quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dia do Detento: Um Dia Para Comemorar?


Lá vamos nós para mais um dia de trabalho. O que em geral nos espera: muita ação, grana curta e pouco reconhecimento. Vez que outra, um pequeno afago – nossa profissão é reconhecida. Recebe um dia só para ela. Temos o Dia do Professor, o Dia do Médico, o Dia da Secretária ou, pelo menos, o Dia do Trabalhador, que atinge a todos. Nesse dia 24 de maio, se você for parecido comigo, irá trabalhar revoltado, sim, porque nesse país maluco em que vivemos alguém achou por bem criar o Dia do Detento, que hoje se comemora. Sim, essa valorosa corporação que tanta infelicidade nos trás – roubando nossos pertences, sequestrando nossos familiares, matando nossos parentes e amigos, recebe nessa data uma homenagem especial. Talvez, com o nosso suado dinheiro façam um bolo nas cadeias para os hóspedes.
Você se pergunta, mas o que estava havendo? Não basta eles receberem um salário mínimo maior do que quem está na ativa, batalhando honestamente? Você pensa então, deve ser para fazer média. Ser politicamente correto. Vai ver que para homenagear os taxistas que são assassinados à noite, os policiais que são baleados nas batidas, resolveram criar um Dia das Vítimas e agora estão contemporizando. Não meu amigo, as vítimas em nenhum momento são lembradas. Lambem suas feridas sozinhas e esquecidas. Carregam seus filhos paraplégicos, nos ônibus, para enfrentar as mesmas filas que todo mundo no INSS. Compram, com a solidariedade dos amigos, remédios caríssimos para tratar dos ferimentos feitos à bala. Não tem o seu dia, assim como ninguém faz o Natal dos órfãos de agentes penitenciários e de soldados da polícia, civil ou militar. Não consegui, até hoje, descobrir quem no Congresso Nacional teve essa infeliz ideia, mas digo que, nós que somos familiares de vítimas, repudiamos essa data com veemência.


Por Luiz Fernando Oderich
Presidente da ONG Brasil Sem Grades

terça-feira, 22 de maio de 2012

Só de Sacanagem -Texto: Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
- Não roubarás!
- Devolva o lápis do coleguinha!
- Esse apontador não é seu, minha filha!
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
-Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.
E eu vou dizer:
- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão:
- É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi:
- Não admito! Minha esperança é imortal!
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

Que País é Esse?

Quando foi lançado o Programa Fome Zero do governo Federal, que visava tirar da miséria milhões de brasileiros que viviam em situação de risco, o PIB (Produto Interno Bruto) foi muito bom em 2010. Pessoas compravam mais, financiavam mais, adquiriam bens à revelia com a facilidade dos créditos disponibilizados, mas tudo foi uma ilusão. Em 2011, o PIB ficou abaixo do esperado, pois estas mesmas pessoas ficaram completamente endividadas, gerando um nível de inadimplência alarmante.
Para que o PIB de 2012 seja comemorado pelos petistas que desejam reconhecimento no Exterior, foi lançado o Programa Brasil Carinhoso, que nada mais é que um “repeteco” do Fome Zero. O Bolsa Família foi aumentado, agora sem limites para filhos, e mais uma vez haverá créditos e financiamentos facilitados para compra de carros e outros bens, com a redução de IPI. 
Parece que a estratégia de tornar as pessoas mais felizes aumentando suas rendas só acontece num país como o nosso, onde nossos governantes julgam ser a riqueza o principal veículo de uma vida feliz e não se preocupam realmente com a satisfação das necessidades essenciais da população em geral, que é saúde, educação e segurança. 
O governo petista só se preocupa com o volume de dinheiro que troca de mãos, mas não está nem aí para estatísticas de mortes no trânsito devido ao aumento de proprietários de carros, para as vítimas que morrerão no corredor de algum hospital por falta de leitos, para as pessoas que ficarão endividadas mais ainda e para o aumento de gestações irresponsáveis que colocará  no mundo mais crianças em estado miserável. E todos nós sabemos que a maior parte da crueldade advém da miséria. Ou seja, futuramente os níveis de criminalidade serão mais preocupantes que um “produto interno bruto” baixo.
Nossa sociedade está doente, mas o que importa são os números que possam promover um governo frio e calculista, que tenta iludir os incautos com um falso crescimento econômico no intuito de angariar mais votos nas urnas.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Dias Lindos


