às minhas amigas o que eu costumava conversar com um antigo ex-namorado, tive o dissabor de escutar: “Heloooo, te liga!.. o fulano não é amiga (grifo meu). Esse assunto é para ser tratado entre amigas e não com um homem. Namorado não é AMIGA”. Somente mais tarde pude dar razão à pessoa que tão generosamente alertou-me desse pequeno detalhe.

Mulheres são tagarelas por natureza. Têm a necessidade de falar. Desde o calo que incomoda no pé até o problema da alergia causada pelo uso do sabão em pó na lavagem das calcinhas. Se o homem em questão for a reencarnação do Mahatma Ghandi, ele a ouvirá e a consolará; caso contrário, fugirá como o diabo fugiria da cruz e ainda alardeando: “Credo!... que mulher mais pessimista, lamurienta, baixo astral, carente e o diabo a quatro!”. E se afastam. Só sendo um deus para suportar uma mulher lamurienta, senão...vira um diabo!

Para entender esse processo, tive de ler o livro da escritora Eleanor Herman: “Sexo com Reis”. Como as antigas cortesãs conseguiam manter o interesse de seus reis por um longo, longo tempo? A conclusão é a seguinte:

Aos fios dos séculos, as amantes reais já foram idolatradas, temidas, invejadas e difamadas. Ditaram modas, patrocinaram as artes e, em alguns casos, governaram nações. Sexo com Reis, de Eleanor Herman, nos faz adentrar as salas do trono e os quartos de dormir dos mais poderosos monarcas da Europa. Com diários, cartas pessoais e despachos diplomáticos, a pesquisa meticulosa da autora revela a dinâmica do sexo e do poder, da rivalidade e da vingança nas brilhantes cortes da Europa. Relata quinhentos anos de mulheres deslumbrantes e dos reis que as amaram.

Curiosamente, a principal função das amantes reais não era proporcionar sexo ao monarca, mas sim companhia. Forçados a se casarem com princesas estrangeiras repulsivas, os reis buscavam consolo com mulheres que eles mesmos escolhiam. E que mulheres! De Madame de Pompadour, famosa amante de Luís XV que manteve seu posto por dezenove anos apesar de frígida, à contemporânea Camilla Parker-Bowles, que usurpou ninguém menos do que a glamorosa Diana, a Princesa de Gales.

A amante real bem-sucedida sabia se tornar indispensável. Dispunha-se a conversar alegremente com o rei mesmo quando estava cansada, a fazer amor a noite inteira mesmo quando doente, e a realizar todos os seus caprichos. Ocultando todo e qualquer desconforto com uma máscara de esplendoroso deleite, ela nunca estava exausta, nunca reclamava e nunca ficava triste.

É bem verdade que as recompensas financeiras pelos serviços prestados tinham proporções régias – algumas amantes reais chegaram a ganhar 200 milhões de dólares em títulos, pensões, jóias e palácios. Alguns reis também permitiam que suas amantes exercessem um poder político ilimitado. Porém, apesar de toda essa grandiosidade, uma corte real era um ninho de escorpiões de insaciável ganância, ilimitada luxúria e cruel ambição. Centenas de belas damas almejavam destronar as amantes do rei. Muitas seriam alvo dos paus e pedras da opinião pública negativa, algumas teriam fins trágicos ou receberiam pensões compensatórias para dar lugar a mulheres mais jovens. Mas a amante do rei quase sempre ria por último, vivendo ricamente dos frutos de seus "pecados".

Por isso, mesmo que vocês estejam morrendo, sentindo dores atrozes, jamais demonstrem estarem péssimas a um homem. Sejam sempre as “gazelinhas saltitantes” que eles tanto adoram! Se quiserem desabafar, procurem suas amigas mais fiéis ou, então, seus cabeleireiros. A última vez que me senti confortada foi quando, ao queixar-me de injustiça feita por certa colega de trabalho, ao meu cabeleireiro, ele disse: “Que vontade eu tenho de dar um tapa na cara dela”. Não sei o porquê, mas me senti consolada. Enfim, quando quiserem desabafar, ou procurem suas amigas - juntas tecerão uma estratégia para liquidar com o (a) algoz - ou seus cabeleireiros. Sim, gays entendem perfeitamente a alma feminina.

