segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mestre Cartola, o Doce.

Tem um ditado que diz assim: “Feche a boca em um segundo e tenha seus quadris para o resto da vida”.

Mas como uma pessoa consegue se preocupar com os quadris quando se depara com o Mestre Cartola à sua frente?

E nem se trata de um prato, mas de uma sobremesa que é servida no Boteco Dona Neusa. Aliás, sou viciada nas comidinhas de botecos, a maioria nordestina.

Detesto doces, mas aquele é irrecusável. Trata-se de bananas fritas, carameladas, sob uma camada enorme de queijo polvilhado com canela, e com duas bolas de sorvete de creme em ambos os lados. Pra quem gosta de banana e queijo, é um prato cheio!

Tento resistir a ele, mas não consigo. Danem-se os quadris! O dia em que não puder mais comer o Cartola, desistirei de comer qualquer outra coisa.







sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que leva uma pessoa aparentemente normal a matar?


O que leva uma pessoa aparentemente normal a matar? Os noticiários estão repletos de notícias sobre pessoas que sempre tiveram bom comportamento perante a sociedade e que, no entanto, num momento de desequilíbrio mental, agiram como loucas, matando por ciúmes, dinheiro, separação, rejeição etc. Já não bastava o alto índice de psicopatas que matam para usurpar bens alheios, ainda temos de nos cuidar com pessoas que podem fazer parte da nossa convivência diária.

Uma pessoa próxima revelou-me que sofreu perseguição de uma amiga, a qual não suportava que ela fosse mais bonita, mais magra e atraente. Aparentemente, sua amiga se comportava de maneira dócil e amigável quando estavam juntas, mas, na privacidade de seu quarto, arquitetava um plano para matá-la, plano esse descoberto quando a mãe da “psicopata”, desconfiada pelas atitudes um tanto estranhas da filha, resolveu investigar o computador dela. E estava tudo ali, passo a passo, um plano de como ela iria matar a amiga. É claro que a dita cuja foi internada imediatamente.

Li o livro Os Olhos de Laura, do psicanalista e psiquiatra J. D. Nasio, no afã de entender a sistemática de um fenômeno psicótico. No livro, o autor diz que todos somos loucos em algum recanto de nossas vidas, que ninguém está livre, mesmo sendo sadio, de agir cegamente quando rompe, de uma maneira ou de outra, com a realidade. E essa loucura pode ser apenas passageira, limitada a um único aspecto da vida de um sujeito normal.

Num doente psicótico, essa ruptura com a realidade é perceptível através de comportamentos bizarros e perigosos. Já num sujeito normal, pode se manifestar por excessos ocasionais, em atitudes incoerentes quando se vê atingido por situações de perda ou de rejeição (dinheiro, cônjuge, filhos, doença, trabalho etc.).

Neste caso, há sempre a justificativa que o outro foi o responsável pelo sofrimento dele. Isto é notado através do que geralmente costuma ocorrer: o louco ocasional raramente tira a própria vida. Ele tenta eliminar a quem julga ser o responsável pelo seu sofrimento. Conforme Nasio: “A mente cega curva a realidade à sua ideia (microdelírio circunscrito e ocasional), ao invés de submeter sua ideia à realidade”.

E por que isso acontece? Por que uma pessoa normal pode ter esses efêmeros microdelírios?

Já que podemos ser loucos a qualquer momento, é importante saber o que pensa o psicanalista. Ele afirma que, ainda que equilibrada, uma pessoa pode ter escondida, em algum lugar de seu inconsciente, uma fantasia ou trauma que pode explodir num acesso de loucura quando confrontada com a realidade.

Num trecho do livro ele relata que, ao término de uma consulta, ele encontrou, à saída de seu consultório, a paciente que recém havia atendido. Ela estava aos prantos. Numa primeira impressão, ele pensou: “Vi alguém chorar”; todavia, corrigiu-se a tempo: “Não vi alguém chorar, vi olhos chorarem”. Ele quis dizer que foi impossível, naquele momento, perceber a emoção em estado puro daquela pessoa, a qual somente seria possível quando essa emoção fosse destacada de quem a estava vivendo, perscrutando os recônditos de sua mente.

Eu gostei da analogia do Nasio entre um ser humano e o doce chamado mil-folhas, doce feito de várias camadas, a qual ele vem expondo desde 1979. Todos nós somos uma pluralidade de pessoas psíquicas, onde vários estados subjetivos, sadios e doentes, coexistem. Não é à toa que, às vezes, dormimos com pessoas felizes e sorridentes e, no dia seguinte, acordamos com criaturas azedas e intratáveis.

Acreditamos ser “um”, quando, conforme Nasio, somos “vários”. E entre os “vários” que nos compõe, um está sob o domínio de uma fantasia venenosa.
Eis um excerto do livro:

Sou uma pluralidade de pessoas psíquicas, geralmente normais, por vezes patológicas, empilhadas e ligadas entre si por um fio invisível que consolida minha unidade”.

É claro que a maioria consegue coexistir em paz com todas as suas “camadas”, mas uma minoria fica alienada a uma fantasia tóxica e não consegue dominá-la quando algum mecanismo (somente a neurobiologia e a psiquiatria podem explicar) a faz vir à tona e leva o sujeito a um acesso de loucura.

A hipótese psicanalítica de Nasio é que a desestruturação psíquica leva vários anos para se manifestar. Pode surgir na adolescência ou na idade adulta, mas a sua incubação leva vários anos. Então, uma neurose surgida tardiamente seria uma defesa ruim em relação ao mal que ela quer afastar.

A psicose é a consequência de um trauma infantil do qual o EU não cuidou direito” – diz ele; ou seja, “uma psicose não é o trauma em si, é a reação RUIM do EU contra o trauma”. E o remédio ruim pode ser pior que o mal que ele combate. Para Nasio, o remédio ruim, a defesa ruim, chama-se RECALCAMENTO.

Em sujeitos com pleno domínio de suas faculdades mentais, uma situação penosa é admitida, mas o que se busca é o esquecimento, dar a volta por cima. O esquecimento é uma forma de amortecer algum golpe que tenhamos levado na vida, seja em qualquer âmbito. É uma defesa boa. Para aqueles que não têm esse discernimento, o recalcamento possui outro nome: foraclusão.

No livro de Nasio é explicado que quem foraclui não sente a dor que causa aos outros, é como se as suas emoções ficassem anestesiadas e ele não tivesse consciência da violência que pode gerar. É a neurose em seu mais alto grau, a que torna um sujeito psicótico de fato.

