domingo, 30 de janeiro de 2011

O SABOR DO PROIBIDO

Este post é para dois amigos que estão passando por situações difíceis em seus respectivos relacionamentos. O que eles têm em comum? Ambos se envolveram com pessoas casadas, com filhos e em vias de separação, dizem.
A diferença é que ela, minha amiga, está envolvida com um homem fisicamente disponível, uma vez que pode estar quase sempre com ela, mas indisponível emocionalmente, uma vez que se preocupa muito em não magoar a mulher e filhos. Ele, meu amigo, encontra-se envolvido com uma mulher indisponível fisicamente – não pode estar com ele tanto quanto ele gostaria -, mas disponível emocionalmente para trocar promessas, e-mails e torpedos.
Não sei quem está em pior situação. Só sei que dificilmente alguém sairá incólume, sejam eles, os cônjuges traídos ou os filhos que terão de suportar uma possível separação de seus pais. Repito: numa relação desse tipo, há mais traumas que paz.
Abster-me-ei de pesquisar a respeito. Para esse tipo de situação não existe explicação científica. O que não pode ser racionalizado, não pode ser explicado. Somente sentido. Opinarei levando em conta minhas experiências e opinião subjetiva. Escaldados, mais do que ninguém, já sentiram na pele o ardor da água fervente - ou a ducha de água fria- mesmo tendo as melhores intenções.
O amor não escolhe hora, lugar ou coração. Instala-se repentinamente ou lentamente, caso, além da atração, também exista objetivos afins. E por que eles foram se apaixonar logo por pessoas comprometidas? E será amor mesmo ou apenas atração pelo desejo do proibido? Creio que existe ainda o fator carência e solidão, de um lado, e a vontade de se sentir querido e esquecer o quanto já não há mais encantamento no casamento, do outro. E a baixa autoestima, que faz com que muitas pessoas sintam o desejo de vencer algum rival tirando o que é dele, somente pelo desejo de se sentir superior?
Não existe explicação. Cada pessoa é una e reage de maneira racional ou emocional. E creio que pessoas que sentem atração pelo proibido são as que mais valorizam a emoção e as aventuras. Pessoas racionais costumam pesar os prós e contras e sempre optam de maneira a evitar sofrimento, tanto em si mesmas quanto em outrem. Pessoas racionais sabem que só serão felizes se se relacionarem com pessoas disponíveis física e emocionalmente. E vale a pena deixar-se levar pelo cartesianismo e perder a fantasia, o encantamento e a excitação de um romance shakespeariano? Não, o jogo da conquista do “impossível” é sedutor demais para se ficar de fora.
Uma coisa é certa: a maioria das pessoas que traem justifica tal ato culpando o cônjuge por não dar atenção suficiente, sexo suficiente, afeto suficiente. Diz-se infeliz no casamento ao lado de alguém a quem não ama mais e que lhe dá somente indiferença. Se a amante tiver alto nível de ocitocina (hormônio produzido pelo hipotálamo que, dependendo da quantidade, pode revestir a mulher de instinto maternal ou não), certamente se sentirá no dever de dar ao homem casado tudo o que a esposa não dá: sexo, carinho, beijos, juventude (se a esposa tiver muito mais idade).
No caso do amante, se ele não tiver o gene receptor da vasopressina, diante de tantas queixas da mulher casada, sentir-se-á tentado a bancar o “príncipe encantado”, o salvador, e vestirá a “camisa do outro” com o maior prazer, pois o apelo do sexo e da aventura será muito maior que seus princípios morais. Danem-se o marido e os filhos dela. Ele quer a fêmea, a caça e a obterá.
Segundo estudos informados no livro da escritora Liz Gilbert, há dois tipos de homem no mundo, dependendo da variação química do gene receptor da vasopressina: os feitos para terem filhos (maiores candidatos à vasectomia) e os feitos para criar filhos. Os que possuem o gene tenderão a ser leais, dedicados e possuir grande senso moral, criando seus próprios filhos em lares estáveis. Os que não possuem o gene tenderão ao flerte, à aventura, à infidelidade e a relacionamentos inconstantes e complicados.
Esforço-me para não julgar, não condenar e não criticar. Sempre alardeei que um dos males do mundo é a falta de encantamento. Mas, a duras penas, aprendi que encantamento é bom e gratificante quando traz paz à alma e não angústias. O saber-se amado e poder retribuir livremente, sem magoar-se ou ferir-se, nem causar sofrimento. Aqueles que entram num relacionamento porque o proibido tem muito mais sabor porque tem o gostinho da fantasia, sendo essa a única justificativa, são como vendavais: fazem muitos estragos, mas são passageiros.
O que eu diria a eles?
Nada. Que vivam conforme suas escolhas. Cada um tem a própria maneira de interpretar o que é fantasia e encantamento. Optar por uma pessoa casada pode levar à loucura do prazer ou da insanidade, dependendo do grau de resiliência dos amantes. Para sustentar uma relação repleta de incertezas é preciso mentir, esconder-se, viver com o peito apertado, outorgar à pessoa que se encontra casada o poder de decidir sua vida, sua liberdade, seus sonhos, sujeitar-se às migalhas de afeto, mendigar por mais tempo e atenção.
Migalhas de afeto, mas, como diz aquele velho ditado: de grão em grão a galinha enche o papo, ou seja, pouco a pouco se consegue o inteiro.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O QUE É SER NORMAL?

