domingo, 23 de setembro de 2012

O Fantasma da Lagoa dos Barros

Como se não bastassem os ventos da cidade de Osório, que muitos dizem deixar o povo louco, cada lagoa do município tem uma história sobrenatural para ser contada.
A gente do lugar adora contar histórias sobre os mistérios que rondam aquelas águas. Da lagoa dos Barros, entre Osório e Santo Antônio da patrulha, no rio Grande do Sul, já se disse muito.
Já se disse que a lagoa é amaldiçoada.
 
Não há peixe, não há camarão, não há alga, não há nada, nenhum ser vivo pode existir ali, de tão forte o feitiço. Ninguém nela toma banho, ninguém acampa em suas margens ou se arrisca a dar uma voltinha de barco, por mais breve que seja.
Falam que a água é envenenada, que se não morrer na hora o vivente falece logo depois, após muita febre e dor de cabeça, punido pela imprudência. Também corre de boca em boca a crença do redemoinho. O redemoinho fica bem no meio da lagoa, suga qualquer nadador ou embarcação e larga no oceano, a milhas da costa.
Já se disse, ainda, que a lagoa é encantada.
 
Viajantes noturnos juram que ali se apresenta um espetáculo sem par, coisa só descrita na mitologia grega. Fadas translúcidas, ninfas circulando sobre as águas, cavalgando em corcéis brancos, dançando ao som do vento. Sobre o vento também se fala: de tempos em tempos ele deixa de ser vento e vira música.
Mas a mais famosa história ligada à Lagoa dos Barros fala de um caso passional. Lá a noiva Maria Luiza, morta há anos, pode ser vista, vestida de branco, sobre as águas.
 
A lenda surgiu de um caso real. Nos idos da década de 1930, uma moça foi encontrada morta nas proximidades da lagoa. Alguns dizem que ela teria sido morta pelo próprio noivo. Os dois voltavam da festa de casamento, e ao passar pela lagoa, talvez possuído pelos maus espíritos que rondam o local, ele a estuprou e tirou sua vida. Com requinte de crueldade, a noiva teria sido enforcada com o próprio véu.
Outros contam que o motorista da família era por ela apaixonado e não correspondido. O amor impossível teria, então, um fim trágico. Corroído de ciúme do noivo a quem a moça era prometida, o motorista assassinou Maria Luiza na beira da lagoa quando a levava para casa à noite. Depois do crime, amarrou uma corda presa a uma pedra no pescoço de sua adorada, que foi jogada n´água.
Apesar dos esforços da polícia, a morte de Maria Luiza nunca foi esclarecida. A falta de punição para o assassinato gerou a crença geral de que a alma da noiva ficaria vagando pela lagoa, para sempre, tornando o local mais temido e comentado do que já era.
Seja do fundo da lagoa ou do além, a noiva aparece de vestido, véu e grinalda, assustando os motoristas.
Tem noites em que ela aparece na beira da estrada, suja, ferida e pálida, pedindo carona. A pobre alma que se oferece para ajudá-la tem de se preparar para o susto. A noiva se evapora no ar no meio da viagem.
Verdade ou não, todo o povo de Osório sabe que há algo de estranho na lagoa dos Barros, isso há.
 
(Lendas Gaúchas – volume 1 – Zero Hora)
Observação:  Realmente houve um crime. Um casal de namorados saiu de um baile da Sociedade Germânia, no bairro Moinhos de Vento, de moto, em direção ao litoral, e ele, por ciúmes, a matou ao lado da Lagoa dos Barros.

 

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