Acontece em abril, nessa curva do mês que descamba para a segunda metade. Os boletins meteorológicos não se lembraram de anunciá-lo em linguagem especial. Nenhuma autoridade, munida de organismo publicitário, tirou partido do acontecimento. Discretos, silenciosos, chegaram os dias lindos.
E aboliram, sem providências drásticas, o estatuto do calor. A temperatura ficou amena, conduzindo à revisão do vestuário. Protege-se um tudo-nada o corpo, que vivia por aí exposto e suado, bufando contra os excessos da natureza. Sob esse mínimo de agasalho, a pele contente recebe a visita dos dias lindos.
A cor. Redescobrimos o azul correto, o azul, que há meses se despedaçara em manchas cinzentas no branco sujo do espaço. O azul reconstituiu-se na luz filtrada, decantada, que lava também os matizes empobrecidos das coisas naturais e das fabricadas. A cor é mais cor, na pureza deste ar que ousa desafiar os vapores, emanações e fuligens da era tecnológica. E o raio de sol benevolente, pousando no objeto, tem alguma coisa de carícia.
O ar. Ficou mais leve, ou nós é que nos tornamos menos pesadões, movendo-nos com desembaraço, quando, antes, andar era uma tarefa dividida entre o sacrifício e o tédio? Tornou-se quase voluptuoso andar pelo gosto de andar, captando os sinais inconfundíveis da presença dos dias lindos.
Foi certamente num dia como estes que Cecília Meireles escreveu: "A doçura maior da vida flui na luz do sol, quando se está em silêncio. Até os urubus são belos, no largo círculo dos dias sossegados". Porque a primeira consequência da combinação de azul e leveza de ar é o sossego que baixa sobre nosso estoque de problemas. Eles não deixam de existir. Mas fica mais fácil carregá-los.
Então, é preciso fazer justiça aos dias lindos, oferecer-lhes nossa gratidão. Será egoísmo curti-los na moita, deixando de comentar com os amigos e até com desconhecidos que por acaso ainda não perceberam o raro presente de abril: "Repare como o dia está lindo". Não precisa botar ênfase na exclamação. Pode até fazê-la baixinho, como quem transmite boato e não deseja comprometer-se com a segurança nacional. Mesmo assim, a afirmação pega. Não só o dia fica mais lindo, como também o ouvinte, quem sabe se distraído ou de lenta percepção sensorial, ganha a chance de descobri-lo igualmente. Descobre e passa adiante a informação.
A reação em cadeia pode contribuir para amenizar um tanto o que eu chamo de desconcerto do mundo. De onde se conclui: deixar de lado, mesmo por instantes, o peso dos acontecimentos mundiais trágicos, esmagadores, para degustar a finura da atmosfera e a limpidez das imagens recortadas na luz, é um passo dado para reduzir o desconcerto, na medida em que a boa disposição de espírito de cada um pode servir de prefácio, ou rascunho de prefácio, à pacificação, ou relativa pacificação, dos povos e seus dominadores. Em vez de alienação, portanto, o prazer dos dias lindos é terapia indireta.
Pode ser que o desconhecido lhe responda com um palavrão, desses em moda na sociedade mais fina. Não faz mal. Não se ofenda. Ele descarregou sobre a sua observação amical o azedume que ameaçava corroê-lo no íntimo. Livre desse fel, talvez se habilite a olhar também para o céu e a descobrir mesmo certa beleza esvoaçante no urubu. De qualquer modo foi avisado. Já sabe o que estava perdendo: a consciência de que certos dias de abril e maio são mais lindos do que os outros dias em geral, e nos integram num conjunto harmonioso, em que somos ao mesmo tempo ar, luz, suavidade e gente.
(Carlos Drummond de Andrade, crônica publicada no Jornal do Brasil, no final dos anos 1970).