No caso da história que me foi contada, a mulher que se sentia recalcada em relação à outra – há pouco tempo ocorreu o caso de um empresário que matou o namorado da sua ex-mulher, por não ter aceitado a separação, e que tramou a morte do rival durante um ano - ela teve uma defesa ruim para seus traumas.  Só Deus e o psiquiatra que está cuidado dela podem saber que tipo de trauma infantil levou-a a “foracluir”. Era uma mulher normal até que uma amiga tornou-se capaz de ser mais atraente que ela e ter mais sucesso em relação ao sexo oposto. No caso do empresário, era um homem normal até que a mulher o deixou depois de 25 anos de casamento.

Não acredito que pessoas assim devam ir para cadeia de imediato. Cadeia é lugar de bandido, de criminosos sem chances de recuperação, psicóticos que matam por prazer, predadores que se excitam com o cheiro do sangue. Para estes a prisão deve ser perpétua, pois todas as suas “camadas” são doentes e irrecuperáveis.

Para aqueles que agem como loucos em algum momento de suas vidas, mas que conseguem preservar regiões saudáveis em seu psiquismo, primeiro deve ser dado tratamento psiquiátrico, atendimento psicológico, para que, quando tiverem de pagar pelo crime cometido (sim, acho que devem ser punidos), possam ter consciência do mal que geraram e, assim, entenderem por que estão pagando e pelo quê. Só pode se regenerar aquele que tem consciência do mal que pode causar aos outros devido ao seu recalque. Afinal, uma defesa considerada sempre boa para a superação de traumas é saber perder.

Lembro-me de tantas pessoas que sofreram perdas e sofrimentos atrozes e que, mesmo assim, se tornaram grandes exemplos de superação e lição de vida. São pessoas que tiveram reações boas para se defenderem de seus traumas. Luiz Fernando Oderich, da ONG Brasil sem Grades, diria que famílias estruturadas, cujos pais zelam para que seus filhos tenham tanto saúde física quanto mental, geram “mil-folhas” perfeitos. Eu concordo plenamente. Mas há aqueles que nem família possuiu e sempre mantiveram controle sobre suas emoções. A estes eu chamo de “confeiteiros de si mesmos”. Com amor e boa vontade, qualquer prato torna-se um néctar dos deuses, mesmo que o cozinheiro não seja grande coisa.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Os Limites do Meu Conhecimento São os Limites do Meu Mundo

Para o filósofo Wittgenstein*, a linguagem do homem está relacionada ao seu pensamento. Para ele, a linguagem e o pensamento trabalham sob a mesma égide, de modo que aquilo que é limite para um, também será para o outro; ou seja, os limites da linguagem são, portanto, os limites do pensamento.

Pois é isso o que me preocupa em relação a este livro que o MEC deseja que as escolas adotem. Justifica-o alegando que as pessoas podem falar como quiserem, desde que saibam escrever as palavras corretamente. E como ficará o raciocínio dessas pessoas, caso seus pensamentos sejam limitados pela sua linguagem vulgar? Se cada pessoa nominar ou conceber algo de acordo com o seu pensamento, logo a interação com outras pessoas se tornará insustentável. Cada pessoa será possuidora de uma linguagem privada, oriunda da maneira como ela organizou sua estrutura de pensamento. Em breve, estará se comunicando através de códigos que somente ela pode decifrar.

Creio que este livro a ser adotado nas escolas, e que ensina que falar errado é certo, é apenas um prenúncio do que ainda está por vir. Quando todos os alunos perderem o interesse pela língua portuguesa, uma vez que lhes será dado o direito de falar errado – ou conforme o desordenamento dos seus pensamentos – o segundo passo será mudar a grade curricular das escolas, que passaria a ter as seguintes matérias, conforme e-mail que recebi hoje:

Educação Física

Futebol e as vantagens de vencer na vida através dele. O grande exemplo seria o Ronaldinho Gaúcho, que ganha R$ 1.400.000,00 por mês só para jogar futebol e ainda foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras.

Música

Sertaneja, Pagode, Axé, Funk.

História

Grandes Personagens da Corrupção Brasileira;
Biografia dos Heróis do Big Brother;
História da Arte: De Carla Perez à Faustão;
Evolução do Pensamento das Celebridades: Como Xuxa aprender a falar “carioquês”, mesmo tendo nascido no Sul.

Matemática

Multiplicação Fraudulenta do Dinheiro de Campanha
Cálculo Percentual de Comissão e Propinas

Português

Fale Errado Porque É certo. Se alguém Reclamar, Processo Nele!
O grande exemplo seria o Tiririca: R$ 36.000,00 por mês, fora os auxílios e mordomias. Mesmo analfabeto é membro da Comissão de Educação e Cultura do Congresso.

Literatura

Livros traduzidos para a linguagem do “K” e do “X”.

Trecho traduzido do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis:

Enfim, xegou a hora da enkomendação e da partida. Sanxa kis despedir-se do marido, e o desespero dakele lance consternou a todos. Muitos homens xoravam também. ...A konfuzão era geral. No meio dela, Kapitu olhou alguns instantes para o kadaver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, ke não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...”

Biologia, Física e Química

Excluídas por excesso de complexidade. Os pobres não precisariam estudar essas matérias. Ricos, caso queiram, deverão pagar professores particulares.

Enquanto isso...

Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00.
Os professores ganham pouco porque só servem para nos ensinar coisas inúteis, como: ler, escrever e pensar.


(*) Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (26/04/1889 a 29/04/1951), filósofo austríaco, naturalizado britânico, foi um dos principais atores da virada linguística na filosofia do século XX. Suas principais contribuições foram feitas nos campos da lógica, filosofia da linguagem, filosofia da matemática e filosofia da mente.

Filosofia de Wittgenstein:

O uso imperfeito da linguagem corrente leva a frequentes confusões. Há de se estabelecer certos limites para o uso da linguagem”.

Os limites da minha linguagem (da linguagem que apenas eu compreendo) significam os limites do mundo”.

O homem possui a capacidade de construir linguagens com as quais se pode expandir todo sentido, sem fazer ideia de como e do que cada palavra significa – como também falamos sem saber como se produzem os sons particulares”.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livros Pra Inguinorantes – Por Carlos Eduardo Novaes*

Confeço qui to morrendo de enveja da fessora Heloísa Ramos que escrevinhou um livro cheio de erros de Português e vendeu 485 mil ezemplares para o Minestério da Educassão. Eu dou um duro danado para não tropessar na Gramática e nunca tive nenhum dos meus 42 livros comprados pelo Pograma Naçional do Livro Didáctico. Vai ver que é por isso: escrevo para quem sabe Português!

