domingo, 14 de dezembro de 2014

O que você faria por amor?

Autor: Ivan Martins

Muita gente gosta de afirmar, em voz alta, que faria “qualquer coisa” por amor. Vocês já devem ter ouvido isso. Talvez até tenham dito a frase novelesca. Faz parte da nossa cultura. Outro dia, vi um rapaz dizer em rede nacional de televisão, com a maior naturalidade, que “mataria e morreria” por amor. O autor do exagero devia ter uns 18 anos, talvez menos. Deu vontade de rir, de tanto drama. O jovem Romeu da Tijuca ainda não descobriu que a melhor forma de amor se pratica entre vivos – preferencialmente em liberdade, que não estão na cadeia, presos por assassinato.

Isso não quer dizer que o amor não faça exigências terríveis. Eu mesmo já fiz cafunés de madrugada, cocei costas e apliquei massagens nos pés até ficar com as mãos exaustas. Por amor. Já lavei pias repletas de louça, fiz comidas sofríveis, fui ao mercado no domingo, tirei dinheiro do banco às sete da manhã e levei o lixo para fora vezes sem conta. Por amor. Já viajei ao exterior, dirigi até a praia, dancei até de madrugada e cantei até ficar rouco. Por amor. Alguns dirão que me faço de vítima. A verdade é que, por amor, já tomei vinhos excelentes, já comi em restaurantes caros, já assisti a espetáculos inesquecíveis e já comprei presentes que, só de lembrar, me enchem de alegria – e de uma vaga melancolia financeira.

Se alguém disser que isso tudo é pouco, talvez tenha a cabeça tomada por grandezas. Ou ache, como o Romeu da Tijuca, que amar é coisa de matar ou morrer, verdadeira luta com facas. O grande amor, ao contrário, é feito de miudezas. São gestos cotidianos, olhares cúmplices, uma mão que passa pela nuca e toca os cabelos enquanto a mulher que você ama conversa com outra pessoa. Amor também é feito de desejo, e a cada tanto exige a reafirmação de uma suave encostada - na pia, enquanto ela coa o café – e da barriga que toca o calor da outra barriga.

Esses sinais mostram amor como a temperatura denuncia a febre. Mas não são tudo.

Há também a conversa que atravessa os dias e dá sentido aos fatos da existência. E a lealdade, que permite contar com o outro nas horas sombrias. Ela impede que a gente se sinta sozinho num mundo de multidões solitárias. Não se pode esquecer a sacanagem, claro, sem a qual o amor morre de tédio. E o riso, em cuja ausência a morte se aproxima. No amor, se dizem as palavras mais doces, se dão os abraços mais ternos, se enxugam as lágrimas mais tristes, se grita, se geme. Nele, a gente se comove como o diabo. Em nada disso há heroísmo. Apenas a vida, em seus milagres comuns.

A única real grandeza do amor está em sua imensa vocação de fazer o outro feliz. Um dia depois do outro. Isso exige atenção, desvelo mesmo, e coisas como imaginação, tirocínio, esforço. Às vezes até sacrifício. O outro é tão complexo – tão desgraçadamente parecido conosco – que, às vezes, não sabe o que deseja e o que precisa. Conta conosco para iluminá-lo. Há que estar lá, portanto. Há que tentar entender com o coração e com as mãos, que apertam, seguram, amparam e acariciam.


Se me perguntam o que eu faria por amor – já me perguntaram, de outras formas –, eu responderia, como os portugueses, imenso. Cada vez mais, na verdade. Com calma e determinação, juntos, sem grandiloquência. Assim se lida com as coisas essenciais da vida. O amor, entre todas elas.




terça-feira, 23 de setembro de 2014

Sequestradores de Votos e Eleitores Reféns – Autora: Carla Rojas Braga

Penso que há sintomas da síndrome de Estocolmo em uma grande parcela de eleitores, que se comportam, na hora de votar, como reféns.
Existem semelhanças, para mim, muito significativas, entre o eleitor, refém, e alguns políticos psicopatas-sequestradores de votos.
A saber:
A Síndrome de Estocolmo é um estado particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de sequestro, no qual os reféns desenvolvem um relacionamento afetivo com seu captor. Algumas vezes, uma verdadeira cumplicidade, com os reféns ajudando seu captor a alcançar seus objetivos.
A Síndrome se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu captor ou de conquistar sua simpatia.
Se manifesta da seguinte maneira: durante o processo, os reféns começam por identificarem-se emocionalmente com os sequestradores, como mecanismo de defesa, por medo de agressões.
Esse processo ocorre sem que a vitima tenha consciência.
A identificação com o sequestrador ocorre para propiciar um afastamento emocional da realidade perigosa e violenta à qual a pessoa está sendo submetida.
O sequestrador faz tamanho estrago na mente da vítima porque é um psicopata.
Infelizmente, podemos verificar sintomas parecidos com tal tipo de personalidade em alguns políticos.
Exibem com arrogância um forte sentimento de autovalorização, indiferença para com o bem estar dos outros e um estilo social continuamente fraudulento.
Existe neles sempre a expectativa de explorar os demais e há neles uma consciência social bastante deficiente, notória por uma inclinação para violação das regras.
A irresponsabilidade social se percebe através de fantasias expansivas e de contumazes e persistentes mentiras.
Sem princípios, mostram sempre um desejo de correr riscos, sem experimentar temor de enfrentar ameaças ou ações punitivas. Buscadores de novas sensações e narcisistas, funcionam como se não tivessem outro objetivo na vida, senão explorar os demais para obter benefícios pessoais.
São completamente carentes de sentimentos de culpa e de consciência social.
Normalmente sua relação com os demais dura tempo suficiente em que acredita ter algo a ganhar, como por exemplo, o período eleitoral.
Tem facilidade em influenciar pessoas, ora adotando um ar de inocentes, de frágeis, de vítimas, ou de líderes, sempre assumindo um papel mais indicado para a circunstância.
Carentes de qualquer sentimento de lealdade, normalmente ocultam suas verdadeiras intenções debaixo de uma aparência de amabilidade e cortesia.
Portanto, o eleitor fica uma presa fácil.
Certos políticos transformam seus eleitores em reféns.
O eleitor – refém é aquele que, em função da frustração decorrente das falcatruas, crimes e mentiras, fica tão fragilizado que é capaz de aliar-se ao candidato-sequestrador nas eleições.
Os sentimentos de frustração, decepção e revolta podem mascarar-se defensivamente e hipnoticamente como identificação idolatria, e levarem ao voto emocional, sem uso da razão.
Na hora de votar, a porta do cativeiro fica aberta, mas o eleitor-refém está tão atordoado que não sabe para onde correr.
O medo da mudança e da própria liberdade pode levar a um sentimento de desesperança e até de morte política, através do voto Kamikaze, suicida.
O país precisa que os eleitores tenham coragem de sair pela porta da frente do cativeiro, votando na sua liberdade.