Deixe Ir, Deixe Passar...

Não lute.
Não tente eliminar, extinguir;
Deixe passar,
Deixe ir...
Não dialogue com as sombras, não reaja.
Deixe ir,
Deixe passar...
Não é preciso lutar.
Troque a espada por seus olhos.
Observe o inimigo golpeando o ar;
Observe o combate perder a graça,
Ir e passar...
Deixe ir,
Deixe passar...


Para as Mulheres – Crônica de Danuza Leão

Uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de  'fácil’).
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em "acertar", tanto empenho em  passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente  sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo "errado".
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem  e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma  frase mais ou menos assim:
-"Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora"...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos  (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores,  vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração  saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de  chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do "Law and Order", uma  caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra  presente. OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Deus Que Eu Acredito


Não segui religião alguma, apesar das aulas de Religião na escola. Não frequentei missas, não adorei imagens de santos, só aprendi a rezar o Pai Nosso e olhe lá! Todavia, guardei apenas uma coisa: que Deus está dentro da gente. Não se encontra no céu e nem em outro planeta. Percebi esta minha verdade quando observei um mendigo sentado no chão, com cara de faminto. Imaginei que ele devia ter rezado para que Deus viesse em socorro do seu estômago vazio. Várias pessoas passaram por ele e nada fizeram. Mas uma parou e deu-lhe o cachorro-quente e o refrigerante que tinha nas mãos. Ele pode ter agradecido a Deus, sem saber que o Deus pelo qual tinha rezado, estava dentro daquela pessoa que lhe deu de comer. Aquela pessoa foi Deus. Outro exemplo: há uma caixa com cinco cachorrinhos dentro. Alguém os largou à própria sorte. Várias pessoas olham, mas nem ligam para o choro deles. Mas uma para, recolhe-os e fica cuidando deles até que estejam devidamente adotados. Esta pessoa foi Deus naquele instante.
Esta é a ideia que tenho de um Deus todo poderoso: aquele que está dentro de algumas pessoas e que, sem esperar nada em troca, faz o bem a seu semelhante por bondade, generosidade e compaixão. E nem espera ser idolatrado.

Nem Beleza, nem Inteligência


Quando ainda me encontrava na fase das aflições histéricas da juventude, achava relevante a beleza, por isso é que fugia de garotos com aparelho nos dentes ou com espinhas na cara. Adulta, comecei a dar importância à inteligência, a valorizar pessoas com conteúdo, eruditas, viajadas, pois pensava que podia aprender com elas. Agora, quando me encontro quase no Outono da minha vida, percebo que tanto a beleza quanto a inteligência foram os motivos de eu mais ter me enganado na vida, pois são ilusórias. Nem sempre uma pessoa bela é inteligente, e nem sempre uma pessoa inteligente é bela em seu interior.
Tudo o que valorizo, hoje, é simplesmente a educação. Pessoas educadas são elegantes por natureza, não precisam de artifícios e nem de provar o que sabem ou deixam de saber. São elegantes na sua simplicidade, na sua maneira de enxergar o outro. E se tornam, por isso mesmo, altamente sedutoras.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Deus, Segundo Espinoza (*)


Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia  de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

 “Para de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é  que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me culpar pela tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Para de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Tu te sentes grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Sentes-te olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro… Aí é que estou batendo em ti”.
(*) Baruch Espinoza – nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia, em 21de fevereiro de 1677, disse essas palavras em pleno Século XVII. São tão sábias que continuam verdadeiras e atuais até a data de hoje. Ele foi um dos grandes racionalistas do século XVII, dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do ceticismo bíblico moderno.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Brasil Carinhoso, Mais um Estímulo à Alta Natalidade

