quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma História de Amor


Há poucos dias ouvi alguém referir-se à amante como se estivesse vivenciando uma “história de amor” com ela. Dizia-se um homem “comprometido”, por isso é que não olharia para outra mulher.
Como pode um homem estar “comprometido” com uma mulher que é casada com outro? – Eu perguntei a ele.

Ele está tendo um “caso de amor”, e não uma “história de amor”. É diferente.
História de amor é algo que já nasce de maneira pura e correta entre duas pessoas. Há fidelidade, lealdade, liberdade, sinceridade, disponibilidade para estar junto a maior parte do tempo com o outro; enfim, é um amor correto e honesto, que tende a perdurar até que “a morte os separe”. E de maneira alguma envolve uma terceira pessoa.

Caso de amor, como o que ele está vivendo, envolve, além de sexo sub-reptício, mentiras, traição, desonestidade para com a pessoa que está sendo traída. Pode até existir amor, mas não é uma bela história: é apenas uma incerteza. E ninguém consegue ser feliz quando não sabe se tudo terminará bem ou mal nem se haverá um futuro, pois “pau que nasce torto, morre torto”.

Há muitas histórias de amor por aí, seja em filmes, livros ou na vida real. E são chamados de “romances”. Casos de amor costumam aparecer em dramas, em suspenses ou em tragédias.
E uma história linda de amor foi a vivida pelo casal de patinadores Sergei Grinkov e Ekaterina Gordeeva. Emocionou-me. Emociona-me. E foi real.






Ekaterina tinha dez anos quando começou a patinar com Sergei, de 14 anos. E jamais se separaram. Para Ekaterina, Sergei era o seu belo príncipe.  O jovem par foi campeão de patinação no gelo diversas vezes. E não foi somente a atuação perfeita deles que chamava a atenção do público: era a ternura e o amor que transpunham para a pista de gelo. Encantavam. Fascinavam.








Crescidos, começaram a namorar e casaram-se. Um ano depois, nasceu a pequena Daria. Quatro anos depois, em 1995, aos 28 anos, Sergei tomba durante uma apresentação, vítima de um ataque cardíaco fulminante, um mal de família.
Ekaterina refaz sua vida, mas essa é outra história. A que ficou para sempre na sua memória e de todos que a conheceram, foi a que viveu com Sergei, transformada no livro “My Sergei”. Também homenageou seu belo marido em 1996, quando retornou às pistas de gelo no espetáculo intitulado “Celebração de uma vida”, o qual foi transformado em documentário.










Se não foi uma bela e comovente história de amor, um caso é que não seria. Talvez um lindo poema inacabado. E este é o exemplo que tenho do que significa amar sem precisar ter de pedir perdão, como no filme “Love Story”, pois amar é não sentir culpa alguma na consciência.
No vídeo abaixo, uma colcha de retalhos do que foi a vida de Ekaterina e Sergei.




segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Mau Exemplo das Novelas

Há anos não assisto mais a novelas. São maus exemplos. É mãe disputando o namorado da filha (coroas se relacionando com garotos); esposa traindo o marido e vice-versa (sexo, mentiras e traição); assassino terminando seus dias numa ilha paradisíaca (exemplo de impunidade e que o mal compensa), incentivo à gravidez precoce e irresponsável (sempre há uma garota engravidando do namoradinho. Cadê a campanha para o uso da camisinha?); e, pasmem, mostram a mesma garota assumindo sozinha a criança como se isso fosse a coisa mais terna e encantadora na vida de uma mulher e não um ato de burrice. Por que não mostram a dura realidade que as mães solteiras enfrentam, bem como as consequências futuras na vida da criança?

E agora virou moda as novelas incentivarem meninas a se relacionarem com homens mais velhos, bem mais velhos, como se estes fossem um “bom negócio”. Somente na novela Insensato Coração há quatro coroas com mulheres bem mais jovens: Teodoro (Tarcísio Meira), um ricaço de 75 anos casado com uma mulher 28 anos mais jovem (Glória Pires); Cortez (Herson Capri), 58 anos, casado com uma mulher 27 anos mais jovem (Deborah Secco); Milton (José de Abreu), 65 anos, que namora uma de 28 anos (Roberta Rodrigues) e Raul (Antônio Fagundes), 62 anos, casado com uma de 34 anos (Camila Pitanga).

Em uma reportagem, o novelista Ricardo Linhares, autor da novela Insensato Coração, deixou bem claro que julga os jovens de hoje uns babacas inseguros e incapacitados para amar uma mulher ao afirmar que foi proposital a formação de pares com grande diferença de idade por ser um reflexo do que ele vê no dia a dia. Para este autor “as garotas buscam experiência de vida aliada ao carinho, ao interesse em proporcionar mais afeto. O homem maduro tem mais preocupação com a felicidade da sua parceira”. Linhares deixou claro na reportagem que todas as mulheres desiludidas com a imaturidade de seus namorados devem se envolver com cinquentões separados, galanteadores e cheios de amor para dar. É isso o que ele deseja transmitir através do seu folhetim das 20h.

Por que não é mostrada a pureza do primeiro amor entre jovens da mesma idade, com os mesmos tendo o cuidado de não gerar crianças de forma irresponsável? Por que não mostram que o estudo e a preparação para o mercado de trabalho é importante na vida de um jovem casal que deseja unir-se em matrimônio um dia? Por que não mostram que pode haver vida decente num relacionamento, seja entre pais e filhos, entre amigos ou entre casais?
Porque isso não dá IBOPE. O lado sórdido da natureza humana sempre atrairá a atenção de espectadores já esquecidos de valores morais como amor, respeito e altruísmo. 