Quero dizer, a todas vocês, que amei esse livro!

Eleanor Herman nasceu em Baltimore, no estado norte-americano de Maryland. Estudou jornalismo e alemão na Towson State University e línguas na Europa. Durante oito anos, foi editora associada na América do Norte da revista OTAN Nações e Parceiros para a Paz. É casada e vive em McLean, na Virgínia, onde escreve livros de história sob uma perspectiva feminina.

500 anos de Adultério, Poder, Rivalidade e Vingança
"Pesquisa irretocável e estilo divertido nesta história das jezebéis dos monarcas europeus... Erudito e envolvente,escrito com um olho arguto para a política, mas sem nunca abrir mão dos prazeres." – Kirkus Reviews

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Fragilidade dos Laços Humanos

Não costumo ler livros de autoajuda. E eles existem aos montes por aí, desde o que ajuda a “Como fazer xixi no mato” até o que ajuda a “Como tornar-se esquizofrênico e infernizar a vida das pessoas”. Aliás, sempre pensei que as pessoas escrevessem tais livros para curarem as próprias fobias e manias. Na verdade, não existem fórmulas para ser normal e feliz, e receitas prescritas por outras pessoas não são eficazes, uma vez que cada pessoa tem sua própria idiossincrasia.

É por isso que menciono Bauman, quando o assunto versa sobre relacionamentos. Ele não escreve sobre “Como tornar-se boazuda e conquistar rapazes difíceis”: ele escreve sobre os vínculos sociais possíveis no mundo atual, neste tempo que se convencionou denominar de pós-modernidade.

Respeitável sociólogo da atualidade, Zygmunt Bauman é professor emérito de sociologia nas Universidades de Varsóvia e de Leeds, na Inglaterra, tendo vários livros traduzidos para o português, e a obra que irei comentar é Amor Líquido, sobre a fragilidade dos laços humanos.

Diferentemente do que existe por aí - escritores medíocres que julgam poder transformar pessoas com seus livros geradores de paranoia, Bauman não se propõe a indicar ao leitor fórmulas de como obter sucesso nas conquistas amorosas, nem como mantê-las atraentes ao longo do tempo, muito menos como preservá-las dos possíveis, e às vezes inevitáveis, desgastes no decorrer da vida a dois. Ele estende o conceito “liquido” para entender toda pós-modernidade e, muitas vezes, é criticado por isto. Todavia, naquilo que diz respeito à obra Amor Líquido, o autor consegue resultados consideráveis e, deste modo, ilumina as relações amorosas do século XXI e destaca que a frouxidão é a principal característica de tais relações.

Segundo Bauman, o apelo por fazer escolhas que possam num espaço muito curto de tempo serem trocadas por outras mais atualizadas e mais promissoras, não apenas orientam as decisões de compra num mercado abundante de produtos novos, mas também parecem comandar o ritmo da busca por parceiros cada vez mais satisfatórios. A ordem do dia nos motiva a entrar em novos relacionamentos sem fechar as portas para outros que possam eventualmente se insinuar com contornos mais atraentes, o que explica o sucesso do que o autor chama de casais semi-separados. Ou então, mais ou menos casados, o que pode ser praticamente a mesma coisa. Não dividir o mesmo espaço, estabelecer os momentos de convívio que preservem a sensação de liberdade, evitar o tédio e os conflitos da vida em comum podem se tornar opções que se configuram como uma saída que promete uma relação com um nível de comprometimento mais fácil de ser rompido. É como procurar um abrigo sem vontade de ocupá-lo por inteiro. A concentração no movimento da busca perde o foco do objeto desejado. Insatisfeitos, mas persistentes, homens e mulheres continuam perseguindo a chance de encontrar a parceria ideal, abrindo novos campos de interação. Daí a popularidade dos pontos de encontros virtuais, muitos são mais visitados que os bares para solteiros, locais físicos e concretos, onde o tête à tête, o olho no olho é o início de um possível encontro. Crescem as redes de interatividade mundiais onde a intimidade pode sempre escapar do risco de um comprometimento, porque nada impede o desligar-se. Para desconectar-se basta pressionar uma tecla; sem constrangimentos, sem lamúrias, e sem prejuízos. Num mundo instantâneo, é preciso estar sempre pronto para outra. Não há tempo para o adiamento, para postergar a satisfação do desejo, nem para o seu amadurecimento. É mais prudente uma sucessão de encontros excitantes com momentos doces e leves que não sejam contaminados pelo ardor da paixão, sempre disposta a enveredar por caminhos que aprisionam e ameaçam a prontidão de estar sempre disponível para novas aventuras. Bauman mostra que estamos todos mais propensos às relações descartáveis, a encenar episódios românticos variados, assim como os seriados de televisão e seus personagens com quem se identificam homens e mulheres do mundo inteiro. Seus equívocos amorosos divertem os telespectadores, suas dificuldades e misérias afetivas são acompanhadas com o sorriso de quem sabe que não está sozinho no complicado jogo de esconde-esconde amoroso.

