domingo, 22 de maio de 2011

É preciso falar errado para ser aceito?

Numa época em que só se fala em preconceito – quando existem tantas coisas mais preocupantes para me tirar o sono, como a criminalidade e o tráfico de armas e drogas, por exemplo - chegou-se ao absurdo de atacarem a nossa gramática. Agora querem combater o “preconceito linguístico”, como se aqueles que se esmeram em falar corretamente a língua vernácula ofendessem àqueles que não possuem a mesma acuidade linguística, seja por falta de cultura, inépcia, preguiça ou falta de interesse.

O livro Por Uma Vida Melhor, adotado pelo MEC, promete corrigir esse preconceito, pois, conforme a autora Heloísa Ramos: “o importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pelo uso adequado e inadequado da língua, dependendo da situação comunicativa”.

A autora pretende, com esse livro, dar a entender que algumas pessoas não são valorizadas dentro de determinados grupos sociais porque se utilizam de uma linguagem “popular”, e que se sentem diminuídas, não aceitas. Por isso o termo “preconceito linguístico”.
Segundo o MEC, deve-se dar total liberdade para um aluno poder se expressar da forma que lhe for mais conveniente, mesmo que seja inadequada. Enfim, o livro ensina que falar errado é certo, dependendo do meio no qual o aluno estiver inserido.


Perdoem essa autora, pois ela não sabe o que diz. Deve ter sofrido influência petista, a mesma que colocou o Tiririca na Comissão de Educação e Cultura da Câmara.  

Diferenças físicas e qualitativas entre as pessoas sempre existiram e sempre existirão. E cada pessoa reage de maneira favorável ou desfavorável diante dessas diferenças. Na maioria das vezes, trata-se apenas de uma questão de atitude e não de preconceito. Ter atitude é racionalizar, sentir e externar tendências comportamentais. Uma pessoa, mesmo reagindo de maneira desfavorável diante de um linguajar inaceitável para ela, não pode ser julgada de preconceituosa. Aliás, é preciso limitar o alcance da palavra preconceito, tão preferida pelos nossos atuais governantes – e tão utilizada na busca insana e oportunista por mais votos. Nem sempre uma atitude intolerante pode ser considerada um ato discriminatório. É apenas uma tendência.

Sou a favor da liberdade de expressão, seja em qualquer tipo de linguagem.
Linguagem não é apenas um idioma ou uma língua, mas uma forma de conhecer e ser conhecido, de evoluir, de aproximar, de se ter mais qualidade nos relacionamentos; enfim, de comunicar ao mundo valores, ideias e sentimentos. Só acho que ninguém precisa diminuir-se ou regredir em termos de linguagem para poder se ajustar a quem não tem as mesmas preocupações que citei acima. Não é preciso saber todo o léxico, mas é imprescindível falar ou escrever corretamente o conjunto de palavras que se tem à disposição, mesmo que seja limitado. Erros ortográficos sempre farão rodar em vestibular e provas de capacitação, bem como causam má impressão em entrevistas de emprego.

Além disso, caso seja dado o direito a um aluno de se manifestar de forma contrária aos bons ensinamentos, certamente que abrirá margem para que ele ingresse com liminar, caso rode em redação no vestibular, sob a justificativa que sofreu “preconceito linguístico”. E certamente que abrirá outra margem: a de que o Governo destine vagas especiais para os “discriminados em língua portuguesa”, em detrimento dos que se matam a estudar semântica, morfologia e sintaxe.




Se a autora e o MEC querem chamar a atenção de alguma maneira, que seja para o fato dos nossos jovens não serem mais estimulados a ler, a pesquisar, a usar um dicionário. A linguagem é o que diferencia o ser humano dos animais; é o que constrói seu senso de mundo, seu meio, suas experiências. E quanto maior for o vocabulário de uma pessoa, maior será o seu pensamento, o seu raciocínio e, consequentemente, o seu mundo, conforme a filosofia de Wittgenstein.

Por fim, se conjugações e concordâncias não são mais necessárias para uma boa comunicação, que fim terá os professores? E os amantes da “Ùltima flor do Lácio”? Serão eles agora os injustiçados, os discriminados, só porque procuram expressar-se corretamente? Será preciso  emburrecer para poder ser aceito por uma cultura que cada vez mais vicia e apoia pessoas a um linguajar que beira a grunhidos de homens das cavernas?

Por mais que despautérios tipo “Aí nós pega os peixe e os fritemo” me façam franzir o cenho, estou consciente que a maneira como uma pessoa se expressa nem sempre é uma questão de escolha, mas também de aptidão e de habilidade cognitiva. Na falta destas, em vez de livros que a façam permanecer na ignorância, mais útil seria ela ser estimulada à cultura, ao estudo, a seguir o exemplo de quem conseguiu superar dificuldades através do próprio mérito.  O preconceito tornar-se-ia irrelevante se fosse dado mais ênfase à palavra MERECIMENTO.




É, pensando bem....




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