E está errado o Linhares ao julgar que homens mais velhos são os melhores partidos para as jovens mulheres solteiras. Podem até ser no sentido de fornecerem estabilidade financeira, mas duvido que a maioria que anda por aí disponível tenha estabilidade emocional. Pelo que tenho visto e vivido, homens maduros que preferem estar com garotas com idade para serem suas filhas buscam um prazer que não são mais capazes de sentir. E querem o mesmo encantamento, o mesmo charme e a ousadia do tempo em que eram jovens, só que não podem mais retribuir. E se submetem aos caprichos de suas “filhinhas”, fazendo-lhes todas as vontades. É por isso que o “sábio” Linhares acredita que esses homens maduros se preocupam mais com a felicidade das suas parceiras. Os mais jovens exigem que suas parceiras cresçam, evoluam e tenham atitude perante a vida, pois já passou a época em que somente o homem era provedor. Qualquer pessoa adquire experiência de vida matando um leão por dia, com as próprias mãos, e não se aproveitando de outra para subir na vida de maneira fácil e proveitosa. Isso não é crescer, mas depender.
Mas, como disse um amigo, é vivendo enganado que se crê no que se sente.
Deixemo-los, portanto, pensarem que ainda são jovens ao lado de suas “meninas” até que elas cresçam, façam o “pé de meia” e os abandonem.

Meia-Noite no Brasil

A exemplo do filme Meia-Noite em Paris tive momentos de querer, por um golpe de magia, retornar não aos anos 20, mas aos anos 70 ou 80, na noite de sábado passado.

Vi-me numa festa irrecusável de aniversário. Os doces e salgados estavam ótimos, mas quando o DJ colocou a som a toda altura para os convidados dançarem, começou um martírio que só terminou quando voltei para casa.

Deus do céu...que músicas eram aquelas? Esperava músicas dançantes como as do meu tempo, quando Tina Charles, The Cure, Pet Shop Boys, B-52’S e tantas outras raridades embalavam os sábados à noite, mas o que escutei eram músicas saídas diretamente do inferno.

Uma das piores era mais ou menos assim em relação à letra, se é que havia letra naquele som infernal:

Eu sei que você é casado
Como é que vou te explicar
Essa vontade louca, muito louca,
Posso falar?”

Então, vem o estribilho que deixou a garotada completamente ensandecida na pista de dança:

Quero te dá, quero te dá
Quero te dá, quero te dá
Ai que vontade louca de te dá
Dá, dá, dá, dá, dá....”

E fica nesse “quero te dá” mais 569 vezes.

E olhem a letra desta outra música:

“Menininha da cidade foi pro mato e se mudou
Casou com um borrachudo que desde o nome ela gostou
Caiçara da mais doida, dos cabelo cheio de pó
Trocou a vida moderna e não larga mais do cipó
Se eu fosse um mosquitinho ia te chupar todo o dia
Ia te morder com carinho e nadar na molhadinha
E na noite em que você dormisse só de calcinha
Ia te pegar na dobrinha onde a carne é mais macia”.

Fiquei enojada ao ver as meninas rebolarem até o chão, fazendo movimentos desgraciosos com as pernas abertas enquanto os pais assistiam embevecidos de suas cadeiras. Logo em seguida os pais aderiram às danças.
Quando me perguntaram por que eu não estava dançando, respondi que dançaria quando tocasse algum sambinha de raiz ou outra música que não exigisse tanto “rebolation”. Olharam-me como se eu fosse uma beata foragida de algum convento, mas deixaram-me em paz.

É isso o que toca nas danceterias que os nossos jovens costumam frequentar? É esse tipo de lixo musical? São essas apologias ao sexo e à paternidade irresponsável?
E os pais?
Ah, os pais...Esses nada mais podem fazer senão também entrar na dança. Há limites para a liberdade de expressão em relação ao racismo, ao homossexualismo, à corrupção vista a olho nu, ao raio que o parta, mas ainda não inventaram um modo de conter letras de baixo calão que estimulam a sexualidade precoce.

Se eu tivesse o mesmo poder do personagem Gil do filme Meia-Noite em Paris, teria embarcado em algum Maverick e ido à antiga danceteria “Água Boca”, aquela da Rua Duque de Caxias, dançar ao som da Donna Summer.
              
No filme de Woody Allen, Gil, um homem do século 21 que não se conforma com a sociedade vazia em relação à cultura, durante a madrugada embarca num antigo carro e tem uma surpresa atrás da outra ao se encontrar com grandes autores, músicos e pintores da chamada Era de Ouro do cenário artístico europeu na década de 20.

O fato do encontro com o passado sempre ocorrer à meia-noite é uma alusão à história da Cinderela, só que ao contrário. Enquanto ao soar das doze badaladas a Cinderela volta à dura vida de gata borralheira, Gil sai da realidade e vive uma fantasia.

É a meia-noite que tudo se transforma em realidade ou doce fantasia, mas isso só acontece em filmes. Na vida real, temos de suportar todo o lixo que despejam diariamente sobre nós sem ao menos podermos contar com o poder da magia e do encantamento.

Tal como Gil, também estou desiludida com a falta de cultura que cada vez mais se instala na nossa sociedade vazia e consumista. Enquanto não surgirem novos Hemingway, Fitzgerald, Gertrude Stein, Cole Porter, Dalí e Buñuel e tantos outros que são citados no filme, muitas “Valeskas  Popozudas” que andam espalhadas por aí vão ficar se achando imortais.

Graças a Deus que ainda há um pouco de salvação neste mundo, como este filme imperdível de Woody Allen. Só não vai entender o que se esconde nas entrelinhas quem já perdeu a capacidade de separar o joio do trigo em se tratando de cultura.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Blue Valentine Gaúcho

Marta e Kadu conheceram-se um dia e se apaixonaram. Na época ela trabalhava e fazia faculdade. Ele possuía apenas um bom emprego. Resolveram casar. Eram jovens, tinham muitos planos e o trabalho de ambos tornou possível a compra da casa própria.
                                   
Com a vinda dos filhos, tornou-se impossível para eles realizarem sonhos ainda pendentes. Quando alguém casa e forma família, já não há mais tempo para pensar em si mesmo. É preciso abrir mão de certas coisas.

Então, quando a empresa de Kadu fechou as portas, ele viu-se desempregado. Como já possuía certa idade e não tinha formação universitária, ficou difícil para ele conseguir outro emprego.  Passou por momentos inquietantes, entrou em depressão. E juntamente com a depressão, a crise conjugal.