A tecnologia da comunicação proporciona uma quantidade inesgotável de troca de mensagens entre os cidadãos ávidos por relacionar-se. Mas nem sempre os intercâmbios eletrônicos funcionam como um prólogo para conversas mais substanciais, quando os interlocutores estiverem frente a frente. Os habitantes circulando pelas conexões líquidas da pós-modernidade são tagarelas à distância, mas, assim que entram em casa, fecham-se em seus quartos e ligam a televisão.

Zygmunt Bauman explica que hoje “a proximidade não exige mais o contato físico; e o contato físico não determina mais a proximidade”. Mas ele reconhece que “seria tolo e irresponsável culpar as engenhocas eletrônicas pelo lento, mas constante recuo da proximidade contínua, pessoal, direta, face a face, multifacetada e multiuso”. As relações humanas dispõem hoje de mecanismos tecnológicos e de um consenso capaz de torná-las mais frouxas, menos restritivas. É preciso se ligar, mas é imprescindível cortar a dependência, deve-se amar, porém sem muitas expectativas, pois elas podem rapidamente transformar um bom namoro num sufoco, numa prisão. Um relacionamento intenso pode deixar a vida um inferno, contudo, nunca houve tanta procura em relacionar-se. Bauman vê homens e mulheres presos numa trincheira sem saber como sair dela, e, o que é ainda mais dramático, sem reconhecer, com clareza, se querem sair ou permanecer nela. Por isso movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos com a esperança mantida à custa de um esforço considerável, tentando acreditar que o próximo passo será o melhor. A conclusão não pode ser outra: “a solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar um terreno doméstico comum”.


Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman, mostra-nos que hoje estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo: o desejo e o amor por outra pessoa. Bauman radiografa esse amor, tanto nos relacionamentos pessoais e familiares quanto no convívio com estranhos. Com a percepção fina e apurada de sempre, busca esclarecer, registrar e apreender de que forma o homem sem vínculos – figura central dos tempos modernos – se conecta.




Outras obras do autor: Comunidade; Em busca da Política; Europa; Globalização: As Conseqüências Humanas; Identidade; O Mal-Estar da Pós-Modernidade; Medo Líquido; Modernidade e Ambivalência; Modernidade e Holocausto; Modernidade Líquida, A Sociedade Individualizada; Tempos Líquidos; Vidas Desperdiçadas;  Vida  Líquida e Vida para o Consumo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O que fazer quando ele não liga para você?

Tenho escutado muitas conversas entre as mulheres. Sempre tem alguém se queixando que o fulano maravilhoso com quem está saindo não liga, não aparece, não dá sinal de vida. A mesma situação se repete cada vez que passam um dia juntos ou uma noite juntos. O sentimento é de que ele não está tão a fim. Em vez de senti-lo próximo a cada encontro lúdico, a sensação é de que tudo terminou antes mesmo de engrenar em algo mais profundo. Então vem a dúvida cruel: deve ou não deve ligar pra ele?