A Dilma lançou, ontem, o tal de Brasil Carinhoso, onde será pago R$ 70,00 por cada filho de 0 a 6 anos que uma mulher pobre tiver, independente do Bolsa Família. Ou seja, além de receber o Bolsa Família, quanto mais filhos menores uma mulher tiver, mais dinheiro será acrescido ao que já recebe do governo Federal. E sem limites do número de crianças.
Fico indignada com esse tipo de engodo do governo petista para garantir-se no poder por muitos e muitos anos. Em vez de fazerem valer a Lei nº 9.263, de 12/01/1996, que trata do Planejamento Familiar, fazem justamente o contrário, que é aumentar a miséria humana através do nascimento desenfreado de crianças que viverão na mais completa miséria, vivendo de esmolas e sem incentivo algum para estudar e serem pessoas trabalhadoras.
É assim que esse Governo se manterá no poder a cada eleição. Usarão dessa artimanha que virará em ameaça: "Olhe, povo pobre e miserável, se não continuarem votando em nós, vão perder essa boquinha, pois os 'outros' vão tirar a esmolinha de vocês".
Como não podem atrair os votos das pessoas conscientes do mal que assola este País, por se tratarem de pessoas que podem ameaçar-lhes o poder que lhes garante tanta soberba e arrogância, atraem a camada mais baixa da população com falsas promessas e dinheiro fácil. Assim, vão criando armadilhas para lhes aprisionar  cada vez mais.
E nós, pobres mortais contribuintes, continuaremos pagando impostos para que as esmolas sejam dadas através dos nossos bolsos.


sábado, 12 de maio de 2012

Não Precisa Explicar. Eu Só Queria Entender

Por Percival Puggina
Usando as palavras do macaco Sócrates no extinto programa humorístico Planeta dos homens: eu só queria entender.
No infinito conjunto das diferenças que permitem tornar distinguíveis entre si bilhões e bilhões de pessoas só há uma coisa em que todas são rigorosamente iguais - a dignidade natural. Da rainha Elizabeth ao selvagem txucarramãe, todo ser humano é portador da mesma e eminente dignidade. Desse ensinamento, nascido da tradição judaico-cristã, derivou o que de melhor se pode colher no pensamento ocidental para inspirar a busca da harmonia em meio às diversidades. Constatar que as diversidades existem, reconhecer méritos e deméritos, são alguns dos inúmeros atos cotidianos que podem implicar diferenciação e discernimento sem, contudo, representarem agressão a alguém. Mas nem sempre é assim.
Todos já presenciamos discriminações ofensivas à dignidade humana em virtude, por exemplo, de pobreza, raça, defeitos físicos, deficiências mentais, sexo e inclinação sexual, religião, posição social. Quem barra o negro por ser negro, segrega o índio por ser índio, vira as costas ao pobre por ser pobre, ridiculariza o feio por ser feio, abandona o enfermo por ser enfermo, impede o crente de se manifestar por ser crente, ou agride o homossexual por ser homossexual, comete transgressão que pode, conforme o caso, caracterizar delito sujeito às penas da lei. São muitas as formas em que se manifesta essa discriminação viciosa, quando não criminosa. Em todos os casos, quem resulta afrontada é a pessoa humana em sua dignidade, em sua integridade e em seus direitos. Ponto. Submeter alguém a trabalho escravo, por exemplo, é ofensa à dignidade de um ser humano e não a um ser humano branco, ou negro, ou pobre, ou mestiço. Essa ideia de classificar as pessoas segundo o que as distingue é coisa de marxista. E leva à clássica simplificação a que chegam os totalitarismos nos quais as pessoas ou são companheiras ou são inimigas.
Um dos resultados dessa reclassificação da humanidade por classe, gênero, ordem, espécie, como se fôssemos insetos, leva aos atuais absurdos. Determinados grupos sociais que se têm como objetos de discriminação, passam a exigir agravamento de penas para os delitos praticados contra indivíduos do respectivo grupo ou subgrupo e/ou reclamam tratamento privilegiado em determinadas circunstâncias do cotidiano social. Denominam a isso de discriminação positiva. Tal expressão e as respectivas práticas nasceram nos Estados Unidos com o nome de "positive discrimination", recentemente substituído por "affirmative actions" como forma de contornar o peso negativo da palavra discriminação que é inerente a essas políticas. É como se os respectivos indivíduos e grupos emergissem para um estamento social superior ao dos demais, catapultados por presumíveis créditos coletivos. 
São ideias que me vêm à cabeça quando vejo, por exemplo, um advogado de 35 anos sendo indenizado por ter nascido em Londres. E o que é pior: recebendo a indenização. Esse rapaz era neto de um fazendeiro riquíssimo, chamado João Belchior Marques Goulart. Na condição de descendente de um avô exilado, passou pelo terrível constrangimento de nascer e viver alguns anos na Europa. Querem outro exemplo? Duas colegas e amigas, egressas do mesmo curso superior, prestam concurso público. Uma é branca e a outra, negra. Durante as provas, amigas que são, acompanham os respectivos desempenhos. A moça branca sai-se melhor. No entanto, a amiga, que se inscreveu como cotista, conseguiu aprovação e nomeação, ao passo que a outra, embora com melhores notas, ficou de fora. Não se tratava, aqui, de franquear a alguém o ingresso num curso universitário alargando-lhe a porta do vestibular. O que também seria abusivo. Não. Ambas já haviam superado essa fase. Ambas portavam idêntico diploma do mesmo curso superior. A que foi aprovada no concurso não obteve sucesso pela produtividade intelectual, mas pela produtividade de melanina.
Não existe melhor maneira de uma sociedade enredar-se num novelo de injustiças e contradições do que desconhecer a igual dignidade de todos os seus membros.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Tristeza Permitida