Se ele tivesse casado com uma “Cindy” da vida, certamente também seria abandonado pela esposa. Ela o teria acusado de não ter evoluído, de não ter pensado em crescer, de ter cultivado o desapego e de não ter tido preocupação alguma para com ela e as crianças, de ter se acomodado e não ter ambição. Esta “Cindy” teria reclamado da falta de encantamento, de orgulho e de admiração por ele. Sem dó e sem piedade o teria punido com a rejeição, até mesmo carnal. Como a “Cindy” do filme, ela teria transformado toda a paixão e a cumplicidade que os uniu outrora em ruínas da decepção.

Graças a Deus que ele casou-se com Marta, em vez de “Cindy”. Marta sabia que seu marido apenas estava atravessando um mau momento e fez valer os votos que fizera ao altar: na saúde, na doença; na alegria, na tristeza. Era o momento de tristeza dele e ela permaneceria ao seu lado, pois já haviam tido felicidades demais e estas deveriam sobrepujar as dificuldades que estavam enfrentando.

Ela desistiu de muitas coisas que fazia para poder se adequar a atual situação. E não reclamou e nem se sentiu ressentida com ele. A “Cindy” do filme ficou ressentida por ter se tornado apenas uma enfermeira quando poderia ter-se tornado uma médica. E remoía esse sentimento, culpando “Dean”, como se ele  tivesse vindo ao mundo somente para realizar os sonhos dela. Ainda bem que Marta não é uma “Cindy”. Ela sempre soube que Kadu sempre foi um marido dedicado e ótimo pai. Sacrificou-se para ajudá-la na criação dos filhos e nos afazeres da casa. Ele não conseguia ser mais do que era, então Marta daria um jeito. Seu amor de outrora não podia ser tratado como uma garrafa descartável por causa de qualquer desgaste e desencanto na relação.
E fez de tudo para que o amor dele e a constância dos sentimentos que nutria por ela não se perdessem por causa do sentimento de menos valia que o desemprego costuma causar nas pessoas.
Deixava-lhe pequenos bilhetinhos quando saía para trabalhar. Mandava-lhe mensagens encorajadoras, fazia striptease para ele à noite, insinuava-se, mesmo cansada. Era a perfeita amante de seu marido.

Tamanho esforço por parte dela deu frutos. Kadu reergueu-se, começou a trabalhar por conta própria no ramo da representação comercial e, como uma Fênix, renasceu das cinzas da destruição. Com Kadu trabalhando e ganhando bem, ela pôde voltar à faculdade, pois seu desejo de crescer profissionalmente não depende dele. Ela assim o quer e não exige que ele seja igual, tenha as mesmas ambições. Basta que Kadu continue amando a ela e aos filhos. E ela o levará consigo em todos os degraus que galgar. É uma altruísta nata!

Blue Valentine é um filme cujo título em português é enganoso: Namorados para Sempre, pois é justamente o contrário da história verídica que relatei acima. Também o cartaz com os dizeres “Quando o amor estava se perdendo, a paixão voltou a uni-los” não tem nada a ver com o enredo. O filme trata de algo muito comum hoje em dia: o quanto uma pessoa generosa sofre nas mãos de uma egoísta – Dean e Cindy respectivamente. Nenhum relacionamento sobrevive quando a parte egoísta recusa-se a contribuir para a manutenção diária do relacionamento.  O filme deveria se chamar “Ruínas de uma Paixão”, em português.

A história dos meus amigos é verdadeira. Tudo ocorreu exatamente como relatei. E adoro vê-los se tratarem de forma amorosa até hoje. Se Kadu amava Marta antes de terem passado por todas aquelas crises, ele passou a adorá-la por ela não ter sucumbido a elas e ter encontrado motivos para ainda admirá-lo e orgulhar-se dele.
Ao contrário da Cindy do filme, que se exasperava com a ardência da paixão do marido e se desgastava, Marta faz de tudo para mantê-la acesa. E ela brilha há 22 anos e brilhará até que a morte os separe. Não é uma história de amor: é uma história de vida.
Pronto! Sempre quis falar da paixão da Marta e do K adu e consegui uma oportunidade. Valeu a pena ter assistido ao Blue Valentine.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Namorados Para Sempre

Assisti ao filme Namorados Para Sempre, que fala sobre um momento de crise passado entre um casal. Tanto o cartaz quanto a sinopse do filme, nos jornais, foram enganosos. Tudo levava a crer que se tratava da história de um casal em crise que resolveria seus problemas conjugais após a famosa DR – discussão de relacionamento.

O cartaz dizia assim: “Quando o amor estava se perdendo, a paixão voltou para atraí-los”.

Sugeria um final feliz, um filme “água com açúcar” com final melodramático, daqueles que nos leva às lágrimas.

E graças a Deus que não foi.

Custei a levantar da cadeira. Mil e um pensamentos fervilhavam em minha mente. Deus do céu, por que tem de ser assim? Por que as pessoas abandonam tudo quando a falta de encantamento tornam-nas cegas para o que realmente faz a vida valer a pena?

Blue Valentine (original em inglês) não é um filme para ser visto por quem se encontra em situação de concubinato ou para quem não sabe ler nas entrelinhas. É para ser visto por quem deseja salvar seu casamento. Explico.

Desde o início é relatada a história de um homem que não possui atrativo algum além da simplicidade e o amor por uma mulher. Dean vê-se na obrigação de casar com a mulher que engravidou. Ora, isso já é motivo para ter-se admiração pelo rapaz. Ele assumiu o filho que gerou. Rapaz honesto e trabalhador, pai amoroso e marido dedicado, procura, dentro das suas possibilidades, fornecer encantamento à sua mulher. Prova disso é o quarto de motel que ele reserva. Mesmo não sendo um luxo, é o que ele pode fornecer para poder “namorar” sua esposa. Acontece que não é o suficiente para ela. Ela desejava um lugar mais luxuoso. Ficou frustrada.

