domingo, 27 de fevereiro de 2011

Moacyr Scliar, uma vida entre a Literatura e a Medicina

O escritor Moacyr Scliar morreu na madrugada deste domingo (27.02.2011), aos 73 anos, no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. O corpo deve ser velado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

O autor foi internado no começo de janeiro para uma cirurgia no intestino. Após o procedimento, ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (ACV).

Além de escritor, Scliar era médico especialista em saúde pública e professor universitário. Publicou mais de 70 livros, entre crônicas, contos, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil. Em 2003, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Scliar publicou mais de setenta livros, entre crônicas, contos, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil. O estilo leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como o Jabuti (1988,1993 e  2009), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989) e o Casa de Las Americas (1989).

Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida de classe média e vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas.

Em 2002, ele se envolveu em uma polêmica com o escritor canadense Yann Martel, cujo famoso romance A Vida de Pi, vencedor do prêmio Man B Booker, foi acusado de ser um plágio da sua novela Max e os Felinos. O escritor gaúcho, no entanto, diz que a mídia extrapolou ao tratar do caso, e que ele nunca teve o intuito de processar o escritor canadense.

Entre suas obras mais importantes estão os seus contos e os romances O Ciclo das Águas, A Estranha Nação de Rafael Mendes, O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim, este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos.





Moacyr Jaime Scliar
(Porto Alegre, 23 de março de 1937 – Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2011)







quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Compromissofobia

Deus marinho da mitologia grega, Proteu era rei da ilha de Pharos, no Egito, onde foi construído o Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Proteu tinha o dom da profecia e se metamorfoseava para escapar aos perseguidores ou a quem o buscava para saber os acontecimentos futuros. Se alguém conseguisse vencer o medo perante as formas horríveis e terríveis que assumia, ele revelava a verdade, como sucedeu com Menelau, o rei de Esparta, que queria saber se e como podia voltar à sua terra, após a guerra de Troia.
Deste mito é que surgiu o termo “proteiforme” para designar tudo o que muda de forma frequentemente.
Zygmunt Bauman chama os tempos atuais de “líquidos”, porque tudo muda rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. São tempos “proteiformes”, e por mais que tentemos negar, não há como fugir desta realidade: a vida se passa na companhia da incerteza. E não foi a vida que mudou: nós é que mudamos.
Mudamos tanto, que hoje não dizemos mais “para sempre”, pois a única certeza que podemos ter quando iniciamos algum tipo de relacionamento, é que pode acabar um dia. O mais certo seria repetirmos a célebre frase do general Júlio César, que exclamou “Alea Jacta Est” – a “sorte está lançada” - antes de atravessar o rio Rubicão e dar início à primeira guerra civil do mundo.
E por não confiarem tanto na sorte (talvez em si mesmos) ou por recearem o tipo de “guerra” que poderá ser desencadeada, é que muitas pessoas estão sofrendo de “compromissofobia”. Aliás, talvez este termo venha a figurar como a mais nova doença diagnosticada no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Problemas Mentais (DSM) e vir a tornar-se mais um motivo para psiquiatras receitarem “fornecedores de sensações temporárias de felicidade” àqueles que não conseguem manter um relacionamento duradouro.
O medo de assumir um compromisso amoroso faz com que cada vez mais as pessoas se assumam como seres solitários e optem por relacionamentos eventuais que não exijam rotina massacrante. É um meio termo entre manter-se sozinho, mas, ao mesmo tempo, sentir-se acompanhado.
A verdade é que as pessoas estão com medo. Medo da violência, medo de adoecer, medo de ser abandonadas à própria sorte, medo de empobrecer, medo de amar etc. Sabe-se lá que forma terrível a sensação de perigo poderá tomar quando metamorfosear-se em verdades que teremos de enfrentar.  O problema não é ter medo: o problema é como o enfrentamos.
Contra a violência, doenças e outras contingências, a medida possível é precaução a fim de minimizar a exposição de riscos. Mas em relação ao ato de amar não há como precaver-se. Quando este se apossa do nosso ser, é um risco de vida ou morte, sem que possamos evitar. Ninguém foge daquilo que mais quer. Só que é como assinar um cheque em branco. Um relacionamento tanto pode ser motivo de desconforto ou de sofrimentos inimagináveis ou de bem-aventurança. Como o Fausto de Christopher Marlowe: “Desejar que um momento de alegria permaneça o mesmo indefinidamente é uma forma segura de obter um compromisso por prazo indeterminado com o inferno em vez da felicidade”.
Todavia, muitas pessoas minimizam o risco de sofrer por amor preferindo compromissos lights, que são aqueles que reduzem seu tempo de duração para que ele seja o mesmo da satisfação que produzem: o compromisso é válido até que a satisfação desapareça ou caia abaixo de um padrão aceitável – e nem um instante mais. Digo isso porque me lembrei de um brinde feito por uma noiva ao noivo: “Brindo a mim e a ti. Serei fiel enquanto tu fores, nem um minuto a mais”.
E o que vejo por aí são inúmeras pessoas perseguindo a felicidade, desejando ardentemente causar um impacto na vida de outra pessoa, sentir-se necessárias, insubstituíveis, mas, ao mesmo tempo, temendo que um possível convívio signifique um compromisso do qual não poderão fugir. Tudo tem um preço, e o preço que a felicidade estabelece nem todos estão dispostos a pagar.
Pois amar é basicamente dar, não receber. Significa estar pronto a abandonar a preocupação consigo mesmo em favor do objeto amado, transformar sua própria felicidade num reflexo, um efeito colateral da felicidade desse objeto. E como se entregar a algo cujo destino pode terminar em frustração ou num investimento “a fundo perdido”?
Mas nem tudo é “proteiforme” por conveniência ou por medo. Há quem viva num estado de transformação permanente, tornando-se uma pessoa diferente daquela que tem sido até então, rompendo e removendo a forma que se tinha, tal como uma cobra que se livra de sua pele, para tornar-se um ser mais capacitado a lidar com as adversidades e com os medos. É uma destruição criativa de si mesmo, e desta destruição resultará a transformação de um ser que simplesmente deseja para um ser que ama, e que pagará o preço que for necessário para poder ser feliz. Afinal, nem tudo resulta em perdas e danos, mas também em bens que não se pode comprar: como reunir-se em torno de uma mesa com comida preparada em conjunto para ser compartilhada, ou ter uma pessoa que nos é importante ouvindo com atenção uma longa exposição de nossos pensamentos, esperanças e apreensões mais íntimas, e provas semelhantes de atenção, compromisso e carinho amorosos.
Não é nos prazeres frágeis e efêmeros que podemos encontrar a felicidade. Isso significa correr atrás dela, não chegar até ela. Para ter alguma certeza na vida é preciso haver um sentido de permanência e não de incerteza. E esse sentimento só pode vir de um sedimento do tempo, do tempo preenchido com certos cuidados – sendo estes o fio precioso com que se tecem as telas resplandecentes da ligação e do convívio.
Sim, podemos ser “proteiformes” a hora que desejarmos. Não é Deus nem a natureza, tampouco a sociedade que nos define, que nos dá forma, que nos molda por completo ou nossa conduta. Somos o que queremos ser, o que escolhemos ser, e sempre poderemos mudar o que somos diante das contingências a que estamos sujeitos.
Este post é dedicado a duas pessoas: à pessoa que me adjetivou de “proteiforme” e à pessoa que me mostrou, a duras penas, que valores morais não são limites para o que chamamos de liberdade.
E com tanta capacidade “proteiforme”, agora eu sei.
Eu sei que nunca se sabe.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Perspectivas

Eu soube que ela não havia dormido bem no momento em que a olhei. Olhos congestionados, olhar de desamparo, desanimada. Arrastava-se pela casa como um zumbi. Nem sequer a louça da noite anterior dignou-se a lavar. Pegou um livro; largou-o em seguida. Ligou a televisão, mas desligou-a, diante do noticiário que só anunciava tragédias. Eu fiquei observando-a, curiosa. Por fim, sentou-se e ficou imóvel. Imaginei o que devia estar passando por aquela cabeça e tudo me levou a um só pensamento: ela está se sentindo sem perspectivas em um daqueles dias em que tudo parece igual ao dia de ontem. Foi quando decidi intervir. Fi-la tomar um banho bem demorado, perfumar-se, maquiar-se e vestir algo atraente. Ela protestava a cada tentativa minha de torná-la bela. “Para quê? Que motivos tenho para sair de casa hoje, quando me sinto tão péssima?” – dizia. “Deixa-me quieta no canto e tudo vai passar“ – insistiu.
Como boa amiga, não desisti. Para que servem os amigos nesta hora? Amigo que é amigo sabe que sofrer junto não leva a nada, porque cada um tem seus próprios problemas e sofre de maneira diferente; então, o melhor é não rebaixar o estado de espírito para poder nivelar-se ao do amigo, mas fazer com que o outro eleve o seu para se sentir melhor. Isso não significa tentar resolver os problemas dele, mas fazer com que ele os enxergue sob outra perspectiva.
Depois de prontas, saímos para caminhar. A todo instante eu apontava algo que podia ser interessante e comentava a respeito. Podia ser até uma placa mal localizada ou algum motorista afoito que mais parecia um troglodita no trânsito. Repetia trechos espirituosos que havia lido em algum livro, para distraí-la e fazê-la desviar os pensamentos. Aos poucos o ar taciturno dela dava lugar a um semblante mais leve e ela conseguia sorrir.
Numa esquina, à nossa frente, um indigente desmaiou. Dirigimo-nos ao lugar onde ele havia caído, mas antes que chegássemos ao local, outras pessoas já estavam lhe prestando os primeiros socorros. Paramos e ficamos olhando a cena. Foi então que os olhos da minha amiga se iluminaram de vez e encheram-se de lágrimas, não mais devido aos seus problemas, mas ao belo gesto de caridade que presenciava.  O mendigo vestia-se com farrapos, estava descalço e sujo, mas as pessoas que o socorriam nem se importavam. Enquanto minha amiga ligava para a SAMU, eu observei que muitas pessoas observavam o mendigo caído com certa repulsa. Homens, na maioria.  Uma senhora bem vestida sentou-se no chão e segurou a cabeça do coitado, enquanto outra lhe tomava o pulso. Outra senhora segurava a mão dele, como que para confortá-lo. Tanto eu quanto minha amiga tivemos os mesmos pensamentos: o desejo de ajudar ao próximo que sofria foi muito maior que o medo de sujar-se ou pegar alguma doença. Esta é a verdadeira caridade. Muitas daquelas pessoas se esqueceram do medo e de seus próprios problemas para ajudar uma criatura que nada tinha, que talvez nem tivesse mais fé e esperança. E foi com esse pensamento que nos afastamos quando a ambulância chegou.
Não precisei comentar nada à minha amiga. Ela soube. O pior sentimento que uma pessoa pode ter a respeito de si mesma é sentir-se inútil, com menos valia, não tendo motivos para tal. E que, antes de vasculharmos os recônditos da nossa alma à procura de defeitos, antes de passarmos outra pessoa sob o nosso crivo de qualidade a fim de enxergamos somente o que as torna imperfeitas, é preciso, em vez disso, procurarmos o que existe de bom, caridoso e generoso, tanto em nós quanto nos outros. É isso que faz o mundo realmente valer a pena. Olhando o mundo e as pessoas com perspectiva diferente, podemos enxergar o que olhos sem amor ou bondade jamais enxergariam.
Sentindo-me imbuída de bons pressentimentos convidei minha amiga para tomarmos um café no Shopping. Depois do café, uma sessão de cinema, com direito a pipocas e guaraná. Anoitecia quando retornamos para casa. Ela, com toda a gratidão que era capaz, agradeceu-me por ser sua melhor amiga e que não teria tido companhia melhor para aquele dia que poderia ter sido tão triste e solitário.
Bem, para encurtar a história, ambas as amigas eram a mesma pessoa: eu. Fui eu que acordei mal e sentindo-me “feia” naquele dia. E, como costumo fazer, tento ser uma boa companhia para mim mesma. Nem sempre sou caridosa com as palavras quando preciso de motivação. É mais ou menos assim: ”Levanta daí, bobalhona”. “Para de se sentir um traste e vá dando um jeito nesta cara que está mais parecida com a da noiva do Frankenstein do que com a sua verdadeira”. “Arruma-te, pois nem um sapo cururu vai-te querer deste jeito”.
Este é o meu segredo para jamais ceder aos maus pensamentos. Ser a minha melhor amiga e dividir-me quando é preciso: uma parte de mim sente; a outra observa e age.
De acordo com o filósofo alemão Martin Heidegger, “estar só é condição de todo ser humano, desde o momento em que é lançado ao mundo”. O ato de viver só se torna interessante quando as solidões são compartilhadas, não a vida, pois cada pessoa é responsável pelo que decide viver. Ninguém adoecerá, viverá ou morrerá em nosso lugar.
O problema reside na escolha que fazemos: ou aceitamos a solidão como preço da nossa liberdade ou a vivenciamos como se fosse abandono. Esta última alternativa é a opção dos derrotados, que esperam sempre que a outra pessoa lhes forneça os significados dos quais necessitam para ser felizes. Ótima alternativa para quem espera passar por essa existência sendo um coadjuvante ou secundário, mas não para quem deseja ser o autor de uma bela história de vida e fazer dela uma obra de arte.
Durante muitos anos esperamos encontrar alguém que nos compreenda, alguém que nos aceite como somos, capaz de nos oferecer felicidade apesar das duras provas. Apenas ontem descobri que esse mágico alguém é o rosto que vemos no espelho”. (Richard Bach)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Estudo Sobre aTraição – Prazer ou dor?

Traição, infidelidade e adultério, ao contrário do que muitos costumam pensar, não são considerados sinônimos entre si. Mas só quem já experimentou ou sentiu na pele qualquer um deles concorda que, não importa o significado, todas essas três palavras carregam uma carga tão pesada, que a simples menção delas já é suficiente para evocar traumas, dor e sofrimento.
Existem diferentes definições para o que é considerado “traição”,“infidelidade” e “adultério”.

De acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, uma das definições dadas para “traição” é, por analogia, “infidelidade no amor”. Já a palavra “infidelidade”, está definida mais precisamente como “falta de respeito, de fidelidade àquilo com que se deveria estar comprometido”. E também como sendo uma “manutenção de ligações amorosas com outra pessoa diferente daquela com quem se está comprometido”. Por fim, “adultério”, é definido como sendo “violação, transgressão da regra de fidelidade conjugal imposta aos cônjuges pelo contrato matrimonial, cujo princípio consiste em não se manter relações carnais com outrem fora do casamento. E ao mesmo tempo é tido como “infidelidade estabelecida por relação carnal com outro(a) parceiro(a) que não o(a) companheiro(a) habitual”.

