Avenida Brasil não
poderia ter um título melhor. Refletiu a realidade sociocultural em que
vivemos, desde a colonização portuguesa, e que a Era Lula ajudou a consolidar:
o vale tudo.
Tenho certeza que o
sucesso da novela não se deveu ao desejo de vingança da Nina, mas às sacanagens
que ela e Carminha faziam ao longo dos capítulos, em uma espécie de "folie
a deux". E aos bizarros triângulos amorosos que floresciam toda semana. O
sucesso veio pela excitação voyerista de cada um de nós, crescendo a cada
capítulo.
Homem casando com 3
mulheres, e mulher casando com 2 homens, sendo, teoricamente, um deles, gay. Bigamia é proibida por lei, mas trigamia
pode. É a oficialização brasileira da banalização da promiscuidade e da falta
de valores.
Do vale tudo.
No Brasil, o que é
comum passa a ser normal, ético, oficial. Vilōes, psicopatas e bandidos viram
heróis e vítimas, são rapidamente perdoados e elevados à categoria de "humanos".
Acho até que, se a
novela durasse mais, a Carminha teria se candidatado e sido eleita.
O mensalão é um
grande exemplo disso. A corrupção ficou tão comum, que passou a ser normal,
institucionalizada, oficial e, provavelmente, será absolvida pelo Tribunal e
pelo povo.
Brasileiro é povo
imaturo, infantil. Chupa chupeta como o Adauto. Tendo o futebolzinho, o pagode
e o dinheirinho para o churrasquinho, fica feliz. Tudo inho. Pensa pequeno, na
satisfação imediata, como os bebês. Bebê fica feliz quando mama. E o resto não
importa. Talvez por isso sejamos um país tão rico e com um crescimento tão
pífio. Crescimento de criança.
A falta de educação e
a falta de incentivo para que o povo cresça são determinantes na perpetuação da
falta de valores dos brasileiros.
Povo inculto,
deseducado e imaturo, que chupa bico, não sabe votar. Vota em populista,
galhofeiro, bagaceiro, e desculpa tudo o que for feito de errado, como se
estivesse numa brincadeira.
O povo brasileiro,
infantilmente, projeta-se nos vilões e políticos corruptos, como se eles fossem
heróis. Além de perdoá-los, como perdoaram a Carminha.
Creio até que muitos
desejariam, secretamente, serem grandes mensaleiros, e "se darem
bem".
Acharam muito forte
este texto? Me perdoem, então.
Estou brincando.(* ) Carla Rojas Braga é psicóloga, de Porto Alegre.
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