A fessora se ex-plica dizendo que previlegiou a linguajem horal sobre a escrevida. Só qui no meu modexto entender a linguajem horal é para sair pela boca e não para ser botada no papel. A palavra impreça deve obedecer o que manda a Gramática. Ou então a nossa língua vai virar um vale-tudo sem normas nem regras e agente nem precisamos ir a escola para aprender Português.

A fessora dice também que escreveu desse jeito para subestituir a nossão de “certo e errado” pela de “adequado e inadequado”. Vai ver que quis livrar a cara do Lula que agora vive dando palestas e fala muita coisa inadequada. Só que a Gramática eziste para encinar agente como falar e escrever corretamente no idioma portugues. A Gramática é uma espéce de Constituissão do edioma pátrio e para ela não existe essa coisa de adequado e inadequado. Ou você segue direitinho a Constituição ou você está fora da lei – como se diz? – magna.

Diante do pobrema um acessor do Minestério declarou que “o ministro Fernando Adade não faz análise dos livros didáticos”. E quem pediu a ele pra fazer? Ele é um homem muito ocupado, mas deve ter alguém que fassa por ele e esse alguém com certesa só conhece a linguajem horal. O asceçor afirmou ainda que o Minestério não é dono da Verdade e o ministro seria um tirano se disseçe o que está certo e o que está errado. Que arjumento absurdo! Ele não tem que dizer nada. Tem é que ficar caladinho por causa que quem dis o que está certo é a Gramática. Até segunda ordem a Gramática é que é a dona da verdade e o Minestério que é da Educassão deve ser o primeiro a respeitar.




(*) Carlos Eduardo Novaes é advogado, cronista, romancista, contista e dramaturgo. Com um estilo provocativo e mordaz, se firmou como um de nossos mais aclamados escritores. Suas crônicas trazem o colorido marcante de seu humor inteligente e crítico, muitas vezes de uma sutileza molestante.

domingo, 22 de maio de 2011

É preciso falar errado para ser aceito?

Numa época em que só se fala em preconceito – quando existem tantas coisas mais preocupantes para me tirar o sono, como a criminalidade e o tráfico de armas e drogas, por exemplo - chegou-se ao absurdo de atacarem a nossa gramática. Agora querem combater o “preconceito linguístico”, como se aqueles que se esmeram em falar corretamente a língua vernácula ofendessem àqueles que não possuem a mesma acuidade linguística, seja por falta de cultura, inépcia, preguiça ou falta de interesse.

O livro Por Uma Vida Melhor, adotado pelo MEC, promete corrigir esse preconceito, pois, conforme a autora Heloísa Ramos: “o importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pelo uso adequado e inadequado da língua, dependendo da situação comunicativa”.

A autora pretende, com esse livro, dar a entender que algumas pessoas não são valorizadas dentro de determinados grupos sociais porque se utilizam de uma linguagem “popular”, e que se sentem diminuídas, não aceitas. Por isso o termo “preconceito linguístico”.
Segundo o MEC, deve-se dar total liberdade para um aluno poder se expressar da forma que lhe for mais conveniente, mesmo que seja inadequada. Enfim, o livro ensina que falar errado é certo, dependendo do meio no qual o aluno estiver inserido.


Perdoem essa autora, pois ela não sabe o que diz. Deve ter sofrido influência petista, a mesma que colocou o Tiririca na Comissão de Educação e Cultura da Câmara.  

Diferenças físicas e qualitativas entre as pessoas sempre existiram e sempre existirão. E cada pessoa reage de maneira favorável ou desfavorável diante dessas diferenças. Na maioria das vezes, trata-se apenas de uma questão de atitude e não de preconceito. Ter atitude é racionalizar, sentir e externar tendências comportamentais. Uma pessoa, mesmo reagindo de maneira desfavorável diante de um linguajar inaceitável para ela, não pode ser julgada de preconceituosa. Aliás, é preciso limitar o alcance da palavra preconceito, tão preferida pelos nossos atuais governantes – e tão utilizada na busca insana e oportunista por mais votos. Nem sempre uma atitude intolerante pode ser considerada um ato discriminatório. É apenas uma tendência.

Sou a favor da liberdade de expressão, seja em qualquer tipo de linguagem.
Linguagem não é apenas um idioma ou uma língua, mas uma forma de conhecer e ser conhecido, de evoluir, de aproximar, de se ter mais qualidade nos relacionamentos; enfim, de comunicar ao mundo valores, ideias e sentimentos. Só acho que ninguém precisa diminuir-se ou regredir em termos de linguagem para poder se ajustar a quem não tem as mesmas preocupações que citei acima. Não é preciso saber todo o léxico, mas é imprescindível falar ou escrever corretamente o conjunto de palavras que se tem à disposição, mesmo que seja limitado. Erros ortográficos sempre farão rodar em vestibular e provas de capacitação, bem como causam má impressão em entrevistas de emprego.

Além disso, caso seja dado o direito a um aluno de se manifestar de forma contrária aos bons ensinamentos, certamente que abrirá margem para que ele ingresse com liminar, caso rode em redação no vestibular, sob a justificativa que sofreu “preconceito linguístico”. E certamente que abrirá outra margem: a de que o Governo destine vagas especiais para os “discriminados em língua portuguesa”, em detrimento dos que se matam a estudar semântica, morfologia e sintaxe.




Se a autora e o MEC querem chamar a atenção de alguma maneira, que seja para o fato dos nossos jovens não serem mais estimulados a ler, a pesquisar, a usar um dicionário. A linguagem é o que diferencia o ser humano dos animais; é o que constrói seu senso de mundo, seu meio, suas experiências. E quanto maior for o vocabulário de uma pessoa, maior será o seu pensamento, o seu raciocínio e, consequentemente, o seu mundo, conforme a filosofia de Wittgenstein.

Por fim, se conjugações e concordâncias não são mais necessárias para uma boa comunicação, que fim terá os professores? E os amantes da “Ùltima flor do Lácio”? Serão eles agora os injustiçados, os discriminados, só porque procuram expressar-se corretamente? Será preciso  emburrecer para poder ser aceito por uma cultura que cada vez mais vicia e apoia pessoas a um linguajar que beira a grunhidos de homens das cavernas?

Por mais que despautérios tipo “Aí nós pega os peixe e os fritemo” me façam franzir o cenho, estou consciente que a maneira como uma pessoa se expressa nem sempre é uma questão de escolha, mas também de aptidão e de habilidade cognitiva. Na falta destas, em vez de livros que a façam permanecer na ignorância, mais útil seria ela ser estimulada à cultura, ao estudo, a seguir o exemplo de quem conseguiu superar dificuldades através do próprio mérito.  O preconceito tornar-se-ia irrelevante se fosse dado mais ênfase à palavra MERECIMENTO.