*Carla Rojas Braga é psicóloga.





terça-feira, 9 de setembro de 2014

Intervenção ou Impeachment?

O petrolão rendeu aos corruptos mais de 4 bilhões de reais, tudo isso para que pudessem pagar aliados por apoio político e outras conveniências mais, talvez até ajudar a desenvolver países governados por comunistas.
É muito dinheiro, e deveria ter servido para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros em relação à saúde, educação e segurança. Mas não, serviu somente para que parlamentares e "aderentes" ficassem milionários.
Muitos reis e rainhas perderem a coroa por terem agido desta forma no passado. Tributaram tanto o povo para que este pagasse pelos luxos da corte, que acabaram sendo destituídos ou perdendo a cabeça.
Mas não os "príncipes" do Brasil.
Estes continuam reinando, trazendo estrangeiros para o Brasil, gastando o dinheiro dos impostos com luxos, orgias e farras.
Todo administrador jamais esqueceu a máxima de Adam Smith, que a riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes.
Quando os príncipes ostentam riqueza enquanto o povo padece de muitas misérias, e quando o povo não tem força suficiente para lutar, é hora dos "barões" se reunirem e proporem uma nova constituinte. E caso não adiante, então que formem um exército e declarem guerra contra a realeza.
Aconteceu com João Sem Terra e com Henrique III, reis da Inglaterra.
Mas antes de qualquer intervenção militar deve haver o brado de "impeachment, já". Um impeachment adianta para que maus governantes renunciem ao poder.
Aconteceu com Fernando Collor de Mello, ex-presidente do Brasil.
Intervenção sim, mas somente para defender e tornar livre o povo que estiver perdendo a guerra contra a opressão. Jamais para dominar.



(A imagem não é de 1964, mas sim de 2014, durante o desfile do dia 07 de setembro, em Porto Alegre)



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O GOVERNO RICO JÁ NÃO VÊ O POVO POBRE


por Percival Puggina. Artigo publicado em 05.08.2014.


A cartilha manda repetir sempre as mesmas coisas, ainda que não resistam a uma acareação com os fatos, porque a repetição se impõe à razão e acaba sendo mais convincente do que eles. Não importa que o realejo cause lesão por esforço repetitivo. O resultado compensa.
Assim, ao longo dos anos, nossos ouvidos enrouqueceram de escutar que o país vivia sob um sistema econômico iníquo, que gerava aberrantes desníveis de renda e concentração de riqueza. Tão repetida cantoria acabou por convencer cautos e incautos de que somente uma guinada para a esquerda poderia nos conduzir ao éden da igualdade, da justiça e da prosperidade geral. Gradualmente, então, foi se abrindo a porta para o socialismo, apesar de os fatos, pela janela, berrarem que isso é uma loucura e que tal sistema não consegue apresentar um único caso de prosperidade e democracia. Têm razão os fatos: o anunciado socialismo, sempre, excetuadas suas elites, igualou a todos na pobreza, e só ao Estado concedeu liberdades. Mas isso quase ninguém diz e é nesse caminho que estamos sendo lenta e docilmente conduzidos.
O mais insólito nesse percurso é o próprio governo e seu partido, que se declaram socialistas, após 12 anos de gestão, terem que negar os fatos que os olhos mostram e insistirem em que a pobreza diminuiu. Agravou-se, assim, a situação de todos os que são pobres de fato. Eles deixaram de existir nas contas do governo.
O efeito da repetição é tão eficiente que o sujeito que escreve o que acabei de escrever passa a ser visto como um brutamontes destituído de sentimentos humanos. De nada vale dizer que não há concentração de renda maior do que aquela promovida por um aparelho estatal que fica com quase a metade de tudo que a nação produz. De nada vale denunciar esse Robin Hood burocrata que toma de quem tem (e de quem não tem) para dar ao insaciável governo. De nada vale informar que essa brutal, perversa e inútil concentração de renda nas mãos do Estado é típica do socialismo, avessa ao empreendedorismo e à economia de mercado. Com o tempo, só fará aumentar a pobreza do país.
Escrevo de teimoso, portanto: a persistência da pobreza que o governo se recusa a reconhecer têm como causa esse crescente avanço do Estado sobre a economia nacional. Não bastasse a robusta mordida de leão, o governo, no curto prazo, ainda toma dívidas em nome das gerações futuras. Mais ganancioso e perverso, só traficante.





