quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Roberto Carlos e suas “Emoções” repetitivas

Não consegui assistir a todo show do Roberto Carlos ontem. Já comecei achando um saco no ínicio, quando ele cantou - pra variar - a música "Emoções". Há séculos que ele abre seus shows com essa música e não se deu conta que já está enjoativo. Depois, um mix de músicas do passado. Tive de colocar o volume ao máximo, pois ele cantava como se estivesse morrendo, sem forças, e mal abria a boca. Parecia que estava com medo de perder a dentadura. A cada intervalo entre as músicas, ele pronunciava frases românticas, lidas de um teleprompter (ou teleponto) instalado à sua frente no palco. Depois veio Michel Teló e seu "delícia, delícia, assim você me mata", acompanhado pelo Roberto Carlos. Tentei assistir mais um pouco, por coragem, mas quando entrou as "empreguetes", todas se refestelando para o Roberto Carlos como se ele fosse um homão que pudesse dar conta de todas, desisti e desliguei a televisão.
Já fui fã do Roberto Carlos no passado e de todos os seus filmes, mas agora não tenho mais paciência para assistir a tudo novamente, ano após ano, e sinto vontade de sair me rasgando pela rua cada vez que escuto a música "Emoções".
Mas uma coisa valeu a pena, uma só: assistir às lágrimas rolando pelas faces do belíssimo Rodrigo Lombardi enquanto o "Rei" cantava "O Cara", não teve preço. O Rei já era, mas o Rodrigo Lombardi....esse é o verdadeiro CARA!
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dilma Rousseff e a exploração dos Estados.

O Paraná quer cobrar R$ 400 milhões do governo federal como forma de ressarcimento por causa da queda nas transferências federais relativas ao que foi estabelecido na Lei Orçamentária da União para 2012. No total, o governo federal deixou de repassar R$ 10,7 bilhões a outros Estados somente neste ano. Para isso, o governador Beto Richa (PSDB-PR) assinou nesta terça-feira uma carta dirigida para a presidente Dilma Rousseff (PT) na qual reivindica os recursos por causa da "queda vertiginosa das transferências da União" para os Estados. O documento, também assinado por outros governadores, será entregue na quarta-feira.
Por que Dilma Rousseff não está repassando o que deve aos Estados, hein? Depois de tantas doações a outros países, faltou dinheiro?
E por que o Sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) se submete a tanta exploração?
 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Carta ao Bandido

Em 30 de abril de 2009, o delegado de Polícia Civil Wilson Ronaldo Monteiro, do Pará, escreveu uma carta em que demonstra a sua vontade de dizer à população que policiais também têm direito às políticas adotadas pelos defensores dos “direitos humanos”. Carta do delegado paraense é oportuna para o atual momento.

Senhor Bandido,
Esse termo de senhor que estou usando é para evitar que macule sua imagem ao lhe chamar de bandido, marginal, delinquente ou outro atributo que possa ferir sua dignidade, conforme orientações de entidades de defesa dos Direitos Humanos.
Durante vinte e quatro anos de atividade policial, tenho acompanhado suas “conquistas” quanto a preservação de seus direitos, pois os cidadãos e especialmente nós policiais estamos atrelados às suas vitórias, ou seja, quanto mais direito você adquire, maior é nossa obrigação de lhe dar segurança e de lhe encaminhar para um julgamento justo, apesar de muitas vezes você não dar esse direito às suas vítimas. Todavia, não cabe a mim contrariar a lei, pois ensinaram-me que o Direito Penal é a ciência que protege o criminoso, assim como o Direito do Trabalho protege o trabalhador, e assim por diante.
Questiono que hoje em dia você tem mais atenção do que muitos cidadãos e policiais. Antigamente você se escondia quando avistava um carro da polícia; hoje, você atira, porque sabe que numa troca de tiros o policial sempre será irresponsável em revidar. Não existe bala perdida, pois a mesma sempre é encontrada na arma de um policial ou pelo menos sua arma é a primeira a ser suspeita.
Sei que você é um pobre coitado. Quando encarcerado, reclama que não possuímos dependência digna para você se ressocializar. Porém, quero que saiba que construímos mais penitenciárias do que escolas ou espaço social, ou seja, gastamos mais dinheiro para você voltar ao seio da sociedade de forma digna do que com a segurança pública para que a sociedade possa viver com dignidade.
Quando você mantém um refém, são tantas suas exigências que deixam qualquer grevista envergonhado. Presença de advogados, imprensa, colete à prova de balas, parentes, até juízes e promotores você consegue que saiam de seus gabinetes para protegê-los. Mas se isso é seu direito, vamos respeitá-lo.
Enfim, espero que seus direitos de marginal não se ampliem, pois nossa obrigação também aumentará. Precisamos nos proteger. Ter nossos direitos, não de lhe matar, mas sim de viver sem medo de ser um policial.
Dois colegas de vocês morreram, assim como dois de nossos policiais sucumbiram devido ao excesso de proteção aos seus direitos. Rogo para que o inquérito policial instaurado, o qual certamente será acompanhado por um membro do Ministério Público e outro da Ordem dos Advogados do Brasil, não seja encerrado com a conclusão de que houve execução, ou melhor, violação aos Direitos Humanos, afinal, vocês morreram em pleno exercício de seus direitos.
Autor: Wilson Ronaldo Monteiro - Delegado da Polícia Civil do Pará.  
 