É, pensando bem....




quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vale a Pena o Brasil Sediar a Copa de 2014?

Em 2014 o Brasil será sede do maior evento esportivo do planeta: a Copa do Mundo.
O evento gerará empregos e obras de infraestrutura, as quais custarão bilhões aos cofres públicos. No que poderia ser investido tanto dinheiro, caso a Copa não fosse realizada no Brasil?

São mais de 20 bilhões de reais em obras e modernização de estádios. Somando recursos diretos ou indiretos da iniciativa privada, o valor chegará a mais de 183 bilhões de reais, dinheiro esse que será distribuído em áreas como transportes, segurança e cultura, para que os visitantes possam dispor de todas as comodidades possíveis em apenas um mês.

Segundo o Governo, doze estádios serão modernizados para que possam ser equiparados aos melhores estádios do mundo em termos de comodidade e segurança para os torcedores, e servirão de palco para atrair shows internacionais após a Copa, bem como haverá aumento de público e, consequentemente, mais renda em dias de jogos.

Ainda seguindo o discurso do Governo, pelo menos 600 mil estrangeiros são esperados, número que aumentará com a visita dos nossos vizinhos sul-americanos. Sem contar o fluxo de turismo nacional que movimentará 3 milhões de brasileiros, o que significará maior entrada de dinheiro aos cofres públicos em forma de impostos.

Agora o melhor da coisa – e o que faz inflar o peito de orgulho dos nossos governantes: mais de 700 mil empregos serão gerados, sendo 330 mil permanentes. Isso ocasionará o aquecimento da economia, o que impactará o PIB (Produto Interno Bruto). O ano da Copa gerará cerca de 2% das receitas nacionais.

Todavia, todavia...

Dói-me, e acho que não somente em mim, mas em várias outras pessoas, saber que as mazelas brasileiras permanecerão muito tempo após o término da Copa.

Pra começar, com esse histórico que o Brasil possui de licitações irregulares, obras superfaturadas e improbidade administrativa, alguém acredita que não haverá lavagem de dinheiro e evasão de divisas?
Mesmo com tantas bolsas disso e daquilo, o Brasil ainda possui 10% da população analfabeta, o que o coloca em 73ª posição mundial no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Com 20 bilhões de reais, áreas como a educação e a saúde poderiam ter problemas mais urgentes solucionados. Cerca de 400 hospitais-escolas poderiam ser construídos com esse dinheiro.

E quanto à capacidade de garantir segurança aos visitantes, atletas e à população em geral?
A guerra entre policiais e traficantes no Rio, ocorrida meses atrás, mostrou ao mundo inteiro o que se pode esperar. Se já está havendo capacitação de profissionais, desde construção civil à hotelaria, bem como cursos de línguas estrangeiras a policiais que atuarão nos cuidados do público, certamente que também os criminosos estão treinando para bater carteiras, arrancar bolsos inteiros numa passada de mão só, burlar a segurança dos hotéis etc.. Isso na melhor das hipóteses. É um risco que o país corre caso não garanta toda a segurança e comodidade possível, até mesmo de perder o direito de realizar a Olímpiada de 2016.

E agora o que me causa verdadeiro horror: o caos no trânsito das cidades que serão sedes. As ruas já não comportam o tráfego intenso de carros, causando congestionamentos quilométricos, bem como a dificuldade insana de atravessá-las. Mesmo com a figura do “bracinho arrancado” e o slogan de “respeite a faixa de segurança”, são poucos os motoristas que respeitam o pedestre.





E o caos aéreo?

Segundo a Infraero, das obras em 13 aeroportos considerados estratégicos para a Copa será possível aprontar apenas 07 a tempo. Mesmo a estatal garantir que poderá atender à demanda, um estudo da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP, diz que voos atrasados ou cancelados poderão chegar a 43,9% já em 2013.


A Copa do Mundo no Brasil será um show de bola ou um fiasco? Apesar do meu pessimismo, ainda acredito em milagres.

Fontes: Ministério do Turismo, Ministério do Esporte, Infraero e PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).


terça-feira, 17 de maio de 2011

O que não se pode explicar aos normais

Sem querer escutei a conversa entre dois colegas de trabalho, ambos casados.
Entendam: casados com as respectivas esposas e não entre eles. Todo cuidado é pouco nesses tempos em que interpretações dúbias podem levar a polêmicas relativas à homofobia.  
Um deles contava sobre as queixas de duas amigas sobre os homens que conheciam na “noite”: “que eram todos loucos, que não existiam mais homens; que os bons encontravam-se casados e que os disponíveis eram aqueles que tinham algum problema emocional; caso contrário, não estariam à solta”.

Perguntaram-me se era isso mesmo, se só havia loucos, homens que não prestavam e que não queriam compromisso, apenas divertir-se com as mulheres.

Respondi que, na verdade, eu costumava pensar a mesma coisa até ser obrigada a mudar  de ideia. Os homens dão mil e uma desculpas para não desejarem levar adiante um relacionamento, mas só se não estiverem suficientemente empolgados com uma mulher. Caso percam a cabeça e se sintam apaixonados, aí é que ficam loucos de verdade e vão fazer das tripas o coração para ter o objeto de seus desejos.

E por que mudei minha forma de pensar e não ser mais crítica em relação à fuga a compromissos do sexo oposto?

Lembrei-me do comentário de certo amigo que havia escutado uma palestra de um conhecido terapeuta sobre a atual superficialidade dos relacionamentos. Ele contou-me que uma das perguntas feitas ao terapeuta foi a de uma mulher que indagava o porquê da maioria dos homens não querer “compromisso sério”.

A resposta do terapeuta foi que os homens sentiam-se inseguros perante uma mulher exuberante, segura de si, independente financeiramente e preocupada com a aparência física; por isso preferiam, para um compromisso sério, as mais “simples”, aquelas que não almejassem grandes objetivos, que não pensassem tanto em si mesmas, que fossem mais dependentes, pois, desta forma, não representariam o risco de abandono caso eles não respondessem às expectativas delas. Quanto mais simples, menos exigências. E disse mais: as mulheres mais inteligentes não são muito ligadas a sexo, pois têm muitas ocupações (isso inclui academias, cursos, reuniões, viagens). As mulheres “simples”, como não têm mil e um afazeres, são mais ligadas ao parceiro e preocupadas em satisfazê-lo em detrimento da própria satisfação.