terça-feira, 15 de julho de 2014

Seria cômico, se não fosse trágico – Autor: Carlos Bayma

Tudo começou com uma pequena tristeza, tratada eficientemente com o “antidepressivo” mais moderno do mercado.
Você está com 30 anos, tem uma depressãozinha, uma tristeza persistente. O seu médico diz que passa logo: prescreve Fluoxetina.
Mas a Fluoxetina dificulta seu sono. Ele então indica Clonazepam, o Rivotril da vida. O Clonazepam deixa meio bobo ao acordar e reduz sua memória. Assim, você volta ao doutor. Ele te olha e nota que você aumentou de peso. Preescreve Sibutramina, que faz você  perder uns quilinhos, mas lhe dá uma taquicardia incômoda. Novo retorno ao doutor. Além da taquicardia, a “batedeira” no coração, ele nota que você também está com pressão alta. Então, te dá uma receita  de Losartana e Atenolol, este último para reduzir a sua taquicardia.
O tempo passa, você já está com 35 anos e toma Fluoxetina, Clonazepam, Sibutramina, Losartana e Atenolol. Mas, como a idade chega, é adequado um “polivitamínico”. O doutor manda que você compre  um ‘polivitamínico de A a Z”, que pra muito pouca coisa serve. Mas, como o Luciano Huck disse na TV que esse é ótimo e você acreditou, comprou.
Já são R$ 350,00 por mês, começa a pesar no orçamento. O dinheiro a ser gasto em investimentos e lazer escorrer para o ralo da indústria farmacêutica.
Você começa a  ficar nervoso, preocupado e ansioso (apesar da Fluoxetina e do Clonazepam), pois as contas não batem no fim do mês. Começa a sentir dor no estômago e azia e seu intestino fica “preso”. Vai a outro doutor. Prescrição: “omeprazol + domperidona +  laxante ‘natural’, e você vai ficar ótimo!”.
Os sintomas realmente somem, mas só os sintomas, apesar da “escangalhação” que virou sua flora intestinal. Assim, outras queixas aparecem. Dentre elas, uma é particularmente perturbadora: aos 37 anos, apenas, você não tem mais aquela potência sexual. Além de estar “brochando” com freqüência, tem pouquíssimo esperma e a libido está abaixo dos pés.
Para o doutor da medicina da doença, isso não é problema.  Você escolhe o remédio que solucionará a questão: Sildanafil, Tadalafil, Lodenafil ou Vardenafil. Escolha por pim-pam-pum. E sua potência melhora, mas, como consequência,  surge uma tremenda dor de cabeça, mais palpitação, vermelhidão e coriza. OK, sem problemas, basta aumentar a dose do Atenolol e tomar Neosaldina antes do sexo.  Se você precisar, instile um “remedinho” para seu corrimento nasal, ele sobrecarrega seu coração, mas seu nariz fica uma beleza!
Quando tudo parecia solucionado, aos 40 anos, você percebe que seus dentes estão apodrecendo e caindo. (Entre nós, é o antidepressivo). E tome grana para gastar com o dentista. Nessa mesma época, outra constatação: sua memória está falhando bem mais que o habitual. Mais uma vez, para seu doutor, isso não é problema: Ginkgo Biloba é prescrito.
Nos exames de rotina, sua glicose está em 110 e seu colesterol em 220. Nas costas da folha do receituário, o doutor prescreve Metformina + Sinvastatina. “É para evitar diabetes e infarto”, tranquiliza o cuidador de sua saúde (?!).
Aos 40 e poucos anos, você já toma Fluoxetina, Clonazapam, Losartana, Atenolol, Polivitamínico de A a Z, Omeprazol, Domperidona, laxante “natural”, Sildenafil, Vardenafil, Lodenafil ou Tadalafil, Neosaldina, Ginkgo Biloba, Metformina e Sinvatatina. (Convenhamos, isto está muito longe de ser saudável!). Mil reais por mês! E sem saúde!!!
Entretanto, você ainda continua deprimido, cansado e engordando. Você vai ao doutor, de novo. Troca a Fluoxetina por Duloxetina, um antidepressivo “mais moderno”. Após dois meses, você se sente melhor. (ou um pouco ‘menos ruim”). Porém, outro contratempo surge: o novo antidepressivo o faz urinar demoradamente e com jato fraco. Passa a ser necessário levantar duas vezes à noite para urinar. Lá se foi seu sono, seu descanso extremamente necessário para sua saúde.
Mas não é fácil para o seu doutor: ele prescreve Tansulosina, para ajudar na micção. Você melhora realmente. Contudo...não ejacula mais. Não sai nada! Ao doutor?
Vou parar por aqui.É deprimente. Isso não é medicina, não é saúde.
Essa história termina com uma situação cada vez mais comum: a derrocada em bloco da sua saúde. Você está obeso, sem disposição, com sofrível ereção, memória e concentração deficientes. Diabético, hipertenso. Dentes: nem vou falar. O peso elevado arrebentou seu joelho (um doutor cogitou colocar uma prótese para solucionar o problema). Surge na sua cabeça a ideia maluca de procurar um cirurgião bariátrico, para “reduzir seu estômago” e um psicoterapeuta, para cuidar do seu juízo destrambelhado, é aconselhado.
Sem grana, triste, ansioso, deprimido, pensando em dar fim à sua minguada vida e...doente, muito doente! Apesar dos “remédios” (ou por causa deles!).
A indústria farmacêutica? “Crescendo muito. Sempre bem, obrigado!”. Graças à sua valiosa contribuição por anos ou décadas. Seu doutor?  “Ótimo”, indo a congressos, com tudo pago pelos laboratórios. Tudo graças à sua doença. Ou à doença plantada passo-a-passo em sua vida.


*Publicado no jornal Bem Estar, edição nº 128, abril/2014.



O Brasil vive uma ficção dentro e fora do campo, diz Vargas Llosa.

Rodrigo Constantino transcreve Vargas LLosa.

Nem preciso dizer o quanto admiro Mario Vargas Llosa. Não só o escritor, que é um dos meus favoritos, mas o pensador liberal, incansável defensor da democracia e do livre mercado. Fiquei muito feliz, portanto, ao ver que o Prêmio Nobel de Literatura escreveu em El País um texto que vai exatamente ao encontro daquilo que disse em minha coluna da Veja esta semana. Recomendo veementemente a leitura na íntegra. Seguem alguns trechos:

[...] eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio ‘Lula’ da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências.

