terça-feira, 17 de maio de 2011

O que não se pode explicar aos normais

Sem querer escutei a conversa entre dois colegas de trabalho, ambos casados.
Entendam: casados com as respectivas esposas e não entre eles. Todo cuidado é pouco nesses tempos em que interpretações dúbias podem levar a polêmicas relativas à homofobia.  
Um deles contava sobre as queixas de duas amigas sobre os homens que conheciam na “noite”: “que eram todos loucos, que não existiam mais homens; que os bons encontravam-se casados e que os disponíveis eram aqueles que tinham algum problema emocional; caso contrário, não estariam à solta”.

Perguntaram-me se era isso mesmo, se só havia loucos, homens que não prestavam e que não queriam compromisso, apenas divertir-se com as mulheres.

Respondi que, na verdade, eu costumava pensar a mesma coisa até ser obrigada a mudar  de ideia. Os homens dão mil e uma desculpas para não desejarem levar adiante um relacionamento, mas só se não estiverem suficientemente empolgados com uma mulher. Caso percam a cabeça e se sintam apaixonados, aí é que ficam loucos de verdade e vão fazer das tripas o coração para ter o objeto de seus desejos.

E por que mudei minha forma de pensar e não ser mais crítica em relação à fuga a compromissos do sexo oposto?

Lembrei-me do comentário de certo amigo que havia escutado uma palestra de um conhecido terapeuta sobre a atual superficialidade dos relacionamentos. Ele contou-me que uma das perguntas feitas ao terapeuta foi a de uma mulher que indagava o porquê da maioria dos homens não querer “compromisso sério”.

A resposta do terapeuta foi que os homens sentiam-se inseguros perante uma mulher exuberante, segura de si, independente financeiramente e preocupada com a aparência física; por isso preferiam, para um compromisso sério, as mais “simples”, aquelas que não almejassem grandes objetivos, que não pensassem tanto em si mesmas, que fossem mais dependentes, pois, desta forma, não representariam o risco de abandono caso eles não respondessem às expectativas delas. Quanto mais simples, menos exigências. E disse mais: as mulheres mais inteligentes não são muito ligadas a sexo, pois têm muitas ocupações (isso inclui academias, cursos, reuniões, viagens). As mulheres “simples”, como não têm mil e um afazeres, são mais ligadas ao parceiro e preocupadas em satisfazê-lo em detrimento da própria satisfação.

E não é que tem um fundo de verdade nisso?

Pois o mesmo amigo que me contou da palestra serviu de exemplo.

É um homem bonito, interessante, inteligente, bem-sucedido e acostumado a ter mulheres igualmente bonitas, independentes e exuberantes perseguindo-o. E não conseguia ficar empolgado com nenhuma delas. A todas dizia a mesma história: não queria compromisso por ainda não estar preparado, que não queria se apegar, pois não queria mais sofrer e nem fazer a outra pessoa sofrer etc. Até que foi flechado pelo Cupido, e não foi num lugar badalado, repleto de mulheres lindas e maravilhosas: foi num singelo curso promovido por uma associação beneficente. E a eleita – sortuda, ela – nada tem de exuberante ou glamoroso: não usa maquiagem, não se enfeita, não usa roupas modernas ou sexys, anda de “rasteirinhas” e nem trabalho possui. Muito menos badala em lugares da moda. Só participa de cursos e de palestras. Enfim, é uma mulher “simples”, zen, sem grandes complexidades. E agora ele quer compromisso, quer casar com ela, quer viver ao lado dela o resto da sua vida, e mandou para o inferno a insegurança que dizia possuir. Até na tristeza e nas dificuldades ele a quer, mesmo que fique pobre e desvalido. Ficou louco!

Existe muita diferença entre ser louco e estar louco. Ser louco é adotar uma conduta bizarra ou perigosa, mas não é o caso de quem não quer compromisso e nem de quem o persegue. E o que é estar louco?

No livro Os Olhos de Laura, J. D. Nasio explica que “é ter a certeza cega da verdade do que se pensa e do que se faz”. O neurótico duvida dos fundamentos do que pensa e faz; o louco que às vezes todos nós somos, no momento da sua loucura, não duvida e, sem refletir, sabe o que deve fazer; o afeto é mais forte que a razão.

Deste modo, infiro que somos “normais” até o momento em que nos apaixonamos por alguém. E ficamos loucos. E neste estado, não duvidamos do que queremos e nem de nós mesmos. E ficamos cegos. Aliás, quem disse que amor é cego enganou-se redondamente. Quando estamos “loucos” enxergamos belezas e qualidades na pessoa amada que olhos “normais” jamais enxergariam. O amor não é cego: é louco, portanto.

Será que é louco aquele homem que não deseja laços indissolúveis, que pensa apenas em se divertir e trata as mulheres como objetos descartáveis?
Será que é louca aquela mulher que sabe o que quer e também o que não quer; que exige atenção e que dá muito valor às suas metas e que persegue o sucesso com unhas e dentes?

Não são loucos, são normais. Apenas ainda não encontraram alguém que os fizessem sentir-se mais “simples” e afetuosos. Sempre considerei loucas aquelas pessoas que ousam sair por aí de “cara limpa”, sem a preocupação de significar um mistério a ser solucionado a fim de se protegerem contra desilusões ou frustrações. Mostram-se como realmente são, simplificam em vez de complicar. E como explicar isso?

Espero que a canção “O que não se pode explicar aos normais”, da banda Catedral, explique isso tanto a mim quanto a outros normais. Aliás, bela música. O vocalista  Kim possui a voz idêntica a do Renato Russo.


2 comentários:

  1. Não concordo com o terapeuta.O que atraiu seu amigo por exemplo foi a possiblidade de ter o amor do jeito que ele gosta nesta mulher que o deixou "louco" e não neste blá,blá,blá de mulher insegura e etc. Mas estou de acordo com este desejo de uma pessoa simples, do amor simples, ele é tão bom,tão tranquilo,tão real com alguém que nutre, que te cuida e desperta o mesmo desejo de retribuir com almoços,jantares e surpresas maravilhosas, agrados intermináveis...Hummm tudo de bom isso!rsrsrs. É uma questão de afinidade de valores e gostos, dá sim para ser todas estas mulheres sem perder o "NUTRIR", rotina BOA não faz mal a ninguém,sou avessa as baladas com gente chata e bêbada procurando um sentido na vida naquela noite, nestes lugares não se encontram pessoas e sim personagens a noite propícia isso, é de dia que a gente conhece de verdade as pessoas e as escolhe ou não para nossa vida. Ainda prefiro um bom jantar gormet feito por mim com uma mesa bem decorada no aconchego do lar e na companhia do maridão ou receber os amigos queridos com o mesmo.
    Uma vida feliz é bem mais simples do que se imagina.

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  2. Pra falar a verdade, Lica, eu acho que todo mundo é um pouco louco, e são as escolhas que fazemos que podem revelar isso...Uns acham que só louco é que casa; outros, que não querer compromisso é sinal de desequilíbrio mental. Em todos os casos, eu sigo sempre a mesma regra: ao lidar com loucos, eu finjo que sou sã...risos!

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