Estava, ontem, numa banca de revistas e, após escolher duas revistas voltadas à filosofia, a menina que estava no caixa me perguntou;
- Ler sobre filosofia é bom?
Respondi-lhe que filosofia era melhor que qualquer terapia.
- E o que a filosofia pode fazer por uma pessoa que precisa de tratamento psicológico?
Diante do interesse dela, discorri sobre como a filosofia influencia as pessoas de forma construtiva, fazendo com que contemplem as diversas opções que surgem em seus caminhos de maneira equilibrada. Que, às vezes, muitas pessoas nem precisam de antidepressivos ou de qualquer outro remédio que altere a química cerebral. Basta que saibam identificar o problema, voltarem-se para dentro de si mesmas a fim de analisá-lo (o problema) e pensar positivamente, extraindo algum tipo de ensinamento da adversidade.
Paguei pelas revistas e, quando estava saindo, a mãe dela chamou-me e, sussurrando, me disse:
- Minha filha é depressiva desde os 14 anos de idade (fiquei sabendo depois que ela tinha apenas 17 anos) e consulta com psiquiatra, pois ele acha (ele ACHA, ora essa) que ela tem tendência ao suicídio. Temo que agora ela vá querer abandonar a terapia, pois sempre falou que não é louca pra estar consultando com psiquiatras.
-Senhora – respondi-lhe – sua filha é linda, tem aparência saudável, trabalha, parece ser uma menina feliz. O que ocasionou a ida dela a um psiquiatra?
- É que um primo dela se suicidou quando ela tinha 14 anos. Como ficou muito abalada, levei-a a um médico. Como ele disse que ela estava em depressão por causa da morte do primo, receitou-lhe remédios e disse que era preciso também fazer terapia, pois, suicídios, podem ser mal de família. Como há um histórico de suicídio, então... blá...blá...blá...
Deus do céu, confesso que fiquei com pena daquela garota que parecia tão saudável e alegre, mas preocupada por estar sendo tratada como louca. Conheço pessoas equilibradas, mas não soube de alguma que estivesse feliz o tempo inteiro ou que não tivesse sofrido desânimos esporádicos por golpes da vida e angústias em períodos de crise. Também sei que a maioria delas conseguiu sobreviver sem medicamentos ou terapia.
Uns optam por ficarem reféns de médicos psiquiatras ou terapeutas charlatães, bem como de “fornecedores de sensações temporárias de felicidade”. Eu sempre optei pela liberdade de poder sentir a dor, seja de uma perda ou devido a uma frustração qualquer. Chamo a isso de “aguentar no osso”, mas não ceder ao infortúnio. Entre atirar-me no poço e afastar-me dele, sempre vou preferir dar um passo para trás, nesta ocasião. E mesmo que me sentisse no fundo do poço, não serio o caso de ter necessariamente alguma moléstia. Se fosse assim, pessoas em luto seriam presas fáceis para diagnósticos de doença mental. Remédios, portanto, não resolvem a agonia de alguém que está sofrendo: esta pessoa só precisa de alguém que a console, que a ouça ou de aconselhamento filosófico, se for o caso (saudades do Dr. Ênio Abreu, que curou muitas pessoas em pânico somente aconselhando-as filosoficamente).
Já me referi em outro post sobre a teoria de Martin Heidegger. As coisas só se revelem à consciência por meio da frustração que provocam. Neste caso, medicar uma pessoa que está passando por um momento difícil não é deixá-la alienada de si mesma?
Se tudo for levado ao pé da letra, ou seja, se continuarmos entrando sãos num consultório e saindo de lá com alguma doença mental diagnosticada, em breve seremos todos zumbis. Ou melhor: sobrará alguém normal? Será que, futuramente, não ser louco será considerado outra forma de loucura, conforme vaticinou Blaise Pascal?
Penso que é preciso haver moderação por parte dos médicos que prescrevem tais paliativos para pessoas com problemas psicológicos sem causa específica e sem sintomas claros de moléstia.  Estar triste não pressupõe transtorno mental. É preciso saber distinguir o padrão de funcionamento de cada um (personalidade) de um transtorno ou neurose (quando uma pessoa pode agir de modo a causar sofrimento ou prejuízos em si mesmo ou em outrem).
Enfim, se você não é boderline, narcisista, paranoide, antissocial, psicopata, fóbico, histérico, obsessivo ou esquizoide, considere-se normal e procure pôr mais filosofia em sua vida quando estiver num mau momento.
E como é possível atingir a estabilidade emocional?
- deixando a infantilidade de lado, tolerando as frustrações e não querendo tudo pra ontem. Todavia, irritar-se porque foi mal atendido num restaurante ou com alguém que furou a fila, não o transforma num paranoide.
- usar seus recursos naturais, como experiência e inteligência, para corrigir, constantemente, o seu modo de agir.  Seja fiscal de si mesmo e busque por autoconhecimento;
- tentar ser razoável com os seus desejos e com as demandas do mundo externo. Não adianta se agoniar por não ter ou não ser tudo o que deseja e admira. Apenas os narcisistas sentem vontade de morrer por causa de um joanete;
- manter o equilíbrio emocional e tentar adaptar-se às dificuldades da vida. É justo sofrer e chorar, mas sem transformar-se num monstro. Tentar matar seu cônjuge porque foi traído, torna-o um psicopata irreversível. Saiba sofrer com dignidade.
- ter prazer nos vínculos sociais, familiares e nas experiências compartilhadas.
Enfim, querer viver a vida em toda a sua plenitude, e de maneira responsável, saudável e equilibrada, também não deixa de ser uma loucura. Mas é dessa loucura boa que precisamos.
Se tiverem tempo e ainda olhos saudáveis, assistam a esse vídeo interessante.
Antes disso (poupem mais um pouco os seus olhos), é importante saber que, conforme pesquisa, da primeira edição do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Problemas Mentais), em 1952 eram apenas 106 doenças mentais diagnosticadas. A edição de 2000 já relata 365 casos. Só Deus sabe quantas mais surgiram até 2011. Se eu revelar a algum médico que me irrito quando alguém chuta a minha cadeira num cinema, serei diagnosticada como “hostil” e talvez receba alguma receita para aliviar minha paranoia.