A cena em que ele tenta fazer amor com ela é impagável. Para ela, é um martírio, um sofrimento, algo nojento.  Michelle Williams interpretou muito bem uma mulher que já não sente mais atração física por seu marido. Ceder aos impulsos sexuais de alguém por quem já não se nutre admiração e orgulho é algo que violenta, quase um estupro. O asco é tanto que dá vontade de chorar. Grande cena!

- “Como confiar nos seus sentimentos, quando eles desaparecem?” – Cindy pergunta a sua avó.

- “Acho que você só poderá descobrir se tiver sentimento” – responde ela.

E será que Cindy não nutria sentimentos por Dean, pai, marido dedicado e que faz de tudo para melhorar a situação deles?

No fundo do meu ser, eu acredito que nutria sim. O que acontece é a maldita predisposição feminina para amar somente aos que detêm certo poder, fonte inesgotável e ilusória de admiração e orgulho.

E o que Dean representava? Um homem que não evoluiu, que não estudou; que se matava num emprego de quinta categoria para sustentar à família, ao contrário dela, que estudava e possuía um bom emprego.

Quase chorei quando Dean diz a Cindy:

- “E os votos que fizemos...juntos na alegria e na tristeza? Estou no meu momento de tristeza. Deseja que nossa filha cresça num lar desestruturado?”

O final do filme é uma incógnita. Apesar de mostrar Dean se afastando, será que Cindy dará uma nova chance a ele? Será que se divorciarão? Será que acabou mesmo?

Como sou sempre a favor da velha instituição família, eu preferi imaginar Cindy agindo de forma menos egoísta, procurando mudar suas atitudes e tentando resgatar seu casamento. Entendendo que nem sempre aquele que possui mais dinheiro e posição é digno de merecer mais amor. O que importa é a dedicação, a lealdade, a seriedade dos votos feitos mutuamente.

E por que eu disse que este filme é para ser visto por quem deseja salvar seu casamento e não por quem deseja vê-lo desfeito?

Porque, meus senhores, este é um filme que trata da falta de encantamento entre um casal. E isso é muito pouco para resultar num divórcio. O problema não está em quem deseja acertar, mas na pessoa egoísta, frívola e qualitativa – como a Cindy – que coloca nas mãos de outrem os motivos para o próprio contentamento.

No final do cartaz que promove o filme, há os seguintes dizeres: “Uma verdadeira história de amor”.

Histórias de amor verdadeiro jamais sucumbem, mesmo que o encantamento termine. Se a pessoa que está ao seu lado é bom pai e marido mesmo que não possa lhe satisfazer todas as fantasias, merece no mínimo respeito e a oportunidade de um novo começo.

Por incrível que possa parecer, torço pelos “Deans” da vida. São as típicas pessoas generosas tendo de conviver com pessoas egoístas.

Que me queimem mais uma vez numa fogueira. É o que penso.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Rivalidade das Mulheres

“É mais fácil estabelecer a paz na Europa que entre duas mulheres”, já dizia Luís XIV nos anos de 1670. E isso vale até para os dias atuais, só que substituindo “Europa” por “Iraque”.
Coloquem três mulheres trabalhando juntas numa mesma sala. Em poucos dias estão fazendo intrigas, fofocas e “ficando de mal” por qualquer coisinha, isso quando o dia não termina em lágrimas. Já houve até quem dissesse que as mulheres beijam-se reciprocamente porque não podem morder-se umas às outras.

Trabalho numa ala totalmente masculina. Sou a única mulher. E quanta diferença quando eu ainda trabalhava junto com outras mulheres! Homens não ficam comendo biscoitos toda hora (já me disseram que os teclados de PCs femininos costumam ser mais imundos que os dos homens) e nem tomam chá de camomila, de losna, de guaco, de capim-cidró, chá para cabeça, para o estômago, para os nervos etc.

Eles ficam quietos ou só falam a respeito de trabalho, e nem sabem quem está se separando ou quem está de namorada nova. Não há este tipo de pergunta. No máximo, que time ganhou determinado jogo de futebol ou se o fulano de tal empresa ligou.

E costumam se tratar assim:“ Fala, meu bruxo!”; “E aí, meu galo!” – Vejam se alguma mulher ousa chamar outra de bruxa ou de galinha.

Mulheres são ciumentas por natureza. Têm ciúmes até da nova namorada do melhor amigo. Sentem-se usurpadas da atenção que recebiam antes, não porque são apaixonadas, mas pela presença de outra fêmea.


Fico imaginando: E aquelas que são casadas? Como se sentem quando farejam a presença da outra no ar?
Ciúmes e vilanias femininas sempre existiram na história, muito antes do Luís XIV proferir aquelas palavras.
Em 1176, a rainha Eleanor de Aquitânia, aos 54 anos, tentou envenenar Rosamund Clifford, a jovem amante do marido, Henrique II da Inglaterra. Eleanor passou a nutrir um ódio tão violento pela moça que fez de tudo para descobrir o castelo onde ela morava para tentar matá-la. Não contente, ainda conspirou para derrubar seu marido do trono. Foi descoberta e trancafiada durante longos 16 anos numa prisão.

E por que as mulheres são mais ciumentas que os homens?

O ciúme nos homens é mais de caráter sexual. Nas mulheres é mais afetivo. Todo relacionamento sexual gera uma espécie de sentimento de posse, posse do corpo, dos pensamentos, das atitudes do parceiro (a), só que nos homens ocorre mais o medo de ser “corneado”. Nas mulheres, além do medo de ser trocada por outra, há fortes emoções como ira, ansiedade, humilhação, tristeza, ódio, decepção e vergonha. E tudo isso pode gerar um desejo de vingança, mesmo que seja infantil. Os homens, quando se sentem traídos, afastam-se, vão para suas cavernas, remoem suas dores em silêncio ou procuram outras mulheres, mesmo que não estejam a fim delas. As mulheres que se sentem traídas, mesmo que seja somente na imaginação delas, querem saber quem é a outra; onde mora; o que ela costuma comer; o que ela gosta de beber; como costuma se vestir; a cor dos sapatos, dos olhos, dos cabelos, justamente para poderem se comparar à rival: “Será que é mais bonita?”; “O que ela tem que não tenho?” – E por aí vai.

