A escritora Rosamund Pilcher estava certa quando disse que devemos guardar apenas nossas lembranças, o resto é para ser usufruído. Têm pessoas que guardam por anos a fio objetos que poderão servir para alguma coisa mais tarde, só não sabem quando, como e nem por quê. Movidas por um sentimento de nostalgia, talvez, ou porque lhes é difícil desfazer-se de coisas que já não servem mais, guardam para a posteridade algo que não cabe mais em seus corpos ou em suas existências atuais. Passou, é passado.
Há quem guarde dinheiro e morra antes de poder gastá-lo numa viagem; há quem guarde vestidos para uma ocasião especial e nunca chegue a usá-los, porque aumentou o manequim ou porque saíram de moda; há quem guarde objetos sem utilidade porque fez parte da infância ou tem valor sentimental; há quem guarde roupas velhas e fora de moda quando poderiam esta sendo usadas por pessoas mais necessitadas; há quem guarde até embalagens de balas ofertadas pelo primeiro amor e há quem não guarde nada, mas deixa o histórico guardado em algum lugar do inconsciente, pois nada mais é tão pessoal quanto as nossas lembranças, as quais não seriam compreensíveis para quem não as vivenciou conosco.
Eu me desfiz de várias coisas hoje. Fiz uma faxina que preencheu quatro grandes sacolas, sendo duas delas com objetos para doar e duas com coisas imprestáveis para pôr fora.
É incrível como armazenei coisas que fizeram parte do meu passado e que não deveriam mais estar comigo. Meu passado não me pertence mais, não há por que mantê-lo vivo e dentro da minha casa. Rasguei fotografias de pessoas que nada mais significam e que seguiram por caminhos diferentes dos meus, não porque tenha ressentimento, mas porque não interessarão a pessoas que fazem parte da minha vida atual ou a quem porventura vier a fazer. Guardei somente fotografias onde apareço sozinha, com meus familiares, filho e amigos significativos. Os momentos que vivi ao lado de diferentes pessoas, tenham sido bons ou maus, devem ficar na minha mente, como aprendizado; no meu coração, como parte da minha evolução pessoal ou no vazio do esquecimento total.
Vale a pena guardar relíquias durante toda a vida quando se viveu com uma pessoa só ou quando se teve um único grande amor. Fotografias mostrando um casal desde o seu casamento, nascimento do primeiro filho, as festas em família, os rostos envelhecendo, todas as bodas, a chegada dos netos, tudo isso é emocionante e torna-se um bem para as demais gerações, mesmo que um dia seja posto fora ou queimado. Mas quem não viveu uma única vida, quem nunca teve a dádiva de ter encontrado a alma gêmea, deve guardar apenas as lembranças das pessoas que um dia cruzaram seu caminho.
De hoje em diante nada mais guardarei. E se guardar por ser meu momento atual, deletarei quando já não for mais. Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Para a posteridade deixarei apenas a pessoa que fui.
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