Traição é um tabu que está prestes a ser derrubado pela sociedade. Até meados do século passado, não se falava abertamente sobre o assunto. A infidelidade era considerada um pecado, por todas as religiões. E ainda o é. Em alguns países, a mulher pode ser apedrejada até a morte se trair o marido. Na monarquia inglesa a mulher  infiel ainda pode, por lei, ser executada se estiver  na linha de sucessão ao trono. A monogamia é tão valorizada porque, dentro da evolução humana,  acredita-se que os flhos têm mais chances de virem a se tornar cidadões normais se forem cuidados pelo pai e pela mãe.     

Todavia, no nosso mundo contemporâneo, está cada dia mais difícil manter vínculos estáveis. Conforme Zygmunt Bauman, em nosso mundo de furiosa “individuação“, os relacionamentos são bençãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro. De fato, é possível que alguém se apaixone mais de uma vez, e algumas pessoas se gabam – ou se queixam – de que “apaixonar-se“ e “desapaixonar-se“ é algo que lhes acontece de modo muito fácil. Todos nós já ouvimos histórias sobre pessoas “propensas“ ou “vulneráveis“ ao amor. A definição romântica  do amor “até que a morte nos separe“ está decididamente fora de moda. Em vez de haver mais pessoas atingindo mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados.  Como resultado, um conjunto de experiências às quais nos referimos com a palavra amor expandiu-se muito. Paixão é considerada amor. Encantamento é considerado amor. Até noites avulsas de amor chama-se “fazer amor“. E tão banalizada ficou a palavra “amor“, que os votos de “até que a morte nos separe“ deveriam ser substituídos por “até que outro (a) nos separe“ ou “até que a rotina nos desencante“

Recentemente, em uma reportagem da Revista Domingo do Jornal do Brasil,  discutiram-se as diferenças entre fidelidade e lealdade. Na reportagem, a psicanalista e sexóloga S. Cherman é citada, defendendo a posição de que fidelidade não é sinônimo de lealdade e que apesar de nascermos para sermos polígamos, a sociedade nos impõe a monogamia. Na sua experiência clínica, 90% das mulheres declararam ter fantasias sexuais com outros homens que não seus maridos. Ela afirma, com este dado, que ninguém é fiel, pois no momento em que se fantasia com outrem, já se está sendo infiel. Nas suas palavras, “lealdade é ser fiel ao próprio sentimento, mesmo que isto provoque conflitos”.

O conceito de lealdade e fidelidade varia de casal para casal e que o ato de ter relações sexuais fora do casamento não implica, para alguns  casais, ser desleal ao parceiro. Um cônjuge pode ser infiel ao seu parceiro, mas pode manter-se leal ao optar pela não dissolução do matrimônio pelo bem dos filhos.

Ou seja, “traição”, “infidelidade”, “deslealdade” e “adultério” são termos parecidos, mas não podem ser usados como sinônimos quando falarmos sobre relacionamentos extraconjugais. O adultério é um termo usado juridicamente  quando existem relações carnais (ou sexuais) fora do casamento. Isto porque há um contrato matrimonial quando duas pessoas se casam, como pode ser visto na própria definição de adultério, que coloca o princípio ou regra da fidelidade conjugal. O ato de manter relações sexuais com outra(s) pessoa(s) fora do  casamento é considerado uma violação ou transgressão desta regra.

Entre 516 a.C. e a destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C., os costumes sexuais judaicos passaram a ser cada vez mais identificados com as leis de Deus. Até então, no judaísmo, poucas práticas sexuais  eram consideradas imorais. Aos homens, ao contrário das mulheres, era permitido livre acesso às prostitutas, concubinas, viúvas, criadas domésticas, e só lhes era   interditado o relacionamento sexual com uma mulher casada, pois os relatos sagrados de Deus diziam para “não cobiçar a mulher do próximo”.

Com o advento do Cristianismo, a virgindade passou a ser mais exaltada, a poligamia abolida e as relações sexuais permitidas apenas para a procriação. A castidade passa a ser essencial para ambos os sexos e o casamento é investido de  significado sacramental e simbólico. A monogamia era a única forma aceitável de casamento e o Novo Testamento menosprezava o concubinato.

Na Bíblia (Marcos, 10:11), Jesus falou o seguinte: “Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira; e se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério”. Nos séculos posteriores  a Jesus, alguns líderes cristãos tornaram-se hostis ao sexo. O celibato, porém, só  foi oficialmente imposto ao clero cristão no século XI e a abstinência sexual foi se  vinculando cada vez mais a Deus e o adultério ao pecado, tanto para homens como para mulheres.

No mito do casamento romântico, considera-se que o ideal é que haja amor apenas por uma única pessoa, aquela com quem se casa e só este amor vai durar para sempre, até que a vida dure, ou até que a morte os separe. A exclusividade sexual e a permanência fazem parte também deste mito, sendo igualmente importantes em sua configuração. As pessoas tendem a ter a expectativa de encontrar uma história de amor dentro de seus casamentos e que o relacionamento será baseado no companheirismo e na igualdade, sem dominação ou subordinação. O  casamento, desta forma, se tornou o lugar onde amor e fidelidade sexual estariam para sempre ligados.

Por fim, na Revolução Industrial do século XX começa a surgir a idéia de que como o amor nem sempre dura a vida toda, é de direito de cada um poder  procurar um novo amor, com a devida liberdade para cada parceiro poder ter seus  próprios casos amorosos. Então, no século XX, o casamento, apesar de ser fundamentado nas escolhas racionais nem sempre feitas exclusivamente pelos dois parceiros, tornou-se uma questão de se apaixonar. Casar-se tinha como base o desejo da paixão. Casamento e amor se unem e o amor romântico tornou-se a experiência mais desejante da vida.

Já nos recentes anos sessenta e setenta começou uma busca do verdadeiro conhecimento de si mesmo, com as pessoas explorando as várias facetas de si  mesmas, o que incluía suas sexualidades. Os relacionamentos mais duradouros  deviam ser aqueles nos quais se permitisse a autonomia para cada parceiro.

Historicamente, o homem sempre teve mais liberdade que a mulher com relação à busca de novos relacionamentos fora do compromisso do casamento. Ao costume social que permitia muita liberdade ao homem e pouca liberdade à mulher dá-se o nome de padrão de dupla moral ou padrão social duplo.

Com relação aos dias atuais, a proporção de mulheres casadas há mais de cinco anos que têm encontros sexuais extraconjugais é, hoje em dia, virtualmente a mesma que a de homens que se encontram na mesma situação. O padrão duplo ainda existe, mas as mulheres não são mais tolerantes diante da perspectiva de que – enquanto os homens necessitam de variedade e pode-se esperar que se envolvam em aventuras extraconjugais – elas não se comportem do mesmo modo. Muitas mulheres casadas justificam suas infidelidades pela incompetência do parceiro, estar com alguém sem estar apaixonada (casamento de conveniência), perda da admiração (quando o marido bebe demais), por bobeira (carência demasiada) ou por vingança (quando o marido também as trai).