[...] Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.

A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.

[...] As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.

[...] Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.

Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento.

[...] Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.
Acorda, Brasil!

Rodrigo Constantino.

*Rodrigo Constantino dos Santos é um economista e colunista brasileiro.


terça-feira, 13 de maio de 2014

Quem ela matou? - Por Hemerson Ari Mendes*

Bernardo, o seu enteado?
O filho da ex do marido?
Seria o que sobrou da ex, que não foi suicidado junto com ela?
O agregado incômodo, que necessita de cuidados e disponibilidade afetiva, seria essa uma possibilidade?
Talvez um concorrente na disputa infantil pelo afeto do provedor/pai pobre?
Ou seria o concorrente/inimigo da sua filha, com a qual estaria infantilmente identificada?
Seria o receptor de migalhas afetivas do marido, que denunciavam que ela não o tinha na totalidade e incondicionalmente?
Foi Bernardo vítima de um latrocínio, sendo o objeto roubado a sua potencial herança?
Estaria ela matando os aspectos insuportáveis do marido, como quem extirpa um tumor que causa deformidade no ideal narcisicamente planejado?
Ou estaria ela tentando livrar-se dos seus sentimentos e  desejos assassinos, algo que o faz, paradoxalmente, assassinando Bernardo, depositário da sua fúria.
Poderia ser uma tentativa de matar a imagem do marido/pai fraco, pusilânime, incapaz de ser continente da sua loucura assassina?
Seria um infanticídio, deslocando a fúria evocada pela sua filha para seu enteado, uma pessoa mais tolerável para sua moralidade dissociada?
Poderia Bernardo evocar a lembrança de irmãos, irmãs, primos e amigos que ela não pode eliminar na sua infância, mas que ela tem certeza que lhe roubaram o que entendia ser seu?
Seria ela uma assassina de aluguel, matando o enteado, no lugar do acovardado pai, que impossibilitado de assumir seus sentimentos e desejos, silenciosamente indica o desfecho para seus capangas?
Seria a repetição de um crime, que anteriormente não foi descoberto e punido e, portanto, repete-se na busca de uma expiação?
Talvez tenham sido vários os assassinados e as assassinas, inclusive alguns não citados. Só não creio que ela tenha matado o irmão da filha; pois, para enxergar esta relação é preciso ter uma mente que ela não tinha.

*Psicanalista (Sociedade Psicanalítica de Pelotas – Febrapsi - IPA), médico psiquiatra (UFPel), mestre em saúde e comportamento (UCPel).




sexta-feira, 25 de abril de 2014

ESSE MENINO ERA SEU FILHO

Autor: Fabrício Carpinejar

Não posso nem chamá-lo de caro ou prezado, mas apenas usar seu nome: Leandro. Educação e respeito vão soar como cinismo.

Tampouco posso chamá-lo pelo sobrenome para indicar formalidade. Perdeu o direito do sobrenome. Seu filho pequeno está enterrado em seu sobrenome para sempre. Ele carregava seu sobrenome, você não soube carregar coisa alguma dele.

Tenho enfrentado vários pesadelos desde que ouvi a notícia de que seu menino de 11 anos fora morto pela madrasta.

Que seu menino foi posto numa cova às margens de um rio em Frederico Westphalen (RS) e poderia estar ainda vivo. Coberto pela terra quando deveria ser coberto pelo edredon para não passar frio de noite.

Seu filho foi enganado. Toda a vida enganado. Toda a vida humilhado. Na hora de seu fim, aceitou o passeio para longe de Três Passos porque jurava que receberia uma televisão.

Quando seu menino acordar dentro da morte, ele vai chamá-lo. Assim como toda criança chama seu pai quando tem medo do escuro. Vai chamá-lo e onde estará?

Ele acreditava que você era o herói dele. Estava exagerando para pedir que o salvasse, não entendeu o apelo?

Você nem pai foi. Nem homem foi. Você foi o que restou.

Como médico, não acha Bernardo uma criança um pouco grande para fazer um aborto?

O que dirá para irmãzinha dele? Que Bernardo está no céu? Que é uma estrela?

Perdeu também o direito de mentir. É você e sua memória sozinhos no silêncio. Só resta a memória para quem matou a consciência.

Nunca encontrará perdão. Deixou Bernardo desamparado. Deixou Bernardo com as mesmas roupas curtas, o mesmo uniforme escolar surrado, desde que a mãe faleceu. Deixou seu filho mendigar atenção pela cidade. Pelo fórum.

Não entendo o que leva um homem a anular sua família anterior por uma nova namorada. O sexo é mais importante do que a paternidade? A bajulação é mais importante do que a ternura? Queria estar disponível para festas? Cortar gastos?

Fingiu que Bernardo não existia para não atrapalhar a ambição da sua mulher? Fingiu que Bernardo não havia nascido para atender à exclusividade de sua mulher?

Filho não é escolha, é responsabilidade. Já casamento é escolha...

Se a mulher não gostava de seu filho, não deveria ter recusado o relacionamento?

Como seria simples. Bastava dizer "Ou meu filho ou nada!". É o que se fala no início do namoro.

Para você, nada.

Não é que você não tem mais nada, você não é mais nada. Abdicou de seu filho para ficar com alguém. Você não se contentou em abandonar sua família para criar uma segunda família, você aniquilou sua família para criar uma segunda família.

Obrigava Bernardo a esperar fora de casa até você chegar do trabalho, agora é você quem espera fora de casa.

Obrigava Bernardo a lavar as mãos para brincar com a irmã. Pois tente lavar suas mãos agora para tocar no rosto dele.