Texto de Martha Medeiros, cronista gaúcha.

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir para o computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.
“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Têm dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.



Caridade X Solidariedade

Na minha aula do ESDE (Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita), hoje, o tema versou sobre caridade e amor ao próximo. Fiquei pensando: qual a diferença entre caridade e solidariedade? Apesar de ambas terem a mesma aparência pública, operam em direções opostas. O solidário, por exemplo, procura ajudar o outro lhe oferecendo o amor que tem para consigo. Não procura recompensas divinas. Se tiver mais, doa a quem tem menos, visando o bem-estar do outro, e não me refiro somente a valores monetários. Já o caridoso, busca assegurar-se de sua generosidade buscando bem-estar para si, ainda que não perceba. Faz caridade como se estivesse fazendo o pagamento de uma dívida a um devedor desconhecido; uma esmola que, ao ser dada, diferencia quem tem de quem não tem. A força que opera a solidariedade é a mesma potência presente no amor, e a força que opera a caridade é o poder, presente na paixão.
Enquanto a nossa facilitadora relatava o poder da caridade (eu só pensava em solidariedade), fiquei pensando na história do "Dálmata da Av. Azenha", que fiquei conhecendo através de reportagem no jornal Zero Hora, e que é a seguinte:
Certa vez, um motorista parou seu carro na esquina da Av. Ipiranga com a Av. Azenha e chamou um indigente que vivia sob a ponte. Deu-lhe R$ 20,00 para matar um filhotinho da raça Dálmata, puro, que havia nascido mais doentinho que os demais e havia pegado, ainda por cima, sarna, encontrando-se todo cheio de feridas. Depois de entregar o bichinho para o que achou ser a morte certa, partiu. Só que, em vez de fazer o que o desconhecido havia lhe pedido, o indigente, compadecido, levou o cãozinho até uma clínica veterinária mantida pela Prefeitura, a ARPA, onde o veterinário deu-lhe uma receita para que comprasse remédios para o filhote. Pois bem, o indigente, podendo comprar comida com o dinheiro, optou por gastá-lo em medicamentos para o pobre bichinho. Este é o exemplo que tenho de quanto sentir-se solidário é bem melhor que simplesmente fazer caridade.
Finalizando, o cãozinho sarnento se transformou num belíssimo cão. A incongruência que era um cão de belo porte ao lado de um indigente é que chamou a atenção da reportagem, à época.
Não sei se o cão ainda vive, mas eles podiam ser vistos até pouco tempo por quem passava pela Av. Ipiranga. O rapaz que mendigava na Avenida Ipiranga com Azenha, acompanhado de um lindo dálmata, e que sempre dividia o que ganhava de comer com o seu cão, tornou-se uma bela história da minha cidade. E que seja sempre lembrado.
Obs.: Pelo que pesquisei, esta história aconteceu há quatro anos. O nome do rapaz é Glessias, tem 21 anos, e hoje mora na Restinga, em uma área invadida. Não costuma mais ficar na ponte, por não poder levar no ônibus o dálmata Beethoven. Também na Restinga mora sua esposa, que está grávida.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Dor do Carente

Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar

O ser humano é fruto da índole com que nasce - carga genética e natureza - e do meio ambiente - pessoas, local onde vive, educação, exemplos, atendimento de suas necessidades, orientação. Esses componentes contribuem radicalmente para a formação de seu caráter e sua personalidade e das descobertas que faz de si mesmo.
Desde que nasce até o dia em que morre, mas principalmente nos primeiros   anos de vida, o homem precisa receber amor, afeto e carinho para que possa se desenvolver de maneira adequada,    de acordo  com sua  realidade. Dessa forma,  aprende a  ter responsabilidade, respeito, disciplina, limite e garra. Torna-se capaz de lidar com as frustrações, com o medo, com a angústia e com as limitações. Depende, pois, desse aprendizado, a forma de a pessoa se posicionar perante a vida.
Se alguém na infância recebe na medida certa o amor, o carinho, o afeto, o apoio e - por que não? - também a bronca ponderada, mas sente-se valorizado, estimulado, elogiado, bem como corrigido, desenvolve-se de forma adequada. Se, pelo contrário, vive num ambiente desestruturado, em que não é ajudado a se desenvolver, a se descobrir, a participar, a se posicionar, sua personalidade fica esburacada. Um desses buracos é formado pela carência de afeto. Quando não o recebe na dosagem certa, a pessoa se ressente, carregando essa deficiência como um pesado fardo pela vida afora. Se não entender o porquê desse vazio interior que sente e não tentar superá-lo, será uma pessoa muito infeliz, porque sempre estará insatisfeita, por mais afeto que receba. Numa comparação bastante vulgar, sua vontade de comer será maior que a comida existente.
Estas pessoas são mal-amadas e não resolvidas consigo mesmas. Não gostam de si e se julgam incapazes de serem amadas, porque não foram satisfeitas quando crianças na área do amor e do afeto. A carência afetiva é "irmã gêmea" da rejeição. A pessoa sente-se rejeitada porque não recebeu amor. Não se sente amada porque, de certa forma, se encolhe, não acreditando e não confiando em si. Mas se não acredita em si, é porque não recebeu esse crédito. Resultado: sua vida é marcada pela revolta, pela apatia, pelo isolamento, pela agressão, pela fuga e pela tirania. E impossível avaliar os estragos que a carência afetiva ocasiona dentro da pessoa.
Essa forma de ser e agir faz sofrer em excesso quem é vítima desse mal, pois o afasta dos colegas de trabalho, dos amigos e da família. É que ele se torna tão egoísta e frio que não sabe transmitir afeto para os outros. Tem medo de mostrar seus sentimentos.
Quando alguém percebe que precisa muito de afeto, de carinho, e que não vive no presente, mas quer compensar o passado que não teve, não conseguindo superá-lo, tem de procurar ajuda. E um sinal claro de que a carência afetiva o está dominando e chegou o momento de sair de si, para administrar essa verdade que não quer aceitar.
Parece frio falar dessa forma, mas é possível aos que são mais equilibrados chegar à conclusão de que, se não foram amados na infância por determinadas pessoas, hoje podem ser amados por milhares de outras. Se não tiveram pais que os amaram da forma como necessitavam, podem ter um irmão, um filho, um amigo, alguém que os respeite, os admire. E por esse lado que se deve pender, a fim de superar e preencher um pouco esse vazio. A lacuna ficou, mas é possível remediá-la, colocando um novo amor, preenchendo a vida com o afeto pelos outros e deixando-se amar. Isso é que lhe dará forças para vencer essa barreira. Quando a pessoa não se ama e não se sente, amada, dificilmente consegue superar seus limites. É possível compensar essa falta dando afeto, em vez de só querer recebê-lo.
Aquele que sente que seu comportamento não está natural tem de procurar a causa disso. Já que a carência faz sofrer tanto, é preciso buscar soluções e jogar fora o negativo que impregnou sua vida. Deve-se eliminá-lo para poder ser feliz, sentir-se amado, contente, satisfeito, afetuoso, sensível, sem medo e sem ficar com aquele vazio no estômago eternamente. Se a pessoa sabe administrar bem seus sentimentos e faz uma experiência profunda de amor, consegue superar essa situação.
Carência afetiva é uma doença de caráter emocional que se esconde no íntimo do indivíduo, mas que pode ser curada com muito carinho e afeto.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Revolução Silenciosa – Por: Diego Casagrande*