Com relação ao adultério nos tempos modernos, certos elementos retêm uma importância particular, como por exemplo, o heroísmo em conseguir ultrapassar obstáculos por amor e o desejo de possuir o que não pode  ser obtido, o inalcançável; o prazer no que é ilícito e secreto; o drama que é vivido no ato de conhecer e se separar de alguém; o sentimento de ser tomado pela emoção e pelo poder; o sofrimento da traição profunda que está sempre   envolvido; o  desafio da ordem social ao lado da possibilidade de punição e  exclusão da sociedade civil; e o fato do adultério não ter lugar em si mesmo, na  sociedade como um todo. Com relação a isto, a sociedade depende para a sua existência de regras que governem as relações; o adultério traz a concepção de coisas erradas em lugares errados, ou de pessoas erradas em camas erradas, indo de encontro às tais regras que regem as relações humanas, tais como fidelidade, exclusividade, respeito mútuo, sinceridade, etc.

Tipos de Adultério

O primeiro é o “adultério paralelo” no qual o cônjuge fecha os olhos ou desculpa o adúltero (a) através do seu silêncio, mesmo se ele não aprova ou não aprecia o fato da traição do cônjuge traidor. Ou seja, este tipo de adultério corresponde àquele em que o marido ou esposa toma conhecimento e aceita o relacionamento de seu par com uma outra pessoa. Neste caso, o homem pode prover ou dar suporte financeiro e até mesmo requerer que a amante permaneça ligada sexualmente somente a ele.

O segundo tipo é o “adultério tradicional” que provoca uma espécie de quebra no casamento. É um “relacionamento ilícito por excelência” que normalmente pelo menos a princípio, é mantido em segredo. Nele, muito esforço é gasto para garantir que o (a) esposo(a) não fique sabendo de nada, apesar dos que estão ao redor, os amigos em comum, saibam de tudo. Este tipo de adultério foi mais comumente exercido pelas mulheres (esposas).  Uma interessante explicação para esta forma de adultério é que, enquanto que no casamento, tradicionalmente, o homem tinha o poder em mãos e a mulher era   requerida a servi-lo e a nutri-lo, no adultério a relação de poder é invertida.

A mulher é quem decide iniciar um relacionamento extraconjugal, controlando o seu  progresso, incluindo a decisão de quando deve terminar ou não o romance. Um adultério paralelo pode se tornar tradicional, ou vice-versa. Isso pode ocorrer, por  exemplo, quando uma ligação tradicional e secreta de uma esposa for descoberta,  e ela pode persuadir o seu marido a aceitá-la; ou uma amante de longa data, que já  foi aceita pela esposa, pode demandar o divórcio, o que pode trazer as duas mulheres para um conflito aberto.

Finalmente o terceiro tipo de adultério é o “adultério de recreação”, que é aquele que satisfaz o desejo de brincar. Geralmente aqueles que o praticam, é na intenção de chegar ao prazer e de evitar o dilema moral, convidando mais gente para brincar também, incluindo ou excluindo seus cônjuges. Este “adultério de recreação“ pode mover-se facilmente para o paralelo ou o  tradicional, mas enquanto estes eu caracterizo como tendo uma certa solidez e resistência, o adultério de recreação é breve, uma maneira de viver perigosamente, mas não para arriscar tudo que é valioso, ou manejar o dilema moral insistindo na divisão ‘só sexo e sexo com amor’. Este é, como o próprio  nome diz, despreocupado, não é sério ou compromissado, mas é para diversão,  pela alegria de viver.

Este adultério pode ocorrer devido à necessidade de satisfazer os caprichos  do apetite sexual, o que não significa necessariamente incompatibilidade com uma  perfeita e sincera devoção para com o cônjuge, que já tenha se tornado um  companheiro ou amigo de longa data. Ou também, pode significar a culminação de uma expressão de um sentimento detestável de um cônjuge por outro. 

Independentemente do tipo de adultério, fica claro que, na história, este ato já teve muitos significados diferentes que resultavam em diversos fins, dependendo, antes de tudo, se era cometido pela esposa ou pelo marido. Outro  fator importante a se considerar quanto ao adultério é que as condições nos tempos modernos foram alteradas, ou seja, a igualdade entre homens e mulheres é  um ideal (apesar de ainda não ser um fato). O adultério é ainda condenado  igualmente tanto por homens quanto por mulheres.
O sentimento de transgressão no ato do adultério e como sendo algo que é basicamente errado, atravessa os séculos e não é facilmente descartado ainda hoje.
Mas, quais serão as razões apontadas para a prática do adultério?

Razões para a infidelidade e para o adultério

Existem muitas razões para a infifelidade, desde as mais nobres até as mais esfarrapadas.  Alguns estudiosos  culpam a testotestorana, o hormônio  masculino da agressividade e da conquista. Para os homens, toda essa teoria  tem outros nomes: tesão, novidade, mulher que não se cuida (entendam: fica gorda) e, pasmem, instinto de caçador. Em relação às  mulheres, as razões resumem-se à falta de encantamente e admiração por seus maridos, o desejo de voltar a serem desejadas, pois   o casamento já não lhes fornece romance e sedução.  

Há outra linha de explicação para o adultério feminino, que sempre existiu, apesar de ser menos constante que o masculino. De acordo com esta, as mulheres que procurassem mais homens teriam mais abrigo e alimentos, e  consequentemente, mais proteção e saúde, o que garantiria a sobrevivência dos filhos. Além disso, caso um marido morresse, ou abandonasse o lar, ela teria outro a quem pedir socorro. Se a mulher tivesse um companheiro com má saúde, ela procuraria outro homem para melhorar sua linhagem genética.
Além da explicação biológica, existem outras, baseadas na motivação e nas diferenças individuais de cada pessoa que levam à infidelidade. Em estudos para diferenciar a infidelidade emocional e sexual, foi observado que a infidelidade tende a resultar em divórcio se a  esposa acredita que a relação estabelecida com a rival escolhida pelo marido tem uma carga emocional mais intensa do que a sua. Os homens tendem a declarar que o relacionamento extraconjugal foi apenas físico, ou seja, foi caracterizado por sexo, sem carga emocional. Já as mulheres tendem a se envolver com outros homens
com intimidade emocional. Alguns autores questionam esta dicotomia entre relacionamentos sexuais e emocionais, pois onde há sexo supõe-se que haja algum nível de intimidade emocional. E quando perguntaram para pessoas que   participaram de suas pesquisas sobre o que é um relacionamento “puramente sexual” ou “puramente emocional”, os resultados foram confusos (DeSteno et al.,2002 apud Barta e Kiene, 2005).

A infidelidade emocional existe quando o parceiro sente que está   apaixonado por outra pessoa, fora de seu relacionamento. Quando não há um   componente sexual manifesto, a infidelidade emocional também pode ocorrer.
São os casos da infidelidade mediada por computador, pelo uso da Internet. Neste    caso o relacionamento é estabelecido sem contato visual ou físico pelos parceiros  e não há um objetivo principal e aparente de achar um parceiro sexual.

A maioria dos casos de infidelidade marital, porém, cai no meio dos dois tipos descritos (emocional e sexual). De acordo com relatos de cônjuges infiéis, 56% dos homens e 63% das mulheres descreveram seus relacionamentos extramaritais como tendo preenchido suas necessidades emocionais e sexuais  igualmente (Thompson, 1984 apud Barta e Kiene, 2005). 