Eu acredito em amizade sincera entre duas mulheres, desde que não exista nenhum tipo de competição que possa gerar sentimentos de insegurança. Só quem confia em si mesma pode confiar nas outras, até mesmo nas amigas do namorado ou marido.

Enfim, amigas, amigas, até que uma intriga ou um homem nos separe.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Filmes que sempre vou lembrar

Há filmes que agradam por causam do enredo, seja um drama, uma comédia, ação ou suspense. Mas há filmes que tocam profundamente o coração, que trazem lágrimas aos olhos, que continuam emocionando mesmo com o passar do tempo, somente pela lembrança. Vou listar alguns dos filmes que me marcaram e não sei bem por quê.


Príncipe Suzano e Dragão de Oito Cabeças (1963)






Quem não assistiu a este conto de fadas japonês quando criança na década de 70? Comovente, repleto de significados em relação aos objetivos que perseguimos e os obstáculos que devemos superar para alcançá-los.
Suzano é um príncipe cuja mãe morreu. O irmão de Suzano diz que a mãe agora está em outro lugar, o que o faz acreditar que ela ainda está viva. Inconformado, o príncipe decide sair à procura dela e, durante a sua jornada, faz muitos amigos. Chegando à Província de Izumo conhece uma princesa cujas irmãs, sete ao todo, foram sacrificadas pelo Dragão de Oito Cabeças, e ela seria a oitava vítima. Suzano então decide ajudar a família da princesa, destruindo o dragão. No final, há a recompensa e o emocionante reencontro com aquela a quem procura há tanto tempo.




Love Story (1970)







É a história de amor mais bonita que já vi na minha vida, mesmo tendo um final triste. O amor na juventude é o que de mais singelo existe, o mais puro, ousado e inocente ao mesmo tempo. Oliver apaixona-se por Jenny, uma moça metida a intelectual que nada tem de exuberante. É uma moça simples, mas inteligente. E por amor a ela, ele briga com seu pai, que não considera Jenny um “bom partido”. Por amor a Jenny, ele rompe com as convenções, desiste da vida confortável que tem para ficar com ela, não se importando com as dificuldades. Quem não gostaria de ter ao lado um homem que, por amor, é capaz de sair da zona de conforto e realmente compartilhar o que de melhor existe no mundo que é a própria vida?
A frase marcante do filme: “Amar é jamais ter de pedir perdão”.


Buster e Billie (1974)






Não sei por que este filme me tocou. Foi intenso, romântico e trágico ao mesmo tempo.
Buster Lane é o garoto mais popular da escola e namora a garota mais bonita e rica da cidade, Margie Hooks, da qual fica noivo e com quem casará logo após a formatura. Margie pretende casar virgem, então Buster começa a visitar secretamente Billie, uma garota pobre que se deixa ser usada sexualmente por todos os meninos locais devido à carência e ao esforço em ser aceita. Só que a fragilidade e a tristeza de Billie acabam por comover Buster, que não mais a procura por gratificação sexual, mas para proporcionar-lhe belos momentos, sabendo que isso a fará feliz. E a cumplicidade se transforma em amor recíproco. Buster então rompe seu noivado, desagradando todos os habitantes locais, os familiares de Margie e seus amigos. Mesmo assim, os dois jovens são felizes e descobrem as alegrias do primeiro amor, até que a relação é forçada a um fim violento e trágico.

A História de Oliver (1978)


É a continuação de Love Story. E por que gostei tanto? Explico. Neste filme,  Oliver Barret IV conhece a elegante e sofisticada Marcie Bonwit, uma recente divorciada, para quem a carreira é o mais importante. Aos olhos dos outros, ambos são bonitos, ricos, independentes, ou seja, formam um casal perfeito em todos os sentidos. Também são reticentes em comprometer-se, uma vez que ainda se encontram sensíveis em relação às suas perdas. Relacionando-se com Marcie, Oliver começa a aceitar a possibilidade de um novo amor, só que há um detalhe: Marcie não tem a mesma simplicidade e vivacidade que Jenny possuía. Preocupada com sua carreira e pelo medo de novamente encarar um casamento, Marcie é um tanto autômata, calculando todos os seus passos e controlando suas emoções. Assunto bem atual, não?
O final é marcante: Oliver deixa Marcie, pois somente com Jenny ele conseguia ser ele mesmo. No livro homônimo, a última frase de Oliver é a seguinte: “Se Jenny ainda fosse viva, eu também me sentiria vivo”.


O Outro Lado da Meia Noite (1977)





Esta é um a história de amor doentio, de ciúmes e de vingança. Traumas de infância, rejeição e abandono muitas vezes fazem vir à tona o que de pior existe num ser humano que tinha tudo para ser normal.
Durante a Segunda Guerra, Noelle Page conhece o piloto americano Larry Douglas na França, onde os dois se apaixonam. Só que, em vez de casar com ela, ele inicia um romance com Catherine Alexander e casa-se com ela.  Noelle, mesmo tendo casado com o milionário Constantin Demiris, não consegue esquecer a traição de Larry, então pede ao marido para contratá-lo como piloto particular, no intuito de vingar-se. Mas quando eles se encontram, a paixão fala mais alto e eles retomam o romance, desta vez, proibido. Agora quem deseja vingar-se é o marido traído, Demiris, e seus planos de vingança incluem a inocente Catherine, na verdade, a única vítima da história toda.
Um detalhe: a continuação da história, intitulada Lembranças da Meia Noite, também é muito boa!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eu Tenho Turma – Vitor Necchi (*)

