domingo, 16 de março de 2014

Sobre Voos e Relacionamentos

Alguns relacionamentos são iguais a uma viagem de avião. No início, todos embarcam felizes e com certas expectativas. Mas quando o avião começa a subir, alguns ficam com medo e não relaxam em nenhum momento, sempre esperando pelo pior; outros se divertem o tempo inteiro e não estão nem aí se o avião vai cair ou não, o que importa é a jornada e não o destino. Há também os que ficam sob o encantamento da novidade e ficam fascinados por tudo, até mesmo pelo pouco alimento que é dado a bordo. O que é uma barrinha de cereal perto do que a viagem provoca aos demais sentidos?
 
Há os que ficam enjoados e reclamam por tudo; há os que entram em pânico e querem sair do avião a todo custo, mas são contidos por palavras de conforto ou pelo uso da força; há os que fingem estar tudo bem, mas ficam rezando fervorosamente para chegarem ilesos ao final.
 
Relacionamento bom é como um voo que, apesar das turbulências e do medo do desconhecido, transcorre tranquilo até a aterrisagem, com direito ao piloto  ser aclamado pela competência. As pessoas desembarcam ilesas para novas viagens; sejam juntas ou separadas, elas sobrevivem.
 
Relacionamentos infrutíferos são como um avião sequestrado por terroristas. Em mãos inexperientes e erradas, depois de um certo tempo perde o rumo, não dá mais sinal de vida, dá voltas e mais voltas sem direção e nem controle, perde a altitude até cair no mar. Não há sobreviventes, só o silêncio e o vazio do nada.
 
Sobre esta sensação de vazio, Martha Medeiros escreveu em um de seus livros sobre o fim de relacionamentos:
"Nunca sofri um acidente de avião, mas já ouvi relatos de sobreviventes. Eles percebem a perda de altitude, a potência enfraquecida das turbinas, o desastre iminente, até que acontece a parada definitiva da aeronave e ouve-se um barulho fora do normal, algo verdadeiramente assustador. Então, após o estrondo, sobe do chão um silêncio absoluto. Por alguns segundos, ninguém fala, ninguém se move. Todos em choque. Não se sabe o que aconteceu, mas sabe-se que é grave. Alguma coisa que existia não existe mais.
É a quietude amortizante de quem não respira, não pensa, não sente nada ainda.
Só então, depois desse vácuo de existência, desse breve período em que ninguém tem certeza se está vivo ou morto, começam a surgir os primeiros movimentos, os primeiros gemidos, uma sinfonia de lamentos que dará início ao que está por vir: o depois."
 

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