A guerra do Brasil tem basicamente dois lados: a elite política e o povo. Atualmente, quase todas as instituições públicas, com maior ou menor fidelidade, prestam serviços à máfia que nos governa há três décadas. Uma das poucas forças institucionais que se identificam com os anseios da população e os valores da Pátria é a Operação Lava Jato. Mesmo ela, no entanto, foi dividida em dois setores antagônicos, tão diferentes quanto a água e o óleo.
Hoje temos duas Lava Jatos: a de Curitiba e a de Brasília. A de Sergio Moro e a do STF. A de Dallagnol e a de Janot. A que os filhos do Brasil gostam e a que os filhos da CUT gostam. Na verdade, as operações mereceriam dois nomes distintos: Lava Jato e Trava Jato.
A Lava Jato é apoiada pela população. A Trava Jato é apoiada pelos políticos. A Lava Jato prende figurões. A Trava Jato deixa os figurões em liberdade. A Lava Jato botou o maior empreiteiro do País na cadeia. A Trava Jato libera Joesley para passear em Nova York. A Lava Jato prende figuras de todas as tendências ideológicas (até o Cunha!). A Trava Jato prende só alguns, e solta rapidinho. A Lava Jato passa o Brasil a limpo. A Trava Jato de vez em quando acerta — como fez ao revelar as conversas sombrias de Temer e Aécio —, mas está longe de possuir a operacionalidade de sua coirmã curitibana.
Eu diria que a Trava Jato e a Lava Jato são tão diferentes entre si quanto Caim e Abel, Esaú e Jacó, Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Joio e trigo. Água e óleo. Brasília e Curitiba. O Estado e o povo brasileiro. O empresariado honesto e o empresariado que vive de sugar o dinheiro público.
Diante da fuga do réu da Trava Jato para curtir as delícias da Broadway e do Central Park, eu só tenho um sentimento: vergonha. Vergonha que é expressada nas palavras do jurista João Carlos Biagini: "No plano econômico, o grupo de Joesley há tempos estava prejudicando o mercado ao estabelecer, com a ajuda governamental, um monopólio nacional da carne, com a eliminação, através da compra com dinheiro do BNDES, de quase todos os concorrentes. E, agora, tomamos conhecimento de ter se tornado internacionalmente o maior operador no mercado da carne, portanto com o dinheiro dos contribuintes brasileiros". À vergonha de origem econômica, somou-se a vergonha moral da gravação feita nos porões do Jaburu, na calada da noite.
A última da Trava Jato foi provocar a demissão de um jornalista que, goste-se ou não dele, teve publicamente exposto o diálogo com uma fonte — no caso, a irmã de Aécio Neves —, numa clara tentativa de intimidação da imprensa. É como se as "otoridades" estivessem dizendo: "Aqui não, violão!".
Há uma luta de vida ou morte entre a Lava Jato e a Trava Jato. E dessa guerra depende a sobrevivência do País.
Artigo de Paulo Antônio Briguet, publicado originalmente em 26.05.2017 -(http://www.folhadelondrina.com.br)