sábado, 19 de março de 2011

Anti-Heróis Inesquecíveis

Já me referi às anti-heroínas que preencheram minhas horas de lazer com suas atitudes emocionantes e nada convencionais. Agora vou citar os meus mais amados anti-heróis, aqueles que sempre povoaram meu imaginário.
Chamo-os de anti-heróis porque praticam a justiça por motivos egoístas, pessoais ou por vaidade, e matam não por motivos altruístas, mas por vingança. Por serem sujeitos carismáticos, e tendo objetivos justos ou ao menos compreensíveis, jamais poderiam ser considerados vilões. Suas atitudes, mesmo levando outras pessoas à morte e ao sofrimento, são consideradas lícitas e sempre obtêm aprovação.
São estas as principais características de um anti-herói, o que o torna muito mais interessante que muito “certinho” inexpressivo e insosso: alto nível de inteligência e percepção, esperto e portador de habilidades especiais, sofisticação e introspecção, mistério, magnetismo e carisma, poder de sedução e atração sexual, conflitos emocionais, desgosto por instituições sociais e normas, desrespeito a hierarquias e privilégios, entre outros.

PERSONAGEM V, DO FILME “V DE VINGANÇA”


"A anarquia ostenta duas faces: a de Destruidores e a de Criadores. Os Destruidores derrubam impérios, e com os destroços, os Criadores erguem mundos melhores." (V)
"Um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua ideia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos." (V)
Por trás desta máscara existe uma ideia. E ideias são à prova de balas”. (V)

V, do filme “V de Vingança”, é um terrorista mascarado cujo objetivo é explodir o Parlamento da Inglaterra e, dessa forma, estimular as pessoas a abandonar a apatia, pensarem por si mesmas e reassumirem o controle das próprias vidas.
É um personagem enigmático e fascinante, sempre mascarado e vestido de negro, que cita Shakespeare enquanto maneja facas com velocidade e destreza impressionantes, passando à plateia uma imagem poderosa e inesquecível.
É um romântico à moda antiga, culto, com gosto pela erudição e extremamente habilidoso, encantando o telespectador pela mensagem de esperança, mesclando falas otimistas, poéticas e ao mesmo tempo irônicas e contundentes.
Mas o que me marcou mesmo foi a excelente atuação do ator Hugo Weaving. Apaixonei-me por sua voz cadenciada, sua postura cênica, sua retórica fantástica. Soube transformar o personagem num ícone de educação e cavalheirismo, mesmo sendo um combatente, um expert na arte da falácia e do logro.
Enfim, o filme foi tão bom, o anti-herói tão carismático, que fiquei apaixonada. Além disso, consegue prender a atenção do início ao fim e as falas são marcantes.

HEATHCLIFF – DA OBRA “O MORRO DOS VENTOS UIVANTES”


Se olho para essas lajes, vejo nelas gravadas as suas feições. Em cada nuvem, em cada arvore, na escuridão da noite, refletida de dia em cada objeto, por toda a parte eu vejo a tua imagem. Nos rostos mais vulgares dos homens e mulheres, até as minhas feições me enganam com a semelhança. O mundo inteiro é uma terrível testemunha de que um dia ela realmente existiu, e eu a perdi para sempre.” (Heathcliff)
Onde está ela? Não está lá...não está no céu ...não morreu....onde é que ela está? ....Eu não posso viver sem a minha vida! Eu não posso viver sem a minha alma”. (Heathcliff)                      

Apaixonei-me por este personagem tão passional, atormentado e vingativo desde o primeiro capítulo do livro. Ao saber do noivado de sua adorada Catherine com seu rival Edgar Linton, Heathcliff deixa o Morro dos Ventos Uivantes, retornando mais tarde rico e com sede de vingança, por ter sido privado da presença dela. Quer despejar seu ódio sobre todos os que considera culpados por seu sofrimento, sentimento este que se intensifica após a morte de Catherine. Não contente em se vingar dos seus contemporâneos, vinga-se também na geração seguinte, mais precisamente nos filhos de Catherine e de Hindley, irmão dela, que o humilhava desde que eram crianças.
O apaixonado e passional Heathcliff é o arquétipo do herói byroniano, cuja paixão é tão intensa que chega a destruir a si mesmo e aos outros a seu redor.