E não é que tem um fundo de verdade nisso?

Pois o mesmo amigo que me contou da palestra serviu de exemplo.

É um homem bonito, interessante, inteligente, bem-sucedido e acostumado a ter mulheres igualmente bonitas, independentes e exuberantes perseguindo-o. E não conseguia ficar empolgado com nenhuma delas. A todas dizia a mesma história: não queria compromisso por ainda não estar preparado, que não queria se apegar, pois não queria mais sofrer e nem fazer a outra pessoa sofrer etc. Até que foi flechado pelo Cupido, e não foi num lugar badalado, repleto de mulheres lindas e maravilhosas: foi num singelo curso promovido por uma associação beneficente. E a eleita – sortuda, ela – nada tem de exuberante ou glamoroso: não usa maquiagem, não se enfeita, não usa roupas modernas ou sexys, anda de “rasteirinhas” e nem trabalho possui. Muito menos badala em lugares da moda. Só participa de cursos e de palestras. Enfim, é uma mulher “simples”, zen, sem grandes complexidades. E agora ele quer compromisso, quer casar com ela, quer viver ao lado dela o resto da sua vida, e mandou para o inferno a insegurança que dizia possuir. Até na tristeza e nas dificuldades ele a quer, mesmo que fique pobre e desvalido. Ficou louco!

Existe muita diferença entre ser louco e estar louco. Ser louco é adotar uma conduta bizarra ou perigosa, mas não é o caso de quem não quer compromisso e nem de quem o persegue. E o que é estar louco?

No livro Os Olhos de Laura, J. D. Nasio explica que “é ter a certeza cega da verdade do que se pensa e do que se faz”. O neurótico duvida dos fundamentos do que pensa e faz; o louco que às vezes todos nós somos, no momento da sua loucura, não duvida e, sem refletir, sabe o que deve fazer; o afeto é mais forte que a razão.

Deste modo, infiro que somos “normais” até o momento em que nos apaixonamos por alguém. E ficamos loucos. E neste estado, não duvidamos do que queremos e nem de nós mesmos. E ficamos cegos. Aliás, quem disse que amor é cego enganou-se redondamente. Quando estamos “loucos” enxergamos belezas e qualidades na pessoa amada que olhos “normais” jamais enxergariam. O amor não é cego: é louco, portanto.

Será que é louco aquele homem que não deseja laços indissolúveis, que pensa apenas em se divertir e trata as mulheres como objetos descartáveis?
Será que é louca aquela mulher que sabe o que quer e também o que não quer; que exige atenção e que dá muito valor às suas metas e que persegue o sucesso com unhas e dentes?

Não são loucos, são normais. Apenas ainda não encontraram alguém que os fizessem sentir-se mais “simples” e afetuosos. Sempre considerei loucas aquelas pessoas que ousam sair por aí de “cara limpa”, sem a preocupação de significar um mistério a ser solucionado a fim de se protegerem contra desilusões ou frustrações. Mostram-se como realmente são, simplificam em vez de complicar. E como explicar isso?

Espero que a canção “O que não se pode explicar aos normais”, da banda Catedral, explique isso tanto a mim quanto a outros normais. Aliás, bela música. O vocalista  Kim possui a voz idêntica a do Renato Russo.


Bolsonaro e a Cartilha do MEC

Divirto-me com o deputado Jair Bolsonaro. O cara é autêntico e tem a coragem de dizer o que pensa. O problema é que ele não sabe manejar adequadamente as palavras e por isso acaba gerando interpretações dúbias, o que é bem aproveitado pelos oportunistas e hipócritas de plantão.

Voltaire disse: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Isso sim é que é democracia!

Além disso, o Art. 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos traz bem explícito: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e de expressão”.
Então, por que diabos querem calar o deputado Bolsonaro, colocar rédeas na sua liberdade de expressão? É lamentável isso que esteja ocorrendo com o deputado. Agora querem que ele prove que não é racista ou homofóbico só porque se posiciona contra certas atitudes que são contrárias ao que ele sente e pensa. Já vi gente se posicionar contra argentinos, asiáticos, gordinhos, carecas, barrigudos, cuspidores de chão, loiras etc. e ninguém foi atirado ao ostracismo por causa disso ou rotulado de preconceituoso.

Basta que uma pessoa pública demonstre ser contra algo ou alguém que o autoritarismo se inflama e insurge-se contra, bem como hipócritas usem a Justiça como arma para calar quem ousa ter ideias e vontade própria.

Prova disso são os inúmeros processos judiciais que o deputado responde por suas declarações polêmicas. Pensei que somente os jornalistas fossem alvo dessa arma covarde – a Justiça – para impedir que certas informações venham a público, mas os cidadãos também estão passíveis desse tipo de impedimento. É preciso “dançar conforme a música”, caso contrário....Processo!

Existe, claro, um tipo de preconceito injusto e discriminatório que é aquele que se traduz em perseguição e maus tratos, como foi o caso da Geisy Arruda, que foi quase massacrada por colegas da faculdade ao vestir um vestido cor de rosa – neste caso, foi a inveja e não o preconceito que atiçou a massa. Cito o exemplo do índio que foi queimado vivo. Mais ainda: os mendigos que foram assassinados por pessoas que não suportavam a sujeira que eles produziam nas ruas. Ser contrário a algo não autoriza ninguém a sair matando e agredindo por aí. Infelizmente, para esse tipo de preconceito que leva a agredir e a matar não existe solução senão a educação e o endurecimento das leis já existentes.

O problema no Brasil é a dificuldade de investimento na educação ou na alteração de quaisquer cláusulas já ultrapassadas nos códigos Civil, Penal, Processual, Tributário, Comercial etc.

Pior, além de não alterarem nada, ainda não fazem valer as leis existentes. Tudo é combatido – até mesmo o preconceito – com imposições de igualdade mascaradas e fictícias por intermédios de leis e decretos criados à revelia.

Entendo que a raça negra sofreu restrições em relação à cultura e à conquista de espaço na sociedade após a abolição da escravatura. Mas as mulheres também não sofriam tais restrições – não tinham acesso à cultura e ao trabalho - e mesmo assim não foram à luta e conquistaram um espaço maior que o esperado? E nem precisaram de cotas na faculdade para evoluir. Bastou estudo, muito estudo, e muita força de vontade para superar os obstáculos impostos por uma sociedade machista.

Não sou racista. Nunca fui e nem nunca o serei, mas sou contra o sistema de cotas, assim como sou contra ao “bolsa-guerrilha” (e as indenizações às vítimas desses guerrilheiros?) e ao bolsa-família. Isso faz de mim uma pessoa preconceituosa? Porque ainda acredito que todas as pessoas são iguais perante a lei, independente de credo, raça, religião, time que torce etc. e que devem vencer por seus próprios méritos?