Quando me sinto cansado demais, quando tenho muito o que fazer, quando fico tenso, quando o dia e a semana exigem e parece que o tempo não será suficiente para tudo, nesses momentos fraquejo e tenho vontade de chorar. Hoje foi um dia assim. Pelo menos em dois momentos quase chorei, mas me contive, porque frescura tem hora, né? Mas o fato é que esta sexta-feira, que nem diria um saudoso e sensível ex-aluno, esta sexta-feira veio de gangue pra cima de mim.
Logo cedo me irritei profundamente com a crônica do David Coimbra em ZH. Intitulada “Eu não tenho turma”, ele dispara sua cólera retórica contra petistas, ecologistas, budistas meditadores, veganos, feministas e defensores dos animais, todos perfilados sob o mesmo adjetivo: malas. Seguindo a verve de cronista esperto, ele dispara contra alguns religiosos, liberais, saudosistas da ditadura, racistas, integrantes do movimento negro, antitabagistas, o pessoal da Massa Crítica e linguistas e intelectuais que discutem preconceito linguístico. David Coimbra se mostra irritado com os malas organizados que enchem o saco dele. E dispara: “Eu não tenho turma, eu não quero ter turma, com exceção das pessoas de quem gosto, que não formam uma associação, que não são ONG (malas!), nem movimento de coisa nenhuma”.
Pois num dia que se iniciou me irritando com o texto do David Coimbra e que me deu vontade de chorar durante seu desenrolar em razão da loucura da vida, esse dia terminou há pouco e eu sorri porque sou um mala. Tive vontade de sorrir, sobretudo, porque tenho amigos malas que acreditam no poder que têm de transformar o mundo, por mais clichê que isso possa soar para os espertos que não gostam dos malas que se agrupam em torno de causas comuns.
É madrugada de sábado. Moro no Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil onde o frio não é retórica. Mais do que chamariz para turistas encasacados, o frio sulino fere a carne e a dignidade de quem vive nas ruas. O povo das ruas, que muitos chamam de mendigos, desocupados, bêbados, viciados ou vagabundos, são pessoas que em algum momento da vida perderam o vínculo com a formalidade do mundo. A família, o teto, o trabalho, a capacidade produtiva, os afetos, o orgulho, as posses, tudo ficou para trás, e a rua, sedutora e perigosa, se tornou abrigo desse contigente. A rua, dizem, é de todos, e ela recebe quem se esquiva da vida pretérita ou quem teve seu futuro subtraído.
É madrugada de sábado em Porto Alegre e pela primeira vez em muitos intermináveis anos o seu Valdir terá um teto. Em Viamão, município vizinho desta Porto Alegre gelada, seu Valdir e sua cadela, a Princesa, se encontram abrigados numa casa. Deve estar meio escuro, pois a correria e a excitação causadas pela bondade impediram que os benfeitores se lembrassem de solicitar à CEEE que a eletricidade fosse restabelecida na casa humilde, mas tudo bem. O escuro não deve assustar quem sobreviveu no hiato da vida mimetizada sob a curva de um viaduto cinza.
É madrugada. Na sexta-feira que se encerrou há pouco, fiquei irritado com o David Coimbra e a exaustão me deu vontade de chorar, mas em poucos minutos deitarei sorrindo porque tenho amigos malas que formam um grupo e compartilham crenças. Entre esses malas, há aqueles que salvam animais. A Thiane, por exemplo, é muito mala, essa guria. Vocês não imaginam quantos animais ela já salvou e conduziu a uma casa onde fossem bem tratados. Dezenas de malas doam dinheiro para a Thiane, compram as rifas da Thiane, comparecem aos bazares organizados por ela com o único propósito de ajudar gatos. Cada vez que eu faço uma doação para ela, sei que a causa desta mala dá mais um passo. Confio cegamente nessa mala e seguirei contribuindo com suas loucuras. Há outros malas que conheço e que abrigam em suas casas animais enxovalhados por seres humanos. Eu mesmo sou um mala. O Rufus e seus três irmãos foram resgatados de dentro de um saco amarrado jogado num mato. A morte era certa, mas a Candice resgatou a prole e cuidou dos gatinhos até eles completarem dois meses. Um deles é o Rufus, que há mais de dois anos mia todo dia quando pressente minha chegada. Outra mala é a Cleide, que resgatou a Yolanda na beira de um esgoto na Região Metropolitana. Quando a trouxe para casa, ela tinha medo das pessoas, do vento, de espirro. Com o tempo, a vilania dos chutes e pedradas restou no passado e ela foi se chegando, se aninhando. Hoje, a linda gata plúmbea lambe minha barba antes de deitar ao meu lado e esfrega a cabeça na mão das visitas.
Mas a mala suprema da semana e de todos os dias é a Katarina, amiga exuberante que transborda afeto e indignação. Essa mala tem uma turma de malas que compartilham sentimentos. A Katarina, mala como sempre, descobriu seu Valdir e sua Princesa na rua. A força do seu olhar insubordinado detectou que a dignidade podia ser devolvida para este cidadão que vive na rua, mas não é da rua. Ela descobriu que seu Valdir teria direito a benefícios sociais e foi atrás deles. Ela acenou e os amigos malas atenderam. Uns deram dinheiro, outros, móveis e roupas. Foram dias e dias de mobilização, e o resultado é que o seu Valdir se encontra, nesta madrugada gelada, abrigado sob um teto que pode chamar de seu.
Nesta madrugada gelada que sucede um dia tenso de uma semana louca que me deu vontade de chorar, vou para a cama sorrindo porque a Thiane é uma mala, a Candice é uma mala, a Cleide é uma mala. Deito sorrindo porque tenho amigos malas. Deito emocionado porque a Katarina é uma mala imensa. A bondade e o amor não são clichê, nem cafonice, muito menos retórica na vida da exuberante Katarina. E essa malice contagia.
David Coimbra, eu amo meus amigos malas. Eu me inspiro nos militantes malas. Eu respeito as ONGs malas. Eu financio malas que cuidam de bichos escorraçados. Eu defendo malas negros, gays, deficientes, travestis, ambientalistas. Eu me somo aos malas que ampararam seu Valdir e sua cadela. Eu tenho uma amiga chamada Katarina que tem o coração do tamanho de uma Kombi anos 70 e, de tão mala que é, de tão obstinada, de tão desbragadamente mala, conseguiu dar dignidade a um homem que precisava apenas de um aceno para recompor sua vida.
David Coimbra, mais do que amigos, eu tenho uma turma de malas. E isso me dá um baita orgulho.