 

sábado, 10 de novembro de 2012

Minha Cela, Minha Vida!

O Supremo deu um basta
na majestosa pandilha,
que andava feito matilha
se achando acima da lei,
protegida pelo "rei"
ficava tudo em família! 

Mas desabou o castelo
desses bandidos safados,
falo desses atolados
na lama do mensalão,
saqueadores da Nação
da vergonha deserdados!
 
Subestimaram a força
dos homens de capa preta,
que não usam baioneta
mas não temem camarilha,
pois desmontaram a quadrilha
somente usando caneta. 

O brilhante Joaquim Barbosa,
Ministro de fundamento,
homem de conhecimento
e do mais notável saber,
não precisa nem dizer
que é o grande herói do momento.

Liderou toda uma equipe
com firmeza e maestria,
nessa nobre cirurgia
feita na quadrilha inteira,
pra estancar a roubalheira
que há muito se promovia. 

Mas parte da nossa imprensa,
covarde, não fala nada,
pois vem de longe comprada
por verbas publicitárias,
propagandas milionárias
para se manter calada.
 
O que me tapa de nojo
nesse covil de falsários,
é ouvir os comentários
de bandidos condenados,
se dizendo "injustiçados"
Mas que bando de ordinários!

Que a máfia não se preocupe
com a chuva, sol ou com vento,
pois não vai ficar ao relento
sem casa, cama e comida,
pois ela será incluída
num eficiente programa,
que oficialmente se chama:
"MINHA CELA, MINHA VIDA! "

Por Álvaro Pedreira de Cerqueira, combatente do fascismo-socialismo-comunismo, do caudilhismo populista e das teocracias de qualquer índole.
 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Melhor Versão de Nós Mesmos – Martha Medeiros*

Alguns relacionamentos são produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto. Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores. Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece?
A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos “eus” secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior.
Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para encarcerar você em casa, longe do contato com amigos e familiares, transformando você num bicho do mato? Ou você descobriu através da sua esposa que as pessoas não mordem e que uma boa rede de relacionamentos alavanca a vida?
Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos?
Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas?
Sua esposa é tão grosseira com os outros que você acaba pagando micos pelo simples fato de estar ao lado dela?
Seu noivo é tão calado e misterioso que transforma você numa desconfiada neurótica, do tipo que não para de xeretar o celular e fazer perguntas indiscretas?
Sua namorada é tão exibida e espalhafatosa que faz você agir como um censor, logo você que sempre foi partidário do “cada um vive como quer”?
Que reações imprevistas seu amor desperta em você? Se somos pessoas do bem, queremos estar com alguém que não desvirtue isso, ao contrário, que possibilite que nossas qualidades fiquem ainda mais evidentes. Um amor deve servir de trampolim para nossos saltos ornamentais, não para provocar escorregões e vexames.
O amor danoso é aquele que, mesmo sendo verdadeiro, transforma você em alguém desprezível a seus próprios olhos. Se a relação em que você se encontra não faz você gostar de si mesmo, desperta sua mesquinhez, rabugice, desconfiança e demais perfis vexatórios, alguma coisa está errada. 
O amor que nos serve e nos faz evoluir é aquele que traz à tona nossa melhor versão.
 
*Texto publicado no jornal Zero Hora de 04/11/2012.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Índios, não se suicidem, mas declarem guerra!

De 1986 para cá, 863 índios já se suicidaram por não poderem mais viver em suas terras. Mas essa estatística jamais é comentada. Morte de índio não dá IBOPE, não vende jornais e nem causa consternação. Afinal, quem se importa com os índios? São calados, pacíficos, não matam animais, não ateiam fogo em mendigos, não fazem barraco, não depredam a natureza e nem ficam esquartejando seus cônjuges. Enfim, são desinteressantes demais para serem levados a sério.
Há pouco tempo foi mostrado no Globo Repórter o drama dos índios que não podiam mais pescar seus peixes por causa das barragens. Por viverem da pesca e pelo fato dos peixes fazerem parte dos seus rituais, a FUNAI enviava peixes já "prontinhos" para eles, mas não era suficiente. Eles se sentiam humilhados. Pescar o próprio peixe faz parte dos rituais indígenas.
Há também o problema dos índios que estão sendo despejados do seu habitat natural por causa da construção da Usina de Belo Monte. E agora há a ameaça de suicídio coletivo dos índios Guarani-Kaiowás caso sejam despejados de suas terras pela Justiça Federal.
Será que dá para as pessoas pararem um pouco de se preocupar com as cotas raciais e pensarem um pouco nos índios?
Para eles não vale essa mania do Governo Federal em dar o peixe pronto sem ensinar a pescar: eles sabem e querem pescar sem depender de ajuda governamental alguma. Só pedem respeito pela sua natureza.
Encontram no suicídio a solução para tanta falta respeito quando, na verdade, poderiam mandar para o Governo o seguinte aviso, caso não fossem tão pacíficos:
RESPEITEM MINHA NATUREZA SENÃO VIRO FERA!
Os tempos mudaram. Não há mais como ter paz sem declarar guerra.