domingo, 23 de janeiro de 2011

CRIAR RAÍZES OU FIXAR ÂNCORA?

“O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor; uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante.
- Bom dia – disse o príncipe.
- Bom dia – disse a flor.
- Onde estão os homens? – perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
- Adeus – disse o principezinho.
- Adeus – disse a flor.”
Este trecho faz parte da fábula O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry.
Esta fábula foi criada em 1943. É nela que encontramos a célebre frase “só se vê bem com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos”. A fábula trata da experiência imaginária de Exupéry - que era aviador - junto ao principezinho, um viajante que, antes de chegar a Terra, o sétimo dos planetas visitados, passou por vários outros planetas “colhendo” aprendizados que, depois, repassou ao narrador.
Neste encontro com uma flor de três pétalas o principezinho procura pelos homens, seres que, segundo a flor, são incapazes de lançar raízes porque as desprezam.
Lembrei-me desse trecho ao ler um excerto do livro “A Arte da Vida”, de Zigmunt Bauman (sempre ele).  Bauman faz uma excelente comparação entre fixar raízes e lançar âncora, em se tratando da arte da vida.
Antigamente era imperioso que as pessoas constituíssem família e gerassem prole. Era preciso dar um sentido de permanência à vida. Plantava-se a semente, a qual criava raízes, germinava e crescia, dando frutos ou não, dependendo dos cuidados das mãos que a semeara.  O que era cultivado era irremovível, exceto quando arrancado ou destruído por alguma tempestade. Enfim, a instituição família representava a solidez, sendo somente apartada pelas intempéries da vida.
Toda essa metáfora foi para dizer que, hoje em dia, em nossa sociedade contemporânea, apesar da fecundidade do solo, bons semeadores são raros. Bom semeador é aquele que, uma vez plantada a semente, sabe que é preciso cuidar para que a planta cresça saudável e longe das ervas daninhas ou de predadores. Ele sabe que a colheita de bons frutos dependerá de sua paciência e dedicação.  O mau semeador sempre é um insatisfeito. Egoisticamente, sempre pensa que pode haver solos melhores lá adiante. Transforme a palavra “planta” em “família” e entenderá o que quero expressar.
Num mundo repleto de pessoas confusas em relação aos próprios sentimentos, os relacionamentos são vistos mais como ameaçadores do que salutares. Famílias são construídas, mas sobre solo de areia movediça. Sem raiz, a estrutura familiar tornou-se frágil, presa apenas por laços que podem ser rompidos até por motivos banais. É como se um navio aportasse num porto, fixasse suas âncoras e esperasse que alguém viesse carregar-lhe os containers vazios.  Enquanto o porto for atraente e servir para a finalidade que o fez lançar sua âncora, o navio vai ficando. Caso não sirva mais aos seus propósitos egoísticos, içará a âncora e partirá em busca de novos portos.
Criando raízes ou apenas fixando âncora, todos procuram a mesma coisa: a felicidade. E nunca encontrei – digo enfaticamente – alguém que fosse feliz sozinho. Li, há anos atrás, que somos tão felizes quanto são nossos relacionamentos e que estes dependem da qualidade dos laços que firmamos, sejam familiares, sentimentais ou de amizade. E algo me diz que as pessoas estão mais infelizes hoje porque não podem mais contar com o sentido de permanência de outrora. Sem raízes e com portos provisórios, é natural que as pessoas sintam-se perdidas, sem rumo, sem significado algum.  A quantidade de receitas prescritas de “fornecedores de sensações temporárias de felicidade” (as famosas tarjas pretas) prova isso, quando só é preciso doses de amor, afeto e segurança emocional para motivar alguém a transformar sua vida em uma obra de arte, segundo Bauman.
Não existem pessoas infelizes: apenas pessoas sem amor algum. Refiro-me àquelas pessoas que não amam nem a si mesmas e nem ao próximo. Estas pessoas não têm como serem receptoras ou doadoras de amor. São tão solitárias quanto a flor do Saint Exupéry; ao contrário daquelas pessoas que, mesmo não sendo amadas, mas contando com o amor  dentro de si, doam-no sem esperar nada em troca. As pessoas que fazem algum tipo de trabalho voluntário sabem como é gratificante o ato de doar-se incondicionalmente. O sentimento de felicidade, se não total, pelo menos os desviam de suas próprias inquietudes.
Não existe fórmula para a felicidade, por mais que enxurradas de manuais de felicidade sejam lançadas no mercado no intuito de gerar renda aos aproveitadores de plantão das dores alheias (escritores de péssimos livros de autoajuda). Tudo é uma questão de valores aprendidos desde a infância, seja em um lar estruturado ou não, e cada pessoa opta por reagir de maneira construtiva ou destrutiva. Mas, assim como uma raiz cresce de dentro para fora, para melhor fixar suas raízes, a felicidade deve ser buscada da mesma maneira.




Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam pode ser achado numa só rosa (Antoine de Saint Exupery).

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Projeto do Movimento Gabriela Sou da Paz encontra-se parado no Senado.

O PL 7053/2006 é um Projeto de Lei de iniciativa popular criado pela Cleyde Prado Maia e Carlos Santiago, pais da Gabriela e fundadores do Movimento Gabriela Sou da Paz, do Rio de Janeiro. A ONG Brasil Sem Grades ajudou a coletar um milhão e trezentas mil assinaturas, no Brasil, necessárias para que uma emenda popular seja levada à votação no Senado. Este projeto foi entregue em 08 de março de 2006 ao Sr. Renan Calheiros e ao Sr. Aldo Rabelo em Brasília, e desde então se encontra parado no Senado para votação.
O conteúdo do projeto visa unicamente fechar brechas na lei atual que deixa os criminosos soltos, por exemplo:
1) Acabar com a aplicação do conceito de "crime continuado" aos casos de homicídio.
 Pela legislação atual, matar várias pessoas ao mesmo tempo equivale a matar uma só. Exemplo prático: na chacina de Vigário Geral foram assassinadas 21 pessoas, mas a lei unifica essas 21 mortes e considera que os assassinos praticaram um único crime: 21 vidas passam a valer uma só.
2) Acabar com o protesto por novo júri ( único item alterado na Legislação Penal, mas a favor do bandido).
 Embora o código Penal diga que a pena máxima é de 30 anos, na prática ela é muito menor: por mais bárbaro que seja o crime cometido, os juízes não costumam condenar ninguém a mais de 19 anos e alguns meses. Pela legislação atual, se condenado a mais de 20 anos, o réu tem direito imediato a um segundo julgamento, que ainda pode ser postergado por muitos e muitos anos.
3) Fazer com que a aplicação de benefícios seja baseada no tempo total da condenação.
Pela legislação atual, mesmo que a soma dos delitos praticados tenha resultado numa pena de 40, 50 anos, os criminosos cumprem, em média, cinco a seis anos no máximo, porque os benefícios são concedidos tomando como base os 30 anos que a lei estabelece como pena máxima, e não o total da pena a que foram condenados.
4) Estipular que o trabalho seja condição para a concessão de benefícios.
Para que o preso tenha direito a benefícios como liberdade condicional e os regimes semiaberto e aberto, deverá trabalhar. Caso não queira, cumprirá sua pena integralmente. A proposta de estabelecer o trabalho como condição para a concessão de benefícios traz, na prática, grandes vantagens para o preso, porque só o trabalho pode contribuir para sua ressocialização e para uma maior humanização da vida na cadeia. A medida obrigaria o Estado a incluir, nos presídios novos que estão sendo construídos, condições para que esse item possa ser cumprido.
5) Impedir o condenado pela prática de crime hediondo de recorrer em liberdade.
 Quem já foi condenado a mais de quatro anos de prisão, por qualquer crime, e venha a cometer um crime hediondo, deve cumprir a nova pena em regime integralmente fechado. E aquele que for condenado por crime hediondo, pelo Tribunal do Júri, deve ser imediatamente preso, não podendo recorrer da sentença em liberdade.
6) Não conceder o benefício de indulto ao condenado por crime de tortura.
O indulto é um ato de clemência do Poder Público. É uma forma de extinguir o cumprimento de uma condenação imposta ao sentenciado desde que se enquadre nos requisitos pré-estabelecidos no decreto de indulto, expedido na época da comemoração do Natal. Condenados por crime de tortura não devem ter esse benefício.
 A Constituição garante ao povo o direito de encaminhar e fazer valer seus projetos de mudanças, mas parece que projetos que visam o bem-estar dos cidadãos de bem não interessam muito aos nossos parlamentares.
Um problema corriqueiro – e odioso - no Brasil é que a maioria dos nossos legisladores legisla em causa própria.  Esses cidadãos que aumentam os próprios salários nas costas do povo brasileiro, e que são capazes de votar, sem ler, uma emenda constitucional a favor da inclusão de 1 litro de cachaça na cesta básica dos brasileiros, conforme mostrou programa jornalístico, provam, a cada eleição, que entrar para a política é um bom negócio. Maus exemplos os ensinaram que gerir dinheiro alheio é bem melhor que trabalhar - ainda não consegui digerir a reportagem sobre as pensões vitalícias dos ex-governadores. Pedro Simon teve a cara de pau de dizer que solicitou a sua devido ao fato de não poder mais “manter a casa e a mulher estar reclamando”.
E, antes que me esqueça, tramita o projeto nº 1.731, apresentado ao Congresso Nacional no dia 14 de abril do ano passado, de autoria de mais uma “mula politiqueira”, Deputado Gerson Peres do PP/PA, o qual, caso for aprovado, regulamentará os blogs brasileiros, ou seja, blogueiros deverão moderar seus comentários sob as penas da lei e serão passíveis de uma multa de R$ 10.000,00 caso difamem ou injuriem, através de seus blogs, nossos honestos parlamentares. A proposta argumenta que as medidas são necessárias para impedir o impacto das “injúrias” na web.
Para quem não sabe, o autor da lei consta no caso do “parlamenturismo”, com viagem para Paris.
Se alguém quiser ajudar ao Movimento, basta ligar para Disque-câmara. Telefone: 0800-619619 ou Alô Senado. Telefone: 0800-612211 e exigir que o projeto vá para votação.