Não sou contra as cotas, mas sou a favor que pessoas de baixa renda, independente de cor, tenham acesso à faculdade. Não defendo a volta da ditadura, mas sou a favor de punições mais rigorosas a criminosos como o Champinha, talvez até a pena de morte. Não sou contra ao casamento de gays, mas sou a favor que o Governo use seus recursos para publicar cartilhas que previnam a gravidez precoce de adolescentes, que conscientize nossos jovens em relação à paternidade responsável, que eduque e previna em relação ao uso e abuso de drogas e não que estimule ao homossexualismo.
Se for para esclarecer sobre sexualidade, que tratem sobre planejamento familiar e uso da camisinha!

Não sou contra ao homossexualismo e muitos amigos gays que tenho sabem disso. A eles têm de ser dados os mesmos direitos de qualquer cidadão de bem. Eu só não entendo, talvez por ignorância, por que as discussões sobre preconceito limitou-se a racismo e homofobia quando há outros tipos de preconceito que não são debatidos. Discrimina-se por quase tudo: pelo vestuário, pela linguagem, pelo credo, pela posição social, pela cor do cabelo (loiras), pelo time que torce etc. Houve casos de agressões físicas e morais contra negros e gays, mas também houve em relação a moradores de rua, índios e torcedores de times adversários. Será que em defesa a estas pessoas também serão distribuídas cartilhas em escolas?

Uno-me ao deputado Jair Bolsonaro e faço-me valer do meu direito de opinião e de expressão. E digo agora:

Para o raio que parta o MEC e seu kit para combater a homofobia nas escolas, a partir do ensino fundamental! Há coisas mais importantes a tratar do que tornar visível aos nossos jovens a prática de um grupo minoritário que só precisa de aceitação e tolerância por parte da sociedade. Para o raio que parta esse Governo que não prioriza a melhoria do ensino, a valorização dos professores e a segurança nas escolas!

Por que não admitem e esclarecem as situações insólitas e as realidades de um grupo minoritário de uma forma que os seres humanos, mesmo aqueles ainda em formação, compreendam e aceitem as diferenças de forma saudável e pacífica, sem agressões? Imposições de igualdade, de qualquer tipo, por força da lei, só semeiam falsidade, hipocrisia, maior desrespeito e a violência. O caminho é a EDUCAÇÃO. Educar para se querer bem o próximo, independentemente de raça, religião, time que torce, condição social etc. não é impor uma aceitação que nem todos poderão concordar -  uma vez que cada indivíduo é soberano sobre si mesmo, seu corpo e sua mente -  mas  conscientizar que nem sempre podemos considerar todo mundo em igualdade absoluta e  irrestrita  (sejam  gays, lésbicas, aidéticos, cuspidores de cão etc.), e que é preciso agir com moderação e respeito diante do comportamento de quem tem livre arbítrio para fazer suas escolhas - desde que não acarrete má influência ou gere riscos a outrem.

Para finalizar esse desabafo, vou confessar um preconceito que tenho e que me leva a ter instintos assassinos cada vez que vejo uma criatura agir de forma a me causar aversão:

Tenho ódio de homens que cospem no chão! Tenho vontade de matar qualquer um que cuspa escatológica e ruidosamente na minha frente, principalmente depois de eu ter feito uma lauta refeição. Nem sempre o preconceito surge da má fé de quem o possui, mas da falta de educação de quem não sabe dosar a liberdade com o respeito ao próximo.

Deixo os três vídeos referentes à cartilha do MEC que será distribuída a crianças entre 6 a 14 anos. Que cada um tire suas próprias conclusões. Eu sou contra. Queimem-me na fogueira juntamente com o Bolsonaro, crucifiquem-me, mas valho-me da minha liberdade de opinião e de expressão.

Em relação ao deputado Bolsonaro, de quem sou fã, comparo-o a John Stuart Mill, sobre quem aprendi na faculdade. Liberal, individualista, inconformista e sempre lutando contra a sociedade de seu tempo, mesmo assim foi considerado o melhor filósofo inglês do séc. 19.








domingo, 15 de maio de 2011

Internacional Campeão Gaúcho 2011!

Um time vencedor joga para ganhar, mesmo que as circunstâncias sejam difíceis. Esta é a diferença entre jogar para ganhar e jogar para não perder, e costuma ser a mesma coisa entre o sucesso e a mediocridade.
O que importa não é a habilidade, mas a atitude.
Parabéns, Internacional! Parabéns, Renan!


quarta-feira, 11 de maio de 2011

As três regras básicas para prender um homem

As palavras do “seu Clóvis”, pai de uma amiga dos meus tempos de juventude – a amizade perdura até hoje -, ainda ecoam na minha mente. Era um senhor austero, sisudo, que pouco abria a boca para sorrir, mas que, de vez em quando, dizia alguma máxima para estimular as duas “gurias” a deixarem as traquinagens de lado e começarem a pensar em levar a vida mais seriamente. Na verdade, Márcia e eu éramos terríveis. Deixávamos qualquer jovem do sexo oposto de cabelos em pé com nossos jeitos “irreverentes” de ser. Só levávamos a sério o trabalho – trabalhávamos no mesmo banco; a faculdade – eu fazia Administração e Márcia, Química – e o bar Pulperia. Rapazes eram apenas seres complicados que serviam apenas para nos divertir.

Vendo que meu destino e o de Márcia era a solteirice para o resto da vida, caso não tomássemos jeito, ele nos revelou as três regras básicas para que uma mulher pudesse prender um homem para o resto da vida:

a) Ser boa de cama;
b) Ser excelente cozinheira;
c) Não ser ciumenta.
Mas tudo ao mesmo tempo. Não valia preencher apenas um ou dois itens. É claro que caímos na risada. Que coisa do século passado, ser tão servil, subserviente. E não sentir ciúmes! Ora, somente abúlicos conseguem ser tão fleumáticos. Digo isso porque tanto eu quanto minha amiga não podíamos ser consideradas exemplos de estabilidade emocional. Ferinhas selvagens e no auge das aflições histéricas da juventude, essa coisa de levar desaforo para casa não era conosco. Lembro-me do dia em que um rapaz passou a mão no traseiro da Márcia, quando nos dirigíamos para a faculdade. Sem dizer uma palavra, ela perseguiu o rapaz durante uma quadra, deu uma voadora nele (não sei como ela conseguiu acertar-lhe os dois pés e ainda dar-lhe um soco na cabeça), derrubando-o no chão. Após, encheu-o de desaforos (o que incluiu a mãe dele) e voltou calmamente para o meu lado, como se nada tivesse acontecido.
Todavia, o tempo passou e Márcia seguiu os conselhos do pai. Tanto, que seu casamento já ultrapassa os vinte anos. Quanto a mim, nem vou comentar, mas acho que foi minha capacidade de ficar paralisada perante um fogão que me fez ser malsucedida no quesito casamento. Quero crer que tenha sido isso.