domingo, 21 de outubro de 2012

Consideração pelo outro

Alguém comentou, recentemente, que uma pessoa sabe que está amando de verdade quando não espera mais nada do outro. Seria um amor incondicional.
Ora, o único amor incondicional que podemos sentir é por um filho. Não importa que seja perfeito ou imperfeito - física, emocional ou mentalmente. Contentamo-nos em apenas amar, como no famoso soneto de Pablo Neruda: "Amo sem problemas e nem orgulho. Assim amo, porque não sei amar de outra maneira".
Mas, em minha opinião subjetiva, é difícil amar uma pessoa do sexo oposto e não esperar nem um pouco dela em troca. Qualquer espécie de relacionamento, seja amoroso, de amizade ou profissional exige troca, certo? É o que mantém a qualidade em um relacionamento. Então, essa de amar e não esperar nada do outro, nem ao menos um pingo de consideração, não é comigo.
O amor pode resistir a pequenas adversidades, diferenças, falta de comunicação, pequenos desrespeitos, mas jamais resiste à falta de consideração de alguém que não está nem aí para o que o outro sente.
Ama ao teu próximo como a ti mesmo. Mas começa por ti mesmo. Ninguém precisa amar alguém e ficar sempre à espera da disposição do outro em dar amor.
É assim que penso. A única coisa que pode sustentar um relacionamento é aquele sentido que faz uma pessoa que ama não sentir-se sozinha, entregue apenas aos próprios sentimentos.
Alguns chamam de respeito. Eu chamo de consideração.

sábado, 20 de outubro de 2012

A Grande Avenida Brasil – Por Carla Rojas Braga

Avenida Brasil não poderia ter um título melhor. Refletiu a realidade sociocultural em que vivemos, desde a colonização portuguesa, e que a Era Lula ajudou a consolidar: o vale tudo.
Tenho certeza que o sucesso da novela não se deveu ao desejo de vingança da Nina, mas às sacanagens que ela e Carminha faziam ao longo dos capítulos, em uma espécie de "folie a deux". E aos bizarros triângulos amorosos que floresciam toda semana. O sucesso veio pela excitação voyerista de cada um de nós, crescendo a cada capítulo.
Homem casando com 3 mulheres, e mulher casando com 2 homens, sendo, teoricamente, um deles,  gay. Bigamia é proibida por lei, mas trigamia pode. É a oficialização brasileira da banalização da promiscuidade e da falta de valores.
Do vale tudo.
No Brasil, o que é comum passa a ser normal, ético, oficial. Vilōes, psicopatas e bandidos viram heróis e vítimas, são rapidamente perdoados e elevados à categoria de "humanos".
Acho até que, se a novela durasse mais, a Carminha teria se candidatado e sido eleita.
O mensalão é um grande exemplo disso. A corrupção ficou tão comum, que passou a ser normal, institucionalizada, oficial e, provavelmente, será absolvida pelo Tribunal e pelo povo.
Brasileiro é povo imaturo, infantil. Chupa chupeta como o Adauto. Tendo o futebolzinho, o pagode e o dinheirinho para o churrasquinho, fica feliz. Tudo inho. Pensa pequeno, na satisfação imediata, como os bebês. Bebê fica feliz quando mama. E o resto não importa. Talvez por isso sejamos um país tão rico e com um crescimento tão pífio. Crescimento de criança.
A falta de educação e a falta de incentivo para que o povo cresça são determinantes na perpetuação da falta de valores dos brasileiros.
Povo inculto, deseducado e imaturo, que chupa bico, não sabe votar. Vota em populista, galhofeiro, bagaceiro, e desculpa tudo o que for feito de errado, como se estivesse numa brincadeira.
O povo brasileiro, infantilmente, projeta-se nos vilões e políticos corruptos, como se eles fossem heróis. Além de perdoá-los, como perdoaram a Carminha.
Creio até que muitos desejariam, secretamente, serem grandes mensaleiros, e "se darem bem".
Acharam muito forte este texto? Me perdoem, então.
Estou brincando.

(* ) Carla Rojas Braga é psicóloga, de Porto Alegre.


 

Miséria Exterior X Miséria Interior

Gostei de ler a coluna da Claudia Laitano de hoje, na ZH. Refere-se à sensação da semana no Facebook: o mendigo bonito, de olhos azuis, com pinta de modelo, que vive nas ruas de Curitiba.
Faz referência, também, àquelas pessoas que não conseguem aceitar o fato de existir pessoas que, por força das circunstâncias, são obrigadas a levar uma vida diferente da nossa, mesmo tendo o mesmo direito de tentar tocar a vida pra frente do jeito que pode e consegue. São pessoas que colocam fogo em mendigos, por exemplo, pessoas que levam uma vida mais mansa e mesmo assim não aceitam quem "descarrilhou" no trem da vida.
E assim termina o seu artigo:
"A vida pode ser cruel - e é. Mas assim como a beleza e a bondade podem dormir ao relento, a crueldade e a perversidade podem ter endereço fixo, documentos e bons antecedentes".
Por isso eu digo: há quem seja perverso neste mundo, mesmo não tendo que dormir ao relento. A pior crueldade é aquela que reside em pessoas miseráveis internamente.
O artigo está sob o título “Descarrilhados”.
 