Vitor Necchi é jornalista e professor da Faculdade de Comunicação Social ( Famecos) da PUCRS.

domingo, 12 de junho de 2011

Quando a gente ama

Quem vai dizer ao coração
Que a paixão não é loucura
Mesmo que pareça
Insano acreditar

Me apaixonei por um olhar
Por um gesto de ternura
Mesmo sem palavra
Alguma pra falar

Meu amor, a vida passa num instante
E um instante é muito pouco pra sonhar
Quando a gente ama
Simplesmente ama
É impossível explicar
Quando a gente ama
Simplesmente ama!



quinta-feira, 9 de junho de 2011

Psicopatas Cotidianos

O recente assassinato de um jovem por causa de uma medíocre discussão no trânsito foi mais uma prova que podemos estar cercados de pessoas aparentemente normais, mas com cérebros de psicopatas. Aliás, nem todo psicopata mata, assim como nem toda pessoa que mata é psicopata. Mas como reconhecer sinais de crueldade em pessoas aparentemente normais?
                                                        
Qualquer cidadão que traga um gene de maldade pode surtar em algum momento de sua vida. Vejam o caso da garota de 18 anos que matou o amante. Enforcou-o. Testemunhas disseram que, antes, ela infernizou a vida da mulher e dos filhos dele.

Há alguns anos, meu irmão parou seu carro atrás de outro numa sinaleira fechada.  Como o sinal ficou verde e o carro da frente não dava mostras de avançar, meu irmão desviou seu carro, emparelhando com o da frente; baixou o vidro e brincou com o motorista: “E aí, está esperando o sinal amadurecer?” – O motorista do outro carro, sem dizer uma palavra sequer, simplesmente apontou uma arma para o meio da testa do meu irmão. Foi o suficiente para que ele jamais voltasse a reclamar de motoristas retardatários.

Chegou a um ponto que ando desconfiada até do meu cabeleireiro. Ele costuma usar várias tesouras em volta da cintura e as maneja com uma destreza impressionante. E se ele colocar em ação sua fatia psicopata no momento em que estiver me atendendo? E o dentista com aquela broca infame? E se ele surta justo no momento em que me encontro de boca aberta e indefesa? Ficaria mais perfurada que pano de bordadeira, claro. O pior é que psicopatas não sentem remorsos, empatia e sempre culpam os outros pelas suas atitudes criminosas: “Ele me provocou”. “Se ele ou ela não tivesse feito o que fez (pode ter sido até uma cuspida no chão) teria evitado que eu a/o matasse”. É sempre assim: “O inferno são os outros”, até mesmo para os psicopatas moderados. Os moderados são aqueles que, no máximo, agem infantilmente. Já vi amiga escrever o nome do ex 1.500 vezes numa folha de papel, colocar um pote inteiro de mel por cima e guardar numa caixinha. O ex não voltou; em compensação, atraiu um monte de formigas.

Eu não vou comentar sobre psicopatas cujos crimes são uma constante. A mídia está aí para isso. Quero comentar sobre aqueles que convivem conosco diariamente, aqueles que podem estar dormindo ao lado, dançando, tomando um café ou parando ao lado de sinaleiras. Como reconhecê-los?

Para mim, aquele que não para em faixas de segurança já tem falha de consciência moral. Pode jogar o carro por cima de velhinhos a qualquer momento, desde que se irrite profundamente. Aquele que manipula os outros para conseguir o que quer tem a mesma necessidade de poder de um psicopata contumaz. Aquele que se vinga por ciúmes ou inveja tem falta de controle interno. Pode sofrer um a inundação mental repentina e vir a matar.
Aquela pessoa diplomada e admirada em círculos sociais é normal até se irritar com um garçom e esbravejar pela demora de um prato. De médico (Dr. Jekyll) a monstro (Mr. Hyde) em questão de segundos. Se não tratar da sua situação limítrofe, quando estiver “Jekyll” pode matar por mesquinharia.

Outras categorias que representam risco:

O Invejoso

Sente que a vida deu aos outros tudo o que ele merecia: respeito, dinheiro e admiração. Por isso, tenta prejudicar ou destruir reputações alheias. Usa uma máscara de meiguice e cordialidade na frente da pessoa que inveja, mas sua mente fica maquinando uma maneira de puxar-lhe o tapete. Para se afirmar ou camuflar a baixa autoestima, apega-se a símbolos como carrões, mansões, joias ou diplomas, muitos até falsificados.

O Narcisista

É o típico macho alfa – em Biologia, significa o animal que demonstra sua superioridade, tanto em relação à força quanto na bravura, não permitindo que nenhum outro se insurja contra ele.
Para o narcisista, ser durão e assertivo é seu modo de mostrar força e de garantir reputação. Se for contrariado ou se for colocado em segundo plano, certamente vai reagir ferozmente e sentir vontade de aniquilar o concorrente.

O Histriônico-Teatral

Aquele que faz tudo para chamar a atenção, até mesmo ficar de pé à beira de um penhasco. Desconfiem de pessoas ousadas e intimoratas. Pessoas que não podem viver sem adrenalina costumam fazer rachas, arriscam fortunas em jogos, não se prendem a responsabilidades e não suportam rotina. São psicopatas em potencial.

O Esquizoide

Eu desconfio de pessoas que não demonstram emoções. Costumo sempre olhar bem dentro dos olhos delas. Se não há nada que brilhe no olhar quando elas sorriem, fico com um pé atrás. Crianças esquizoides costumam matar seus pais de vez em quando, mas isso é outro papo. Aquela pessoa que fica pulando de galho em galho, que não se prende a nada e nem a ninguém, que não pertence a lugar algum e que subverte normas sociais, pode representar perigo. São os que ficam violentos sob o efeito da bebida ou das drogas.

O Paranoide

Eu coloco as pessoas ciumentas demais nesta categoria. Elas ouvem vozes, veem amantes e são capazes de acreditar nas próprias “visões”, mesmo que só existam na cabeça delas. Estar com um paranoide é uma tortura.
O paranoide fica rancoroso, malévolo e vingativo, caso ache que alguém o está traindo. Para vingar-se de uma suposta traição, faz coisas que ninguém acredita. Começa fazendo em picadinho as roupas do “traidor” com uma tesoura. É capaz de cheirar as roupas íntimas do seu par, em busca do cheiro de outra pessoa. É capaz de matar no auge das suas alucinações.
Se você tem a má sorte de namorar uma pessoa paranoica, proteja-se. Será sempre considerado culpado até que comprove o contrário, isto se não for morto antes. Aliás, nenhuma prova de amor ou lealdade será suficiente para satisfazer um paranoico. Essa criatura desconfia até da própria sombra.