Mas, como ainda não foi descoberto o “gene da infidelidade“, as relações extramaritais podem ser causa ou  conseqüência de problemas dentro do casamento, ou simplesmente não haver  nenhuma relação entre um e outro. Na maioria dos ca sos, acredita-se que as relações extramaritais derivam de necessidade de variação sexual, da busca de novas satisfações emocionais, o que pode ser reflexo de maus  casamentos, e até mesmo por retaliação. Há ainda a influência de outros fatores, como o envelhecimento (e a necessidade de se provar que ainda está bem), imaturidade, alcoolismo, surgimento de oportunidades, dentre outros.

Dados demográficos mostram que existe uma demanda excessiva de mulheres e uma oferta reduzida de homens, o que justificaria a infidelidade conjugal. Isto porque, quanto mais velhas as mulheres ficam, maior a competição por poucos homens, e quanto mais velhos os homens, mas eles têm escolhas no mercado matrimonial. Já para as mulheres
restam as opções de serem amantes de um homem casado, a solidão, a relação com outra mulher ou buscar parceiros mais jovens que elas. Os dados brasileiros mostram que aos 65 anos, 80% dos homens estão casados e as mulheres são  apenas 30%. Ou seja, há muito mais mulheres não casadas na medida em que envelhecem, do que homens, fato que aumenta a probabilidade do homem buscar outras mulheres para se relacionar fora dos seus casamentos.

Quanto às reações frente à descoberta da infidelidade de um dos parceiros, Cann, Mangum e Wells (2001) observaram que atitudes e crenças a respeito dos relacionamentos podem modificar a forma como homens e mulheres respondem à infidelidade. O sentimento de dor e aflição frente à infidelidade emocional foi mais aparente, na pesquisa deles, naquelas pessoas que idealizavam o romance nos seus relacionamentos. Murphy et. al. (2005) explicam que o homem demonstra ciúmes quando descobre que sua parceira foi infiel sexualmente e os ciúmes na mulher serão ativados quando descobre que seu parceiro se envolveu emocionalmente com outra pessoa. A mulher tende a achar que seu parceiro foi emocionalmente infiel porque não está mais disposto a investir nela de maneira exclusiva.

Já para Goldenberg (2006), somente 30% das pessoas que já foram traídas terminaram a relação por causa disto. A maioria dos homens e mulheres, de acordo com a pesquisadora, reage à descoberta da traição, brigando, chorando, xingando, mas passado o choque inicial, busca esquecer o que passou.

Para finalizar este estudo, ousarei expor minha opinião subjetiva a respeito do assunto em tela.

Está comprovado que traição, infidelidade, desleadade, adultério ou seja lá que nome tiver, são geradores de profundos sofrimentos, inclusive a terceiros. Ninguém está livre de trair algum dia e precisar de justificativas para explicar o por quê. Mas trair somente para testar o ego ou a capacidade de sedução é perder a capacidade de ser uma pessoa respeitável e admirada. Quando o ato de trair gera  sentimento de culpa, pode ser nocivo para a saúde, causando males psíquicos que se transformarão em doenças físicas e mentais. Trair, apenas para encontrar prazer,  é comparar-se a Judas; ser infiel é ser indigno de confiança; ser desleal é merecer o epíteto de desonesto, sem cárater, pérfido; ser um adúltero (a) é merecer ser apedrejado (a) em praça pública, quando uma família inteira corre o risco de ser destruída pelo egoísmo de um só. Também acho injusto alguém utilizar-se da espiritualidade/espiritismo para justificar a traição, pois muitos  justificam seus maus atos alegando ser, a traição, obra Divina, pelo fato de ser “alma gêmea“ do (a) amante, quando mais honesto seria assumir que as razões foram “falta de amor, insatisfação, crise ou problemas do relacionamento, instinto, oportunidade, atração, desejo, vontade, tesão, “testicocefalia” (no caso dos homens) etc.

Todavia, não sou contra rompimentos ou divórcio, quando, comprovadamente, a falta de amor ou respeito torna a convivência insustentável  nem contra uma traição quando há conivência do cônjuge, mas....

Trair, manter relações extraconjugais de forma sub-reptícia, envolve mentiras, sentimentos de culpa, medos, transtornos. Que orgulho há em agir desta maneira? Que amor próprio podem sentir pessoas que vivem se escondendo, justamente por viverem ilicitamente? Não seria mais honesto terminar uma relação já deteriorada,  falar a verdade,  ser franco e sincero com um cônjuge que merece, no mínimo, respeito, antes de aventurar-se num novo relacionamento?  Que Deus me perdoe, mas apunhalar pelas costas uma pessoa com quem se trocou promessas de fidelidade até a morte é pior que a morte.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sonho, realidade e fantasia.

Há quem me julgue uma destruidora de sonhos e de fantasias pelo que tenho postado neste blog.  O que há de errado em fantasiar e fugir um pouco da realidade, mesmo que isso traga sofrimento? Afinal, a realidade é dura demais e é preciso que se busque encantamento seja lá como e com quem for. É melhor o inferno de um amor não resolvido ao enfadonho paraíso dos que apenas se suportam” – dizem-me.
Concordo em parte. Eu mesma tenho necessidade de encantar-me de vez em quando, seja por alguém, por um livro, por um filme, por uma viagem. Ter paixões, sonhos e fantasias, é necessário, pois é isso que impele o ser humano ao autoconhecimento, desde que, vejam bem, não se perca o senso da realidade.
Pois é justamente a realidade que faz o sonho e a fantasia serem coisas tão distintas. É uma linha tênue que separa esses dois mundos e que tem a finalidade de manter nossos pés no chão quando, por algum motivo, aventuramo-nos na ilha da fantasia ou no mundo dos sonhos possíveis. Sem a realidade para trazer-nos de volta, perderíamos o tino e permaneceríamos para sempre perdidos, envoltos nas brumas do faz-de-conta ou perseguindo sempre o impossível.
E o que tem a ver realidade, sonhos, fantasias, com relacionamentos humanos?
Realidade é a nossa condição subjetiva e objetiva de vida, é como realmente nos mostramos e vivemos, de acordo com as nossas possibilidades. Podemos viver em condições que não nos sejam satisfatórias, resignando-nos e aceitando o que não podemos mudar ou fazendo uso dos nossos sonhos.
Sonho é o que nos impulsiona, impele-nos à frente, mesmo diante dos obstáculos quase intransponíveis. É o que nos dá energia para lutarmos por objetivos, metas, por melhor qualidade de vida. Em nome dos nossos sonhos ultrapassamos limites, transformamo-nos em seres empreendedores e ousados, podendo mudar nossas vidas, elevar a autoestima e orgulharmo-nos de nós mesmos. Um exemplo é o navegador Almyr Klink. Ele sonhou algum dia atravessar o Atlântico em um barco a remo. E conseguiu. Apenas um detalhe: ele realizou o sonho por seus próprios méritos. Não esperou que alguém o realizasse por ele. Quando esperamos que alguém realize nossos sonhos, já não se trata de sonho, mas de fantasia.
E fantasias são frutos das nossas carências emocionais, as quais, muitas vezes, nos tornam vulneráveis às ilusões. É quando esperamos que tudo aconteça sem que tenhamos de fazer esforço. Ao contrário do sonho, que depende apenas de nós mesmos e da nossa proficiência, fantasias sempre envolvem outras pessoas. E é devido a essa dependência que normalmente não passam de desejos que se extinguem rapidamente. Muitas vezes trata-se até de desejos infantis, onde o desejar se torna imperioso, mas frustrante quando não obtido.
Sonhos podem ser possíveis, bem como nas fantasias os desejos podem até se realizar. O que não se deve fazer é perder a realidade de vista e ter habilidade para transitar entre os mundos real, possível e imaginário sem pesares ou sofrimentos. É tudo uma questão de discernimento.
Todavia, enquanto os sonhos nos fazem crescer, amadurecer, desejar ser felizes e não esperar recompensas por desapontamentos ou perdas do passado, por justamente se tratar de metas voltadas ao futuro, as fantasias, quando confrontadas com o mundo real, colocam em xeque muitos dos valores aprendidos durante uma vida inteira, pois quando uma pessoa se encontra no mundo da ilusão, acabará mais machucada do que satisfeita com a realização dessas fantasias, pois se depara com seus valores morais, com o sentimento da inveja, ciúme, o medo de perder, a sensação da ameaça, a insegurança de não poder alimentar a ilusão para sempre. Entendam: sonho é uma meta, um objetivo. Já na fantasia, é preciso que exista uma pessoa, um rosto, um nome, uma identidade, algo.
Enfim, fantasiar, sonhar e viver a realidade ao mesmo tempo é complicado. É preciso saber dosar essas três “vidas” muito bem, levando em conta valores éticos e morais, para não envolver, de maneira irresponsável, pessoas que também devem possuir seus próprios sonhos e que não gostariam de vê-los destruídos por desejos infantis.
Eu já tive fantasias. Errei, acertei, dei-me mal algumas vezes, até aprender que fantasiar é uma atividade solitária, isola-nos do mundo. Muito melhor é o sonho compartilhado, que aproxima e não faz mal a ninguém.
Mas nem todos os sonhos que sonhei deram certo. Talvez porque tenham sido compartilhados com a pessoa errada. Mas nada me tira a fé nos sonhos que ainda tenho por viver.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Fora de Mim