Também está neste blog:
http://motivaressencialidades.blogspot.com.br/2012/10/descarrilhadosde-claudia-laitano.html


 

O Luxo da Comida Caseira


Sempre fico admirada quando vejo pessoas picando tomates, cebolas, alho e temperos - principalmente se estes são colhidos da própria horta em casa - para fazer algum tipo molho ou comida. E fico com saudades dos tempos em que comia a comida feita pela minha mãe ou pelo meu pai. Comida feita em casa, com todo o cuidado, por mãos carinhosas, preocupadas em acertar o sal, o tempo de cozimento a fim de agradar toda a família.
Hoje faço minhas refeições fora de casa. Não tenho tempo para cozinhar, pois trabalho o dia inteiro e a noite é muito curta. Quem, depois de um dia inteiro de trabalho, encontra ainda ânimo para dispor legumes e verduras sobre uma mesa para prepará-los para o jantar?
Ontem, no supermercado, fiquei olhando boquiaberta para as prateleiras. Quase tudo já vem preparado, embalado e pronto para o consumo: feijão, molhos de todos os tipos, sopas, até mesmo pratos mais sofisticados. É só aquecer e pronto! Adeus mãos cheirando a alho, minutos sendo desperdiçados picando este ou aquele tempero e olhares para o relógio cuidado o tempo. Mas adeus também ao carinho e ao sentimento de aconchego que uma comidinha caseira transmite aos nossos sentidos. Adeus à saúde, pois todas as comidas prontas vêm com um aviso de, no mínimo, 250mg de sódio.
Hoje, sendo escrava do tempo, da tecnologia e da modernidade, raramente sinto o gosto de comidas iguais às que costumava comer quando criança. Luxo, para mim, não é poder ir a um restaurante sofisticado para comer coisas que têm o mesmo gosto de comidas feitas em qualquer outro estabelecimento, só diferenciadas no preço. Luxo é poder comer uma comida feita em casa, não importa que seja apenas arroz, feijão, bife e batatas fritas.
A escritora Rosamund Pilcher disse que luxo é quando podemos satisfazer os nossos cinco sentidos ao mesmo tempo. Concordo, pois tudo o que é feito com amor é um luxo que não precisa de cifrões para tornar a vida mais amena.
 
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O PT e a Farta Distribuição de Medalhas

No livro “O Homem sem qualidades”  -  de Robert Musil -, Ulrich, o personagem principal, não tendo qualidades próprias, herdadas, adquiridas ou incorporadas, teve de produzir por conta própria quaisquer qualidades que desejasse possuir, usando a perspicácia e a sagacidade de que era dotado para poder sobreviver num mundo repleto de sinais confusos que não lhe dava garantia alguma de perdurar indefinidamente.
É assim que vejo a farta distribuição de medalhas a petistas, desde que Lula chegou ao poder.  São medalhas entregues a pessoas sem qualidades e sem merecimento. Apenas são dadas por vingança ao antigo regime militar, como um deboche aos militares.
Vejamos:
 
José Genoíno e Sigmaringa Seixas, ambos do PT, mais o militante e trabalhador rural Manoel da Conceição (terceiro nome do PT e exilado político durante a ditadura) foram agraciados com a Medalha do Mérito Legislativo pelos relevantes serviços prestados ao Brasil, por terem “dignificado a história e as lutas do PT tanto no Legislativo quanto na sociedade”.
É claro que as medalhas foram dadas pelo presidente da Câmara, deputado Marco Maia, também do PT.
 
A Medalha Ordem do Mérito da Defesa, condecoração que é dada a quem tenha se "distinguido no exercício da profissão, além de organizações militares e instituições civis que também tenham prestado relevantes serviços ao Ministério da Defesa e às Forças Armadas no desempenho de suas missões constitucionais" foi dada a Fernando Pimentel (PT), ex-ministro que foi denunciado ao STF por ter desviado recursos quando era prefeito de Belo Horizonte e que resultou em prejuízo de R$ 5,1 milhões para a prefeitura.
 
A Aeronáutica entregou ( foi obrigada a entregar) a medalha de honra ao mérito Santos Dumont para a primeira-dama da República, na época, dona Marisa Letícia Lula da Silva, por ter “prestado destacados serviços à Aeronáutica brasileira, por suas qualidades e seu valor em relação à Aeronáutica”.
Em protesto à condecoração, dois pilotos gaúchos decidiram devolver a medalha: Nelson Riet Correa e Cláudio Candiota Filho.
 
Esta agora é de lascar e um verdadeiro abuso:
 
A Ordem de Rio Branco, no grau de Grã-Cruz, o mais elevado distribuído pelo Ministério das Relações Exteriores e que é entregue pelo presidente da República e pelo chanceler do Ministério, foi dada à primeira-dama Marisa Letícia e à própria mulher do chanceler, Ana Maria Amorim. Como Lula e o Celso Amorim, o chanceler, não podiam entregar as insígnias para as respectivas esposas, inventaram uma viagem ao Exterior para deixar o encargo nas mãos de seus substitutos imediatos.
 
E agora a pior de todas e um soco no estômago:
 
A Medalha da Vitória, comenda concedida a militares e civis que contribuíram para difundir a atuação do País em defesa da liberdade e da paz mundial, em especial na 2ª Guerra Mundial, foi dada ao ex-guerrilheiro José Genoino, por ter atuado na Guerrilha do Araguaia na década de 70.
 