Cleyde Maia Prado Ribeiro, mulher guerreira, idealizadora do Movimento após perder a única filha por causa de uma bala perdida, transformou seu luto em luta. Faleceu em 2008.
“Deus me chamou pelo amor e não pela dor. Dou-Lhe graças por isso” (Cleyde Maia Prado Ribeiro).


domingo, 16 de janeiro de 2011

A Mulher Perdigueira - Fabrício Carpinejar

Ao ler o livro de crônicas de Fabrício Carpinejar – excelente, por sinal – cheguei à conclusão que prefiro ser uma mulher perdigueira. Isso mesmo: uma mulher perdigueira, e jamais conseguirei mudar esse meu lado trágico; todavia, posso amenizá-lo, sem, contudo, deixar-me manipular por interesses e vontades alheias.
E o que seria uma mulher perdigueira?
Antes de tudo, lembro-me do que o pai de uma amiga nos disse há décadas atrás: para manter um homem sempre ao lado é necessário ser boa cozinheira, boa na cama, idolatrá-lo e não ser ciumenta. Esses são os quatro ingredientes para manter um casamento - namoro, caso, amizade colorida etc.- saudável. Essa é a mulher ”lulu da pomerânia”.
Vejo diariamente vários exemplos de mulheres que fazem das tripas o coração para não desagradarem seus respectivos afetos. Calam, quando a vontade é de falar o que o coração sente; sorriem docemente, quando a vontade é dar uma sapatada na cabeça de algum infiel; preparam aquele jantarzinho especial, enquanto o fofo assiste à televisão, com um copo de cerveja nas mãos, quando a vontade seria de colocar um vestido bonito e jantar em algum lugar charmoso; e, claro, esmeram-se para decorar todas as posições do Kama Sutra, para exaurirem seus homens, para que eles não busquem na rua o que não têm dentro de casa. Também se tornam especialistas em massagens tailandesa, californiana, tântrica, facial, antiestresse, desportiva, preventiva, terapêutica, massagem de ego etc. Para a mulher “lulu da pomerânia”, é proibido falar em cansaço depois de um dia exaustivo. É proibido queixar-se de algo que não tenha ocorrido bem. É proibido revelar os ciúmes quando o sujeito demonstra claramente que ela não é quem pensa ser na vida dele, ou seja, a única. É proibido tentar afastar da vida dele ou falar mal das amigas Sandrinha, Julinha, Lucinha, seja com que nome o diabo costuma se disfarçar. Fazer barraco por que a Sandrinha quase se atirou no colo dele? Nem pensar! É proibido, também, dizer “não, hoje não estou a fim”. É proibido telefonar para saber como ele está: eles interpretam isso como perseguição ou tentativa de controlá-los. Enfim, é um crime não ser uma deusa e ter sentimentos imperfeitos. Somente a eles pode ser dado o direito da imperfeição. A justificativa? São homens, e não são encontrados facilmente.
É claro que nem todos os homens apreciam as lulus. Existem homens que permitem a mulher ser, em sua real essência, e até se sentem orgulhosos dela. Homens como Fabrício Carpinejar.
Eis como ele descreve uma mulher perdigueira, que dá nome ao livro:
Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar uma ideia ou uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando. A mulher que ninguém quer eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer”.
Enfim, a mulher perdigueira é, segundo a visão de Carpinejar, possessiva, escandalosa, preocupada e apaixonante. Uma mulher para homens fortes. Para outros, ela é uma doida varrida, mas, para Carpinejar, louco é quem não demonstra sua necessidade. E finaliza: “com uma mulher ciumenta ao lado, nunca estamos isolados, tristes ou feios”.


