Como se não bastassem
os ventos da cidade de Osório, que muitos dizem deixar o povo louco, cada lagoa
do município tem uma história sobrenatural para ser contada.
A gente do lugar
adora contar histórias sobre os mistérios que rondam aquelas águas. Da lagoa
dos Barros, entre Osório e Santo Antônio da patrulha, no rio Grande do Sul, já
se disse muito.
Já se disse que a
lagoa é amaldiçoada.
Não há peixe, não há
camarão, não há alga, não há nada, nenhum ser vivo pode existir ali, de tão
forte o feitiço. Ninguém nela toma banho, ninguém acampa em suas margens ou se
arrisca a dar uma voltinha de barco, por mais breve que seja.
Falam que a água é
envenenada, que se não morrer na hora o vivente falece logo depois, após muita
febre e dor de cabeça, punido pela imprudência. Também corre de boca em boca a
crença do redemoinho. O redemoinho fica bem no meio da lagoa, suga qualquer
nadador ou embarcação e larga no oceano, a milhas da costa.
Já se disse, ainda,
que a lagoa é encantada.
Viajantes noturnos juram que ali se apresenta
um espetáculo sem par, coisa só descrita na mitologia grega. Fadas
translúcidas, ninfas circulando sobre as águas, cavalgando em corcéis brancos,
dançando ao som do vento. Sobre o vento também se fala: de tempos em tempos ele
deixa de ser vento e vira música.
Mas a mais famosa história ligada à Lagoa dos
Barros fala de um caso passional. Lá a noiva Maria Luiza, morta há anos, pode
ser vista, vestida de branco, sobre as águas.
A lenda surgiu de um
caso real. Nos idos da década de 1930, uma moça foi encontrada morta nas
proximidades da lagoa. Alguns dizem que ela teria sido morta pelo próprio
noivo. Os dois voltavam da festa de casamento, e ao passar pela lagoa, talvez
possuído pelos maus espíritos que rondam o local, ele a estuprou e tirou sua
vida. Com requinte de crueldade, a noiva teria sido enforcada com o próprio
véu.
Outros contam que o
motorista da família era por ela apaixonado e não correspondido. O amor
impossível teria, então, um fim trágico. Corroído de ciúme do noivo a quem a
moça era prometida, o motorista assassinou Maria Luiza na beira da lagoa quando
a levava para casa à noite. Depois do crime, amarrou uma corda presa a uma
pedra no pescoço de sua adorada, que foi jogada n´água.
Apesar dos esforços
da polícia, a morte de Maria Luiza nunca foi esclarecida. A falta de punição
para o assassinato gerou a crença geral de que a alma da noiva ficaria vagando
pela lagoa, para sempre, tornando o local mais temido e comentado do que já
era.
Seja do fundo da
lagoa ou do além, a noiva aparece de vestido, véu e grinalda, assustando os
motoristas.
Tem noites em que ela
aparece na beira da estrada, suja, ferida e pálida, pedindo carona. A pobre
alma que se oferece para ajudá-la tem de se preparar para o susto. A noiva se
evapora no ar no meio da viagem.
Verdade ou não, todo
o povo de Osório sabe que há algo de estranho na lagoa dos Barros, isso há.
(Lendas Gaúchas –
volume 1 – Zero Hora)
Observação: Realmente houve um crime. Um casal de
namorados saiu de um baile da Sociedade Germânia, no bairro Moinhos de Vento,
de moto, em direção ao litoral, e ele,
por ciúmes, a matou ao lado da Lagoa dos Barros.
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