O mesmo José Genoino, condenado pelo STF por corrupção ativa, também foi agraciado com a Medalha de Pacificador, condecoração criada para galardoar militares e civis, nacionais ou estrangeiros, que tenham prestado assinalados serviços ao Exército brasileiro, elevando o prestígio da Instituição ou desenvolvendo as relações de amizade entre o Exército Brasileiro e os de outras nações.
 
O que José Genoino tem a ver com tais medalhas? O que todas as pessoas que citei acima têm a ver com as condecorações que receberam?
E os policiais que são mortos em serviço? E as vítimas que tombaram por causa de bombas e atentados dos ex-guerrilheiros?
 
Para esses, vale a letra daquela canção gaúcha “Sabe Moço”, do Leopoldo Rassier:  “No peito em vez de medalhas, cicatrizes de batalhas foi o que sobrou para mim”.

sábado, 13 de outubro de 2012

A lagarta já morreu, e a borboleta ainda não nasceu.

O cientista Robert Oppenheimer, que coordenou a Operação Manhattam, que gerou a bomba atômica, ficou enlouquecido ao ver esse artefato explodir Hiroshima e Nagasaki. Diante de tanta destruição causada pela sua criação, proferiu a célebre frase: "O maior perigo da humanidade é o cientista alienado".
A alienação, a desumanização a que Oppenheimer fez referência, se alastra hoje pelos mais diversos campos da sociedade. Hoje, o maior perigo para a humanidade é o cientista alienado, o político alienado, o educador, o aluno, o profissional alienado, o consumidor, o cidadão, o ser humano alienado. Uma alienação que põe em risco o próprio projeto civilizatório.
Tempos confusos estes em que nos coube viver.
Dias desleais, de fria indiferença diante do essencial. A chama da bondade, da fraternidade e da compaixão, tão trêmula, vacilante e fraca, a passar a impressão de que a qualquer momento pode se apagar. Os paradigmas do passado já não atendem aos graves desafios que encontramos pela frente.
Toda a violência que nos cerca, a ignorância existencial que se alastra, todas as crises que se espalham por todos os recantos da Terra. Em que curva da estrada foi que perdemos o nosso rumo?
O mundo contemporâneo atravessa uma de suas mais graves crises – uma crise de demolição, caracterizada pelo desmoronar de velhos padrões e certezas.
Nestes tempos de vidraças quebradas e flores partidas, haverá tarefa mais urgente do que reconduzir os passos em direção à senda que conduz à plenitude esquecida?
Da mesma forma que a religião sem ciência nos conduziu à degradação no passado, na atualidade a ciência sem religião está nos levando à autodestruição.
A ciência tem um caminho próprio, que é o analítico. A religião tem um caminho próprio, que é o sintético. Um não precisa do outro. Mas, como afirmou Fritjof Capra: “o ser humano precisa de ambos”. Ciência & Religião.
São as duas pernas que o ser humano necessita para empreender uma jornada com o coração.
São tempos existencialmente duros estes que nos coube vivenciar.
O momento que vivemos encontra-se refletido na seguinte metáfora: “a lagarta já morreu e a borboleta ainda não nasceu”.
O velho mundo já não mais existe, já foi ultrapassado, esfarela-se a olhos vistos, e o novo mundo ainda não surgiu, espera por nascer.
É, sem dúvida, um tempo decisivo, de desafios sem precedentes que ombreamos, todos nós, a quem coube vivenciar estes tempos de transição, de passagem para uma nova época.
“A lagarta já morreu, e a borboleta ainda não nasceu”.
Na escuridão da noite planetária que atravessamos, no pressentimento de uma manhã ensolarada e de um oásis secreto a nos aguardar e redimir no tempo justo, nossa tarefa é a de seguir adiante...
Em marcha!
 
Obs.: Baseado em textos do terapeuta holístico Roberto Crema - Para saber mais sobre Roberto Crema viste o site: http://www.robertocrema.net/

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Resposta de uma brasileira à Miruna Genoíno

Embora solidária com seu sofrimento, como uma das cidadãs a quem sua carta é dirigida, não posso me furtar a respondê-la com muita franqueza.
Estranho seria se você, que teve um pai amoroso e que vê esse pai ser um avô dedicado e apaixonado por seus netos, não o defendesse.
Mas pare e pense: você acredita mesmo que nossa Imprensa odeia o governo Lula apenas porque esse cidadão era um operário? Você realmente acha que todos os membros da Imprensa nacional são aristocratas que odeiam a plebe? Será que você não se lembra da força e da torcida da maior parte da Imprensa pela anistia e do prazer com que ela relatou a volta dos exilados?
É à Imprensa, aos seus jornalistas e repórteres, que devemos, em grande parte, a maior parte, aliás, a queda da Ditadura. Se nossos jornalistas não encampassem a luta contra os militares, nós ainda estaríamos sob seu jugo.
Ainda há alucinados que gritam Selva! Mas veja você que a grande Imprensa não lhes dá guarida.
Seu pai cometeu um grave erro: seguir cegamente uma ideologia e acreditar que o PT seria o partido certo para implantar essa ideologia. E não perceber que estava seguindo dois homens que tinham um interesse apenas: o poder pessoal. A qualquer preço.
Você já se perguntou para que eles queriam esse poder? Convive com eles? São homens probos tal qual seu pai? Vivem vida simples e regrada como seu pai e sua família? Eles se dispuseram a inocentar seu pai, confessando, em juízo, que ele foi vítima de um esquema tenebroso?
Não lhe passa pela cabeça que seu pai foi muito ingênuo?
Sinto muito pelo seu sofrimento. Mas penso que sua carta deveria ser destinada ao Lula e ao José Dirceu.

