Expressões como
“golpe branco” ou “golpe institucional” têm sido utilizadas para descrever os
acontecimentos da última sexta-feira no Paraguai. Mas referir-se à atuação do
parlamento paraguaio como golpista é ignorar os fatos e as instituições
democráticas paraguaias.
Dado o histórico de
golpes e ditaduras, o legislador constituinte paraguaio buscou, por meio da
Constituição de 1992, frear a tendência à hipertrofia do Poder Executivo dando
ao Legislativo a possibilidade de julgar politicamente e destituir o presidente
em caso de atos contrários à lei ou à conveniência nacional. Assim, com base no
Art. 225 da Constituição, o processo de impeachment de Fernando Lugo foi
instaurado e julgado por margens esmagadoras (76 a 1 e 39 a 4) de votos dos
representantes legítimos do povo paraguaio, atuando conforme os ritos legais.
Sendo o Paraguai uma
República constitucional baseada em um regime de democracia representativa, não
cabe questionar a legitimidade da atuação do Congresso no caso. Os senadores e
deputados foram eleitos pelo povo e atuaram conforme a Constituição. Por
questões históricas, a carta política do Paraguai estabelece um freio maior aos
poderes presidenciais. Nada que Lugo não soubesse quando, motivado por um misto
de arrogância e ingenuidade, optou por governar autonomamente sem ligar para o
Poder Legislativo.
Se Lugo sofreu golpe,
como têm afirmado alguns defensores casuístas de uma suposta “legalidade
supraconstitucional”, precisamos rever também um capítulo importante da
história brasileira. Afinal, o processo de impeachment que derrubou Collor
ocorreu sem que houvesse qualquer sentença judicial transitada em julgado.
Apesar de sentença absolutória posterior, o impeachment de Collor se manteve,
condenando-o à perda de direitos políticos por oito anos. E ninguém em sã
consciência defende hoje a tese de que o “caçador de marajás” tenha sofrido um
golpe.
Tal tese serve apenas
aos interesses dos legalistas de ocasião, que - monumentos à incoerência! - não
perdem uma oportunidade de defender como legítimas medidas que levem à
destruição da democracia por meios (supostamente) democráticos, como vem sendo
o caso de Chávez, Morales e Correa. A crise institucional pela qual passa o
Paraguai representa um risco, mas pode servir como uma oportunidade para o
fortalecimento da democracia, da separação dos poderes e do Estado de direito,
afastando-o do populismo bolivariano promovido por Fernando Lugo.
* Fábio Ostermann, de
27 anos, é bacharel em Direito (UFRGS), graduado em Liderança para a
Competitivdade Global (Georgetown University) e mestrando em Ciência Política
(PUCRS). É consultor, associado do IEE (Instituto de Estudos Empresariais) e
gerente de relações institucionais do Ordem Livre.
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