Rodrigo Constantino transcreve Vargas LLosa.
Nem preciso dizer o quanto admiro Mario
Vargas Llosa. Não só o escritor, que é um dos meus favoritos, mas o pensador
liberal, incansável defensor da democracia e do livre mercado. Fiquei muito
feliz, portanto, ao ver que o Prêmio Nobel de Literatura escreveu em El País um texto que vai
exatamente ao encontro daquilo que disse em minha coluna da Veja esta semana.
Recomendo veementemente a leitura na íntegra. Seguem alguns trechos:
[...] eu acredito que a culpa de Scolari
não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um
fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que
é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio
‘Lula’ da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o
impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim
esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências.
[...] Agora que quer se reeleger e a
verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito,
muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o
governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes
da catástrofe.
A verdade é que não houve nenhum milagre
naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu
com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou
durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico
que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que
financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de
fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos
funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.
[...] As obras em si constituíam um caso
flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12
estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria
FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da
infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será
concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular
diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e
eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com
todo o Brasil.
[...] Apesar de um horizonte tão
preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do
produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do
mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e
investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as
próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações
e logros de Lula.
Se assim é, não só o povo brasileiro estará
lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre
o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da
equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito
mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos,
primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus
netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes
uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento.
[...] Por isso, quanto mais cedo cair a
máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os
brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no
futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível –
embora seja doloroso – ater-se à verdade.
Acorda, Brasil!
Rodrigo Constantino.
*Rodrigo Constantino dos Santos é um
economista e colunista brasileiro.
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