Não espere tanques, fuzis e estado de sítio.
Não espere campos de concentração e emissoras de rádio, tevês e as redações ocupadas pelos agentes da supressão das liberdades.
Não espere tanques nas ruas.
Não espere os oficiais do regime com uniformes verdes e estrelinha vermelha circulando nas cidades.
Não espere nada diferente do que estamos vendo há pelo menos duas décadas.
Não espere, porque você não vai encontrar, ao menos por enquanto.
A revolução comunista no Brasil já começou e não tem a face historicamente conhecida.
Ela é bem diferente.
É hoje silenciosa e sorrateira. Sua meta é o subdesenvolvimento.
Sua meta é que não possamos decolar. Age na degradação dos princípios e do pensar das pessoas.
Corrói a valoração do trabalho honesto, da pesquisa e da ordem. Para seus líderes, sociedade onde é preciso ser ordeiro não é democrática.
Para seus pregadores, país onde há mais deveres do que direitos não serve.
Tem que ser o contrário para que mais parasitas se nutram do Estado e de suas indenizações.
Essa revolução impede as pessoas de sonharem com uma vida econômica melhor, porque quem cresce na vida, quem começa a ter mais, deixa de ser "humano" e passa a ser um capitalista safado e explorador dos outros.
Ter é incompatível com o ser. Esse é o princípio que estamos presenciando.
Todos têm de acreditar nesses valores deturpados que só impedem a evolução das pessoas e, por consequência, o despertar de um país e de um povo que deveriam estar lá na frente.
Vai ser triste ver o uso político-ideológico que as escolas brasileiras farão das disciplinas de filosofia e sociologia, tornadas obrigatórias no ensino médio a partir do ano que vem.
A decisão é do ministério da Educação, onde não são poucos os adoradores do regime cubano mantidos com dinheiro público.
Quando a norma entrar em vigor, será uma farra para aqueles que sonham com uma sociedade cada vez menos livre, mais estatizada e onde o moderno é circular com a camiseta de um idiota totalitário como Che Guevara.
A constatação que faço é simples.
Hoje, mesmo sem essa malfadada determinação governamental - que é óbvio faz parte da revolução silenciosa - as crianças brasileiras já sofrem um bombardeio ideológico diário.
Elas vêm sendo submetidas ao lixo pedagógico do socialismo, do mofo, do atraso, que vê no coletivismo econômico a saída para todos os males.
E pouco importa que este modelo não tenha produzido uma única nação onde suas práticas melhoraram a vida da maioria da população.
Ao contrário, ele sempre descambou para o genocídio ou a pobreza absoluta para quase todos.
No Brasil, são as escolas os principais agentes do serviço sujo.
São elas as donas da lavagem cerebral da revolução silenciosa.
Há exceções, é claro, que se perdem na bruma dos simpatizantes vermelhos.
Perdi a conta de quantas vezes já denunciei nos espaços que ocupo no rádio, tevê e internet, escolas caras de Porto Alegre recebendo freis betos e mantendo professores que ensinam às cabecinhas em formação que o bandido não é o que invade e destrói a produção, e sim o invadido, um facínora que "tem" e é "dono" de algo, enquanto outros nada têm.
Como se houvesse relação de causa e efeito.
Recebi de Bagé, interior do Rio Grande do Sul, o livro "Geografia", obrigatório na 5ª série do primeiro grau no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora.
