terça-feira, 12 de abril de 2011

Último Desejo

No dia do seu aniversário, na noite de 11 de dezembro de 1936, seis meses antes de morrer, Noel Rosa fez o último pedido à dançarina de cabaré, Ceci, a grande paixão da sua vida. A lembrança daquele episódio, bem como a memória do amor do poeta pela dançarina, seria eternizada na obra-prima chamada de “Último Desejo”.

Com este samba, Noel despediu-se de Ceci. Toda a amargura provocada pelo amor fracassado aparece nesta obra endereçada tão somente à dama de cabaré. Noel, então, pediu ao parceiro Vadico que entregasse a letra e ela. Segundo contou Ceci ao jornalista, crítico e historiador Ary Vasconcelos, numa entrevista para a revista “Fairplay”, ela recebeu a letra junto com a notícia da morte de Noel Rosa. João Máximo e Carlos Didier contam que, ao entregar a letra, Vadico comentou: “Acho que ele te castiga um pouco neste samba, Ceci”.

É provável que Ceci tenha-se sentido castigada, mas Noel contribuiu, sem dúvida, para mais uma obra-prima da música popular brasileira. Este clássico de Noel alimentou, durante muitos anos, a rivalidade entre as cantoras Araci de Almeida e Marília Batista, ambas defendendo a posição de intérprete preferida de Noel Rosa. Segundo Marília Batista, a verdadeira versão de “Último Desejo” é a gravada por ela e não a de Araci, gravada em 1937, quando o compositor ainda vivia. Marília dizia ter aprendido a música com o próprio Noel e, além disso, a sua versão coincide com a partitura que o autor ditou para que Vadico escrevesse. A verdade, porém, é que a música foi consagrada na versão apresentada por Araci de Almeida.

Mas nem na voz de Marília Batista e nem na voz de Araci de Almeida. Eu a prefiro cantada por Maysa. Nenhuma cantora até hoje soube transmitir emoção à letra de uma música tanto quanto ela.

Maysa, tão eterna quanto a musa que a letra consagrou.

Como disse Shakespeare: “Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança”.

Ceci saiu do cabaré para entrar na história da música popular brasileira.

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