Hoje, pensando melhor e observando o que se passa ao meu redor, dou razão às sábias palavras do “seu” Clóvis. Mulher ciumenta põe tudo a perder mesmo! Ser boa de cama qualquer uma consegue desde que o par colabore, ou seja, nesse quesito, grande parte do desempenho de uma mulher depende do homem também ser bom; do contrário, nem com reza brava, exceto se a mulher for boa atriz. Em relação à arte da cocção, isso é fácil: a internet está repleta de manuais e de receitas passo a passo. Mas, em relação ao ciúme, dependerá do grau de inteligência emocional de cada uma controlar o instinto de preservação e a propensão à vilania. E isso é muito difícil. Algumas não conseguem nem sob tratamento psiquiátrico.

É claro que me refiro ao ciúme patológico, àquele que provém das fantasias, da insegurança mórbida, do instinto de posse, da incapacidade de lidar com a incerteza e que leva uma pessoa a tentar limitar os direitos de ir e vir da outra. Ciúme infundado é uma doença, pode até levar alguém a matar, como foi o caso do que foi noticiado hoje: um rapaz matou a facadas um jovem que “ficou” com uma menina na qual ele tinha interesse. Somente isso, e bastou para que o criminoso se sentisse traído, ofendido, desrespeitado em algum direito, ainda que vago e indefinido, e matasse o “usurpador de autoestima alheia”.

O ciúme normal é aquele sentimento que faz com que uma pessoa se sinta humilhada, ferida na vaidade, com a sensação de ser tratada com descaso e inferioridade, de ter sido preterida, trocada por alguém mais interessante, mas que é controlável. Ao se dar conta que tal sentimento faz mal, a pessoa ciumenta opta por reagir de outra maneira que não seja a raiva e o desejo imediato de vingança, de retaliar.

Quem já não reagiu de maneira infantil quando se encantou sentimentalmente por alguém? E quem, ao perceber o quanto essa atitude podia prejudicar um bom relacionamento, não buscou por autoconhecimento para poder lidar de forma verdadeira e adulta com a sua insegurança? Muitos, claro, eu diria a maioria, mas, infelizmente, uma minoria ainda tende a ver o outro como remédio para todas as suas dores, o salvador das garras da solidão e, por isso, tende a desejar apropriar-se de outro ser humano em nome do “amor” que sente por ele. Nessa condição, pessoas assim estão sujeitas a sofrimentos atrozes, como a rejeição, o desamparo e o abandono, pois ninguém gosta de ver-se restringido em seu modo de ser e de viver. Acabam caindo fora de um relacionamento “corrosivo”, como diria certo amigo que tive.

Não acredito em pessoas que dizem não sentir ciúme algum. Continuo afirmando a mesma coisa e não tenho mais 20 anos: somente abúlicos não conseguem sentir emoção alguma, nem mesmo as negativas. Gostar de alguém já é um risco tremendo, é como assinar um cheque em branco, pois nem sempre significa a perfeição, “uma felicidade imensa, toda a recompensa de um amor sem fim”. Mas é preciso saber amar e, ao mesmo tempo, deixar o outro em paz. Sentir menos ciúme ou mantê-lo controlado não significa amar menos o parceiro; pelo contrário, significa amar com mais intensidade, com mais respeito, bem como dar a chance do relacionamento evoluir para algo mais duradouro. Pessoas ciumentas demais premeditam o fracasso antes mesmo de o comprovarem. Gikovate disse que os que mais temem o fracasso de um relacionamento são exatamente aqueles que acabarão experimentando-o mais vezes. Eu concordo. 

Só se posiciona contra o ciúme aquela pessoa que, mesmo temendo as dores e as incertezas da vida, sabe que pode suportá-las. É o meu caso.

Este vídeo é endereçado a uma amiga assumidamente ciumenta com seu parceiro e cujos atos me inspiraram estas reflexões.  Perco a amiga, mas não perco a piada.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Algemas de Falópio – Por Rubem Penz*

As imagens de uma mãe que passa na rua e deixa seu bebê em um contêiner de lixo, flagradas por câmeras de segurança, foi exaustivamente reprisada e varou fronteira por esses dias. Também pautou reportagens recordando casos semelhantes: um bebê encontrado em saco de lixo, outro no valão do esgoto, outro atirado sobre o muro. E muitos mais pipocam no noticiário, sempre com a mesma questão: por que uma mãe abandona seu filho? Respondo: porque ela, antes, o acolheu.

Aqui está uma das diferenças básicas entre homens e mulheres, impossível de ser ignorada, mesmo em tempo de brados pela igualdade: mulheres são ventres, e a Natureza criou o ventre para acolher a vida. Por sua vez, homens ejaculam, isto é, lançam a vida para longe de si. Assim, entre tantos canais de TV, poucos se lembraram de fazer aquela pergunta primeira de quem compreende o nascimento como fruto da união de um casal: onde está o pai nessa história de abandono? Respondo outra vez: ele simplesmente não está, pois só pode abandonar quem um dia acolheu.

Abrigar os filhos é tarefa precípua das mães. Assim, quando um rapaz fecunda uma parceira e, com perdão da alusão anatômica, simplesmente tira o corpo fora, pode fazê-lo sem lidar com igual parcela de culpa e sofrerá cobrança moral menos rigorosa do que aquela que será imputada à mulher. Isso é triste, injusto, errado e precisa mudar (está mudando), mas é a realidade – ou saiu a notícia de que o pai da menina jogada no lixo também poderá ser denunciado por abandono de incapaz? Ah, claro: ele não a abandonou, pois sequer a acolheu.

Eis a razão de o fardo da anticoncepção pesar tanto mais sobre os ombros das mulheres: ao nascerem, foram condenadas ao acolhimento. Por isso, nada libertou mais o sexo feminino do que os métodos anticoncepcionais. E, melhor: sem culpa, colocando as moças, finalmente, em pé de igualdade com os rapazes. Afinal, mesmo o aborto (a vida é ou não válida ainda na fase embrionária?) traz uma sombra de abandono, fazendo sofrer. A saída indolor para o impasse é entregar à mulher a chave das suas algemas de falópio.