Acabei de reler o livro “Fora de Mim”, da Martha Medeiros, onde são relatadas, em primeira pessoa, as agruras de uma mulher pelo fim de um relacionamento. Conforme a autora, em uma entrevista, o tema do livro surgiu há dois anos, quando de um rompimento doloroso. A autora deu-se conta, então, de que nada adianta a maturidade e equilíbrio emocional quando a morte do amor acerta em cheio tudo o que se construiu ao longo do tempo em termos de sonhos e fantasias. Mas o livro não se refere ao término de um casamento já desgastado pelo tempo, que termina em divórcio já esperado e, por isso mesmo, sem traumas. Refere-se à morte de uma paixão avassaladora, aquela que nos pega quando menos esperamos e termina quando uma das partes vai embora, seja lá por que motivo. Quem sofre é a parte que fica.

Martha, no início do livro, equipara as dores de uma separação ao de um acidente aéreo:
"Depois desse breve período em que ninguém tem certeza se está vivo ou morto, começam a surgir os primeiros movimentos, os primeiros gemidos, uma sinfonia de lamentos que dará início ao que está por vir: o depois”.

O fim de um relacionamento, dependendo da intensidade com que foi vivenciado, deixa um vácuo de existência, um buraco aberto, uma sensação de irrealidade, fazendo com que nos sintamos mortos-vivos fingindo ser pessoas normais.
"Era paixão inveterada, paixão de doer, paixão de não dar certo mesmo, paixão de perder o tino, e perdi por completo (...). Eu que prezo tanto a lógica, não entendo mais nada, mergulhei no escuro da minha perplexidade (...). Já estou enxugando as lágrimas, procurando meu celular para fazer uma ligação qualquer, esses compromissos que a gente inventa para fingir que a vida continua (...). Não consigo mais ser uma pessoa comum.”

Como Martha, e como muitas outras pessoas, independente de sexo, a narradora de “Fora de Mim” padeceu sem enxergar luz no fim do túnel quando se viu sem a pessoa que lhe roubara o juízo, de quem não sabia nem mesmo ser uma ex.

Antes dele, era casada com um sujeito pacífico, de quem se divorciara sem problema algum. Era uma mulher que sofria em um casamento morno, mas com mais “discernimento”. Depois dele, e sob o efeito viciante de uma nova paixão, dormia e acordava “com uma dor semelhante à de uma agulha enfiada na veia”. “Alguém estava retirando meu sangue, me vampirizando”, descreve no livro.

Após o fim dessa grande paixão - que a trocou por outra após dois anos de convívio (dizem que uma paixão dura apenas três anos), ela diz: “O amor desapareceu sem deixar pista, rastro, feito um crime perfeito”.

Por que de uma hora para outra vemo-nos envolvidos com uma pessoa que desperta tantos sentimentos contraditórios, que nos faz regredir aos mais primitivos desejos e vontades, subtraindo-nos até o poder de discernir o certo do errado? E quão tolos nos sentimos quando vemo-nos agindo como se fôssemos adolescentes após termos pensado já ter aprendido algo nesta vida.

Eu fico imaginando você com outra mulher, você beijando outra mulher, e isso me dá náusea que quase me faz desmaiar, fico em posição fetal, eu penso que vou ficar louca, como se já não estivesse” (...). “E no trânsito, eu só tenho olhos para as placas dos carros que são da mesma cor e marca que o seu, e quando um se aproxima eu rogo a Deus para que não seja você, e ao mesmo tempo quero que seja”.

Para quem gosta de escarafunchar as emoções alheias e sentir na pele o que é a dor de uma separação, sugiro a leitura deste livro. Certamente identificar-se-ão aquelas pessoas que, após um divórcio, sentem a necessidade de serem amadas e desejadas novamente. Aí é que ronda o perigo, um perigo interpretado erroneamente como “encantamento”.

Você me laçou, me prendeu, fui com você arrastada pelo seu ímpeto, pela surpresa em me ver de um dia para outro sua, você que era apenas uma fantasia, um fetiche, era pra ser apenas um “se” na minha vida, se surgisse, e você surgiu e instalou o céu e o inferno no mesmo playground”.

Agora, eu pergunto: O que deixa uma pessoa neste estado inerme é amor, aquele que aconchega, fortalece, completa e ensina, ou uma paixão, dessas avassaladoras, que fazem mais estragos do que bem a uma alma?
Segundo Flávio Gikovate, pessoas que por algum motivo (separação, divórcio, solidão), estejam desequilibradas tendem a se tornar mais suscetíveis a um novo envolvimento. Quando se sentem particularmente tristes e pouco competentes para suportar sua condição objetiva e subjetiva, o surgimento de uma pessoa que preencha os mínimos requisitos do que precisam já será suficiente para desencadear o encantamento. É provável que em condições mais estáveis aquela mesma pessoa não causasse o mesmo tal impacto.

Ainda segundo Gikovate, pessoas que se sentem incompletas e com baixa autoestima tornam-se mais vulneráveis às flechadas do Cupido. Encantamentos que se estabelecem de modo desesperado, quando o outro é remédio essencial para o desamparo, faz com que as partes envolvidas se agarrem ao relacionamento como se fosse a última boia do Titanic.

