Quando eu era pequena, convivi com diversos tipos de “não”: “Não faças isso, podes te machucar!”; ”não subas neste muro, podes cair e quebrar um braço”; “não trates as pessoas desse jeito, sejas educada” etc. A pessoa que hoje sou foi formada por muitos desses “nãos”.
Quando crianças, o que molda o adulto que seremos é justamente os limites impostos por nossos pais. Temos de ouvir inúmeros nãos até aprendermos o que pode ser um “sim, isso é correto”. E quando nos comportamos de maneira a orgulhar nossos pais é como se tivéssemos ganhado uma medalha de honra ao mérito.
Isso, até nos apaixonarmos pela primeira vez. Caem por terra todos os alertas de nossos pais para que não nos machuquemos. Então aprendemos que amar pode nos machucar, mas que não estamos nem aí. O amor é uma força inexpugnável: não é vencido com razões, promessas ou ameaças. De nada adianta tudo isso quando estamos à flor da pele. O sentir é mais poderoso que o pensar racionalmente. Tornamo-nos reféns dos nossos sentidos.
Há quem saiba equilibrar a razão com a emoção. Pessoas assim costumam ser bem sucedidas, são equilibradas. Aprenderam com os muito “nãos” que receberam quando crianças. Sabem que não devem fazer com o outro o que não gostariam que fizessem com elas mesmas, e que o prazer com dor deve ser evitado, principalmente se o prazer for causar dor ao próximo. Abnegação, altruísmo, isso é o que eu considero o verdadeiro amor, desde que ninguém saia ferido. E isso só é possível na maturidade, quando aprendemos a controlar melhor nossos instintos.
Entristece-me ver o quanto a palavra “amor” é deturpada hoje em dia e justamente por pessoas que se dizem maduras e experientes. Em nome do amor que julgam sentir, roubam o cônjuge do próximo (a). Em nome do amor, desejam destruir uma família. Em nome do amor, investem em relacionamentos infrutíferos, mesmo sabendo que sairão machucados ou machucarão alguém. Pensam que o fato de estarem “à flor da pele” lhes confere o poder de interferir na vida de alguém, de se aproveitarem das carências alheias a seu bel-prazer. Em nome do amor, pessoas egoístas e problemáticas pensam que podem tudo, até mesmo roubar o afeto do qual se julgam merecedoras.
Não sou de meias palavras. Vou direto ao assunto. Sou contra qualquer tipo de traição. Traição é uma palavra feia; significa mentiras, subterfúgios, enganação, estratégias de como trair bem e melhor, hipocrisia. Nunca traí, pois fui ensinada desde criança que é bem melhor dormir com a consciência limpa. E meu sono sempre foi tranquilo. Vivo em paz comigo mesma e gosto da minha companhia. Jamais desejei ser feliz à custa da infelicidade alheia. E se algum dia alguém me traiu, simplesmente me afastei. Relacionamento bom é aquele que cria laços que enfeitam e não nós que apertam e ferem a carne. Amar não significa rastejar com os joelhos sangrando.
“Ama ao próximo como a ti mesmo”, diz o sermão. Mas eu acrescento: “mas começai por vós mesmos”. Quem se ama jamais vai procurar sofrer gratuitamente, mesmo em nome do amor que julga sentir, e nem irá buscar ser feliz à custa do sofrimento alheio. Pessoas que se envolvem com pessoas casadas não amam nem a si mesmas e nem ao próximo. E nem deveriam justificar seus atos ignóbeis usando este belo sentimento que se chama “amor”.
Se fossem pessoas amoráveis de fato, saberiam que o amor é livre, é justo e que não machuca nem a si e nem a ninguém.
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