Para finalizar, se você convive com pessoas que apresentam algum desses traços ou vários, mesmo que seja seu cônjuge, parente ou amigo, mantenha-se vigilante ou afaste-se. Jesus disse que era preciso amar o inimigo, mas não há na Bíblia algo que sugira termos de viver ou casar com ele.
Em relação a estranhos na rua ou no trânsito, não há o que fazer: qualquer um pode se tornar um alvo, desde que algum psicopata ponha na cabeça que tem poder sobre o destino das pessoas. Nem prevenção adianta nesta hora. O jeito é evitar brigas e discussões. Sabe-se lá que variável herdada ou adquirida, predisposição genética ou desequilíbrio bioquímico estará influenciando a pessoa que está ao seu lado.



Fontes: Teorias da Psicopatologia e Personalidade, autor Theodore Millon (1979) e Amores de Alto Risco, autor Walter Riso (2010).

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Quando Eu Te Encontrar

Apenas um nome, uma cidade e a lembrança de um sorriso. É tudo o que eu sei. Mas vou te encontrar. Estou tentando. E quando eu te encontrar, eu sei o que vou querer. A fé não move montanhas?

Eu já sei o que meus olhos vão querer
Quando eu te encontrar
Impedidos de te ver
Vão querer chorar
Um riso incontido
Perdido em algum lugar
Felicidade que transborda
Parece não querer parar
Não quer parar
Não vai parar...

 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Poder do Olfato


Fabrício Carpinejar, em uma das suas crônicas, referiu-se aos cheiros que ficaram impregnados nos recônditos da sua mente e que despertam suas lembranças cada vez que entra em contato com eles. O cheiro é “a sua memória, é seu alfabeto”.

Assim como Carpinejar, sou péssima em guardar nomes, números, detalhes, mas sou tremendamente olfativa: jamais esqueço um aroma, principalmente de algo ou de alguém que me tenha sido importante. Um odor é capaz de me aproximar, mas também de me afastar para sempre.

Um cheiro de terra molhada projeta na minha mente as lembranças da chácara do meu avô. Vejo-me criança, destruindo suas plantações com minhas traquinagens. Nestes momentos, sinto vontade de estar no meio do mato e não em meio a uma selva de pedra.

As lembranças que tenho do meu pai sempre estão associadas com o cheiro de café com leite e pãezinhos quentes. Aroma de café matinal, com família reunida antes de todos rumarem para os respectivos afazeres. Não consigo entrar numa cafeteria sem me lembrar dele.

Tenho fascinação pelo cheirinho bom de menta do creme de barbear e pela loção pós-barba que um homem usa após escanhoar-se. O cheiro de um barbear matinal, recrudescido pelo vapor da água quente do banho, é um cheiro afrodisíaco. Quando vejo um homem bem escanhoado, é como se eu sentisse cheiro de menta, mesmo estando ausente nele.

Nada tenho contra homens de barba, mas há de se ter elegância para usar uma. Homens com barbas descuidadas trazem-me à mente o cheiro de vinagre com azeite, mesmo que estejam perfumadíssimos. Explico. Num passado longínquo fui beijada no rosto pelo namorado de uma amiga, um beijo comum, de boas vindas. Acontece que ele estava com o bigode (imenso, mal aparado) molhado de vinagre e azeite da salada que estava comendo. E deixou-me com o rosto umedecido com o tempero depositado nos fios de seu bigode. Não lembro mais o nome dele e nem do dela, mas cada vez que vejo um homem com barba descuidada sinto cheiro de “barba temperada”.

Tenho um amigo muito leal e querido que “cheira” a bombom. Ele é tão meigo e gentil no trato com as pessoas que me traz às narinas cheiro de bombons cada vez que estamos reunidos num mesmo evento. Gentileza e cordialidade cheiram a bombons.

Certa vez consegui, no ápice da minha loucura por aromas, sentir asco por alguém que cheirava a “células mortas” – não sei como consegui essa façanha, mas nem o perfume Paco Rabanne com o qual ele se banhava dos pés a cabeça conseguia afastar aquele terrível cheiro de células mortas. É claro que a repulsão foi gritante. Nem que fosse o último conquistador da face da Terra eu conseguiria levar adiante um relacionamento que não fosse o de apenas amizade.

E isso é facilmente explicado pelos cientistas. É tudo uma questão de química, de feromônios, e não somente os excretados sexualmente, mas os de agregação, de alarme etc. Quem nunca sentiu cheiro de perigo no ar?

Diferenciamo-nos dos animais porque temos o dom de pensar, de racionalizar, de ter consciência da nossa existência, do nosso futuro e a percepção de tudo o que nos rodeia, mas mesmo assim somos guiados pelo instinto. E o olfato é muito poderoso.

Tão poderoso, que é usado desde os tempos mais remotos, mas de uma maneira diferente entre os sexos. Enquanto nós, mulheres, usamos nosso faro para sentirmo-nos atraídas pelo cheiro de sapatos novinhos, maquiagem, cremes hidratantes, bolsas de marca, doces, bombons etc., eles só sentem o cheiro da fêmea, e nem precisa ser a mais perfumada.

E isso as mulheres já sabiam até na Idade Média. Damas medievais usavam seus cheiros para atrair os homens. Sabem como? Elas esfregavam o odor de seus órgãos genitais no lóbulo da orelha do homem que queriam conquistar. Era tiro e queda!
O pior da história é que elas só tomavam banho uma vez por ano, mesmo assim conquistavam até príncipes e reis.

Mas quero acreditar que, nos tempos atuais, os homens pensem como o Fabrício Carpinejar:  não há o que apague da memória o cheiro de cabelos recém- lavados.