Alguns
relacionamentos são iguais a uma viagem de avião. No início, todos embarcam
felizes e com certas expectativas. Mas quando o avião começa a subir, alguns
ficam com medo e não relaxam em nenhum momento, sempre esperando pelo pior;
outros se divertem o tempo inteiro e não estão nem aí se o avião vai cair ou
não, o que importa é a jornada e não o destino. Há também os que ficam sob o
encantamento da novidade e ficam fascinados por tudo, até mesmo pelo pouco
alimento que é dado a bordo. O que é uma barrinha de cereal perto do que a
viagem provoca aos demais sentidos?
Há os que ficam
enjoados e reclamam por tudo; há os que entram em pânico e querem sair do avião
a todo custo, mas são contidos por palavras de conforto ou pelo uso da força;
há os que fingem estar tudo bem, mas ficam rezando fervorosamente para chegarem
ilesos ao final.
Relacionamento bom é
como um voo que, apesar das turbulências e do medo do desconhecido, transcorre
tranquilo até a aterrisagem, com direito ao piloto ser aclamado pela competência. As pessoas
desembarcam ilesas para novas viagens; sejam juntas ou separadas, elas
sobrevivem.
Relacionamentos
infrutíferos são como um avião sequestrado por terroristas. Em mãos
inexperientes e erradas, depois de um certo tempo perde o rumo, não dá mais
sinal de vida, dá voltas e mais voltas sem direção e nem controle, perde a
altitude até cair no mar. Não há sobreviventes, só o silêncio e o vazio do
nada.
Sobre esta sensação
de vazio, Martha Medeiros escreveu em um de seus livros sobre o fim de
relacionamentos:
"Nunca sofri um
acidente de avião, mas já ouvi relatos de sobreviventes. Eles percebem a perda
de altitude, a potência enfraquecida das turbinas, o desastre iminente, até que
acontece a parada definitiva da aeronave e ouve-se um barulho fora do normal,
algo verdadeiramente assustador. Então, após o estrondo, sobe do chão um
silêncio absoluto. Por alguns segundos, ninguém fala, ninguém se move. Todos em
choque. Não se sabe o que aconteceu, mas sabe-se que é grave. Alguma coisa que
existia não existe mais.
É a quietude
amortizante de quem não respira, não pensa, não sente nada ainda.
Só então, depois
desse vácuo de existência, desse breve período em que ninguém tem certeza se
está vivo ou morto, começam a surgir os primeiros movimentos, os primeiros
gemidos, uma sinfonia de lamentos que dará início ao que está por vir: o
depois."
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