A primeira coisa que as amigas respondem é que não, não deve ligar pra ele. Ele que corra atrás. Então, vem um monte de justificativas da amiga abandonada: “Oh... mas eu tenho certeza que ele gosta de mim”; “ele está apenas se sentindo inseguro com o nosso relacionamento”; “coitadinho... deve estar muito ocupado com o trabalho”; “ele ligou e eu não estava em casa”... Na pior das hipóteses é cogitado o fato do dito cujo ter se acidentado, estiver mal num hospital ou até mesmo ter morrido (O ar distante da amiga significa que ela já está escolhendo o que vestirá de fashion para o velório). E, novamente, a dúvida: Deve ou não deve ligar pra ele por mais que as amigas aconselham-na a não ligar? E se o fulano estiver precisando dela numa hora tão difícil? (Ela se imagina dando banho nele e preparando-lhe uma canjinha especial); ou seja, as justificativas dão lugar aos pretextos. E a mais sentimentos contraditórios. E talvez Rivotril e Lexotan antes de dormir (ou antes de pensar em cortar os pulsos com uma faca de serrinha).

Hello, preste atenção! A verdade é que, se ele não liga, é porque não está tão a fim de você, mesmo! Ou só deseja noites avulsas de amor. Há muitos motivos para um homem se desinteressar de uma mulher após alguns encontros. Mas esses motivos serão discutidos numa próxima postagem. Estamos discutindo agora o que você deve fazer quando ele não liga para você.

Antes de tomar uma decisão, procure pensar no que a motiva a estar num relacionamento que a deixa tão insegura, oscilando entre a raiva, a mágoa e o desejo assassino de fazer um barraco na porta da casa dele.

Em primeiro lugar, não esquente a cabeça pensando que não deve correr atrás dele ou no que fez de errado. Ambos são adultos e possuem livre arbítrio. Podem telefonar quando quiserem desde que tenham vontade. Portanto, não invente mil e uma desculpas para telefonar para ele. Se quiser realmente reencontrá-lo, não hesite e telefone. O máximo que vai acontecer é ele reconhecer teu número no identificador de chamadas e não atender. Ou, então, você atrapalhá-lo bem na hora em que ele estiver numa transa fenomenal – neste caso, além de não te procurar mais, ainda vai te odiar para o resto da vida.

Caso nenhuma das alternativas que citei aconteça, e se ele não quiser se encontrar com você ou inventar desculpas para não revê-la, você sairá ganhando do mesmo jeito por ter ligado, já que ficará consciente que a fila dele deve ter andado e que você também deve fazer andar a sua. Isso se você for bem-resolvida, pois, caso ainda não seja, vai continuar insistindo em tirar água de poço seco. Sabe como é: água mole, pedra dura, tanto bate até que fura. Mas somente se você ainda acredita em fadas, duendes, gnomos, Papai Noel, Saci-Pererê e em sapos que se transformam em lindos príncipes.

Mas, caso você notar que ele também está interessado, convide-o para sair. Faça o que tiver vontade, sem se reprimir. Confie no seu taco e vá em frente.

Lembre-se: A única certeza que você pode ter quando inicia qualquer espécie de relacionamento é que tudo pode terminar um dia; portanto, faça o que tiver vontade, com liberdade e responsabilidade.

Sugestão de filme para assistir enquanto espera o telefone tocar, na esperança que seja ele: "Ele não está tão a fim de você". Abaixo, o trailer.

domingo, 15 de agosto de 2010

Etiqueta no Cinema

Assistir a um bom filme sempre é um ótimo entretenimento. Antes de comprar seu ingresso, leia a cartilha de boas maneiras que preparamos com a ajuda de lanterninhas (?) de cinema.

- Em primeiro lugar, não fure a fila: Mesmo que seus amigos lhe ofereçam para comprar o seu ingresso, não use dessa mal-educada vantagem. Todos estão na fila esperando a sua vez para ser atendidos;

- Encontre seu lugar: Se não achar cadeira para ficar junto com os amigos, desista de sentar no chão ou no pé da escada. É proibido. Muitas salas contam com câmera com infravermelho para auxiliar na fiscalização. A gerência vê tudo o que acontece dentro do cinema;

- Use pipoca como se deve: Ela não é aviãozinho para se ficar jogando pela plateia. Alguns cinemas baniram o comércio de tal petisco para evitar essa queixa constate. Crianças carregando sacos de pipoca deixam uma trilha pelos corredores do cinema;

- Beije com pudor: Um beijo “mais caliente” pode constranger os vizinhos. Já houve casos de se convidar casais a se retirar, disse-me um gerente de cinema, por comportamento indevido dentro do cinema;