Tente todos os dias de sua paternidade. Sangue não sai com a culpa.



domingo, 23 de março de 2014

Desculpe, Neymar, mas nesta Copa eu não torço por vocês.

Compositor: Edu Krieger 

Desculpe, Neymar,
Mas nesta Copa eu não torço por vocês
Estou cansado de assistir ao nosso povo
Definhando pouco a pouco
Nos programas das TVs
Enquanto a FIFA se preocupa com padrões
Somos guiados por ladrões
Que jogam sujo pra ganhar
Desculpe, Neymar,
Eu não torço desta vez. 

Parreira, eu vi
Aquele tetra fez o povo tão feliz
Mas não seremos verdadeiros campeões
Gastando mais de 10 bilhões
Pra fazer Copa no país
Temos estádios lindos e monumentais
Enquanto escolas e hospitais
Estão à beira de ruir
Parreira, eu vi
Um abismo entre Brasis.

Foi mal, Felipão,
Quando Cafu ergueu a taça e exibiu
Suas raízes num momento tão solene
Revelou Jardim Irene
Um retrato do Brasil
A primavera prometida não chegou
A vida vale mais que um gol
E as melhorias onde estão
Foi mal, Felipão,
Nossa pátria não floriu. 

Eu sei, torcedor,
Que a minha simples e sincera opinião
Não vai fazer você, que ganha e vive mal,
Deixar de ir até o final
Junto com nossa seleção
Mesmo sem grana pra pagar o ingresso caro
Nunca vai deixar de amar o
Nosso escrete aonde for
Eu sei, torcedor,
É você quem tem razão.



 

domingo, 16 de março de 2014

Maria Corina Machado – Uma Mulher Valente

Diante de tantas parlamentares brasileiras que não fazem nada para melhorar a situação do Brasil, pelo contrário, só têm feito uma burrada atrás da outra, o que tem me decepcionado muito, pois não foi para isso que as mulheres lutaram tanto para conquistar espaço no meio político, esta venezuelana tem a minha admiração: Maria Corina Machado.
 Deputada e oposicionista ao governo de Nicolas Maduro, ela liderou um protesto de mulheres do lado de fora da sede da Guarda Nacional Bolivariana, em Caracas, Venezuela, na última quarta-feira.
Una mujer valiente vale más que diez mil hombres cobardes.
 
 

Sobre Voos e Relacionamentos

Alguns relacionamentos são iguais a uma viagem de avião. No início, todos embarcam felizes e com certas expectativas. Mas quando o avião começa a subir, alguns ficam com medo e não relaxam em nenhum momento, sempre esperando pelo pior; outros se divertem o tempo inteiro e não estão nem aí se o avião vai cair ou não, o que importa é a jornada e não o destino. Há também os que ficam sob o encantamento da novidade e ficam fascinados por tudo, até mesmo pelo pouco alimento que é dado a bordo. O que é uma barrinha de cereal perto do que a viagem provoca aos demais sentidos?
 
Há os que ficam enjoados e reclamam por tudo; há os que entram em pânico e querem sair do avião a todo custo, mas são contidos por palavras de conforto ou pelo uso da força; há os que fingem estar tudo bem, mas ficam rezando fervorosamente para chegarem ilesos ao final.
 
Relacionamento bom é como um voo que, apesar das turbulências e do medo do desconhecido, transcorre tranquilo até a aterrisagem, com direito ao piloto  ser aclamado pela competência. As pessoas desembarcam ilesas para novas viagens; sejam juntas ou separadas, elas sobrevivem.
 
Relacionamentos infrutíferos são como um avião sequestrado por terroristas. Em mãos inexperientes e erradas, depois de um certo tempo perde o rumo, não dá mais sinal de vida, dá voltas e mais voltas sem direção e nem controle, perde a altitude até cair no mar. Não há sobreviventes, só o silêncio e o vazio do nada.
 
Sobre esta sensação de vazio, Martha Medeiros escreveu em um de seus livros sobre o fim de relacionamentos:
"Nunca sofri um acidente de avião, mas já ouvi relatos de sobreviventes. Eles percebem a perda de altitude, a potência enfraquecida das turbinas, o desastre iminente, até que acontece a parada definitiva da aeronave e ouve-se um barulho fora do normal, algo verdadeiramente assustador. Então, após o estrondo, sobe do chão um silêncio absoluto. Por alguns segundos, ninguém fala, ninguém se move. Todos em choque. Não se sabe o que aconteceu, mas sabe-se que é grave. Alguma coisa que existia não existe mais.
É a quietude amortizante de quem não respira, não pensa, não sente nada ainda.
Só então, depois desse vácuo de existência, desse breve período em que ninguém tem certeza se está vivo ou morto, começam a surgir os primeiros movimentos, os primeiros gemidos, uma sinfonia de lamentos que dará início ao que está por vir: o depois."
 

