quarta-feira, 25 de abril de 2012

Quando a Relação se Transforma em Doença

Situação real: Ele tinha uma esposa, dois filhos lindos, uma parceria nos negócios, até se envolver com uma funcionária, vinte e poucos anos mais jovem. Perdeu a cabeça, viveu um tórrido relacionamento até abandonar tudo para viver com aquela mulher que tinha idade para ser sua filha. E começou um inferno que durou cinco anos até ter o desfecho que era esperado.
Eram brigas e mais brigas, pois seu “amor”, por ser mais jovem, queria tudo e mais um pouco dele, queria atenção a todo custo, queria até o que toda mente psicótica quer: a saúde de sua vítima. E foi isso o que conseguiu depois de atazanar a vida daquele homem, da ex-mulher e dos filhos dele: fez com que ele tivesse  um acidente vascular  cerebral. Ficou vinte dias internado, entre a vida e a morte. E ela, pensando que ele iria morrer e deixar tudo para os filhos e a ex-esposa, “limpou” a conta bancária dele e da empresa, levou-o à bancarrota e não foi um dia sequer vê-lo no hospital. Abandonou-o após certificar-se que dele já não poderia extrair muita coisa. Após sair do hospital, sem ter onde morar ou quem cuidasse dele, voltou a morar com a esposa abandonada e agora corre contra o tempo para recuperar o afeto que negou aos filhos por causa daquela ruindade ambulante.
Quando perguntei por que ele havia deixado sua esposa para ficar com uma mulher tão malvada, ele respondeu: “Porque ela (a ex)  era dócil demais, boa demais, fazia todas as minhas vontades”. Pois é, só que agora é a bondade em pessoa, a abnegada ex-mulher, que está cuidando dele.
Para muitos casais, brigar torna-se um hábito, um modo de se relacionar. O problema é que isso desgasta tanto o relacionamento quanto as pessoas envolvidas. Por causa de um vício, muitas vezes levado pelo sentimento de posse ou afinidade sexual, precisam brigar para “confirmar” o vínculo.
Conheço muitas pessoas que já viveram um relacionamento doentio. A relação patológica é aquela que se firma sob um pacto neurótico, baseando-se num princípio de cumplicidade que age contra a saúde emocional dos envolvidos. Ela pode começar com um aspecto saudável, resultado de real afinidade sexual e afetiva, mas não demora para que a patologia apareça, pois esse tipo de relacionamento doentio se expressa na forma de ciúme, de competição ou de agressividade, entre outras condutas desgastantes, e acaba com a saúde emocional e física de um ou dos dois parceiros. Quem vive uma relação assim muitas vezes tem dificuldade de se desvencilhar do parceiro porque sente que algo o prende a ele ou porque acredita que o ama demais para deixá-lo, mesmo sabendo do alto preço que está pagando. São relacionamentos corrosivos, que vão devorando, aos poucos, a saúde emocional e a autoestima dos envolvidos, ou pelo menos de um deles, e costumam causar danos graves, inclusive danos cerebrais. Às vezes, é preservada a aparência de uma relação apaixonada, mas nada mais é que uma relação de posse, egoísta, nociva, que causa uma dependência, só que, nesse caso, a droga não é um produto químico ou álcool, é o parceiro ou parceira. A parte mais prejudicada pensa em se separar, deixar a pessoa que lhe faz tanto mal, mas não consegue e acaba por adiar a decisão. A culpa e a baixa autoestima colaboram para adiar a separação, ainda que a situação seja intolerável.  Algumas vezes a pessoa prejudicada e desgastada moral e fisicamente consegue sair de casa, mas acaba voltando, por não conseguir ver-se livre da droga. Mas é possível brigar contra a inação e buscar a liberdade.
Claro que o fim de qualquer relacionamento  exige um tempo para amadurecer a decisão, mas numa relação desse tipo o melhor é que esse tempo não se prolongue, pois nunca chegará o dia em que o rompimento será fácil. O ideal é que se criem artifícios para impulsionar a separação e para tornar a fase pós-término menos dolorosa. Retomar velhas amizades, buscar um trabalho motivador, dedicar-se a um hobby, praticar exercícios ou fazer um curso são algumas possíveis atitudes a serem tomadas - sem deixar de citar a possibilidade de ingressar em uma terapia. É bom ressaltar que uma relação  doentia costuma deixar marcas e até prejudicar envolvimentos posteriores, que podem ser experimentados com desconfiança e temor. Mas, em grande parte dos casos, ficam lições importantes que ajudam a mudar - para melhor - o padrão de relacionamento. As escolhas, dali em diante, provavelmente se tornarão mais maduras e saudáveis. Ao se desvencilhar de uma relação patológica, a pessoa se sente fortalecida, satisfeita consigo mesma pela coragem de dar fim a um ciclo autodestrutivo e por manter essa decisão apesar de todas as tentações de uma recaída. E, sobretudo, fica feliz pela liberdade conquistada.
Há também a possibilidade do opressor, homem ou mulher, não poder ver a sua vítima ser feliz sem ele e assim passar a persegui-lo para tentar mais uma vez destruir o que julga ainda possuir. E caso o opressor volte a incomodar, a fazer falsas promessas de que vai mudar, o bom é manter-se firme e não deixar-se alucinar novamente pela droga. Lembre-se: para a dependência não existe cura, mas apenas recuperação. E esta só é conseguida com muita, mas muita mesmo, força de vontade para desejar o próprio bem.
Obs.: No caso do meu amigo, após saber que aquela que foi seu vício continua sendo a mesma pessoa psicótica para com o novo namorado, envolvendo-se em brigas que se tornam caso de polícia – da última vez quebrou o braço dele –, curou-se na marra!

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