"A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor.
Como se fosse um crime desejar alguém com toda intensidade. Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance. Tem que se controlar, fingir que não está incomodada, mentir que não ficou machucada por alguma grosseria, omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra.
Ela é vista como uma figura perigosa. Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado. Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca.
Exige-se que seja educada. Ora, só o morto é educado.
O homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol. Para honrar a saída com os amigos. Para proteger suas manias. Diz que não quer uma mulher o perseguindo. Que procura uma figura submissa e controlada que não pegue no seu pé.
Eu quero. Quero uma mulher segurando meus dois pés. Segurar os dois pés é carregar no colo.
Porque amar não é um vexame. Escândalo mesmo é a indiferença”

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Comer, Rezar e Amar

Li o livro da escritora Elizabeth Gilbert e também assisti ao filme homônimo. Aliás, este último é a cópia fiel do primeiro.
O que me leva a postar minha opinião, neste blog, é o fato de escutar inúmeras críticas em relação ao filme cada vez que menciono tê-lo assistido, e muitas delas vindas de pessoas que sequer o assistiram, mas que foram levadas por opiniões alheias. São muitas as opiniões contraditórias, e eu não poderia deixar de tecer a minha, contraditória ou não.
Para muitos, tanto o livro quanto o filme foram uma chatice recheada de clichês, uma novela contando a história de uma mulher carente que teve a ousadia, a discrepância de abandonar um homem que a amava pelo desejo de sair em busca de autoconhecimento; para outras pessoas, trata-se da história de uma mulher em busca de crescimento pessoal e, consequentemente, da felicidade.
Não é o melhor filme de todos os tempos, não possui cenas eletrizantes e nem efeitos especiais estupendos, apesar de possuir excelente fotografia. Talvez seja por isso que tantas pessoas não o tenham apreciado, pois, acostumadas que estão em viver suas próprias fantasias e irrealidades, não conseguem enxergar a vida como ela é quando traduzida em sentimentos.  E é isso o que o filme retrata: a realidade de uma mulher de 30 anos – mas poderia ser a história de um homem também ou de qualquer uma de nós -, que enfrentou uma crise de meia-idade precoce, ocasionada por um vazio existencial e perda de rumo.
Quem nunca se perguntou coisas do tipo: “Quem sou eu? Qual o sentido da minha existência? O que estou fazendo aqui?” - Podemos negar até a morte, mas todos nós somos seres conflitantes e fadados a algum tipo de neurose em algum momento das nossas vidas. Somos passíveis de sofrer situações adversas, ninguém é infalível, e só conseguimos superar problemas quando aliamos a busca da felicidade ao crescimento pessoal.
Cada pessoa tem uma maneira subjetiva de buscar por esse crescimento e de resolver conflitos interiores (desassossegos). Há quem prefira seguir por vias espirituais – trabalhos voluntários, cursos doutrinantes, cuidar dos mais necessitados. Há quem prefira seguir por caminhos mais racionais – estudando psicologia, filosofia, frequentando grupos de estudos sobre a vida de Nietzsche ou de Jesus Cristo. Há, ainda, aqueles que preferem seguir por caminhos um tanto hedonistas, ou seja, baladas com os amigos, busca por diversões vertiginosas, adrenalina, sexo selvagem - geralmente o caminho preferido pela ala masculina. Nem vou comentar aqueles que preferem - ou precisam - ficar reféns de psiquiatras gananciosos ou da indústria farmacológica, quando nenhuma das alternativas acima resolve.
Não direi que todas as maneiras de se buscar crescimento pessoal estejam erradas. Provavelmente todas estão certas, dependendo das idiossincrasias de cada um. O que não é sadio é ficar paralisado frente aos medos e vazios, aceitando-os como se nada pudesse ser feito para aliviar a alma e permanecendo nos mecanismos de repetição.
Liz Gilbert optou por viajar por um ano em busca de autoconhecimento. Alguns podem ter pensado em quão estranha foi a saída que ela escolheu, mas dada a complexidade do psiquismo humano, cada um age conforme a intensidade do que sente. No caso dela, fazer uma faxina interior, organizar-se mentalmente para melhor entender os sentimentos, foi mais eficaz que uma visita ao consultório de algum psicanalista.
As pessoas seguirão amando ou odiando este filme, identificando-se ou rejeitando os insights nele contidos. Tanto faz. O enredo não nos força a uma verdade absoluta e nem à ideia de crença inabalável, onde duvidar pode ser a nossa maior aquisição ou pior praga. É apenas a história de uma mulher que, para descobrir seu equilíbrio, parte para uma viagem geográfica e espiritual a fim de montar o quebra-cabeça de sua vida.
Aos que viram algo beirando a tédio, digo que vi encantamento neste filme. Opinião subjetiva. Desde o início já sabia que a mensagem a ser passada era em relação à complexidade dos relacionamentos. E este tema é atualíssimo! Tema que, por si só, já chama a atenção de uma grande maioria nesses nossos tempos de amores líquidos, relações fast-food, solidão não compartilhada, conectividade sem corpo (redes de relacionamento).




