É incrível como os relacionamentos começam e terminam numa velocidade impressionante. Sou do tempo em que uma relação era construída aos poucos, seguindo todas as etapas: flerte, sedução, a conquista da pessoa que se queria ao lado, namoro, compromisso e, talvez, casamento. Nem sempre durava para sempre, é claro; durava o tempo necessário para que as pessoas gravassem seus nomes uma na história da outra. Saudades, recordações, remorsos, arrependimentos... Não importava que tipo de sentimento fosse gerado: negativo, devido à dor da saudade; ou positivo, devido ao aprendizado e à evolução pessoal. Era eterno enquanto durava – parafraseando Vinicius de Morais. Os mais belos poemas de amor sempre se referem ao término de uma paixão, pois existe beleza também na melancolia deixada por um amor não resolvido. Quando o namoro era significativo, era bom sofrer, molhar o travesseiro com lágrimas, rezar para que o objeto amado retornasse. E as promessas, então? Prometia-se até não dizer palavrões o ano inteiro, caso ele retornasse; prometia-se jamais sentir ciúmes novamente (impossível cumprir essa promessa). Sei de amigas que até faziam simpatias. Algumas davam até certo; tão certo, que o rapaz voltava. O problema era desfazer-se do “grude” depois que o interesse voltava-se para outro jovem. As vingativas faziam “simpatias” para o incauto perder a libido com alguma rival. Coisas de adolescentes ainda crédulas.
Era boa aquela época...
Como era bom passear num parque de mãos dadas, ir ao cinema, assistir ao pôr do sol, mentir para os pais que iria dormir na casa de uma amiga (subornar uma amiga a contar uma mentira era muito fácil). Era bom até fazer-se de difícil. Eles corriam atrás mesmo! Não estou mentindo. Jovens dão um show de ousadia e intrepidez nos maduros. Eles não têm medo nem traumas. Isso é justificado pelo fato de ainda não estarem escaldados. Fazem das tripas o coração para conquistar uma garota. E até choram quando não a conseguem conquistar ou perdem-na.
Hoje ninguém deixa rastros. São como um temporais: entram nas nossas vidas, fazem alguns estragos, e partem, sem deixar marcas e nem sinais que um dia existiram. Bem-vindos à maturidade!
Não é o mundo que muda, não é a vida, não é a tecnologia, não é a evolução dos tempos ou do ser humano. Não foi nem por causa das mulheres que queimaram, um dia, os sutiãs em praça pública. O mundo sempre vai existir e viver é uma dádiva. A vida não nos deve nada. Nós é que mudamos, devido ao que chamamos de “amadurecimento”. Como se amadurecer fosse perder o encanto pela vida e pelas pessoas. Como se amadurecer fosse deixar pelo caminho as boas intenções e a capacidade de respeitar e de ser respeitado. Será que perdemos tudo isso pelo caminho? Don Helder disse que é preciso mudar muito para continuar sendo sempre o mesmo. Acho que não conseguimos continuar a ser os mesmos quando amadurecemos porque mudamos para pior. Amadurecer não significa tornar-se mais sábio ou menos estúpido. Amadurecer deveria significar apenas não ceder mais ao infortúnio; saber trabalhar com as adversidades de uma maneira mais racional; ser mais responsável, inclusive com aqueles a quem cativamos; não ter mais as “aflições histéricas da juventude”. Só que fazemos o contrário.
Fico extasiada quando vejo um casal maduro andando de mãos dadas ou abraçado, coisa tão rara de se ver hoje em dia. As pessoas “maduras” não trocam mais carinhos em público. As pessoas “maduras” não telefonam mais apenas para perguntar como foi o dia do outro. As pessoas “maduras” tornam-se ausentes, mesmo estando com alguém. É uma maneira de não criar vínculos. Quando uma pessoa realmente se preocupa com a outra, quando a felicidade dessa pessoa importa tanto quanta a dela, torna-se “perigoso” voltar a sentir as mesmas tensões que gera um relacionamento. É preferível, então, a quantidade, a segurança que os amores “avulsos” trazem. Não sentir nada mais profundo por alguém é a melhor maneira de não sofrer – dizem.
Não se aprende a amar. Assim como não se aprende a morrer. Lembro de uma frase de Leonardo da Vinci: “Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer”.
Morre-se lentamente estando sozinho. A solidão nos ensina somente que estar sozinho não é bom. É contra a natureza viver sozinho. Amadurecer talvez também signifique encarar de frente a solidão e sair dela, seja que tipo de solidão for: a solidão a dois ou a solidão imposta pelo medo de tornar-se responsável pela felicidade também do outro.
Viver, em certa altura da existência, nada mais é do que um compartilhar de solidões. Só que, hoje em dia, as pessoas vivem muito mal. Justamente por permitirem que seus sofrimentos, traumas e inseguranças sobrepujem suas melhores intenções em relação às outras pessoas.
"Que minha solidão me sirva de companhia.
Que eu tenha a coragem de me enfrentar.Que eu saiba ficar com o nada
E mesmo assim me sentir
Como se estivesse plena de tudo". (Clarice Lispector)
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