Martha expõe tal fenômeno em seu livro.
Olho para trás e me dá a sensação de que estávamos atuando um para o outro, você minha plateia e eu a sua, cada um tentando desempenhar o papel dos sonhos um do outro” (...). “Sabia que amores se constroem, basta um terreno propício, e terreno não nos faltava, dois recém-divorciados querendo voltar à ativa, amparar-se um no outro para virar a página dos fracassos anteriores” (...). “Hoje me pergunto se você me amou de verdade”. “Não descarto a hipótese de você ter projetado um amor em mim para vencer sua carência existencial, que era do tamanho da muralha da China” (...). Nossos beijos haviam virado respiração boca a boca, uma tentativa de sobrevivência quando já era tarde demais. Tudo que é improdutivo se torna esgotante (...). “Havia obstáculos demais para alguém que, como eu, sempre preferiu tomar impulso e ir em frente mantendo o ritmo, mas estando com você eu teria de me acostumar a um amor interrompido a cada 10 quilômetros rodados”.

O que concluo, após ler o livro, é que ninguém está imune a rupturas sentimentais ao longo da vida. Eça de Queirós já dizia que o amor é essencialmente perecível; uma vez que nasce, começa a morrer. É assim que devemos aventurar-nos numa relação amorosa, sabendo que ninguém traz estampado na testa algum atestado de garantia ou prazo de validade. Desde crianças aprendemos a ter de suportar perdas, seja de um familiar, um animal de estimação, a possível perda de nós mesmos, pois também temos de aprender a morrer. Como não levar esses ensinamentos à vida sentimental e aprender também a suportar a morte do amor?

No caso da personagem do livro, ela prefere aprofundar-se na dor, pois não há como fugir dela e entende que não será para sempre. Sofre com sabedoria, mas somente pessoas que possuem autoconhecimento conseguem a força necessária para sofrer apenas o necessário, sem agredir a si mesmas.

“....Eu sabia que terminaríamos, eu sabia que era uma viagem sem destino, sabia desde o início e não sabia, não sabia que doeria tanto, que era tanto, que era muito mais do que se pode saber, ninguém pode saber um amor, entender um amor, tanto que terminou sem muito discurso, foi uma noite em que você quase pediu, me deixe. Ora, pra que me enganar: você realmente pediu, sem pronunciar palavra, você vinha pedindo, me deixe, olhe o jeito que te trato, repare em como não te quero mais, me deixe, e eu, de repente, naquela noite que poderia ter sido amena, me vi desistindo de um jantar e de nós dois em menos de dez minutos, a decisão mais rápida da minha vida...”

Para Martha Medeiros, amar prescinde de entendimento. É uma anarquia que dispensa palavras. Mas é preciso um mínimo de entendimento para poder diferenciar o amor real da fantasia ou do fetiche. Quem entende sofrerá menos e deixará o amor ir embora quando todas as forças da natureza contribuírem para afastá-lo. Muito melhor que uma declaração de amor ao outro, é uma declaração de vida a si mesmo. Afinal, alguém gosta de sentir-se um zumbi?

Antes que eu perca a minha fé.

Posto um vídeo com uma música que eu gosto muito. Adagio em G (sol) menor de Albinoni, numa versão com a Laura Fabian.
É o que minha alma necessita no momento.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Existe Alma Gêmea?

Alma gêmea seria a metade que nos falta, aquela parte que, ao ser encontrada, faria com que não nos sentíssemos mais sozinhos, pois haveria uma completa comunhão de espírito, de mente, de corpos, e nada, mas nada mesmo, poderia separar seres tão semelhantes em tudo, na maneira de pensar, de sentir, de agir. Aliás, a fusão seria tão grande que até no aspecto físico seriam parecidos.
É o que dizem.
Entre almas gêmeas haveria um entendimento à primeira vista, um significativo olhar de reconhecimento. Uma atração irresistível, um “déjà vu”, como se fosse um encontro entre seres que se conheceram em outras vidas, pois haveria a sensação de já saberem tudo da vida um do outro, como se fossem velhos conhecidos.
É o que dizem.
A alma gêmea sentiria os batimentos do coração do outro, mesmo distante, penetraria na sua intimidade/sensibilidade, emitindo sinais de onisciência onde quer que se encontre. Seria uma espécie de telepatia.
É o que dizem.
Por fim, alma gêmea seria aquela por quem estaríamos procurando a vida inteira. Por causa da ausência dela é que sentiríamos a sensação de estarmos sozinhos mesmo acompanhados, vagando pelo mundo igual a almas penadas ou zumbis, até o fatídico dia em que as duas metades pudessem enfim se juntar, amalgamar-se, fundir-se uma na outra.
É o que dizem.
Mas há de se ter cuidado para não deixar-se levar pela história contada, tão diferente da história vivida.
Pois, se fosse assim, teríamos tido várias almas gêmeas ao longo da vida, inclusive aquela que casou conosco e que foi separada após litígio, traição ou desamor. Afinal, em qualquer início de uma paixão/relacionamento sempre existe encantamento e todas as sensações que relatei acima. Ou alguém se casou/enamorou por qualquer outro motivo que não tenha sido paixão, atração, ou por acreditar que aquela pessoa seria para a vida inteira?
Se fosse assim, aquele amigo (a) que te entende mais como ninguém, que enxerga o teu estado de espírito, que muitas vezes telefona no exato momento em que você precisa conversar com alguém, também não seria uma espécie de alma gêmea?
Não acredito em almas gêmeas, não por ceticismo, mas por não valorizar a fusão entre duas pessoas quando acredito no livre arbítrio e na individualidade tão necessária para que vivamos sem opressão de espécie alguma ou dependência.  Vivemos de acordo com as nossas escolhas, nossa índole, códigos de conduta e não porque estava escrito nas estrelas, nas cartas ou nos manuais do destino que aquela alma estava destinada a nós. Temperamento não é destino.
Não acredito que “minha alma gêmea” esteja vagando por aí à minha procura. Não acredito que, em um universo de possibilidades, uma única peça é que me servirá. Não, não pode ser um jogo de sorte, azar ou uma roleta-russa.
Desejar, amar, querer estar junto - no auge da paixão desejamos estar a vida inteira - nada tem de místico ou de sobrenatural. Trata-se de simpatia mútua, admiração, respeito, sensação de aconchego, que pode ou não, mais tarde, transformar-se em qualquer outro sentimento, até mesmo em ódio. Acontece até mesmo entre opostos. Quando se transforma em amor – acredito que somente com a convivência feliz seja possível – há a confirmação de que a escolha foi feita de forma consciente e sóbria. Fazer boas escolhas faz parte do autoconhecimento e da maturidade para saber lidar com as adversidades. Quem não conhece a si mesmo e vive de excessos encontrar-se-á sempre perdido e solitário, mas não por que ainda não encontrou sua alma gêmea, mas porque ainda não se encontrou consigo mesmo. É preciso estar inteiro para poder manter um relacionamento honesto. Quem não se sente pleno candidata-se a uma união de carências ou será presa fácil aos conquistadores de plantão, que tentam resolver seus próprios problemas existências à custa dos sentimentos que provocam. Experts na arte da falácia e da sedução sabem dizer o que o outro precisa ouvir, porque precisam ver-se refletidos nos olhos alheios.
No brilho ofuscante da pessoa escolhida, minha própria incandescência  encontra seu reflexo resplandecente”...Isso não sugere um ego expansivo, inseguro, desesperado por confirmar seus méritos incertos, por meio de seu reflexo no espelho? Uma pessoa pela metade que procura no outro o remédio para seus males?
Com todas as minhas forças digo que é preciso entrar num relacionamento não porque o outro determina quem nós somos ou conta-nos uma história muito semelhante à nossa. Ser maduro é não precisar mais de espelhos. É preciso estar consciente de si mesmo, plenamente sabedor do que se quer e estar sóbrio para ver se a hipoteca do relacionamento valerá a pena em longo prazo.
Até mesmo o espiritismo refuga o encontro das almas gêmeas. Diz o espiritismo que “não existe união particular e fatal entre duas almas” (298). O que existe é a união de espíritos simpáticos, mas em diferentes graus, de acordo com a perfeição que adquiriram: “quanto mais perfeitos, mais unidos”. Diz ainda que a expressão “metade” é inexata (299). Se um espírito fosse metade do outro, então metades que jamais se encontrassem viveriam eternamente se sentindo incompletas e infelizes?
De acordo ainda com o livro dos espíritos (302) a identidade necessária para a simpatia perfeita não consiste na semelhança de pensamentos e sentimentos, ou ainda na uniformidade dos conhecimentos adquiridos, mas na igualdade dos graus de elevação.
A teoria das metades eternas (almas gêmeas) é apenas uma figura que representa a união de dois Espíritos simpáticos. É uma expressão usada até mesmo na linguagem comum e não deve ser tomada ao pé da letra. Os espíritos que dela se servem certamente não pertencem a uma ordem elevada (...) É preciso rejeitar essa ideia de dois Espíritos criados um para o outro, e que deverão, portanto, um dia, fatalmente, se reunir, após estarem separados durante um espaço mais ou menos longo”...(Livro dos Espiritos)
Utilizei esta vertente mesmo sabendo que muitos não são espíritas para expressar que qualquer união nada tem de cármica ou de relação com vidas passadas. O que há é apenas um encontro de espíritos/indivíduos simpáticos que podem ou não vir a amar um ao outro, dependendo do grau de elevação de cada um.
Não acredito em amor de vidas passadas e nem em almas gêmeas. Acredito apenas no amor entre duas pessoas inteiras e não em metades sofríveis que se encontram para que cada uma resolva seus problemas através do outra.   Amar não é sentir-se inseguro com as incertezas do outro, mas sentir-se aconchegado. O amor não é um registro de erros passados o qual temos de consertar nesta vida e, consequentemente, um arquivo de mágoas que temos de compartilhar com o outro. O que sentimos por determinada pessoa tem de ser baseado na fé e não no medo de estar incorrendo em erros que ferirão princípios de conduta. Ninguém se sentirá melhor se seus princípios éticos e morais forem modificados por influências externas ou ideias que outras ou elas próprias impuseram. Sentimento de culpa ou ressentimento decididamente não é amor.
Por fim, não acredito em almas gêmeas e nem em frações desejando encontrar seu siamês ou clone no intuito de aplacar a insatisfação para consigo mesmas ou seus desejos egoísticos, mas acredito na procura e no encontro de duas pessoas autônomas, inteiras e disponíveis, que conseguem amar sem perverter o outro com exigências, cobranças ou chantagens, e que se aceitam mutuamente sem a passividade emocional que advém da dependência.
O amor tem de ser fraterno e não individual. E, sendo assim, não há somente uma única pessoa neste mundo destinada a nos fazer felizes, mas várias pessoas capacitadas a dar-nos amor de forma genuína, bastando, para isso, que saibamos diferenciar o que é real daquilo que seria apenas um sonho impossível.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Como os homens enfrentam uma discussão