Em tempo: Prometi que postaria algo sobre minha viagem a Piriápolis, no Uruguai, e o farei. O que posso adiantar por ora, é que COMI feito uma troglodita e depois tive de REZAR para poder entrar no vestido que usaria no Réveillon. Em relação a AMAR...bem, não encontrei o Javier Bardem por lá, nem algo semelhante. Minha história ficou incompleta, portanto.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Dicas para quem vai ao Uruguai pela primeira vez

Viajar para o exterior requer alguns cuidados, mesmo que o país de destino não fique tão longe.  Usarei, como exemplo, o Uruguai, onde passei o Réveillon.
Pra começar, não se esqueça da carteira de identidade em hipótese alguma. Caso não a tenha, leve o passaporte. Carteira de motorista ou a profissional só são válidas em território nacional.  Isso evitará estresse desnecessário e o custo de uma corrida de táxi até sua casa para buscar tal documento. Foi o que ocorreu com uma integrante do nosso grupo. Ainda bem que ela teve a sorte de pegar um táxi cujo motorista era corredor em Tarumã, conseguindo, assim, ir e voltar do bairro Vila Nova em menos de 45 minutos.
Não é preciso trocar reais por pesos ainda em sua cidade. A taxa é mais cara. Em cada esquina de qualquer cidade uruguaia existem casas de câmbio. Veja: se trocar 100 reais aqui, em Porto Alegre, levará apenas 880 pesos. Se trocar o mesmo valor em Montevideo, ficará com 1.090 pesos.
Leve apenas o necessário em sua mala, caso for viajar de férias. Em todos os lugares que fiquei – Montevideo, Piriapolis e Punta del Este – caminha-se bastante. São muitos os lugares a serem visitados, e um bom par de tênis ou sandálias baixas evitam bolhas e calos. Aliás, as mulheres que usavam saltos altos acompanharam com certa dificuldade todos os passeios. No final destes, arrastavam-se como se tivessem participado do filme “Os Mortos vivos” ou do clipe “Thriller”, do Michael Jackson.
Roupas leves são bem-vindas, caso viaje no verão. Durante o dia, shorts, bermudas, vestidos leves, camisetas sem mangas. À noite costuma ventar e fazer um pouco de frio, por isso é bom levar um casaco ou uma jaqueta. Ao contrário do que se acredita, não é preciso estar bem vestido para ir a um dos vários cassinos existentes. As pessoas, na maioria turista, vestem-se simplesmente, mas é bom levar uma roupa mais incrementada caso for jantar em algum restaurante mais sofisticado. Viajei somente com quatro pares de calçados: tênis, sandálias baixas, chinelo e uma sandália de salto alto, para a festa de Réveillon. E passei muito bem os sete dias que fiquei por lá. Quem levou 10 pares de sapatos e mais de uma mala deu-se mal. O ideal para sete dias é apenas uma mala de mão, para os objetos de uso pessoal, e uma mala de tamanho médio. Será útil levar pouca coisa caso a parada também inclua compras no Chuí.
Se você for do tipo ansioso ou impaciente, sugiro que não vá ao Uruguai. O povo uruguaio consegue ser tão lento quanto o baiano, em matéria de atendimento ao turista. Espera-se uma eternidade até que um garçom digne-se a olhar para sua mesa. Não adianta ficar abanando, subir na mesa, fazer malabarismos ou proferir impropérios contra toda a raça uruguaia. Só será atendido quando eles assim o desejarem. E ainda poderá ouvir desaforos. Todavia, caso seja paciente e um poço de tolerância, ficará encantado com a gentileza e educação dos uruguaios. Por isso, relaxe e espere a sua vez. Não ficará arrependido por ter esperado e ainda ganhará o mais encantador dos sorrisos.
Só arrisque muito dinheiro nos cassinos caso já saiba manejar aquelas máquinas. Fiquei com cara de abobada perante aqueles inúmeros botões. Não sabendo o que fazer, fiquei apertando-os à revelia. Não caiu nenhuma moedinha. Apesar dos inúmeros atendentes, eles não estão ali para ensinar ninguém a jogar. No máximo destrancarão a máquina que o seu afã em apertar botões fez bloquear tudo. E não ouse bater fotografias dentro do cassino. Como ocorreu com um turista, este acabou por ficar sem o cartão de memória da máquina, quando pego em flagrante delito.
