terça-feira, 3 de maio de 2011

A Lógica do Amor

Eu já disse que o amor não tem lógica alguma. Só Deus sabe o porquê das pessoas fazerem certas escolhas, nem sempre as mais acertadas. Sabe-se lá que traumas carregam dentro de si. Aquelas que acertam e dizem ter encontrado a tal da alma gêmea consideram a posição dos astros. Deram certo porque o signo solar de uma combinava com o ascendente da outra, bem como a Vênus de um estava para o Marte do outro e ambos possuíam o Nodo Norte na mesma posição, ou seja, em Áries e por aí vai. Os mais espiritualizados dizem que se tratou, óbvio, de um processo de reencarnação bem sucedido, pois ambos tinham sido inimigos em vidas passadas e vieram a este mundo para, finalmente, se suportarem sem matar um ao outro, como ocorreu lá em 1230 a.C e blá, blá, blá...

Nada disso. Alguém, para me contrariar, enviou-me um e-mail esclarecedor. Nem signos, nem traumas, nem vidas passadas. Um relacionamento dá certo quando dois “Storge” se encontram, não sem antes terem sofrido nas mãos de "Ludos" incorrigíveis. Não entenderam? Eis o conteúdo, com algumas adaptações feitas por mim:

A LÓGICA DO AMOR

EROS

É a paixão mais comum e a mais desejada. Envolve atração física e desejo sexual já no primeiro encontro. É como se a flecha do Cupido tivesse nos acertado. Pensamos naquela pessoa assim que acordamos e nela pensamos antes de dormir. E a espera pelo ditoso telefonema torna-se sufocante.  Penso que é um amor fundamentado, inicialmente, na aparência física. Estudos indicam que este tipo de amor relaciona-se com a dopamina, que é um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e de motivação. E quando termina? Quando se tem a certeza que não se é correspondido. Dura exatamente o tempo em que percebemos que a aquela pessoa, a “perfeita encarnação da Beleza, Virtude, Sabedoria e Graça” dos poetas, não é exatamente o que pensamos.  Será adoração do ser amado ou autoadoração? Neste caso, ama-se o sentimento inspirado e não a pessoa que o inspirou.





Ele pode ver a cara dela na face da lua, o amor arde como a primeira vez em que se beijaram, e a chama dela é a única razão pela qual ainda consegue extrair a respiração...” (O Paciente Inglês)




 
ÀGAPE

Significa altruísmo e generosidade, em grego.  Neste caso, o que importa é a satisfação do outro. A pessoa se entrega totalmente e anula-se para satisfazer às aspirações do outro. Ama incondicionalmente, não se preocupa se está sendo amada ou não.  É capaz até de renunciar ao ser amado, caso sinta que não o está fazendo feliz. Entrega-o de mão-beijada para outra pessoa mais apta a dar-lhe felicidade. Penso ser o que leva muitas esposas a aceitarem o fato de seus maridos possuírem amantes ou vice-versa. Talvez seja o caso até dos amantes que aceitam uma vida obscura em prol da necessidade das migalhas de afeto.




  
Por amor, ela suporta a infidelidade do namorado”.

Um sobre o outro, eles cavalgavam juntos. Iam juntos em direção às distâncias desejadas. Atordoavam-se numa traição que os libertava. Franz cavalgava Sabrina e traía sua mulher. Sabrina cavalgava Franz e traía Franz.”





MANIA

É o estilo “montanha-russa”. Num dia, o paraíso; no outro, o inferno. É uma paixão obsessiva e ciumenta. É como dormir com o inimigo. Um sempre achando que o outro não ama o necessário e o outro querendo a todo custo chamar a atenção. O medo do abandono é tanto, que uma das partes prefere terminar a relação para não ter de enfrentar o que premedita. Mas acaba sempre retornando. É como se fosse um vício, uma dependência da qual não consegue fugir.
Este tipo de relação está relacionado com a serotonina, um neurotransmissor responsável pela comunicação entre os neurônios.  Quando em níveis baixos, pode ocorrer patologias como: ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia. É o tipo de amor preferido pelas pessoas que possuem autoestima baixa. Muitas acabam assassinadas.
É o tipo de amor “entre tapas e beijos”.




Otelo para Desdêmona:

Beijei-te antes de te matar. Nenhuma outra saída era possível, mas esta: matando-me morro depois de te beijar”.