Samba, Cachaça, Futebol e Crime

Não é somente à noite que temos de nos precaver contra a criminalidade. Bandidos estão assaltando e matando à luz do dia, a qualquer hora e nem se importam mais com possíveis testemunhas. Roubar virou atividade diária, um negócio.
A impossibilidade de conter o crime chegou a tal ponto, que há regras para ser uma "boa vítima", um kit de sobrevivência tipo: não reagir, não contrariar o bandido, entregar todos os pertences sem resmungar, tirar a roupa e entregar-se ao estuprador calmamente, andar sempre com dinheiro no bolso para dar ao ladrão, não se defender com armas que possam machucar a "vítima da sociedade opressora" etc. 
Este manual de sobrevivência já se internacionalizou. Países que participarão da Copa do Mundo, como a Alemanha e a França, já estão passando estas instruções para sua população, o que representa uma vergonha para os brasileiros. Pois não bastava o nosso país ser famoso pelo samba, cachaça e futebol, agora também é famoso pela corrupção e pelo crime.
Medidas protetivas e preventivas são inexistentes ou ineficazes, uma vez que nenhum investimento é feito na área da segurança pública. Pelo contrário, só temos leis que protegem os bandidos e lhes dão certas regalias, como os benefícios dos embargos infringentes e do semiaberto.
Sendo assim, uma vez que é impossível conter a criminalidade com o aumento da pena e com o cumprimento total da condenação - nenhum bandido cumpre todos os anos de prisão - seria interessante que os políticos criassem algum tipo de lei reguladora para a atividade de ladrão, um manual do "bom ladrão". Chega de apenas nós termos de seguir regras e leis para sobreviver! Os bandidos também devem ser ensinados a não matar suas vítimas, não lhes infligir dor, a despojar-lhes dos bens, mas não do direito de viver.
E como ensinar um bandido a não roubar, matar ou estuprar?
A resposta seria: punindo-o tantas quantas forem as vezes que ele tiver incorrido no mesmo crime até que ele não deseje mais ser um criminoso, nem que ele tenha de ficar o resto da vida numa prisão.
Antes a sociedade brasileira ser conhecida no mundo inteiro como a mais opressora de bandidos a ser conhecida como a mais oprimida por eles.
Mas para chegar a este ponto, primeiro é preciso oprimir deputados e governantes que afagam a cabeça de bandidos.
Se é para a sociedade ser opressora, que seja total e comece pelos seus governantes.
 

sexta-feira, 7 de março de 2014

31 DE MARÇO DE 1964 – UMA DATA A SER LEMBRADA


Autor: General de Exército Pedro Luis de Araújo Braga, presidente do Conselho Deliberativo do Clube Militar.
 