Os autores são Antônio Aparecido e Hugo Montenegro.
O Auxiliadora é uma escola tradicional na região, que fica em frente à praça central da cidade e onde muita gente boa se esforça para manter os filhos buscando uma educação de qualidade.
Através desse livro, as crianças aprendem que propriedades grandes são de "alguns" e que assentamentos e pequenas propriedades familiares "são de todos".
Aprendem que "trabalhar livre, sem patrão" é "benefício de toda a comunidade".
Aprendem que assentamentos são "uma forma de organização mais solidária do que nas grandes propriedades rurais".
E também aprendem a ler um enorme texto de... adivinhe quem?
João Pedro Stédile, o líder do criminoso MST que há pouco tempo sugeriu o assassinato dos produtores rurais brasileiros.
O mesmo líder que incentiva a invasão, destruição e o roubo do que aos outros pertence.
Ele relata como funciona o movimento e se embriaga em palavras ao descrever que "meninos e meninas, a nova geração de assentados... formam filas na frente da escola, cantam o hino do Movimento dos Sem-Terra e assistem ao hasteamento da bandeira do MST".
Essa é a revolução silenciosa à que me refiro, que faz um texto lixo dentro de um livro lixo parar na mesa de crianças, cujas consciências em formação deveriam ser respeitadas.
Nada mais totalitário.
Nada mais antidemocrático.
Serviria direitinho em uma escola de inspiração nazifascista.
Tristes são as consequências.
Um grupo de pais está indignado com a escola, mas não consegue se organizar minimamente para protestar e tirar essa porcaria travestida de livro didático do currículo do colégio.
Alguns até reclamam, mas muitos que se tocaram da podridão travestida de ensino têm vergonha de serem vistos como diferentes.
Eles não são minoria, eles não estão errados, mas sentem-se assim.
A revolução silenciosa avança e o guarda de quarteirão é o medo do que possam pensar deles.
O antídoto para a revolução silenciosa?
Botar a boca no trombone, alertar, denunciar, fazer pensar, incomodar os agentes da Stazi silenciosa.
Não há silêncio que resista ao barulho. 

*Diego Casagrande é jornalista, Porto Alegre.

A Hipocrisia do Perdão

Não entendo esse negócio de perdão. Falar que é preciso perdoar até o mais vil dos inimigos é fácil; difícil é encontrá-lo para quebrar a cara dele e acabar com toda a teoria que perdão é grandeza de caráter. Vejo pessoas dizendo que perdoariam até o criminoso que lhes ceifassem da vida algum ente querido. Não dá pra aturar tanta "benevolência".
Todavia, penso que existe certo poder no ato de perdoar, mas não é perdoando o inimigo ou algum amigo-da-onça. Para a vilania, safadeza e ruindade não há perdão. Refiro-me a perdoar a si próprio, por ter falhado, por não ter feito o que devia, por não ter tido coragem, por ter deixado passar uma oportunidade. Este é o perdão que importa, que cura, que é verdadeiro, que faz bem à alma: perdoar a si mesmo. As pessoas dão um significado errado à palavra "perdão", talvez por dogma religioso. Pensam que, perdoando um inimigo, vão ser recompensadas divinamente por isso.
Eu jamais me perdoaria se tivesse de perdoar, algum dia, alguém que me tivesse feito muito mal ou à minha família.