sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Sociedade das Formigas – Por João Carlos Amaro Neto

As formigas são seres extremamente interessantes. Elas trabalham do nascimento à morte sem reclamar, sem direitos trabalhistas e sem se associarem a nenhum sindicato de categoria. No caso específico das formigas temos três classes: a rainha, os soldados e as operárias.

As formigas quase alcançaram o ideal marxista de uma sociedade sem classes. Salvo o fato da existência da rainha, o que as torna parecida com a sociedade inglesa. Contudo, isso representa um toque aristocrático à sociedade das formigas e não as faz desesperar jamais.
Aliás, as formigas são extremamente disciplinadas, tais como os russos, e muito operosas, como os chineses. Com elas o carnaval e o samba não fazem nenhum sucesso.

Alguns dizem (as más línguas) que as formigas são autômatos biologicamente determinados. Em sua natureza está impressa de forma indelével o mandamento divino: “Ganharás o pão com o suor do teu rosto.” Isso no sentido metafórico, pois jamais foi observada uma padaria nos formigueiros, não sei se podemos falar de rosto no caso das formigas e também ignoro se elas suam.

As formigas não odeiam, não invejam, não roubam, nem traem. Em compensação, não amam, não sonham, não criam e não evoluem socialmente.
Em todos os sentidos as formigas não têm livre-arbítrio. Mas, não engordam, pois não ficam se martirizando por aquele bocadinho a mais ou aquele toucinho supimpa.

As formigas nascem, crescem, vivem e morrem para trabalhar em prol do formigueiro e não ganham nem uma cova no fim da vida. Outra desvantagem da vida de uma formiga é que o sexo é reservado para a realeza. Vida de formiga é dura!

Os políticos teriam grandes problemas com as formigas. Como não sonham, não evoluem e não tem tempo de lazer as formigas não seriam presas fáceis do proselitismo político.
Marx certamente ficaria orgulhoso da sociedade das formigas, apesar de tentar levá-las a destronar a rainha que representa, em última instância, uma classe privilegiada parasitária das benesses do trabalho socialmente produzido. Não sei se lograria êxito em tal empreitada, mas o aconselharia a tentar comover os soldados, pois as operárias são muito atarefadas. Além disso, os soldados têm a força e a disposição necessárias para depor a rainha. É bem verdade que a reposição populacional ficaria comprometida, mas depois seria dado um jeito por meio de um decreto revolucionário.

Felizmente, ou infelizmente, o homem não é uma formiga.

O homem é um ser difícil de contentar. Aliás, uma de suas características mais marcante é o descontentamento. Parece acreditar que na mudança permanente está a redenção e a felicidade. O homem vive correndo atrás do pote de ouro no final inalcançável do arco-íris.
O homem tem muitos defeitos que estão caprichosamente distribuídos pela população.
Uns odeiam, outros amam; os que odiavam antes amam agora e vice-versa.
O homem sonha e depois, quando realiza seu sonho, se arrepende. As razões são inumeráveis: não sabia que a sogra vinha junto; não sabia que doía tanto; não sabia que custava muito; e por aí vai.

Os homens sonham, criam, constroem, destroem, renovam, casam, separam; casam, separam; casam, separam; e haja pensão.
Os homens não são iguais entre si e muito menos são iguais às formigas. E é por causa disso que eu não creio na utopia.
Para mim, o socialismo é igual à sociedade das formigas: uma grande massa de “trabalhadores”; “soldados” encarregados da defesa interna (repressão) e da externa (invasão); e uma “rainha” que congrega a cúpula do partido único, “pelegos” e adeptos de ocasião. O ideal do bem comum está direcionado para a satisfação dessa minoritária “realeza”, a qual usa o discurso da “igualdade” e da “sociedade sem classes” como justificativa para a manutenção do status quo: eles lá em cima e a massa aqui embaixo.

Eu não desejo ser apenas mais uma formiga no formigueiro. Eu sonho para meus descendentes um mundo em que eles sejam homens caminhando entre iguais, com seus sonhos, ideais e esperanças e com plenas condições para realizá-los. No caminho encontrarão obstáculos, pedras, atalhos e estradas, mas faço votos de que possam decidir por si mesmos que caminho seguir e aonde querem chegar sem ter que dar satisfação a nenhum “grande irmão”.

Referências e inspiração: A revolução dos bichos, 1984 e Admirável mundo novo. 

Um comentário:

  1. Agradeço a publicação do meu texto. Um texto é como um filho: temos muito orgulho dele, mas sempre que o vemos temos vontade de corrigi-lo.
    Paz, saúde, força e fé para ti e os teus. Forte abraço, guria.

    ResponderExcluir