Completa no próximo mês o seu Jubileu de Ouro o Monumento Cívico-Militar ou a Revolução Democrática Brasileira, na realidade uma contra-revolução que salvou o País do caos para o qual estava sendo conduzido e que postergou, por vários anos, o êxito de nova tentativa de tomada do poder por uma minoria comunista, então encastelada nos sindicatos e outras instituições, bem como em diversas esferas do Governo.
Nossos detratores, os vencidos de então, que anistiamos na esperança de paz e de concórdia nacionais, incansáveis, obliterados e empedernidos que são, e outros que não viveram aqueles tempos sombrios mas que procedem como “o papagaio de casa de tolerância do interior”, rotulam-no de “Golpe Militar” que implantou a “ditadura” no Brasil. Este meio século, para eles, significa “anos de chumbo”, ou “anos de escuridão”.
A técnica da propaganda aconselha que os slogans, os chavões, as idéias-força, as palavras-chave, devem ser repetidas à larga, até tomarem foros de realidade. E não faltam “marqueteiros” milionários, vendedores de ilusão, para ajudar nesse mister, que conta com a ampla difusão de certa mídia, comprada ou comprometida ideologicamente, e que não respeita ética e nem tem compromisso com a verdade.
Se perguntarmos a um desses que engrossam tal corrente, até bacharéis, se sabem o que caracteriza uma ditadura e quais são os parâmetros de uma democracia, terão dificuldade em responder. Ignoram que todos os Presidentes Militares foram eleitos pelo Congresso e que a maioria dos países democráticos utiliza uma forma indireta de escolha de seus mandatários. Nunca se deram conta – ou esqueceram-se, ou jamais lhes disseram – por exemplo, que José Maria Alkmin, ex- Ministro da Fazenda de JK, foi o Vice-Presidente de Castelo Branco, e que Aureliano Chaves, ex-governador de Minas Gerais, o foi de João Figueiredo. Não lhes interessa lembrar que o MDB era o partido de oposição e que, por duas vezes, chegou a lançar candidato à Presidência da República, derrotado no voto. E que havia, circulando, jornais contra o governo, como, no Rio de Janeiro, o Correio da Manhã….Ditadura?
Mas, por que ocorreu, há meio século, o movimento de que estamos falando? A situação nacional deteriora-se a tal ponto que se temia um iminente golpe comunista, tal como o tentado em Novembro de 1935, para a tomada do Poder. Eram greves em atividades essenciais, desabastecimento, inflação galopante, comícios ameaçadores, serviços públicos em crise, as intimidações da CGT. E a Nação, cuja voz era a voz de Deus, aflita, temerosa, apelou para suas Forças Armadas – povo fardado que sempre, ao longo dos tempos, estiveram ao seu lado, pois nunca foram intrusas na História Pátria.
Como bem escreveu o lendário Osório, “a farda não abafa o cidadão no peito do soldado”. Sempre é bom lembrar a extraordinária “Marcha com Deus e a Família pela Liberdade”, que congregou, em passeata cívica e ordeira, um número incontável e inimaginável de bons brasileiros, de iniciativa e coordenação de Senhoras da sociedade.
No âmago das Forças Armadas, a disciplina e a hierarquia, suas bases constitucionais e verdadeiras cláusulas pétreas, eram violentadas às escâncaras. Inspirados na velha tática napoleônica, tentaram dividir-nos, para nos bater por partes. Falava-se, abertamente, em “classe dos sargentos” e “classe dos oficiais”, como se não houvesse uma classe militar única e indivisível, organizada em círculos hierárquicos, sob uma disciplina comum. Teciam-se frequentes loas aos chamados “Generais e Almirantes do povo” – os “legalistas”, afinados com o Governo e que colocavam a lealdade à figura do Presidente acima de seu compromisso para com a Nação, pois só esta é eterna – e os “Gorilas”, os que manifestavam preocupação com o estado das coisas e, por várias vezes, haviam alertado o Governo para a situação preocupante, na esperança de uma mudança sensata de postura. Mas o Comandante Supremo só ouvia os “pelegos” que tinham livre acesso a ele.
Muitos não querem lembrar da revolta dos sargentos em Brasília; da “Associação de Marinheiros e Fuzileiros”, que pregava abertamente a insubordinação e cujos dirigentes, seguidos por outros, acabaram refugiando-se no Sindicado dos Metalúrgicos, que lhes deu apoio e de onde foram retirados, presos; da reunião no Automóvel Clube do Brasil, no Passeio Público do RJ, com o incentivo e a presença de João Goulart, e do espetáculo deprimente de praças carregando nos ombros um Almirante, seu adepto – todos fardados -, demonstração inequívoca de quebra de disciplina e de hierarquia. Não interessa mencionar os comícios comunistas, a ação das Ligas Camponesas, dos “Grupos dos 11”… Era a própria revolução marxista em marcha!
Vitorioso o movimento democrático, tão solicitado e aplaudido pela maioria esmagadora da Nação e sem derramamento de sangue – diferente, pois, do que ocorreu em outros países onde foi implantado, pela força, o regime comunista – o Brasil ainda viveu anos difíceis, com o surgimento da luta armada, nas cidades e no campo: assaltos, seqüestros, roubos, atentados, guerrilhas. Foram os comunistas novamente derrotados e, outra vez, não contaram com o apoio da população.
Mas, como resultado ou vingança, nossos detratores rotularam todos os que, cumprindo ordens superiores, empenharam-se na defesa da democracia, como “torturadores”, tal como dão, genericamente, a todo profissional da área de Inteligência – essencial a qualquer Estado democrático – o epíteto de “Araponga”.
Derrotados naquela luta, apresentam-se hoje como “heróis da democracia”, cada qual fingindo ser um idealista que só queria o bem do Brasil… No fundo, há um interesse por indenizações, bolsas e cargos. E um exemplo dessa desigualdade e injustiça é patente: Mario Kozel Filho, um jovem soldado que durante a prestação do Serviço Militar inicial, estava de serviço de sentinela no Quartel-General do então II Exército, em S. Paulo, foi vítima de um atentado terrorista e morreu; sua beneficiária recebe pensão normal de 3º Sargento, graduação à qual foi promovido post mortem, enquanto que o assassino que o matou, anistiado, recebeu polpuda indenização e tem um salário mensal vitalício, isento de Imposto de Renda…
Guerrilheiros de ontem, condenados hoje por outros crimes recentes de corrupção e afins, têm a desfaçatez de se declararem “presos políticos”. De seus companheiros de aventura, hoje no Poder?
As obras destes cinquentas anos aí estão, Brasil afora. É impossível alinhá-las todas nestas poucas linhas. Bem feitas, porque construídas com competência, honestidade e fiscalização. Ninguém foi acusado de corrupção. Não houve majoração indecorosa de preços, nem “mensaleiros”, tampouco dinheiro na meia ou na cueca, nem lavagem e depósitos em contas em paraísos fiscais. Aqueles que as edificaram morreram pobres. Mas, para os detratores sempre ativos, é imperioso desvinculá-las daqueles que as idealizaram e tornaram-nas realidade. Daí até o nome de algumas tentam agora mudar.  Na modesta placa de bronze colocada na Ponte Costa e Silva, lê-se: “…É um exemplo da determinação do Povo Brasileiro em caminhar firmemente para o futuro.” Este era o espírito nacional àquela época! Os jovens cantavam: “Pra frente, Brasil!” Hoje, uma entidade que parece não ter nada mais para fazer, quer mudar-lhe o nome. Está olhando pelo retrovisor da História! Será que pretende retirar o nome de Getúlio Vargas, ou Presidente Vargas, que exerceu, verdadeiramente, o governo ditatorial, do Estado Novo, dado a inúmeras cidades, usinas, escolas, hospitais e tantos outros logradouros públicos, no País, de Norte a Sul? E a propósito, não reconhecem que tal ditadura de quinze anos só teve fim, na realidade, quando do regresso vitorioso dos nossos pracinhas que lutaram contra o nazi-fascismo no Teatro de Operações da Itália.
Agora, usando a mesma tática do grande general francês antes mencionado, procuram separar o “Exército de hoje” do “Exército de ontem”, fosso este que tentam cavar também nas outras Forças Singulares. Como se iludem! As infiltrações sensíveis de antes de 1964 nelas não se repetiram. Somos todos, da Ativa, da Reserva e Reformados, uma classe que pensa igual, que está alerta e vigilante, que troca ideias e que quer o progresso do País e o bem-estar do povo.
O Brasil, que nasceu sob a sombra da cruz e que, como diz o cancioneiro popular, “é bonito por natureza e abençoado por Deus”, será sempre uma nação cristã, fraterna e acolhedora, amante da paz, livre e democrata. Jamais será dominada pelos comunistas, mesmo que isto custe a vida de muitos. É o nosso compromisso.
Fonte: Sociedade Militar

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Mais Semelhantes Que Diferentes

Temos todos muito mais em comum do que de diferentes, mas apesar de reconhecer isso continuamos insistindo em sermos únicos e originais acima de tudo e, desafortunadamente, de todos também, mesmo sendo mais semelhantes do que diferentes.
Essa insistência na diferença é a fonte de inúmeros problemas dos quais te queixas amargamente a cada solitário instante do estreito destino que construíste para ti, esse labirinto existencial que te atormenta, mas ao qual tua alma está apegada, essa estreiteza inútil, porém, a essa que te agarras como se não houvesse nada mais para fazer aqui na Terra.
Tens medo de perder de vista “teu mundo”, “tua vida”, “teu destino”? Não deu ainda para constatar que a semelhança entre todos nós não desintegra nem empobrece “tua vida”? A única forma de enriqueceres se apoia justamente em reconheceres que, acima de tudo, és um semelhante e não um diferente.
O espaço em comum é maior do que teu espaço individual, o relacionamento entre as pessoas é maior do que cada uma delas individualmente. A lista de constatações é enorme, mas ainda estás aí, com a alma tão agarrada ao átomo individual que perdes a oportunidade de conhecer o infinito.
Quando começares a sair de ti começarás também a entender tua própria grandeza, até lá serás mais uma das tantas almas que tentam, em vão, colocar o pequeno no lugar do grandioso.
Não precisas competir mais, abandona esse frenesi absurdo, teu progresso não depende do fracasso alheio, mas de estabeleceres vínculos de solidariedade e colaboração mutua. Neste planeta a regra é clara, ou todos progredimos ou vivemos todos na miséria.
O quê? Pensas que não é assim? Os muros de tua casa não te salvam nem distanciam da miséria, essa surge de dentro, na mesquinharia que te impede sair de ti e conhecer o infinito. Podes ter viajado muito, teu passaporte pode estar cheio de carimbos e tu o exibes com orgulho, mas se não saíste de dentro de ti, ainda não conheceste nada nem ninguém.
Não importa, te digo que estamos todos tentando sair de nós mesmos, até nisso somos semelhantes.
 