Li um artigo do Mytho Leal sobre o que acontece na mente dos homens durante uma discussão de relacionamento.

A maioria das mulheres tem a mania de pensar que os homens pensam e sentem da mesma maneira que o sexo feminino, e fica frustrada quando eles simplesmente não reagem quando verdades são ditas no calor de uma discussão. O silêncio deles e talvez um virar de costas podem ocasionar o fim de um relacionamento. Afinal, a maioria das mulheres que pensa em separar-se do namorado/marido sempre reclama que o par não a escuta, não a entende, não valida seus sentimentos, não está nem aí para ela e que o casamento terminou por falta de diálogo. Para reparar o que costuma significar na maioria das vezes um grande erro, é preciso penetrar na natureza masculina e entender seu funcionamento.

Nós, mulheres, costumamos conectar o cérebro com todas as partes do nosso corpo. Assim, numa discussão, quando o gatilho emocional é acionado, o cérebro é inundado de lembranças das coisas que o parceiro fez (e este nem lembra mais do que fez e por que fez) ou deixou de fazer. Quanto mais as emoções afloram, mais o cérebro fica ligado à espera das respostas que o possam aliviar da enchente. Diante do silêncio masculino, não há alívio e, consequentemente, o corpo inteiro fica paralisado (penso que nessas horas muitos homens são obrigados a dormir no sofá). Acontece que há uma explicação para esse silêncio: o cérebro dos homens simplesmente “desliga” durante brigas ou discussão com mulheres. Conforme o artigo: “Durante uma discussão, o cérebro do homem “hiberna”, e o da mulher, pelo contrário, aumenta a atividade, sensibiliza-se”.

Eis mais um excerto do artigo:
“...agora que a conversa começou ela vai dizer o que já lhe disse 200 vezes, tudo o que ela acha de você. E na sua cabeça tem um coelhinho sem Duracel que já ficou sem bateria há tempos...”

O silêncio dele pode significar muitas coisas, até mesmo recusar-se a discutir para não feri-la, para protegê-la de palavras que a possam magoar mais ainda. O homem desconecta-se da discussão e só quer fugir dali, quer que ela pare de falar, quer estar em outro lugar menos ali, porque o instinto de preservação é mais forte nele.
Só que, para as mulheres, quem cala consente. O silêncio desperta na mulher uma sensação de razão e autoconfiança (confirma tudo o que ela está dizendo), outorgando a ela o direito de falar cada vez mais.
“...Ai você começa a ficar impaciente, e basta ela se empolgar um pouquinho mais e dizer algo ofensivo, que você é alvo de um sequestro de amígdala (glândula no cérebro responsável pelo instinto de sobrevivência) e, na tentativa de autopreservação, como se fosse um reflexo, fala algo totalmente impensado e particularmente doloroso.
Ela começa a chorar. Você, ainda acreditando estar com a razão desde o início, ainda chateado com ela (por achar que está certo), pede desculpa. E mais uma vez ela vence a discussão, que desde o início já estava ganha, por ser uma discussão unilateral. É impossível você perder num monólogo”.

Enfim, seria bom que todas as mulheres soubessem o que leva um homem a silenciar na hora de uma discussão. Certamente tal atitude evitará horas a fio de um discurso infrutífero onde o máximo que ele fará é balançar a cabeça ou afastar-se definitivamente.
Silenciar na hora da briga nem sempre significa afronta, mas respeito pela parceira.

Abaixo posto um vídeo engraçadíssimo que mostra o quanto podemos traumatizar um homem quando resolvemos discutir com ele.