Por mais que as NTICs (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) conectem pessoas de diferentes culturas, religiões, raças, modus vivendi, modus operandi etc. em redes; por mais que proporcionem miríades de informações e troca de mensagens entre pessoas ávidas por comunicar-se de qualquer maneira e em qualquer língua; e por mais que todas essas pessoas proclamem que o advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade, sendo a mais significativa a possibilidade de expressão e socialização através das ferramentas de comunicação mediadas pelo computador, smartphones, netbooks e seja mais o que puder manter conectado um sujeito “desligado”, nada, mas nada mesmo, substitui o que está quase em desuso hoje em dia: relacionamento interpessoal.
Estar “conectado” não é a mesma coisa que estar “ligado”, até porque conexões por fibra ótica, conexões sem fio, fios de cobre, ondas de rádio etc. podem ser rompidos a qualquer momento, basta estar “off-line” (ou com o celular convenientemente desligado), enquanto que estar “ligado” sugere algum tipo de vinculo que resulte num sentido de permanência.
Gosto de falar. Gosto do olho no olho, de estar no meio das pessoas, de interagir com elas; gosto de ver gente, trocar ideias, fatos engraçados, causos de infância e juventude, informações sobre notícias que li; paisagens que admirei; o que sonhei na noite passada, o que gosto de comer, de beber, de ler, de assistir; enfim, de viver! E gosto de saber tudo a respeito delas também, de rir ou chorar com elas, de sentir-me próxima e não apenas “conectada”. O que gosto de compartilhar com meus amigos não pode ser transmitido através de links e URLs, pois são dados pessoais demais, necessitam de um corpo inteiro, de coração, de cérebro, de sinapses e não de circuitos lógicos elétricos. Um computador precisa de várias peças para funcionar. Num corpo, o processamento e a memória são feitos pelos mesmos componentes no cérebro.
Todavia, tenho observado que já não há mais espaço para esse tipo de comunicação. As palavras estão cada vez mais reduzidas a mensagens no celular e na língua do “k” e do “x” (detestável língua internética que mais parece grunhidos): “Ke ki tu axa de sairmos hj”? MSN já não serve para mais nada. Depois de algum tempo e de mensagens sem sentido algum, bloqueia-se ou exclui-se pessoas com uma facilidade impressionante (antes que se comece a detestá-las). E os e-mails? O fim dos e-mails já foi decretado, pois ninguém mais se dá o trabalho de respondê-los, salvo poucas exceções, quando referir-se a trabalho.
Em relação às notícias que chegam aos borbotões diariamente através de sites, blogs, Twitter, Facebook etc, uma coisa é certa: todo mundo está por dentro de tudo o que ocorre no mundo, e ninguém tem a mínima ideia. A velocidade com que as notícias são repassadas não permite que as pessoas tenham tempo para pensar, refletir, comentar a respeito com amigos ou familiares e nem observar o impacto que elas causam. É um conhecimento superficial, um saber solitário e de pouco conteúdo. Já comentei com amigos o fato das notícias disseminadas via Internet serem voltadas a um leitor só, aquele que, após ter suas engenhocas de interação devidamente acionadas, veste seu “traje pressurizado” à prova de encontros e de convívio e não compartilha nem mais o terreno doméstico comum com seus familiares. É como se os membros da família vivessem separadamente lado a lado (ainda vou lembrar o título do filme francês que assisti em 2004 e que abordou esse assunto).
Não sou contra NTICs (sem a tecnologia eu não poderia estar digitando estas palavras e nem as postando num blog). Reconheço a importância desses mecanismos que propiciam facilidades de comunicação rápida e objetiva, até porque as engenhocas de interação não são as culpadas das pessoas estarem se transformando em seres robotizados e fazendo com que se afastem cada vez mais do convívio humano, mantendo afetividades simuladas, amizades fugazes e com prazo de validade restrita a poucos encontros. Culpadas são as pessoas que não sabem manter o equilíbrio necessário entre conectar-se e desconectar-se, perdendo o foco do que é essencial para o desenvolvimento humano.
A modernidade sempre vencerá a tradição, e isso é irrefutável. Só que se transformará numa vitória de Pirro caso a real afetividade – que aproxima, motiva e une – continue perdendo espaço para a proximidade virtual – fugaz, efêmera e desagregadora. Ganha-se de um lado, perde-se de outro. As “relações eletrônicas”, em qualquer âmbito da rede de alcance mundial (web), vêm rapidamente na mesma proporção que os amigos de carne, osso e alma se vão.
Obs.: Grata pelos amigos de carne, osso e alma que tenho. Nenhuma tecla de “deletar” pode apagar o que vivenciamos no dia a dia. Nenhum computador do mundo pode atender a um telefonema e perguntar: “Como foi o teu dia?” ou dizer: “Quem foi o FDP que fez isso contigo?”. Se mãos servem para digitar e ocupar-se com tantas outras coisas mais, é a língua que tem o poder de motivar e consolar. E ninguém pode parecer tolo ou ultrapassado por isso, a não ser para quem não entende de coisas reais.
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