*Oscar Quiroga, astrólogo, em 06/02/2014.
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Vaquinha do PT

Quem está bancando as vaquinhas dos mensaleiros? Eles atribuem à solidariedade do povo brasileiro. Mas que "povo brasileiro" é esse? As vítimas da seca no Nordeste? Não. As vítimas do alto índice de criminalidade? Não. Aqueles que estão em filas de hospitais esperando por um leito? Não. Os estudantes? Não, pois reclamam até do preço da passagem de ônibus. Os beneficiários do Bolsa Família? Não, pois não tirariam do leite das crianças para dar a parlamentares ricos. Da militância? Não, pois a militância já sobrevive de sanduíches de mortadela e lanches do McDonald's. Da elite? Não, pois sempre leva a culpa por todas as mazelas do PT - por que contribuiria?
O próprio partido está bancando as multas sob o disfarce de vaquinhas. É preciso dar a impressão que os mensaleiros são vítimas inocentes e que grande parcela do povo brasileiro está contribuindo porque é a favor da permanência deles no poder e que o STF é que está errado, que o Joaquim Barbosa é que foi injusto, que eles são amados e mártires. Continuam com as grandes mentiras para iludir as massas. Só espero que ninguém mais seja tão burro a ponto de acreditar nessas mentiras que eles  inventam para disfarçar a falta de caráter e de qualidades adquiridas ou herdadas.
 
 
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

MENDIGO DO AMOR - Por Fabrício Carpinejar

Até que ponto é possível amar sem ser amado?

Quando amamos platonicamente, o amor pode durar muito tempo. Pois não tem ninguém para estragar nossa idealização. Não há convivência para nos desafiar. É uma paixão estanque, feita de sonho e névoa. É uma vontade desligada da realidade. Temos a expectativa intacta, longe de contratempos. Acordamos e dormimos com o mesmo sentimento, longe de interrupção em nossa fantasia.
 
Mas quando amamos dentro de um casamento e quem nos acompanha não retribui o amor? Quanto tempo dura? Quanto tempo você suporta a secura, o desaforo, a grosseria? Quantos meses, se cada dia é um ano?
 
Nem estou falando de falta de sexo, mas a falta de beijo, de abraço, da telepatia rumorosa, do colo, de perceber seus cabelos sendo penteados pelas mãos, de ver seu rosto encarado de forma única e brilhante. Nem estou falando da falta de aventura, mas do conforto protetor, da cumplicidade, do afago que é viver com a certeza de que é admirado. Nem estou falando da falta de viagens, mas do mínimo da rotina apaixonada, ser cuidado mesmo quando está distraído. Não estou falando de arroubos e arrebatamentos, mas da vontade boa de morder seus lábios levemente quando suspira e de esperar o final de semana como um feriado.
 
Quanto tempo dura o amor sem retorno, sem reconhecimento?
Talvez pouco, quase nada. Quem não se sente amado não é capaz de amar. Não é problema de carência, é questão de tortura.
 
Extravia-se a cintilação dos olhos. Ocorre um bloqueio, uma desesperança, uma resignação violenta. É como dançar valsa sozinho, é como dançar tango sozinho. É abraçar pateticamente o invisível e não ter o outro corpo para garantir seu equilíbrio.
 
Você se verá um mendigo em sua própria casa, diminuído, triste, desvalorizado, esmolando ternura e atenção. Aquilo que antes parecia natural – a doação, a entrega, a alegria de falar e de se descobrir – será raro e inacessível. Todo o corredor torna-se pedágio da hostilidade. Passará a evitar os cômodos para não brigar, passará a evitar certos horários para se encontrar com sua esposa ou marido, passará a prolongar os períodos na rua, passará apenas a passar. Combaterá as discussões e gritarias anulando sua personalidade. Despovoará a sua herança, assumirá o condomínio do deslugar. Comerá de pé para evitar o silêncio insuportável entre os dois.
 
Quer um maior mendigo do que aquele que dorme no sofá em sua residência? Com um cobertorzinho emprestado e com a claridade das janelas violentando os segredos?
 
Por ausência de gentileza, perdemos romances. O que todos desejam é alguém que diga: não vou desperdiçar a chance de lhe amar. Alguém que não canse das promessas, que não sucumba ao egoísmo do pensamento, que tenha mais necessidade do que razão.
 
A gentileza é tão fácil. É fazer uma comida de surpresa, é convidar a um cinema de imprevisto, é pedir uma conversa séria para apenas se declarar, é comprar uma lembrancinha, é chamar para um banho junto, é oferecer massagem nos pés, é perguntar se está bem e se precisa de alguma coisa, é tentar diminuir a preocupação do outro com frases de incentivo.
Quando o amor para de um dos lados, o relógio intelectual morre. Não se vive desprovido de gentileza. A gentileza é o amor em movimento.
 
 
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 26/01/2014 Edição N° 17685