MAXIMUS – DO FILME “O GLADIADOR”


Meu nome é Maximus Decimus Meridius, comandante dos exércitos do Norte, General da Legião dos Félix, servo fiel do real Imperador, Marcus Aurelius. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada, e eu terei a minha vingança, nesta vida ou na outra”. (Maximus)
O que fizemos em vida, ecoa na eternidade”. (Maximus)

É de arrepiar, não?
Depois de escapar da morte, Maximus só consegue sobreviver tornando-se escravo e passa a treinar para ser gladiador na arena, onde sua fama cresce. De volta a Roma, sua intenção é vingar os assassinatos de sua mulher e de seu filho, matando o novo Imperador.  Maximus sabe que o único poder mais forte que o do Imperador é o desejo do povo, tornando-se, assim, o maior herói de todo o Império, só para realizar sua vingança.
Apesar de sua sede de vingança, em nenhum momento ele perde a sua honra e dignidade. Mata, mas somente para defender-se e provar sua força a fim de se tornar um herói.
Nos estudos filosóficos de Platão, na Grécia antiga, os quatro principais valores do homem eram as seguintes: a) Justiça, que ordena e harmoniza; b) Prudência ou Sabedoria, que é a virtude da própria alma racional; c) Fortaleza ou Valor, onde o prazer é subordinado ao dever e não o contrário; e d) Temperança, equivalente ao autodomínio, à harmonia individual.
E nosso gladiador possui todas essas virtudes e muito mais. É um típico herói: conquistador, forte, másculo, honesto, justo, desejado, sedutor, fiel, amoroso, glorioso, misericordioso, libertador, possui espírito de liderança, bravura, sabedoria, resistência, temperança, coragem, devoção, virtuosidade etc.
Enfim, o máximo!

ERIK, O FANTASMA DA ÓPERA – DO FILME “THE PHANTOM OF THE OPERA”


Uma odiosa gárgula que queima no inferno, mas que deseja o céu”. (Erik)
Você é a única que pode fazer minha canção voar, ajudar-me a fazer a música da noite”. (Erik)

Há anos em cartaz em várias partes do mundo e filmado em diversas versões para o cinema, o que atrai tanto as pessoas para esse personagem tão enigmático?
O Fantasma da Ópera combina vários ingredientes: romance, horror, ficção, mistério e tragédia. É a história de um amor sombrio e obcecado, na Paris de 1870, de um homem atormentado pela sua deformação por uma soprano que ele ajudou a elevar. A força desta obra está na simbologia, com forte presença de figuras e arquétipos que dominam os personagens principais, destacando a luta de Christine entre o real (Raoul) e o imaginário (Erik).
Erik sofre imensamente quando percebe que Christine prefere o belo e rico, Raoul, a ele, uma criatura cuja deformidade do rosto também deformou sua alma, por anos de humilhações e de desprezo. Ele implora, através da música, que Christine, seu grande amor, compartilhe de sua vida, salvando-lhe da solidão e regenerando seu espírito tão atormentado pelos anos de desamor. Ela encanta-se com ele, por julgá-lo um gênio perfeito, mas ao arrancar-lhe a máscara, depara-se com a mais horrenda das criaturas. Entre o belo e o feio, ela prefere Raoul, com suas feições finas e aristocráticas. Erik, desesperado, tenta de todas as formas atraí-la para si, inclusive raptando-a e levando-a para as profundezas de seu esconderijo. E o que Erik poderia oferecer a ela senão uma vida de obscuridade, sua vida e seu amor? Christine sempre o olharia com repugnância, não por causa de sua deformidade física, mas pela perversidade de sua alma. Compreendendo que ela teria um futuro melhor com seu rival, deixa-a livre. Então, quebra todos os espelhos que refletem não apenas seu rosto, mas também suas impossibilidades, sumindo no vazio de sua solidão.
Restam, assim, a mocinha e o mocinho felizes para sempre e o vilão, derrotado.
A obra é triste, muito triste, talvez a mais triste jamais escrita. Fico pensando: se ela tivesse dado uma chance ao fantasma, será que não poderia tê-lo transformado num ser melhor? Quantos “fantasmas” não existirão por aí, ansiando por serem amados, mas que são preteridos  em nome da felicidade de seres que se julgam perfeitos e, por isso mesmo, pensam ser mais merecedores de amor e de consideração?
Odiei Christine, a ingrata, e Raoul. Amei o anti-herói que lutou tanto e que perdeu para a beleza plástica e a riqueza. Poderia ter sido salvo.
Erik, devastado em sua dor pelo amor não correspondido, merecia mais um final feliz do que os tediosos protagonistas....e mocinhos.
Que vivam sempre os anti-heróis. Sem eles, jamais existiriam excelentes obras e magníficos filmes.
E nem uma loba aqui, babando de admiração sobre o teclado, enquanto digita estas linhas.

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