LUDOS

Em Ludos, o amor é apenas um jogo e limita-se, na maioria das vezes, a uma única noite. Zygmunt Bauman chama a este tipo de relação como sendo “noite avulsa de amor”.  O desafio de conquistar é mais sedutor que a pessoa que se deseja seduzir. Roubar a namorada de um rival, por exemplo, é uma grande conquista. Depois de obtido o “troféu”, parte-se para outro desafio. Geralmente, pessoas assim possuem traumas em relação a compromissos. São as maiores candidatas a buscar auxilio junto a psiquiatras para suas neuras, pois mesmo quando estão bem numa relação duradoura, buscam encontros fugazes. São eternos insatisfeitos, não com os outros, mas consigo mesmos. Outro caso seria a da pessoa casada que busca um amante para reafirmar seu poder de sedução.


Visconde de Valmont em missiva à duquesa de Merteuil: 

Sinto muito bem que a escolha vos embaraça, e que preferíeis tergiversar; e não ignora que nunca apreciastes ser colocada assim entre o sim e o não; mas deveis assentir, também, que não posso deixar-vos sair desse círculo estreito sem me arriscar a ser ludibriado; e deveis ter previsto que não o suportaria. Cabe-vos decidir agora; posso deixar-vos a escolha, mas não ficar na incerteza”.
Acrescento, pois, que o menor obstáculo de vossa parte será tomado da minha por uma verdadeira guerra. Vedes, assim, que a resposta que vos peço não exige nem longas nem belas frases. Duas palavras bastam”.

Resposta da duquesa de Merteuil:

Pois bem, a guerra!”



STORGE

Storge é o nome da divindade grega que simboliza a amizade. Aqui não impera a atração física e nem noites tórridas de amor num primeiro plano. O que importa é a confiança mútua e os valores compartilhados. Apesar de ser um tipo de amor romântico, é diferente do Eros, que exige paixão à flor da pele. É uma relação baseada na similaridade, sem grandes arroubos afetivos, apenas aceitação.
Tenho a impressão que os casamentos de uma vida inteira são os desse tipo e que, quando morre uma das partes, a outra morre em seguida, por não suportar a perda do cúmplice e amigo.
Amores Storge são duradouros. Geralmente surge repentinamente entre um casal de amigos, pelos gostos afins e de se “estar no mesmo barco”.



De Bonnie para Clyde (março de 1930)

Estou só e triste, te quero mais que minha própria vida. Se você ficar mais tempo preso me tornarei tão louca quanto uma rata de manicômio”.

De Clyde para Bonnie (sem data):

Minha linda e doce esposa, também me sinto terrivelmente triste e só. Como vai o trabalho? Algum bêbado passou dos limites com você? Se acontecer anote seus nomes, porque eu não vou passar toda a minha vida nesse casebre”.




No final do filme, antes do fim trágico de ambos, o casal troca olhares cúmplices, tacitamente satisfeitos por terem chegado ao fim juntos.


PRAGMA

Este é o amor dos materialistas e dos egoístas. É o tipo de paixão dos pragmáticos, ou seja, daqueles que somente priorizam o lado prático das coisas, que usam o raciocínio lógico para programar, premeditar, calcular tudo nos mínimos detalhes. Pessoas assim avaliam tudo antes de embarcarem num relacionamento, desde a conta bancária dos pretendentes, os bens que possuem e até se valerão a perda de tempo e dinheiro que for dispendido. Se há possibilidade de investir, tudo bem. Se não, caem fora. Não gostam de compartilhar e cultivam uma lista de pré-requisitos para o futuro parceiro (a). Se eu me casar, será que gastarei muito? Se eu me separar, será que perderei meus bens? Como estarei daqui a cinco anos? É claro que terminam sozinhas. Nunca ninguém conseguirá preencher todos os requisitos para ser um bom marido ou boa esposa.

Lizzie: “Eu me pergunto quem descobriu o poder da poesia para espantar o amor”.

Mr. Darcy: “Achei que fosse o alimento do amor”.

Lizzie: “Do amor belo e vigoroso, mas se é apenas uma vaga inclinação, um pobre soneto o liquidará”.

Mr. Darcy: “Então, o que recomenda para despertar a afeição?”

Lizzie: “Dançar, mesmo que o par seja apenas tolerável”.


É...até que tem certa lógica, mas eu resumiria tudo numa simples frase: Cada louco com sua mania de completude.
 

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