Ele é pouco mais que um menino, mas já demonstra que será um grande homem; isto é, caso a maturidade não o estrague e não o faça perder muitas coisas importantes pelo caminho. Torço para que ele seja diferente da maioria madura que tenho visto por aí.
Há uma ideia errônea que a maturidade nos faz mais sábios. Não sei de onde tiraram que ser mais cauteloso e racional é sinal de sabedoria. Talvez até seja, uma vez que, maduros, já não queremos mais cometer os mesmos erros de antigamente e já deixamos o histerismo que muitas vezes permeia a juventude para trás. Mas por que a maturidade nos faz querer ter de volta o mesmo encantamento que tínhamos quando jovens?
Meu estagiário é pouco mais que um menino, mas foi capaz de ficar dois meses pensando no presente que daria para a namorada no dia dos namorados. Ajudei-o, mostrando-lhe encartes de jornal ou dando sugestões. Deixei-me levar por algo que não estou mais acostumada a ver. A maioria dos homens maduros não liga mais para datas especiais. No máximo, dá dinheiro para a namorada e diz: “procura algo que queira”. Não tem mais tempo para perder com futilidades.
Lembro-me do dia em que ele foi buscá-la no aeroporto. Pediu para sair mais cedo “porque tinha de buscar o seu amor”. No alto da minha maturidade, há anos que não vejo nenhum maduro dizer isso para sua esposa ou namorada. No máximo, são resmungos por ela precisar dele.
E no aniversário da menina, então? Com seu pequeno salário de estagiário fez o sacrifício de comprar um lindo casaco para ela. Mostrou-me tão feliz o presente que daria a ela, que pensei: “Deus permita à menina valorizar todo o tempo que seu namorado perdeu para encontrar algo que talvez a agradasse, e não agradando, que ela valorize o sacrifício que ele fez”.
´”Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez a rosa tornar-se tão importante” – disse a raposa para o pequeno príncipe na fábula de Saint Exupéry. E também que: “Tu te tornas responsável por tudo o que cativas”.
E a raposa diz mais:
-“A gente só conhece bem o que cativou. Os homens não têm mais tempo para conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se queres um amigo, cativa-me!”.
Quando jovens, pensamos ter todo o tempo do mundo, e parece que o tempo não passa nunca. Perdemos tempo escrevendo poemas para ofertar à pessoa amada, pequenas surpresas para agradá-la, e nem nos preocupamos com custo-benefício. Se um bichinho de pelúcia é tudo o que podemos dar, certamente que o nosso coração irá com ele.
Hoje em dia, dói-me saber que muitas garotas procuram homens bem mais velhos para poderem usufruir de presentes caros. Por que pular etapas e já querer ir direto ao desencantamento da maturidade? Por que um coração é menos importante que o desapontamento? Mal sabem elas que muitos homens maduros procuram nelas o que já não possuem em si mesmos.
Todos os dias ouço pessoas maduras como eu, casadas ou não, reclamarem que precisam de encantamento em suas vidas. Para muitas, encantamento significa sentir paixão por alguém. Creio que são justamente as pessoas que não têm mais tempo para cuidar das suas “rosas” que se queixam disso, que não querem mais fazer qualquer tipo de sacrifício, por mínimo que seja, para cativar o que buscam com tanto afã.
E ser maduro é isso? É esquecer que cativar significa transformar a vida de alguém em raios de sol num dia de domingo?
“Se tu me cativas, minha vida será cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus passos me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo é dourado, fará com que me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...” – disse a raposa ao pequeno príncipe.
Desculpem-me, mas nem todas as pessoas sabem amadurecer. É preciso seguir o exemplo dos jovens e não o contrário. Sábio é aquele que aprendeu mais com os acertos da juventude e não somente com os erros. Não é com os erros que se aprende, aprendi com o meu jovem estagiário, mas com o que fizemos de bom e não esperando nada em troca.
Que observemos mais o comportamento desta nova geração. Que voltemos à leitura do “Pequeno Príncipe”, se for preciso. Não é preciso buscar em novos relacionamentos o encantamento que não encontramos mais. Basta que resgatemos o (a) jovem que fomos um dia e entendermos que:
“Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim, e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam pode ser achado numa rosa só”.
Mas isso só acontece com quem tem tempo e paciência para cuidar de única rosa como se fosse a mais importante de todas.
Voltando à história do pequeno príncipe e da raposa, eis como termina:
Tendo cativado a raposa, chegou a hora da partida:
- “Ah, eu vou chorar” – disse a raposa.
- “A culpa é tua” – disse o principezinho – “Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse”.
- “Quis” – disse a raposa.
- “Mas tu vais chorar” – disse ele.
- “Vou” – disse a raposa.
- “Então, não terás ganho nada!”
- “Terei, sim” – disse a raposa – “por causa do trigo”. E, acrescentando:
- “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz”.
Encantamento também é isso: saber que aquela pessoa que nos cativou, mesmo tendo de ir embora, sempre retornará para o nosso lado, desde que também a tenhamos cativado.
Obs.: Foi observando o quanto meu jovem estagiário cuida da sua rosa que aprendi que nós, maduros, não podemos servir de exemplo aos mais jovens. Quando chegamos numa certa idade, tudo o que queremos é ser iguaizinhos ao que fomos outrora. E a maioria de nós não consegue.
O que hoje eles sabem, a maioria dos “maduros” não pode mais fazer – parafraseando um velho ditado, mas somente aqueles que ainda acham que encantamento tem de vir de fora para dentro e não o contrário.
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