terça-feira, 28 de maio de 2013

Normal é ser vítima

No mês passado um juiz indeferiu o pedido de reparação de danos de um motorista cujo carro havia sido sinistrado sem que ele tivesse participado do acidente. O juiz alegou que acidentes de trânsito são normais e que uma pessoa, quando sai de carro, está sujeita a passar por esse tipo de perturbação (pena que não guardei a reportagem, só para provar que a história foi verídica). Ou seja, quem tem carro está sujeito a tê-lo danificado por qualquer motivo e não pode reclamar. É normal.
É tão normal quanto uma jovem sair de casa para trabalhar e ser estuprada a caminho do trabalho; é tão normal quanto um dentista entrar em seu consultório e ser queimado vivo; é tão normal quanto andar na rua e ser atropelado por um carro desgovernado; é tão normal quanto estacionar o carro numa rua e ser morto porque demorou a entregar a carteira; é tão normal quanto ficar dias com uma perna quebrada porque não há leitos e nem cirurgiões disponíveis; é tão normal quanto pôr um filho no mundo e depois perdê-lo para a criminalidade; é tão normal quanto morar num país onde normalidade significa ser vítima e não infrator.
É por isso que as leis penais protegem tanto àqueles que causam danos materiais e físicos a outras pessoas. Anormal é indenizar vítimas e familiares de vítimas, porque é algo que dificilmente acontecerá num país chamado Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário