domingo, 31 de julho de 2011

O que há em mim é sobretudo cansaço – Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço.
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa alguma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas,
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles, a vida vivida ou sonhada,
Para eles, o sonho sonhado ou vivido,
Para eles, a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim, só um grande, um profundo,
E, ah, com que felicidade, infecundo cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Ìssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário