Gosto muito das
frases de efeito do Caio Fernando Abreu, mas tem uma com a qual não concordo:
"Nunca, jamais diga o que sente. Por mais que doa, por mais que faça você
feliz. Quando sentir algo muito forte, peça um drink".
Algumas pessoas
escondem seus sentimentos por trás de uma máscara de indiferença que pode até
ser benéfica em se tratando de acordos comerciais ou para confundir algum
desafeto, mas em um relacionamento pode ser algo muito destruidor. Quem
silencia emoções corre o risco de levar um relacionamento ao fim porque nem
sempre o outro possui capacidade de interpretar silêncios, principalmente
quando as perguntas envolvem dúvidas. Não é na base do “pense o que quiser” que
um casal consegue a tão sonhada cumplicidade: é no expressar emoções e fazer
com o que o outro as entenda. Aquela história de que quem ama não precisa de
palavras, basta um olhar para se fazer entender, só funciona quando há
cumplicidade e cumplicidade só se adquire com o tempo de convivência, quando não
é preciso mais palavras, pois as perguntas já foram todas respondidas e as
pessoas já sabem de que material é feito o outro.
É preciso dar-se a
conhecer em relacionamentos, principalmente nos recém- começados, porque a
cumplicidade só se adquire quando todas as perguntas e dúvidas forem respondidas,
e isso leva muito, muito tempo. As pessoas só se tornam reais quando sentem um
terreno firme sobre os pés e não caminhando sobre nuvens ou areia movediça.
O mesmo Caio Fernando
Abreu, em outra de suas magníficas frases de efeito, diz que o silêncio
responde até mesmo aquilo que não foi perguntado. Também acho outra temeridade
para os relacionamentos, pois há quem julgue o silêncio do outro indiferença ou
consentimento. Tudo fica muito dúbio.
Enfim, ninguém que ama
merece ficar sem respostas para as perguntas que faz ao outro. Amor não é uma
empresa onde planejamentos e ideias devem ser mantidas em segredo por causa da
concorrência. Amor requer transparência, que tudo seja sem rodeios e evasivas, e
se alguém não consegue externar suas emoções, levará o parceiro à penumbra dos
que são deixados à própria sorte, sozinhos, abandonados aos próprios recursos
objetivos e subjetivos. E é nesse ponto que ocorre o rompimento: ninguém
consegue ficar muito tempo ao lado de quem o faz se sentir sozinho. Sentir-se
sozinho, mesmo estando acompanhado, é a pior das solidões.
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