O escritor americano Philip Roth não gosta de e-books e das influências da tecnologia moderna que desviam a atenção das pessoas, que, para ele, reduzem a capacidade das pessoas de apreciar a beleza e a experiência estética da leitura de livros em papel. Célebre por romances como A Marca Humana, Roth acha que não há nada que ninguém possa fazer a respeito disso.
Apesar de ser usuária eventual de e-books, uma vez que esse sistema me permite ter acesso a leituras que já não se encontram disponíveis em livrarias, concordo plenamente com o ponto de vista de Roth: e-books não substituem o prazer que é ler um livro deitada na cama, apreciando cada capítulo, em silêncio e concentrada. Ler livros – de papel – é para quem não tem pressa: é para quem precisa de tranquilidade após um dia estafante ou para distrair a mente dos problemas do dia a dia.
O mundo e as pessoas estão cada vez mais velozes: já não há tempo para perder, pois a tecnologia permite que estejamos em diversas “telas” ao mesmo tempo (televisão, computadores e, mais recentemente, redes sociais como o Facebook, Orkut e Twitter). Enfim, a maioria das pessoas – principalmente a ala jovem – vive distraída, sem ater-se a assunto algum, exceto a palavras sem sentido e a imagens. Tanto o escritor José Saramago quanto o cronista Luis Fernando Veríssimo já se referiram à comunicação do futuro como sendo de grunhidos. Veríssimo, em sua crônica “De Volta ao Grunhido”, imagina, num futuro próximo, marido e mulher sentados à mesa do café, sendo que, em vez de falar, digitarão seus diálogos cada um em seu terminal. Seres volatizados, tão perdidos no ciberespaço, que nem se lembrarão mais do agradável som de uma voz.
Não são somente os livros que estão perdendo espaço no nosso mundo moderno: os telejornais também. Quem tem tempo para sentar-se à frente de uma televisão para assistir às reportagens com a família reunida e depois partir para os comentários, o que acaba se transformando numa agradável discussão, críticas e exposição de pensamentos? A cada segundo é despejada uma avalanche de informações via bytes. Pra que assistir ao telejornal, se já se sabe o que está ocorrendo no mundo inteiro a cada minuto? A tecnologia moderna está afastando cada vez mais o convívio e a comunicação entre as pessoas de uma mesma família, essa é a verdade. Afinal, como conversar com um filho que está quase o tempo inteiro na frente de um computador? Como dialogar com um cônjuge que prefere os 140 toques do Twitter à simples pergunta: “como foi o seu dia”, que homens e mulheres antigamente costumavam perguntar um ao outro?
A comunicação entre as pessoas deve ser repensada. Essa avalanche que é despejada diariamente nos portais, e que atinge apenas um leitor solitário, demonstra o quão é necessário pensar na qualidade das informações oferecidas. Quanto às exigências tecnológicas, está tudo ali: imagens, sons, hiperlinks, animações. Mas o consumo dessas notícias é cada vez mais efêmero, desinteressado, uma leitura distraída. Lê-se tudo, apreende-se quase nada. O acesso a esse tipo de conhecimento não significa, necessariamente, a sua aquisição. Muitas vezes pode representar o quanto a informação pode desinformar, uma vez que as novas tecnologias não permitem que as pessoas retenham de maneira mnemônica todas as informações que lhes é jorrada diariamente.
Por não gostar de mudanças, posso ser julgada ultrapassada ou, na pior das hipóteses, uma louca. Se ser louca é não querer ver o fim da boa literatura e nem querer retornar à pictografia (não em pedras, mas em telas); se ser louca é não desejar ter como único critério para aprendizagem apenas um computador com modem e bom provedor de linha, então terei a loucura que Blaise Pascal já afirmava no século XVII: “Este mundo está tão louco que não ser louco é outra forma de loucura”.
Como em todas as situações existenciais, é preciso apenas descobrir o ponto de equilíbrio para que a tradição e a modernidade coexistam pacificamente. Entender o porquê disso é resolver o problema chave da chamada era da comunicação.
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