Atenciosamente,
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa.

A Prótese do PT no Supremo - * Jornalista Guilherme Fiuza


Os ministros do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli são a prova viva de que a revolução companheira triunfará. Dois advogados medíocres, cultivados à sombra do poder petista para chegar aonde chegaram, eles ainda poderão render a Luiz Inácio da Silva o Nobel de Química: possivelmente seja o primeiro caso comprovado de juízes de laboratório. No julgamento do mensalão, a atuação das duas criaturas do PT vem provar, ao vivo, que o Brasil não precisa ter a menor inveja do chavismo.
Alguns inocentes chegaram a acreditar que Dias Toffoli se declararia impedido de votar no processo do mensalão, por ter advogado para o PT durante anos a fio. Participar do julgamento seria muita cara de pau, dizia-se nos bastidores. Ora, essa é justamente a especialidade da casa. Como um sujeito que só chegou à corte suprema para obedecer a um partido iria, na hora h, abandonar sua missão fisiológica?
A desinibição do companheiro não é pouca. Quando se deu o escândalo do mensalão, Dias Toffoli era nada menos do que subchefe da assessoria jurídica de José Dirceu na Casa Civil. Os empréstimos fictícios e contratos fantasmas pilotados por Marcos Valério, que segundo o processo eram coordenados exatamente da Casa Civil, estavam, portanto, sob as barbas bolivarianas de Dias Toffoli. O ministro está julgando um processo no qual poderia até ser réu. 
A desenvoltura da dupla Lewandowski-Toffoli, com seus cochichos em plenário e votos certeiros, como na absolvição ao companheiro condenado João Paulo Cunha, deixaria Hugo Chávez babando de inveja. O ditador democrata da Venezuela nem precisa disso, mas quem não gostaria de ter em casa juízes de estimação? A cena dos dois ministros teleguiados conchavando na corte pela causa petista, como super-heróis partidários debaixo de suas capas pretas, não deixa dúvidas: é a dupla Batman e Robin do fisiologismo. Santa desfaçatez.
Já que o aparelhamento das instituições é inevitável, e que um dia seremos todos julgados por juízes de estrelinha na lapela, será que não dava para o estado-maior petista dar uma caprichada na escolha dos interventores? Seria coincidência, ou esses funcionários da revolução têm como pré-requisito a mediocridade?
Como se sabe, antes da varinha de condão de Dirceu, Dias Toffoli tentou ser juiz duas vezes em São Paulo e foi reprovado em ambas. Aí sua veia revolucionária foi descoberta e ele não precisou mais entrar em concursos – essa instituição pequeno-burguesa que só serve para atrasar os visionários. Graças ao petismo, Toffoli foi ser procurador no Amapá, e depois de advogar em campanhas eleitorais do partido alçou voo à Advocacia-Geral da União – porque lealdade não tem preço e o Estado são eles.
É claro que uma carreira brilhante dessas tinha que acabar no Supremo Tribunal Federal.
O advogado Lewandowski vivia de empregos na máquina municipal de São Bernardo do Campo. Aqui, um parêntese: está provado que as máquinas administrativas loteadas politicamente têm o poder de transformar militantes medíocres em grandes personalidades nacionais – como comprova a carreira igualmente impressionante de Dilma Rousseff. Lewandowski virou juiz com uma mãozinha do doutor Márcio Thomaz Bastos, ex-advogado de Carlinhos Cachoeira, que enxergou o potencial do amigo da família de Marisa Letícia, esposa do bacharel Luiz Inácio. 
Desembargador obscuro, sem nenhum acórdão digno de citação em processos relevantes, Lewandowski reuniu, portanto, as credenciais exatas para ocupar uma cadeira na mais alta esfera da Justiça brasileira.
Suas diversas manobras para tumultuar o julgamento do mensalão enchem de orgulho seus padrinhos. A estratégia de fuzilar o cachorro morto Marcos Valério, para depois parecer independente ao inocentar o mensaleiro João Paulo, certamente passará à antologia do Supremo – como um marco da nova Justiça com prótese partidária.
O julgamento prossegue, e os juízes do PT no STF sabem que o que está em jogo é a integridade (sic) do esquema de revezamento Lula-Dilma no Planalto. Dependendo da quantidade de cabeças cortadas, a platéia pode começar a sentir o cheiro dos subterrâneos da hegemonia petista.
Batman e Robin darão o melhor de si. Olho neles.
 
* Guilherme Fiuza é jornalista e autor de vários livros, entre eles “Meu Nome não é Johnny”, adaptado para o cinema.


 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Afinidade

Texto de Artur da Távola

 
Ela não é o mais brilhante dos sentimentos, mas o mais sutil, delicado e penetrante. O mais independente também. É raro ter afinidade. É muito raro. Mas, quando existe, não precisa de palavras para se manifestar. O que você tem dificuldade de expressar a uma pessoa não afim sai facilmente diante de alguém com quem você tenha afinidade. Não importam o tempo, a ausência, os adiantamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
A afinidade é um sentimento singular, discreto e independente. Não precisa do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está. Independe do amor, mas não independe da amizade. Pode existir a quilômetros de distância. É adivinhado na maneira de falar, escrever, de andar, de respirar. Há afinidade com pessoas a quem apenas vemos passar, com vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidades com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.
Afinidade é uma espécie de linguagem secreta do cérebro humano, ainda não estudada. Está naquela parte da cabeça que os cientistas dizem ser a maior e ainda não suficientemente explorada e usada por nós. Dessa misteriosa e grandiosa parte do cérebro sai a linguagem da afinidade, uma linguagem sem palavra. Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar a sintonia com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos de não-vivido?
A afinidade é singular, discreta e independente, repito, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem você estabeleceu o vinculo da afinidade. No dia em que a vir de novo, vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou. Sensível é a afinidade. É ficar de longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem. É ficar conversando sem trocar palavras. Afinidade não é temporária, não passa com o tempo e a distância. Aliás, é o único sentimento superior ao tempo.
 
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sobre relacionamento com pessoa casada


São raros os casos de amor envolvendo pessoas casadas que realmente dá certo. São finais felizes conseguidos à custa de muito sofrimento a todas as pessoas envolvidas, sejam cônjuges que se sentiram traídos, filhos que se sentiram rejeitados e os próprios amantes, que tiveram que suportar toda essa carga até poderem, enfim, viver juntos para sempre e em paz com suas consciências.
Na maioria dos casos, tudo não passa apenas de um romance inconsequente que termina quando o casamento de um fica ameaçado ou quando a outra parte sente que não pode mais passar seus dias sempre à espera do outro, dedicando seu tempo a alguém que jamais poderá lhe pertencer por inteiro. Afinal, não é bom ter alguém, mas, ao mesmo tempo, ter de estar sozinho (a) em datas e ocasiões especiais. 
Penso que somente pessoas mal resolvidas, carentes e sem amor próprio é que se sujeitam a um relacionamento com uma pessoa casada, mesmo que ela demonstre estar muito interessada e dizer que é infeliz no casamento. Pessoas com baixa autoestima ou que passaram por problemas constantes de rejeição geralmente desejam, inconscientemente, sentir-se poderosas; por isso veem no ato de roubar o cônjuge de alguém uma oportunidade de se sentirem sedutoras e valorizadas. Também são essas pessoas as primeiras a cair fora quando seu intento é alcançado.
 Eu não me sujeitaria a esse tipo de relacionamento, mesmo que me sentisse atraída por um homem casado. Não saberia viver de incertezas, de momentos fugazes, de noites mal dormidas e de sexo rápido. Não poderia suportar que alguém saísse da minha  cama para voltar rapidamente para a casa da esposa e continuar com sua vidinha mansa enquanto eu ficaria com a incerteza de quando seria a próxima vez.
Um relacionamento só é bom quando há uma parceria para todos os momentos, quando há liberdade para poder estar junto sem temer a nada e nem a ninguém, quando é possível compartilhar amigos, família e todo o tempo do mundo. Não, eu não me sujeitaria à prisão que é estar na obscuridade por causa de um homem casado. Meu amor próprio não permitiria que eu perdesse os melhores anos da minha vida e a oportunidade de vir a conhecer uma pessoa que pudesse ser companhia para todas as horas por causa de um homem que seria apenas um corpo sem alma.

domingo, 30 de setembro de 2012

Por que pessoas boas têm de morrer?

Não assistia aos programas da Hebe Camargo, por isso não posso dizer que sinto muito pela perda dela. Talvez possa lamentar mais uma vítima dessa doença infame que se chama "câncer", que já vitimou tantas pessoas de minhas relações e que me eram muito caras.
Lamento, então, a morte pelo câncer de uma pessoa que não fazia mal a ninguém; pelo contrário, divertia e fazia o tempo passar para muitas pessoas, enquanto há tanta gente do mal por aí que continua saudável e não sofre nem de dor na consciência.
Assim como desejo que um dia seja encontrada a cura do câncer, espero que também encontrem a resposta para a pergunta: ser mau torna alguém mais resistente às doenças? Por que coisas ruins só acontecem com pessoas boas?
E não me venham falar sobre evolução da alma, que os bons são levados antes porque já cumpriram sua missão aqui na terra. Se é verdade que este mundo é uma espécie de prisão onde as pessoas que estão aqui devem pagar por suas penas, então não seria o caso das pessoas serem punidas assim que suas maldades começassem a aflorar? Por exemplo: quem roubasse teria câncer; quem matasse, seria atropelado por um trem; quem estuprasse, seria morto em seguida por um pitbull; quem queimasse uma pessoa, em seguida seria carbonizado dentro de um carro e assim por diante. Pra que esperar por uma nova vida para pagar? Tem que pagar nessa, ora.