- Coma pouco e com discrição: Prefira comer na hora do trailer, ou seja discreto. O barulho dos sacos de papel, das embalagens plásticas, da pipoca na boca irrita o pessoal, diz um gerente de cinema;

- Se ligue e desligue o celular: Há ainda quem cochiche ao telefone ou mande torpedos no meio da
sessão. A voz, mesmo que baixa, e clarão do visor atrapalham quem está ao lado e atrás;

- Guarde as imagens na memória: Nada de registrar o que está na telona com sua câmara ou celular. A lei prevê de dois a quatro anos de prisão. Houve gente flagrada filmando o “Avatar”;

- Ajeite-se corretamente em sua poltrona: Procure se acomodar na cadeira sem colocar os pés na poltrona da frente. Chutar assento já acabou em briga. Você não está em sua casa assistindo a um DVD.

Minhas observações:

1) Noto que, atualmente, até pessoas idosas, que deveriam ter mais experiência em assistir a filmes, falam durante as sessões.

2) Pais passam o filme inteiro, quando é infantil, contado a história para os seus filhinhos, evitando que eles pensem e vejam o filme com seus próprios olhos.

3) Nas salas de cinema, hoje dia, os casais jovens fazem verdadeiros pic-nic. Come-se de tudo durante um filme.

4) Há pessoas que nunca desligam seus celulares, passam longas mensagens de texto, com o visor aceso incomodando que está sentado ao lado e atrás.

5) Hoje, só há, nos cinemas, bilheteiros, vendedores, porteiros e faxineiros. Não há mais lanterninhas nem fiscais. Dentro do cinema vigora a Lei do Mais Forte. Já me incomodei dezenas de vezes, mudava de lugar. Hoje não me importo mais. Vou armado de pau... Um dia ainda faço uma loucura!

* Por Nilo Moraes, meu primo, um cinéfilo de carteirinha.

O Coelho de Pelúcia

O Cavalo de Pele tinha vivido por muito mais tempo no quarto de crianças do que qualquer um dos outros.

Ele era tão velho que seu revestimento marrom estava careca nos remendos e mostrava as costuras embaixo, e a maioria dos pelos em sua cauda tinham sido arrancados para fazer colares de contas.

Ele era sábio, porque ele tinha visto uma longa sucessão de brinquedos mecânicos chegar se gabando e andar com arrogância, e um a um quebrar suas molas principais e acabarem-se. Ele sabia que eles eram apenas brinquedos, e nunca se tornariam qualquer outra coisa.

Pois a mágica do quarto de criança é muito estranha e maravilhosa, e somente aqueles brinquedos que são velhos, sábios e experientes como o Cavalo de Pele, compreendem tudo isso.

"O que é REAL?" perguntou o Coelho um dia. "Significa ter coisas que zumbem dentro de você e uma manivela saliente?"

"Real não é como você é fabricado", disse o Cavalo de Pele. "É algo que acontece com você".

"Quando uma criança o ama por um longo, longo tempo, não apenas para brincar com você, mas REALMENTE ama você, então você se torna Real".

"Isso machuca?"

"Hummmmmm... às vezes", ele era sempre sincero. "Quando você é Real, não se preocupa em ser machucado".

"Isso acontece de repente, como quando alguém lhe dá corda ou aos poucos?"

"Isso não acontece tudo de repente... Você se torna (transforma). Demora um longo tempo. Por isso não acontece freqüentemente para as pessoas que se quebram facilmente, ou que têm bordas afiadas, ou que têm que ser guardadas com cuidado".

"Geralmente, quando você se torna Real, a maior parte de seu cabelo foi (amorosamente) arrancada, e seus olhos caem e você se torna frouxo nas juntas e muito surrado".

Mas estas coisas não importam no entanto, porque uma vez que você é Real, você não pode ser feio, exceto para pessoas que não compreendem".

Obs.: Esse trecho corresponde à história "The Velveteen Rabbit" narrada por Meryl Streep num CD musicado e produzido por George Winston, pertencente à coleção "Dancing Cat Records" retirada da versão completa disponível no site: http://www.writepage.com/velvet.htm.
A história completa pode ser lida, em português, no site http://www.idph.net/idiomas/velveteenrabbit.shtml