Faz muito tempo que a elite cultural e econômica gera prioritariamente filhos planejados, usufruindo de plena liberdade de escolha. Estivessem tantas mulheres que sofrem pesadas restrições sociais atendidas por programas sérios e eficientes de conscientização em termos de fertilidade, não haveria abandono infantil. Evitando a acolhida inicial, quando involuntária ou irresponsável, preveniríamos o desamparo.

Nossas crianças não estão jogadas no lixo somente no sentido literal, aquele da notícia: também estão quando, miseráveis, sucumbem em rotinas degradantes. Contêineres metafóricos aguardam nossos anjos nas drogas, na prostituição, na exploração do trabalho infantil, nas mortes violentas, nas doenças que brotam da falta de saneamento básico, na mendicância. Todos podem ver isso sem a necessidade das câmeras de vigilância. Mas as autoridades escolhem não ver.



Rubem Penz, porto-alegrense nascido em 1964, é escritor, publicitário, baterista, compositor e percussionista. Ministra oficinas de crônicas regularmente em Porto Alegre e atua de modo free lancer em criação publicitária.




domingo, 8 de maio de 2011

Terrorismo, um mal a ser eliminado.


Anos atrás, recebi por e-mail uma lenda tibetana, e desde então a tenho aplicado no meu dia a dia, de acordo com a natureza dos acontecimentos, mesmo que envolvam pessoas e relacionamentos. Vou transcrevê-la, pois servirá de base para outros pensamentos que desejo expressar antes que se percam nos compêndios da minha memória.
Certo dia, o guardião de um mosteiro morreu e era preciso substituí-lo. O Grande Mestre reuniu todos os discípulos e disse-lhes que um deles teria a honra de trabalhar ao seu lado como o novo Guardião do Templo, e que o escolhido seria aquele que resolvesse um problema dificílimo.

Terminado seu discurso, colocou uma mesinha no centro da sala. Sobre ela havia um caríssimo vaso de porcelana, com uma linda e exótica flor a enfeitá-lo, uma flor jamais vista e que exalava magnífico perfume.

-“Eis o problema. Eliminem-no!” – disse-lhes o Mestre.

Os discípulos olharam para o Mestre, estupefatos. Ninguém entendia como uma flor tão bela e indefesa podia ser um problema. Ficaram parados, contemplando os desenhos sofisticados do vaso e a pureza da bela flor.

Então, um dos discípulos levantou-se e caminhou resolutamente até a mesa. Sacando sua espada, decepou a flor de seu caule; depois, derrubou o vaso no chão, transformando-o em cacos.

- “Você é o novo Guardião do Templo” – disse-lhe o Mestre, e voltando-se aos demais discípulos, explicou:

-“Eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. E não importa quão belo e fascinante ele possa ser; se é um problema tem de ser eliminado, e a única maneira de fazer com que isso aconteça é sair da linha de conforto e da tentação e enfrentá-lo”.

É por ter essa lenda em minha mente que acredito que Barack Obama fez o que era certo ao autorizar o ataque à casa onde Bin Laden se encontrava. Não bastava proteger seu país do inimigo: era imperioso enfrentá-lo, eliminá-lo e acabar com o terror que ele inspirava. E não houve por parte dos americanos apenas o fascínio de entrar em conflito e guerrear. Havia um motivo e este não era irrisório: a morte de 2.996 pessoas, entre elas vários estrangeiros, naquele fatídico dia 11 de novembro de 2001, onde diversos ataques terroristas coordenados pela Al Qaeda investiram contra prédios americanos. Além disso, a intermitente promessa de outros ataques tornava impossível aos Estados Unidos ficar inerte. Era preciso reagir e buscar a paz. E esta só era possível através da guerra, uma vez que nem um milagre faria com que inimigos doentes e irracionais esquecessem seu ódio e agissem diplomaticamente.

Fico irritada ao ler tantas besteiras de pessoas que se prendem ao fato de Bin Laden estar desarmado no momento do ataque dos americanos. E aquelas pessoas que se encontravam nos prédios durante os ataques suicidas? E aquelas pessoas que se encontram prejudicadas até hoje em sua saúde por causa da poeira da destruição? E o temor implacável dia a dia, ano a ano, por causa das promessas de novos ataques? Às pessoas que ficaram com pena do terrorista pelo tratamento recebido dos Seals – os “rambos anônimos” dos Estados Unidos - deveria ser dado o direito de adotarem um terrorista. Estão com pena? Adotem um!

Em relação aos Seals, mesmo treinados para operações desse tipo, que requer perícia em armamentos e explosivos, fico imaginando o que se passava na cabeça deles no momento do ataque. Duvido que eles tenham ficado titubeantes, pesando o fato de Bin Laden estar desarmado ou entre familiares. Ele era o inimigo, tinha de ser eliminado, mas, ao contrário da forma generalizada e desumana que os terroristas costumam agir, atingindo até mesmo pessoas inocentes, o uso da força dos Seals é seletivo e sem efeitos colaterais, ou seja, as ações são seguras, inteligentes - pois recebem treinamento psicológico - e o terreno a ser bombardeado é delimitado para que não ocorram mortes desnecessárias. Talvez isso explique o fato dos EUA não terem simplesmente bombardeado todo o Paquistão. Neste caso, poder-se-ia dizer que os americanos adoram mostrar seu poderio militar. Todavia, o que eles mostraram foi que o uso da força militar aliada aos serviços de inteligência podem tudo contra o terrorismo globalizado.




A ameaça talvez não tenha sido de todo extinta. Terroristas prometem vingança pela morte de Osama Bin Laden. Mas o recado está dado: Os Estados Unidos podem tudo. Podem tudo, sim, pois contam com um líder que agirá como aquele discípulo da lenda que relatei acima e que, cada vez que o terror quiser se instalar,  tomará a decisão acertada em prol da sobrevivência do povo que o elegeu.




Esta é a diferença entre os EUA e o Brasil. Enquanto no Brasil o dinheiro público é usado pelos nossos governantes e legisladores em orgias de viagens, propinas, licitações superfaturadas etc, e a única decisão que conseguem tomar é a de desarmar o cidadão com a “Lei da Arrecadação de Armas Enferrujadas”, nos EUA o dinheiro é investido em treinamento militar e equipamentos de última geração, como miras eletrônicas de visão noturna e comunicação via satélite. E a principal diferença: enquanto aqui a impunidade é uma constante, lá eles costumam punir os criminosos com leis nada brandas: para o crime não há perdão.