João Grilo era feliz e não sabia – Por Gaudêncio Torquato*


"Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher." O astuto João Grilo podia recitar versos destrambelhados, fazer traquinagens com o grande amigo Chicó e arrematar impressões com a maior inocência, como a que fez para Manuel, o Leão de Judá, o filho de David, o Jesus negro que pontifica na peça O Auto da Compadecida: "O senhor é Jesus? (...) Aquele a quem chamavam Cristo? (...) Não é lhe faltando o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado". Grilo jamais podia adivinhar que suas lorotas poderiam, um dia, em vez de gostosas gargalhadas, causar sérios dissabores. A ele e ao pai que o gerou: o teatrólogo, o advogado, o cancioneiro, o romancista da Academia Brasileira de Letras, o genial paraibano Ariano Suassuna.
Falta pouco para o grupo que se autointitula defensor do conceito "politicamente correto" jogar o autor de A Pedra do Reino na masmorra da censura, para fazer companhia a um dos mais influentes escritores brasileiros, Monteiro Lobato. Como se sabe, este autor foi execrado por comparar Tia Anastácia, personagem de Caçadas de Pedrinho, a uma "macaca de carvão" e, mais recentemente, porque seu conto Negrinha teria conteúdo racista, na visão de uma entidade de advocacia racial e ambiental. Ora, estudiosos consideram o conto um libelo contra a discriminação.
A polêmica sobre o uso do lexema negro na literatura se expande na esteira do debate sobre direitos humanos e combate às variadas formas de discriminação. Acontece que as lutas pela igualdade têm jogado na vala comum da discriminação manifestações de todo tipo, mesmo as que retratam um ciclo histórico. É o caso da obra de Monteiro Lobato, que nasceu seis anos antes da abolição da escravatura e vivenciou, até na fase de escritor, a segregação de escravos. Não há como imaginar personagens que tanto encantaram crianças e adultos - Emília, Pedrinho, Saci-Pererê, Visconde de Sabugosa, Tia Anastácia - adotando, ao final do século 19, a expressão que as patrulhas acham corretas. Quem quiser associar Lobato à discriminação certamente vai forçar a barra para encontrar o ato de ofício, como se diz nestes tempos de julgamento do mensalão. É uma questão de interpretação.
Ele retratava um tempo em que a negritude era apresentada de maneira pejorativa. Censurar a expressão de uma época é apagar costumes, queimar tradições. Contextualizar para os alunos de hoje, por meio de anexos e notas explicativas, obras literárias do passado é passar recibo de ignorância. Sinal de barbárie cultural. Para que servem professores? Não são eles que ensinam, interpretam e analisam as condições dos ciclos históricos?
Veja-se esta frase do padre Anchieta sobre os índios: "Para esse gênero de gente, não há melhor pregação do que espada e vara de ferro". Isso tira seu mérito de catequizador? Não sem razão Joaquim Nabuco, o abolicionista, se indignava com os sacerdotes que possuíam escravos: "Nenhum padre nunca tentou impedir um leilão de escravos, nem condenou o regime religioso das senzalas". Que tapume se pode se colocar nas páginas de O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo, onde se lê: "Se você viesse a ter netos, queria que eles apanhassem palmatoadas de um professor mais negro que esta batina?". E como apagar trechos de Histórias e Sonhos, de Lima Barreto, que registra: "Não julguei que fosse negro. Parecia até branco e não fazia feitiços. Contudo todo o povo das redondezas teimava em chamá-lo feiticeiro". Barreto é o mesmo que escreveu Clara dos Anjos (1922), libelo contra o preconceito que conta a história de uma mulata traída e sofrida por causa da cor. Quanta estultice prendê-lo nos grilhões da discriminação.
Nessa toada, passamos por Bernardo Guimarães. Em sua Escrava Isaura (1875) há trechos que hoje estariam no índex das proibições: "Não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme como a mais vil das negras (...)?". Aportamos na Bahia de Jorge Amado. Em Capitães de Areia descreve João Grande: "Negro de 13 anos, forte e o mais alto de todos. Tinha pouca inteligência, mas era temido e bondoso". Pelo andar da carruagem, os patrulheiros de plantão não se convencem nem mesmo com a beleza poética do canto de Castro Alves. Enxergariam palavras politicamente incorretas do tipo: "E quando a negra insônia te devora" ou "corre nas veias negras desse mármore não sei que sangue vil de messalina". Imaginem se descobrirem o jesuíta André João Antonil, autor de Cultura e Opulência do Brasil (1711), fazendo esta consideração: "Os mulatos e as mulatas são fonte de todos os vícios do Brasil".
Pode-se atribuir ao celebrado Fernando Pessoa a pecha de machista? Eis o que pensava: "O espírito feminino é mutilado e inferior; o verdadeiro pecado original, ingênito nos homens, é nascer de mulher". É possível enxergar Shakespeare acorrentado nos porões da censura? Pois em Otelo se lê que Brabâncio deixara a filha livre para escolher o marido que mais lhe agradasse, mas descobriu que, em vez de um homem da classe senatorial, a donzela escolhera um mouro para se casar. Decidiu, então, procurar Otelo (o mouro) para matá-lo. O roteiro cabe na enciclopédia dos patrulheiros.
Pergunta de pé de texto: por que a tentativa de mudar a História? Simples. O entendimento dessa turma é que chegou a hora do acerto final. Urge refazer a História do passado com os verbos (e as verbas) do presente. Garantir que o ontem não existiu. Eis aí a pontinha da Revolução Cultural que bu(r)rocratas tentam engendrar desde 2004, quando criaram uma cartilha com 96 expressões que consideraram politicamente incorretas. Os "inventores" da nova cultura poderiam até tentar mudar o Código de Hamurabi, escrito por volta de 1700 a. C. Vão esbarrar numa montanha de preconceitos.
 
*Gaudêncio Torquato - jornalista; professor titular da USP, é consultor político de comunicação.  twitter: @gaudtorquato – O Estado de São Paulo.