Entro no ônibus da linha T-5 para ir
ao meu curso na Zona Norte. Acomodo-me no banco de trás, pensando em ter paz
para repassar a matéria que será dada hoje. Não dá. Três jovens decidem também
pelo banco de trás; riem e falam alto, contando as mirabolantes histórias do
final de semana. Deus do céu, desde quando colocar pasta de dente nos óculos do
amigo enquanto ele dorme é engraçado? Eu não quero escutar isso, mas sou
obrigada. No banco da frente, um rapaz pega um celular e parece conversar com a
namorada. Fala alto, para todo mundo ouvir: “Agora você vai me explicar por que
não quer falar comigo”. E vai nesta
ladainha de “por que isso ou por que aquilo” enquanto todo mundo ouve. Eu não
quero ouvir isso, mas sou obrigada. Ao meu lado senta-se outra jovem. Masca o
chiclete ruidosamente, como se aquela goma fosse um néctar dos deuses. Para meu
horror, começa a estourar bolas: “ploc, ploc”, uma atrás da outra. É muito
“ploc” e saliva pra cima de mim. Faço cara feia para ela. Ela olha para mim e
faz mais um “ploc”, só por desaforo. Penso em trocar de lugar, mas o ônibus já
está lotado, com gente se pendurando até na gola do vizinho, e não tenho
alternativa.
Estou quase chegando ao final e os
ruídos continuam. Já sei todas as sacanagens que os jovens são capazes de fazer
quando vão passar o final de semana numa praia e também todas as inseguranças
em relação à namorada do rapaz que fala, ainda, ao celular (será que os
créditos dessa porcaria são permanentes?). Em relação à moça do chiclete, nem a
praga que roguei para que ela engolisse o chiclete quando o ônibus passou por
um buraco adiantou. Parece que Deus protege os mascadores de chicletes. Não
adiantou nem rezar.
Desço do ônibus. Como é boa a
liberdade! Pessoas não tomam conhecimento do quanto conseguem ser irritantes em
espaços ínfimos. Penso, enquanto me dirijo ao curso: “Podia ser pior se tivesse
também de aturar os DJs funkeiros que não usam fones de ouvido”.
Por isso, de maneira alguma tiro a
razão daqueles que preferem andar de carro e se sujeitar aos engarrafamentos a
ter de andar de ônibus. Para o stress de um engarrafamento, nada que uma boa
música clássica não resolva. Para detestáveis
grunhidos humanos, o jeito é ter paciência e aguentar no osso, estoicamente. O
que se torna uma tarefa hercúlea.
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