Se for mulher, não espere arrumar namorado dentro de um cassino. Os homens não tiram os olhos das máquinas em nenhum momento. Ficam iguaizinhos a crianças diante de um videogame. Em alguns é visível o ar de desespero e frustração. Mas sempre apostam mais. Faz parte da natureza masculina não querer perder e sempre perseguir o quase impossível.  Não adianta nem decotes ousados. Eles simplesmente não a notarão. A única “máquina” que interessará a eles naquele momento é a que pode trazer-lhes dinheiro. Desista e vá tomar um cafezinho.
Compras nos shoppings uruguaios nem sempre são um bom negócio. Os preços não diferem muito dos do Brasil. Em alguns casos, a mercadoria pode sair até mais cara. Se quiser comprar, vá até o Chuí. De acordo com a nova legislação sobre bagagem, em vigor desde 01/10/2010, dentro da cota de U$  300,00, o viajante procedente do exterior  ainda deverá observar  os seguintes limites quantitativos:
- bebidas alcoólicas: 12 litros, no total;
- bens de valor unitário inferior a U$5,00: Até 20 unidades, no total, desde que não haja mais do que 10 unidades idênticas; e
- bens de valor unitário superior a U$5,00: Até 10 unidades, no total, desde que não haja mais do que 3 unidades idênticas.
Para quem ingressar no País por via aérea, a cota é de U$500,00.
Comer é caro no Uruguai. Eles compensam a desvalorização do peso em relação ao real nos alimentos. Se for almoçar no Mercado Del Puerto, por exemplo, terá de pagar o couvert, mesmo não o degustando. Aqui, no Brasil, é opcional. Lá é obrigatório, comendo ou não. Um lugar onde os preços são mais acessíveis e não se paga couvert é no La Pasiva. Aliás, a cerveja e o chopp são servidos geladíssimos e o atendimento é impecável. Ah, eles aceitam pagamento em reais também.
Não se esqueça de levar um adaptador para tomadas. Em muitos hotéis, as tomadas possuem plugues de 03 pinos. Lembre-se: os adaptadores não alteram a voltagem, apenas permitem a conexão entre os tipos diferentes de plugues e tomadas.
Se precisar estar sempre em contato com a sua família, para casos de emergência, ligue para sua operadora e peça a ativação para roaming internacional antes de viajar.
Por fim, a cultura daquele País é marcadamente europeia, tanto na linguagem quanto nos costumes. Não espere comer arroz e feijão nem empanturrar-se em buffets a quilo. Os uruguaios são magros e elegantes, como os franceses. Não verá sujeira nas ruas nem prédios pichados – a política do Governo é: se quiser mostrar sua arte, piche o asfalto. Não verá grades nas janelas nem cercas elétricas.  Não verá casas cercadas por altos muros. Não levará bolada na cara quando estiver na praia. Eles não usam as areias da praia para jogar futebol ou vôlei. Aliás, eles também não entendem candomblé. Lá não verá, em finais de ano, pessoas jogando flores, perfumes, cachaças ou outras porcarias nas águas dos balneários. Eles apenas aplaudem o espetáculo dos fogos de artifício. Se ficar pulando ondinhas, botando fogo em papeizinhos onde está escrito tudo o que deseja esquecer-se do ano que passou ou fazer mandigas para ser bem sucedido no próximo ano, faça-o reservadamente ou passará por louco, na pior das hipóteses, por bebum.  Esqueça as lentilhas com linguiças, paios, bacon e seja mais lá o que for. Eles não têm esse hábito.
O que aprendi no Uruguai? Uruguaios são civilizados e dão muito valor à instituição família. A educação começa em casa. Réveillon com gritaria e histerismo é para turistas. Eles preferem ficar na santa paz de seus lares, entre familiares.
Uruguaios jamais têm pressa, não sofrem de ansiedade. Seus sorrisos amistosos fazem o dia ficar ensolarado, mesmo que o céu esteja nublado. O sol é uma divindade a ser cultuada, não apenas em sua bandeira, mas nos murais, nos afrescos, nas pinturas das paredes. Juro que jamais havia visto o pôr do sol – belíssimo em Piriapolis – ser aplaudido como se fosse o maior espetáculo da terra. Alguns gritam até “bravo”. Mas o mais importante é que aprendi a diferença entre sorte e merecimento. Sorte é o que atraímos, semeando energia e bons pensamentos. Merecimento é o que colhemos quando aprendemos a conquistar, de forma digna, o que pode nos fazer bem, mesmo que isso signifique apenas aplaudir o belo espetáculo que a natureza nos oferece gratuitamente.
Em outro post falarei sobre Piriapolis e o hotel Argentino, construído na década de 30. Fascinação total.
Até breve.